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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MANUEL BANDEIRA

 

(1886-1968)

 

 

Nacido en Recife, estado de Pernambuco, murió en Rio de Janeiro, consagrado nacionalmente. Arquitecto frustrado por Ia turbeculosis, que le compensó con Ia amistad de Paul Eluard en el sanatorio de ClavadeI, ejerció Ia ensenanza universitaria, plenamente dedicado a Ia literatura. Inicialmente parnasiano, ha sido entronizado por Mário de Andrade como "o São João Batista do Modernismo". En efecto, es una figura primordial, no sólo de Ia poesía moderna, sino también de Ia crítica y eI ensayo. La extensa correspondencia epistolar con Mário, publicada bajo los auspicios dei Instituto de Estudios Brasilenos de Ia Universidad de São Paulo (USP), prueba Ia certeza de esa afirmación y documenta e! primer momento heroico del movimiento.

Su obra poética atraviesa incólume Ia marana de modismos, incluso en los anos 60 cuando Ia vanguardia se expandía en ondas. Bandeira es e! interlocutor perfecto; su sencillez alcanza cuerpo, altura y profundidad, y tanto en 10 coloquial como en 10 cotidiano de su obra se impregna Ia dura realidad interna de Ia vida. Esencialmente poeta, pero también teórico, autor de memorias, crítico, traductor, conferencista y cronista, resulta gratamente recomendable Ia lectura de su Itinerário de Pasárgada (1954), verdadera trayectoria vital, un luminoso camino que fluye como río. Son marcos de su consistente poética, toda ella vibrante de unidad: A Cinza das Horas (1917), Carnaval (1919), Libertinagem (1930), Estrela da Manhã (1936), Opus 10 (1952), Estrela da Tarde (1963).
Obra completa publicada por Editora Nova Aguilar, de Rio de Janeiro.                JOSÉ SANTIAGO NAUD

 

 

Traducciones de José Jeronymo Rivera  e  Anderson Braga Horta

 

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS  TEXTOS EN ESPAÑOL

POÉSIE EN FRANÇAIS

TEXTS IN ENGLISH

 

TEXTOS EN ITALIANO

 

 

POESIA INFANTIL

 

Ver também:  AS ABSTRUSAS PALAVRAS DE MANUEL BANDEIRA, por Cláudio Murilo Leal


                                         

Veja também: MÁRIO DE ANDRADE — “O LOSANGO CÁQUI” – resenha de Manuel Bandeira - ENSAIOS

       

 

 

POEMA DO BECO

Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
— O que eu vejo é o beco.

 

 

        EVOCAÇÃO DO RECIFE

 

Recife

Não a Veneza americana

Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais

Não o Recife dos Mascates

Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois

- Recife das revoluções libertárias

Mas o Recife sem história nem literatura

Recife sem mais nada

Recife da minha infância

A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado

e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas

Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê

na ponta do nariz

Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras

mexericos namoros risadas

A gente brincava no meio da rua

Os meninos gritavam:

Coelho sai!

Não sai!

 

A distância as vozes macias das meninas politonavam:

Roseira dá-me uma rosa

Craveiro dá-me um botão

 

(Dessas rosas muita rosa

Terá morrido em botão...)

De repente

nos longos da noite

um sino

Uma pessoa grande dizia:

Fogo em Santo Antônio!

Outra contrariava: São José!

Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.

Os homens punham o chapéu saíam fumando

E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.

 

Rua da União...

Como eram lindos os montes das ruas da minha infância

Rua do Sol

(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)

Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...

...onde se ia fumar escondido

Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...

...onde se ia pescar escondido

Capiberibe

- Capiberibe

Lá longe o sertãozinho de Caxangá

Banheiros de palha

Um dia eu vi uma moça nuinha no banho

Fiquei parado o coração batendo

Ela se riu

Foi o meu primeiro alumbramento

Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu

E nos pegões da ponte do trem de ferro

os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras

 

Novenas

Cavalhadas

E eu me deitei no colo da menina e ela começou

a passar a mão nos meus cabelos

Capiberibe

- Capiberibe

Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas

Com o xale vistoso de pano da Costa

E o vendedor de roletes de cana

O de amendoim

que se chamava midubim e não era torrado era cozido

Me lembro de todos os pregões:

Ovos frescos e baratos

Dez ovos por uma pataca

Foi há muito tempo...

A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros

Vinha da boca do povo na língua errada do povo

Língua certa do povo

Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil

Ao passo que nós

O que fazemos

É macaquear

A sintaxe lusíada

A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem

Terras que não sabia onde ficavam

Recife...

Rua da União...

A casa de meu avô...

Nunca pensei que ela acabasse!

Tudo lá parecia impregnado de eternidade

Recife...

Meu avô morto.

Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro

como a casa de meu avô.

 

 

 

NA RUA DO SABÃO

 

CAI cai balão
 Cai cai balão
 Na ru-a do Sa-bão!...

 

O que custou arranjar aquele balãozinho de papel!

Quem fez foi o filho da lavadeira.

Um que trabalha na composição do jornal e tosse muito.

Comprou o papel de seda, cortou-o com amor, compôs os
         gomos oblongos...
Depois ajustou o morrão de pez ao bocal de arame.

 

Ei-lo agora que sobe,—pequena coisa tocante na escuridão
         do céu

 

Levou tempo para criar fôlego.
Bambeava, tremia todo e mudava de cor.
A molecada da rua do Sabão
Gritava com maldade:
Cai cai balão!

 

Subitamente, porém, entesou, enfunou-se e arrancou das

         mãos que o tenteavam.
E foi subindo ...

                   para longe...

 serenamente...

         Como se o enchesse o soprinho tísico do José.

         Cai cai balão!

A molecada salteou-o com atiradeiras

assobios

apupos

pedradas.

Cai cai balão!

 

Um senhor advertiu que os balões são proibidos pelas
         posturas municipais.

Ele, foi subindo ...

                muito serenamente . . .

                                      para muito longe ...

 

Não caiu na rua do Sabão.

Caiu muito longe ... Caiu no mar,—nas águas puras do
         mar alto.

 

 

 

MOZART NO CÉU

 

         No dia 5 de dezembro de 1791 Wolfgang Amadeus
         Mozart entrou no céu, como um artista de circo,
         fazendo piruetas extraordinárias sobre um mirabolante
         cavalo branco.

 

Os anjinhos atónitos diziam: Que foi ? Que não foi ?
Melodias jamais-ouvidas voavam nas linhas suplementares

         superiores da pauta.
Um momento se suspendeu a contemplação inefável.
A Virgem beijou-o na testa

E desde então Wolfgang Amadeus Mozart foi o mais moço
         dos anjos.

 

 

 

A MATA

 

A MATA agita-se, revoluteia, contorce-se toda

         e sacode-se!

mata hoje tem alguma coisa para dizer.
E ulula, e contorce-se toda, como a atriz de uma pantomina

         trágica.
Cada galho rebelado
Inculca a mesma perdida ânsia.
Todos eles sabem o mesmo segredo pânico.
Ou então—é que pedem desesperadamente a mesma
          instante coisa.

 

Que saberá a mata ? Que pedirá a mata ?
Pedirá água?

Mas a água despenhou-se há pouco, fustigando-a,
         escorraçando-a, saciando-a como aos alarves.

Pedirá o fogo para a purificação das necroses milenárias ?

Ou não pede nada, e quer falar e não pode ?

Terá surpreendido o segredo da terra pelos ouvidos finíssimos
         das suas raízes ?

A mata agita-se, revoluteia, contorce-se toda e sacode-se!

A mata está hoje como uma multidão em delírio coletivo.

 

Só uma touça de bambus, à parte,

Balouça levemente .. . levemente ... levemente ...

E parece sorrir do delírio geral. 

 

 

 

O CACTO

 

AQUELE cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária: Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.

Evocava também o seco nordeste, carnaúbais, caatingas ...

 

 

Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.

 

Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,

Quebrou os beirais do casario fronteiro,

Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,

Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas

privou a cidade de iluminação e energia:

—Era belo, áspero, intratável.

 

 

 

A ESTRADA

 

ESTA estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,

Interessa mais que uma avenida urbana.

Nas cidades todas as pessoas se parecem.

Todo o mundo é igual. Todo o mundo é toda a gente.

Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.

Cada criatura é única.

Até os cães.

Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.

 

E quanta gente vem e vai!

E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um

         bodezinho manhoso.
Nem falta a murmúrio da água, para sugerir pela voz dos

         símbolos

Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.

 

 

 

NOITE MORTA

 

Noite morta.

Junto ao poste de iluminação
Os sapos engolem mosquitos.

Ninguém passa na estrada.
Nem um bêbedo.

No entanto há seguramente por ela uma procissão de sombras.
Sombras de todos os que passaram.
Os que ainda vivem e os que já morreram.

O córrego chora. A voz da noite...

(Não desta noite, mas de outra maior.)


 

 

TERESA

         A primeira vez que vi Teresa

Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.

                            (Libertinagem)


POEMA DE FINADOS

Amanhã que é dia dos mortos
Vai ao cemitério. Vai
E procura entre as sepulturas
A sepultura de meu pai.

Leva três rosas bem bonitas.
Ajoelha e reza uma oração.
Não pelo pai, mas pelo filho:
O filho tem mais precisão.

O que resta de mim na vida
É a amargura do que sofri.
Pois nada quero, nada espero.
E em verdade estou morto ali.

 

POÉTICA

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente de
protocolo e manifestações de apreço no ar, diretor.

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
                   o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretario de amante
         exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneira
                            de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

DESENCANTO

 

Eu faço versos como quem chora

De desalento ... de desencanto ...

Fecha o meu livro, se por agora

Não tens motivo nenhum de pranto.

 

Meu verso é sangue. Volúpia ardente ...

Tristeza esparsa ... remorso vão ...

Dói-me nas veias. Amargo e quente,

Cai, gota a gota, do coração.

 

E nestes versos de angústia rouca

Assim dos lábios a vida corre,

Deixando um acre sabor na boca.

 

- Eu faço versos como quem morre.

 


BODA ESPIRITUAL

 

Tu não estás comigo em momentos escassos:

No pensamento meu, amor, tu vives nua

- Toda nua, pudica e bela, nos meus braços.

 

O teu ombro no meu, ávido, se insinua.

Pende a tua cabeça. Eu amacio-a ... Afago-a ...

Ah, como a minha mão treme ... Como ela é tua ...

 

Põe no teu rosto o gozo uma expressão de mágoa.

O teu corpo crispado alucina. De escorço

O vejo estremecer como uma sombra n'água.

 

Gemes quase a chorar. Suplicas com esforço.

E para amortecer teu ardente desejo

Estendo longamente a mão pelo teu dorso ...

 

Tua boca sem voz implora em um arquejo.

Eu te estreito cada vez mais, e espio absorto

A maravilha astral dessa nudez sem pejo ...

 

E te amo como se ama um passarinho morto.

 

(A Cinza das Horas,1917)  

 

FELICIDADE

 

A doce tarde morre. E tão mansa

Ela esmorece

Tão lentamente no céu de prece,

Que assim parece, toda repouso,

Como um suspiro de extinto gozo

De uma profunda, longa esperança

Que, enfim, cumprida, morre, descansa ...

 

E enquanto a mansa tarde agoniza,

Por entre a névoa fria do mar

Toda a minhalma foge na brisa:

Tenho vontade de me matar!

 

Oh, ter vontade de se matar!

Bem sei é coisa que não se diz.

Que mais a vida me pode dar?

Sou tão feliz!

 

- Vem, noite mansa ...

 

(O Ritmo Dissoluto, in Poesias, 1924) 

 

PROFUNDAMENTE

 

Quando ontem adormeci

Na noite de São João

Havia alegria e rumor

Estrondos de bombas luzes de Bengala

Vozes cantigas e risos

Ao pé das fogueiras acesas.

 

No meio da noite despertei

Não ouvi mais vozes nem risos

Apenas balões

Passavam errantes

Silenciosainente

Apenas de vez em quando

O ruído de um bonde .  

                                                                                                    

Digam que sou um homem sem orgulho

Um homem que aceita tudo

Que me importa?

Eu quero a estrela da manhã

 

Três dias e três noites

Fui assassino e suicida

Ladrão, pulha, falsário

 

Virgem mal-sexuada

Atribuladora dos aflitos

Girafa de duas cabeças

Pecai por todos pecai com todos

Pecai com os malandros

Pecai com os sargentos

Pecai com os fuzileiros navais

Pecai de todas as maneiras

Com os gregos e com os troianos

Com o padre e com o sacristão

Com o leproso de Pouso Alto

 

Depois comigo

 

Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas comerei

             [terra e direi coisas de uma ternura tão simples

Que tu desfalecerás

 

Procurem por toda parte

Pura ou degradada até a última baixeza

Eu quero a estrela da manhã.

 

MOMENTO NUM CAFÉ

 

Quando o enterro passou

Os homens que se achavam no café

Tiraram o chapéu maquinalmente

Saudavam o morto distraídos

Estavam todos voltados para a vida

Absortos na vida

Confiantes na vida.

 

Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado

Olhando o esquife longamente

Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade

Que a vida é traição

E saudava a matéria que passava

 Liberta para sempre da alma extinta.

 

(Estrela da AIanhã, 1936)

 

A ESTRELA

 

Vi uma estrela tão alta,

Vi uma estrela tão fria!

Vi uma estrela luzindo

Na minha vida vazia.

 

Era uma estrela tão alta!

Era uma estrela tão fria!

Era uma estrela sozinha

Luzindo no fim do dia.

 

Por que da sua distância

Para a minha companhia

Não baixava aquela estrela?

Por que tão alta luzia?

 

E ouvi-a na sombra funda

Responder que assim fazia

Para dar uma esperança

Mais triste ao fim do meu dia.

 

 

(Lira dos Cinqüent'Anos, in Poesias Completas, 1940)

SANATÓRIO

Em Clavadel
conversam três jovens tísicos:
Picker, Grindel e Manuel.

A tísica é um anel
que envolve três aspirantes
à saúde da poesia, mortal.

Nem tudo é neve em Clavadel.
A febre em fogo aquece insônias
e a morte instala seu motel.

Quem sobreviver fará o verso
mais agudo, terno e febril:
Mourir de ne pás mourir,
Cinza das Horas, Carnaval,
vida vibrando no papel.


MATINAL

Um dia como qualquer outro.
Um homem como qualquer outro,
silencioso criado de si mesmo,
às 7 da manhã vai comprar leite
e jornal.
Quem suspeita, na esplanada do Castelo,
do seu castelo interior?
Com ativa humildade
traz a garrafa branca e o diário.


PASÁRGADA

Não foste embora pra Pasárgada.
Não era teu destino.
Não te habituarias lá.
Em teu território próprio, intransferível,
nem rei nem amigo do rei,
és puramente aquele lúcido
e dolorido homem experiente
que subjugou seu desespero
a poder de renúncia, vigília e ritmo.


PROFESSOR

O professor disserta
sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudi-lo0?
Vai repreendê-lo?
Não.
O professou baixa a voz
com medo de acordá-lo.


ROTINAS

O poeta
sob o sol de chamas do meio-dia
na fila de pagamento do Tesouro;
o poeta
na fila reiteradíssima do Instituto Félix Pacheco
para obter autorização de viagem ao estrangeiro;
o poeta
na fila crepuscular do ônibus de Copacabana,
livro na mão esquerda, traduzindo
a tragédia alemã;
o poeta
cumprindo sem revolta
sem amargura
o estatuto civil da pobreza.


ESTRELA

Estrela da manhã,
estrela da tarde,
estrela da noite,
estrela do tempo inteiro,
da vida inteira,
Fixa, imutável
pairando sobre o poeta.

 

O ULTIMO POEMA

 

Assim eu quereria o meu último poema

 

Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais

 

Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas

Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume

A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos

A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

 

 

ANTOLOGIA

 

A Vida

Não vale a pena e a dor de ser vivida.

Os corpos se entendem, mas as almas não.

A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Vou-me embora pra Pasárgada!

Aqui eu não sou feliz.

Quero esquecer tudo:

— A dor de ser homem . . .

Este anseio infinito e vão

De possuir o que me possui.

 

Quero descansar

Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei

Na vida inteira que podia ter sido e que não foi.

 

Quero descansar.

Morrer.

Morrer de corpo e de alma.

Completamente.

 

(Todas as manhãs o aeroporto em frente me da lições de partir.)

 

Quando a Indesejada das gentes chegar

Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,

A mesa posta,

Com cada coisa em seu lugar.

 

 

Este poema é um centão. A palavra "centão" nada tem a ver com "cento"

e vem do latim "cento, centonis", que significa colcha de retalhos. . . . Tive

a idéia de construir um poema só com versos ou pedaços de versos meus

mais conhecidos ou mais marcados da minha sensibilidade, e que ao mesmo

tempo pudesse funcionar como poema para uma pessoa que nada conhecesse

da minha poesia. (De uma carta de Manuel Bandeira a Odylo Costa Filho)

 

 

RONDÓ DOS CAVALINHOS

 

Os cavalinhos correndo,

E nos, cavalões, comendo . . .

Tua beleza, Esmeralda,

Acabou me enlouquecendo.

 

Os cavalinhos correndo,

E nós, cavalões, comendo . . .

O sol tão claro lá fora,

E em minhalma — anoitecendo!

 

Os cavalinhos correndo,

E nós, cavalões, comendo . . .

Alfonso Reyes partindo,

E tanta gente ficando . . .

 

Os cavalinhos correndo,

E nos, cavaloes, comendo . . .

Á Itália falando grosso,

A Europa se avacalhando . . .

 

Os cavalinhos correndo,

E nós, cavalões, comendo ...

O Brasil politicando,

Nossa! A poesia morrendo . . .

O sol tão claro lá fora,

O sol tão claro, Esmeralda,

E em minhalma — anoitecendo!

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ESCRITURA: Anna Bella Geiger, Anna Letycia, Cecília Jucá, Maria Luiza Leão, Marília Rodrigues, Renina Katz, Thereza Miranda, Vera Bocayuva Mindlin. Textos: Euclides da Cunha, Aníbal Machado, Vassily Kandinsky, Gastão de Holanda, Octavio Paz, Victor Vasarely, [e os poetas] Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade. Coordenação: Gastão de Holanda, Cecília Jucá, Lúcia Linda. Rio de Janeiro: 1973.   8 cadernos (inconsúteis) assinados pelos artistas.  Textos em português, inglês e francês. Tiragem: 200 exemplares numerados de 1 a 200; 15 exemplares numerados de I a XV.  Textos impressos em offset; serigrafia, xilogravura e gravura em metal, para as ilustrações originais. Impressão dos textos e fotolitos: Graphos Industrial; Serigrafias no ateliê de Lucho Covararrubias. Encadernação: ateliê Denoir Machado e Sérgio dos Santos, prelos manuais. Ex. n. 154/200 na bibl. Antonio Miranda.

 

Veja o caderno com os versos de MANUEL BANDEIRA ilustrados por Thereza Miranda>>>

 

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BANDEIRA, Manuel.  Mafuá de Malungo.  Versos de circunstância. Nova edição aumentada.  Rio de Janeiro: Livraria São José Editora, 1954.  120 p.   13,4x18 cm.  Col. A.M.

Teu nome

Teu nome,  voz das sereias,
Teu nome, o meu pensamento
Escrevi—o nas areias,
Na água — escrevi-o no vento.

 

 

Autorretrato

Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.

 

 

 

BANDEIRA, Manuel. Carnaval. Apresentação de Affonso Romano de Sant´Anna. Coordenação editorai André Seffrin. São Paulo: Global, 2014.  110 p. ilus. foto. p&b. “ Manuel Bandeira “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

CARNAVAL” de MANUEL BANDEIRA, com apresentação de AFFONSO ROMANO DE SANT´ANNA

“Carnaval” (1919) é um dos primeiros livros de Bandeira, de seu período “parnasiano”, mas com jogadas sutis de sarcasmo e maledicências. O poeta chegou a desconsiderar a própria obra, que recebera críticas acérrimas. Desautorizou alguns dos próprios poemas. Affonso Romano de Sant´Anna vem em defesa do poeta, ressaltando as virtudes dos textos preteridos, em “prefácio” erudito e consubstanciado. Eu já possuía em minha estante as obras completas do poeta pernambucano. Comprei a edição da editora Global (2014) por causa da referida apresentação e confesso: Valeu! Escolhi dois poemas mais líricos e curtos, mais distantes da temática central, menos conhecidos, para o nosso Portal.  ANTONIO MIRANDA

 

Madrigal

 

A luz do sol bate na lua...
Bate na lua, cai no mar...
Do mar ascende à face tua,
Vem reluzir em teu olhar...

E olhas nos olhos solitários,
Nos olhos que são teus... E assim
Que eu sinto em êxtases hinários
A luz do sol cantar em mim...


 

Confidência

 

Tudo o que existe em mim de grave e carinhoso
Te digo aqui como se fosse ao teu ouvido...
Só tu mesma ouvirás o que aos outros não ouso
Contar do meu tormento obscuro e impressentido.

Em tuas mãos de morte, ó minha Noite escura!
Aperta as minhas mãos geladas. E em repouso
Eu te direi no ouvido a minha desventura
E tudo o que em mim há de grave e carinhoso.

 

 

 

BANDEIRA, ManuelMafuá de MalungoJogos onomásticos e outros Versos de circunstancia.  Barcelona, España: O Livro Inconsútil, 1948.   78 p.  Folhas soltas14,5x21 cm.  Tiragem: 110 exemplares impressos em imprensa manual, na casa do poeta João Cabral de Melo Neto.  “ Manuel Bandeira “ Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família de Marly de Oliveira.

 

 

SONETO PARNASIANO E ACRÓSTICO EM LOUVOR
DE HELENA OLIVEIRA

 

Houve na Grécia antiga uma beleza rara
(Em versos de ouro o grande Homero celebrou-a),
Linda mais do que a mente humana imaginara,
E cuja fama sem rival inda ressoa.

Não a compararei porém (quem a compara?)
À que celebro aqui: a outra não era boa.
O esplendo da beleza é sol que só me aclara
Luzindo sob o véu do pudor que afeiçoa.

Inspiremo-nos, pois, não da Helena de Troia,
Versátil coração, frio como uma joia,
Em cujo lume ardeu uma cidade inteira.

Inspiremo-nos, sim de um Helena mais pura.
Ronsard mostrou na sua uma flor de ternura:
A mesma que orna esta Helena brasileira.

 

 

CASA GRANDE E SENZALA

 

Casa Grande & Senzala,
Grande livro que fala
Desta nossa leseira
          Brasileira.

 

Mas com aquele forte
Cheiro e sabor do Norte
— Dos engenhos de cana
          (Massangana!)

 

Com fuxicos danados
E chamegos safados
De mulecas fulôs
 Com sinhôs.

 

A mania ariana
Do Oliveira Viana
Leva aqui a sua lambada
          Bem puxada.

 

Se nos brasis abunda
Genipapo na bunda,
Se somos todos uns
          Ocotoruns,

 

Que importa? É lá desgraça?
Essa história de raça,
Raças más, raças boas
          — Diz o Boas —



É coisa que passou
Com o franciú Gobineau.
Pois o mal do mestiço
          Não está nisso.

 

Está em causas sociais,
De higiene e outras que tais:
Assim pensa, assim fala
          Casa Grande & Senzala.

 

Livro que à ciência alta
A profunda poesia
Que o passado revoca
          E nos toca

 

A alam do brasileiro
Que o portuga femeeiro
Fez e o mau fado quis
          Infeliz!

 

 

 

 


"NA BOCA" -  POEMA DE MANUEL BANDEIRA NA VOZ DE EDSON NERY DA FONSECA

                (Olinda, Pernambuco, 16/11/2010)

Videomaker: Nildo Barbosa Moreira para o Portal de Poesia Iberoamericana

 

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"ARTE DE AMAR" -  POEMA DE MANUEL BANDEIRA NA VOZ DE EDSON NERY DA FONSECA

                (Olinda, Pernambuco, 16/11/2010)

Videomaker: Nildo Barbosa Moreira para o Portal de Poesia Iberoamericana

 

10 POEMAS EM MANUSCRITO.  Organizador: João Condé Filho. Rio de Janeiro: Edições Condé, 1945.  Folhas soltas, dobradas.  29x39 cm. Prefácio de Álvaro Lins.  Capa de Santa Rosa. 

Inclui poemas manuscritos de Abgar Renault, Cecília Meireles, Murilo Mendes e Augusto Meyer ilustrados por Tomas Santa Rosa; poemas de Jorge de Lima, Mário de Andrade e Vinicius de Moraes ilustrados por Percy Deane; poemas de Augusto Frederico Schmidt, Carlos Drummond de Andrade  e Manoel Bandeira ilustrados por Cândido Portinari. A clicheria foi executada por Latt & Cia Ltda e a impressão esteve a cargo do mestre  João Luis dos Santos, nas oficinas gráficas dos Irmãos Pongetti.  “Desta  edição foram tirados 15 exemplares F.C., numerados de I a XV e destinados ao prefaciador, aos poetas e aos ilustradores e 150 exemplares numerados de 1 a 150, compostos em papel Goatskin Parchment e com a rubrica do organizador. Exemplar n. 132. Col. bibl. Antonio Miranda. 

 

 

Poema de Manuel Bandeira, ilustrado por Portinari.

 

 

 

        POEMA SÓ PARA JAYME OVALLE

 

Quando hoje acordei, ainda fazia escuro

(Embora a manhã já estivesse avançada).

Chovia.

Chovia uma triste chuva de resignação

Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.

Então me levantei,

Bebi o café que eu mesmo preparei,

Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...

- Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.

 

 

 

Imagem extraída  de

DIAS-PINO, Wlademir.  A lisa escolha do carinho (Rio de Janeiro: Edição Europa, s.d.  
20,5x20,5 cm.  33 f. ilustradas  (Coleção Enciclopédia Visual).   Inclui versos de 
poetas brasileiros

 

 

Se Manuel
Manuelbandeirava o mundo de branco
Mauelava todos os poetas
Nordestinava e universalizava o puro
E ainda estrelava a vida inteira

 

 

Textos e imagem extraídos de

 

PORTOCALVO, Joilson.  Poesia das cores. Brasília: Thesaurus Editora, 2012.  36 p.  ilus. col.  Ilustrado por Adegildo Ferreira de Barros. Projeto gráfico e diagramação de Carlos DTarso.  Texto bilíngue português e espanhol. Tradução de Javier Iglesias e Raúl Larrosa Ballesta. ISBN 978-85-409-0071-4  Capa com “janela” perfurada “à faca”.   Poesia infanto-juvenil.  Col. A.M.   (EA)

 

 

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Manuel Bandeira, Óleo de Portinari



TEXTOS EN ESPAÑOL
(Traducciones de Anderson Braga Horta y José Jeronymo Rivera)

 

DESENCANTO

 

Yo hago versos como quien llora

De desaliento ... de desencanto ...

Cierra mi libro, si por ahora

Razón no tienes para tu llanto.

 

Mi verso es sangre. Lujuria ardiente ...

Tristeza suelta ... vana aflicción ...

Duele en las venas. Acre y caliente,

Cae, gota a gota, de! corazón.

 

Y en estos versos de angustia loca

Corre la vida, mis labios hiere,

Dejando acerbo gusto en la boca.

— Yo hago versos como quien muere.

                                                                      JJR

 

BODA ESPIRITUAL

 

Tú no estás junto a mí en momentos escasos:

En mi imaginación, amor, vives desnuda,

Toda desnuda, bella y púdica, en mis brazos.

 

Tu hombro, ansiosamente, en e! mío se escuda.

Acaricio tu pelo. Y tu mirar se hace agua ...

iCómo tiembla esta mano! Es tuya ... Y quedas muda ...

 

Pone e! gozo en tu rostro algo entre angustia y fragua.

Tu cuerpo en crispación me alucina. De escorzo

Lo veo estremecer como sombra en e! agua.

 

Gimes casi llorando -¡oh, suplicante torso!­

Y para amortiguar ese ardiente deseo,

La mano largamente extiendo por tu dorso ...

 

Tu boca ya sin voz implora en un jadeo.

Te estrecho más y más. Tu desnudez ... mi puerto ...

La maravilla astral de ese cuerpo que veo ...

 

Y te amo como se ama a un pajarillo muerto.

                                                                      ABH

 


 FELICIDAD

 

La dulce tarde muere. Y tan mansa

Como un bostezo,

Tan lentamente en cielo de rezo,

Que así parece, toda en reposo,

Como un suspiro de extinto gozo

De una profunda, larga esperanza

Que, al fin cumplida, muere, descansa ...

 

Mientras la mansa tarde agoniza,

Entre la niebla fría del mar

Mi alma toda huye en la brisa:

¡Y tengo ganas, ay, de matarme!

 

¡Oh, quitarse uno la propia raíz!..

Bien sé, no es cosa para desear.

¿Qué más la vida me puede dar?

¡Soy tan feliz!

 

-Ven, noche mansa ...

 

                                                     JJR

 

PROFUNDAMENTE

 

Cuando ayer yo me dormí

En la noche de San Juan

Había alegría y rumor

Estruendos de fuegos luces de Bengala

Voces canciones y risas

J unto a hogueras que ardían.

 

En medio de la noche me desperté

No oí más voces ni risas

Solamente globos

Pasaban errantes

Silenciosamente

Sólo de vez en cuando

El ruido de un tranvía

 

Cortaba el silencio

Como un túnel.

¿Dónde estaban los que ha poco

Bailaban

Cantaban

Reían

Junto a hogueras que ardían?

 

—Estaban todos dormidos

Estaban todos acostados

Dormidos

Profundamente

 

Cuando yo tenía seis anos

No pude ver el fin de la fiesta de San Juan

Porque me dormí

 

Hoy no oigo más las voces de aquel tiempo

Mi abuela

Mi abuelo

Totonio Rodrigues

Tomasia

Rosa

¿Dónde están todos ellos?

 

Están todos dormidos

Están todos acostados

Dormidos

                                                      JJR

 


ESTRELLA DE LA MAÑANA

 

Quiero la estrella de la mañana

¿Dónde está la estrella de la mañana?

Mis amigos mis enemigos

Busquen la estrella de la mañana

Ella desapareció iba desnuda

¿Desapareció con quién?

Busquen por todas partes

 

Digan que soy un hombre sin orgullo

Un hombre que acepta todo

(Qué me importa?

Quiero la estrella de la mañana

 

Tres días y tres noches

Fui asesino y suicida

Ladrón, bellaco, falsario

 

Virgen mal sexuada

Atribuladora de los tristes

Jirafa de dos cabezas

Pecad por todos pecad con todos

Pecad con los tunantes

Pecad con los sargentos

Pecad con los fusileros navales

Pecad de todas las maneras

Con los griegos y los troyanos

Con el cura y con el sacristán

Con el leproso de Pouso Alto

 

Después conmigo

Te esperaré con kermesses novenas cabalgadas comeré

          [tierra y diré cosas de una ternura tan simple

Que tú desfallecerás

 

Busquen por todas partes

Pura o degradada hasta la última bajeza

Quiero la estrella de la mañana.

                                                                    JJR

 


MOMENTO EN UN CAFÉ

 

Cuando el entierro pasó

Los hombres que estaban en el café

Quitáronse el sombrero maquinalmente

Saludaban al muerto distraídos

Estaban todos vueltos para la vida

Absortos en la vida

Confiantes en la vida.

 

Uno sin embargo se descubrió en un gesto amplio y lento

Mirando al ataúd largamente

Éste sabía que la vida es una agitación feroz y sin finalidad

Que la vida es traición

Y saludaba a la materia que pasaba

                                                                 Liberada para siempre del alma extinta.

 

                                                                 JJR

 


LA ESTRELLA

 

¡Vi una estrella tan alta,

Vi una estrella tan fría!

Vi una estrella luciendo

Sobre mi vida vacía.

 

¡Era una estrella tan alta!

¡Era una estrella tan fría!

Una estrella solitaria

Luciendo en e! fin de! día.

 

(Por qué de su gran distancia

Hasta la morada mía

No bajaba aquella estrella?

¿Por qué tan alta lucía?

 

Y la oí en la sombra honda

Responder que así lo hacía

Para dar una esperanza

Más triste al fin de mi día.

 

                                                                        JJR

 


Extraídos de la antología POETAS PORTUGUESES Y BRASILEÑOS DE LOS SIMBOLISTAS A LOS MODERNISTAS. / Organización y estudio introductoria: José Augusto Seabra.  Brasilia: Thesaurus, 2002.  472 p.

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De
Manuel Bandeira
MOMENTO EN UN CAFE
y otros poemas.

Buenos Aires: Calicanto, 1979
Edución con el apoyo de la Embajada del Brasil



Traducciones de Estela dos Santos

 

O SILÊNCIO

Na sombra cúmplice do quarto
Ao contacto das minhas mãos lentas,
A substância da tua carne
Era a mesma que a do silêncio.

Do silêncio musical, cheio
De sentido místico e grave,
Ferindo a alma de um enleio
Mortalmente agudo e suave.

Ah, tão suave e tão agudo!
Parecia que a morte vinha...
Era o silêncio que diz tudo
O que a intuição mal adivinha.

É o silêncio da tua carne,
Da tua carne de âmbar, nua,
Quase a espiritualizar-se
Na aspiração de mais ternura.

         (De  O Ritmo Dissoluto)



 

EL SILENCIO

En la sombra cómplice del cuarto,
Al contacto de mis manos lentas,
La sustancia de tu carne
Es igual a la del silencio.

Del silencio musical, lleno
De sentido místico y grave,
Hiriendo el alma  con una turbación
Mortalmente aguda y suave.

!Ah tan suave y tan aguda!
Parecía que la muerte venía...
Era el silencio que dice todo
Lo que la intuición apenas adivina.

Es el silencio de tu carne.
De tu carne de ámbar, desnuda,
Casi espiritualizándose
En la aspiración de más ternura.



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PEREGRINAÇÃO

O córrego é o mesmo,
Mesma , aquela árvore,
A casa, o jardim.
Meus passos a esmo
(Os passos e o espírito)
Vão pelo passado,
Aí tão devastado,
Recolhendo triste
Tudo quanto existe
Ainda ali de mim
— Mim daqueles tempos!

         (De Lira dos Cinquent´anos)

 

PEREGRINACIÓN

 El arroyo es el mismo,
El mismo es aquel árbol,
La casa, el jardín.
(Los pasos y el espíritu)
Van por el pasado,
Ay, tan devastado,
Recogiendo triste
Todo cuanto existe
Aún allí de mí
— !Mi de aquellos tiempos!


POESÍA CONTEMPORÁNEA DE AMÉRICA LATINA. Org. Jorge Boccanera; Saúl Ibargoyen.         México, DF: Editores Mexicanos Unidos, 1998.  260 p.  Inclui poetas brasileiros.

 

EL ÚLTIMO POEMA

Así querría yo mi último poema.
Que fuese tierno diciendo las cosas más simples
y menos intencionadas,
que fuese ardiente como un sollozo sin lágrimas,
que tuviese la belleza de las flores casi sin perfume,
la pureza de la llama en que se consumen
       los diamantes más límpidos
la pasion de los suicidas que se matan sin explicaciones.


JAQUELINE

Jacqueline murió niña.
Jacqueline muerta era más hermosa que los ángeles.
¡Los ángeles! Bien sé que no los hay en ninguna parte.
Lo que hay es mujeres extraordinariamente bellas
       que mueren
       siendo todavía niñas.
Hubo un tiempo cuando miré tus retratos
       de niña como miro
       ahora la pequeña imagen de Jacqueline muerta.
¡Eras tan hermosa que merecias haber muerto
       a la edad de Jacqueline!
—Pura como Jacqueline.

 

 

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POÉTICA

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
         expediente protocolo e manifestações de
         apreço ao Sr. diretor.
Estou farto de lirismo que pára e vai averiguar no
         dicionário o cunho vernáculo de um vocábulos

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
         do amante exemplar com cem modelos de
         cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

                   (De Libertinagem)

 

 

BACK, Sylvio.  Cinquenta anos. Díário do Paraná. Edição fac-similar.  Capa : Guilherme           Mansur.  Reprodução fotográfica: Cadi Busatto. Coordenação gráfica: Rita de Cássia Solieri Brandt.  Projeto gráfico: Adriana Salmazo Zavadniak.  Curitiba, Paraná:  Itaipu Binacional, 2011.  S. p.  Inclui 7 folhas dobradas  94 x  1,26  cm., com imagens de páginas do suplemento literários dos anos 1959 – 1960, acomodadas numa caixa de papelão 35x 48 cm.  Ex. bibl. Antonio Miranda. 

 

 

 B A C A N A L

Quero beber! cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco...
Evoé Baco!

Lá se me parte a alma levada
No torvelinho da mascarada
A gargalhar em doudo assomo...
Evoé Momo!

Lacem-me toda, multicores,
As serpentinas dos amores
Cobras de lívidos venenos...
Evoé Venus!

Se perguntarem que mais queres
Além de versos e mulheres?
Vinhos... o vinho que é o meu fraco
Evoé Baco!

O alfanje rútilo da lua,
para degolar a nuca nua
Que me alucina e que eu não domo!
Evoé Momo!

A Lira etérea, a grande Lira!
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
Evoé Venus!

 

---
Poema extraído da edição de 30 de agosto de 1959

 

 

 

 


 

TEXTOS EN ESPAÑOL

 


POÉTICA

Estoy harto del lirismo comedido
Del lirismo bien educado
Del lirismo funcionario público con libro de
         asistencia  expediente  protocolo y
         manifestaciones de aprecio al sr. director
Estoy harto del lirismo que se detiene para
         averiguar en el diccionario el cuño vernáculo
         de un vocablo.

Abajo los puristas

Todas las palabras sobre todo los barbarismos universales
Todas las construcciones sobre todo las sintaxis de excepción
Todos los ritmos sobre todo los innumerables

Estoy harto del lirismo sentimentaloide
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo obsecuente con todo menos consigo mismo

Además no es lirismo
Será contabilidad tabla de cosenos secretar del amante
         ejemplar con cien modelos de cartas y las diferentes
         maneras de gustar a las mujeres etc.

Prefiero el lirismo de los locos
El lirismo de los borrachos
El lirismo difícil y errante de los borrachosd
El lirismo de los clowns de Shakespeare

                   —No queiro saber nada más del lirismo que no es liberación.

 

Comentario: "El modernismo brasileño, al que Bandeira habría de incorporarse con entusiasmo, no basa sus propuestas en el desdén por lo intelectual sino en la lucha frontal con un intelectualismo amanerado y anacrónico. Sus ideas expresan la saturación de un tempramento que anhela conciliar el lenguaje y experiencia desde una perspectiva igualmente equidistane del alma romántica y del andamiaje verbal del parnasianismo. Así lo dirá Manuel Bandeira en su Poética."dice Santiago Kovadloff del poema transcito arriba).  Un metapoema.

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SONETO INGLÉS No. 2

 

Aceptar el castigo inmerecido,
No por flaqueza sino por desprecio.
Que en el tormento sea tu gemido
Grito de odio contra el verdugo necio.
Placer de la carne y el pensamento
Com los que el instinto nos lleva a engaño
Menospreciar el noble sentimento
De un afecto sencillamente humano
No temblar de esperanza ni de espato.
Ningún pedido ni deseo alguno
Sino el valor de ser un nuevo santo
Sin fe en un mundo más allá del um ndo.
          Y así, morir sin llanto, que la vida
          No amerita el dolor de ser vivida.

 

 

(De Lira dos cinquenta anos (1940)) Traductor: ÓSCAR LIMACHE.

Extraído de DIENTE DE LEÓN  - cipselas de difusión poética. N. 6, agosto de 2012.  Director: Óscar Limache.

 

  

Tragedia brasileña

 

Misael, funcionário de Hacienda, de 63 anos,

          conoció a Mana Elvira en la Lapa, prostituida, con
          sífilis, artritis, una alhaja empenada y los dientes
          en estado de miséria.

Misael retiro a Mana Elvira de esa vida, la instalo en un
          departamento en el Estácio, pagó médico, dentista,
          manicurista...
Le dio todo cuanto quiso.

Cuando Maria Elvira tuvo una boca bonita, de inmediato
          encontró amante.

Misael no queria un escândalo. Pudo darle una golpiza,
          un tiro, una puñalada. No hizo nada de eso:
          la mudó de casa.

Vivieron tres anos así.

Cada vez que Maria Elvira se hacía de un amante,
          Misael la cambiaba de casa.

Vivieron en el Estácio, en Rocha, Catete, Calle General
          Piedra, Olaria, Ramos, Buen Suceso, Villa Isabel,
          Calle del Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado,
          Calle, Clapp, otra vez en el Estácio, Todos los Santos,
          Catumbi, Lavradio, Boca de Mato, Inválidos...

Por último, en la Calle de la Constitución, donde Misael un dia,
          ya privado de sentidos e inteligência, la mató de seis tiros.
          La policia la encontró caída de bruces, vestida de
          organdí azul.

 

 

Unidad

 

Mi alma estaba en aquel instante
fuera de mí lejos muy lejos

 

Llegaste y de inmediato fue verano

El verano con sus palmas su calor sus vientos de juventud

 

En vano tus caricias insinuaban quebranto y molicie
El instinto de penetración ya despierto
Era como una saeta de fuego

 

Entonces mi alma fue viniendo
Fue viniendo desde muy lejos
Fue viniendo

Para de pronto entrar y sacudirme
En el momento fugaz de la unidad

 

 

Extraídos de

COBO BORDA, Juan Gustavo.  Cuerpo erótico.  Selección de Juan Gustavo Cobo Borda.Bogotá: Villegas Editores, 2005. 

 

Tonada última del callejón

 

Callejón en que viviera

y que canté en unos versos

llenos de elipsis mentales,

callejón de mis tristezas

y de mis perplejidades

y también de mis amores

(besos, abrazos, quimeras),

adiós, para siempre adiós.

 

Demolerán esta casa,

pero no mi viejo cuarto

que ha de mantenerse en pie,

no como forma imperfecta

de este mundo de apariencias:

se alzará en la eternidad,

con sus libros, con sus cuadros,

¡intacto y puro en el aire.

 

Calle de encendidas zarzas,

de pasiones sin mañana,

cuanta luz mediterránea

no guardaron estas piedras

en su mocedad suntuosa:

¡rocíos de las auroras!

¡pureza de las mañanas!

Callejón de mis tristezas,

no me avergüenzo de ti.

 

¿Fuiste de mujeres malas?

¡Todas son hijas de Dios!

Antes fuiste la calleja

de un convento carmelita . .

luego fuiste de los pobres

cuando, pobre, vine aquí.

 

Lapa —Lapa del Destierro—,

 lapa de los pecadores

(mas cuando suenan las seis,

 en la voz de las campanas,

como la voz que anunciara

la concepción de Maria,

 ¡Que gracias angelicales!)

 

Nuestra Señora del Carmen

desde su altar solicita

limosna para los pobres,

limosna pide y piedad

para las mujeres tristes,

para las negras mujeres

que de noche se refugian

en los portales del templo.

 

Calle nacida a la sombra

de conventuales paredes,

calle para mi sagrada,

como sagrada es la vida

a pesar de tus pecados,

nunca te dejé de amar

y canto para decirte:

adiós, para siempre, adiós!

 

 

[Version de Harold Alvarado Tenorio

Arquitrave Nº 61 Octubre-Diciembre 2015

 

 

VITUREIRA, Cipriano S.  Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade - Tres edades en la Poesía Brasileña actual. Estudio y antología.  Dibujos de  Adolfo Pastor.  Montevideo: Ediciones A.C.E.B.U. , 1952.    Exemplar n. 16,  assinada pelo Autor, de uma  tiragem especial de 60 exs. Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

VOZ AJENA

 

Como del árbol verde, la hoja desprendida
tiembla y flota al azar sobre el arroyo umbrío,
déjate así llevar también por esta vida
que es un largo, ondulante y misterioso río...

En tanto no sorprenda tu carne dolorida
aquella sensación final de eterno frío,
ábrete al sol que en luz a la alegría convida
y cólmate de cantos;
¡ ok, corazón vacío!

Ya el ala de los vientos suelta camélias, rosas.
Todo el paisaje sueña. Las matas olorosas
hacia el cielo el aroma de los mirtos levantan.

Goza tú el aire pleno. Y al sentir que reposas
olvida vanas penas en los campos que cantan
y transfunde en tu alma el alma de las cosas...

 

                    (De “La ceniza de las horas” 1917)

 

 

LAMENTO DEL MALQUERIDO

 

  Doncella, deja tu aya,
ten pena de mi penar.
Ya en las avanzadas raya
el clarón crepuscular,
y mi mirar se desmaya
transido de procurar.
Del nido precioso explaya
—cielo puro, tu sonar—
vístete la fina saya,
muéstrate al fulgor lunar.

  Desprende una vez, bien haya!
del yermo balcón del lar
como una ardiente azagaya
tu centelleante mirar.

  Doncella, deja tu aya,
ten pena de mi penar... "

Soy mancebo de alta laya:
no trabajo y sé lidiar.
Relinchan entre mis cuadras
cabalgaduras sin par.
Tengo lacayo y lacaya.
¡ Se come un buey en mi hogar!

Castellana airosa y gaya,
atiende mi suspirar
antes que la luz se vaya...
Ten pena de mi penar.

Como un bastardo, a Viscaya
al golfo, me voy a ahogar.
Blasfema mi alma y desmaya
—alma que vas a danar—
Dona Olaya ¡ Dono Olaya!

—Mi laud de buena haya
llora lento sollozar...

 

          (De “La ceniza de las horas” 1917)

 

 

NOCHE MUERTA

 

   Noche muerta.
Junto al poste del alumbrado
están los sapos engullendo mosquitos.

   Nadie passa por el caminho abierto.
Ni un ebrio.

   Sin embargo hay seguramente por él uma procesión de sombras.
Sombras de todos los que pasaron;
de los que aún viven, de los que murieron.

   El arrouyelo llora.
Es la voz de la noche...

   Pero no de esta noche, sino de outra mayor.

 

                    (De “Rl ritmo disoluto” 1924)

 

 

 IRENE EN EL CIELO

 

    Irene negra
Irene buena
Irene siempre de buen humor.

   Me imagino a Irene entrando en el cielo:
— Compermiso, mi blanco!
Y San Pedro bonachón:
— Entra
Irene. Tú no necessitas pedir permiso.

 

                        (De “Libertinaje” 1930)

 

 

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OS SAPOS

 

0 sapo - tanoeiro
Parnasiano aguado
Diz:- "Meu cancioneiro
é bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
0 meu verso e bom
frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
Clama a saparia
Em críticas céticas
Não há mais poesias
Mas artes poéticas.

 

Longe dessa grita
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá fugindo ao mundo
Sem glória, sem
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu
Transido de frio
Sapo cururu
Da beira do rio.

Extraído de: Revista de Cultura Brasileña N. 33, p. 58-59


LOS SAPOS

El sapo tonelero
parnasiano aguado
dijo: Mi cancionero
está bien amartillado.
Ved como primero
me como los hiatos.
;Que arte! Y nunca rimo
los terminos cognatos.
Mi verso es bueno
cereal sin cizaña.
Hago rimas con
consonantes de apoyo.
Hace cincuenta años
que les dí la norma:
Reduje sin daños
a hormas la forma.
Clama el trabajo oculto
en críticas céticas
ya no hay poesía
sino artes poéticas

Lejos de ese grito
alli donde es más densa
la noche infinita
vierte la sombra inmensa;
alii, huyendo del mundo
sin gloria, sin fe
en el pozo profundo
y solitario, es
donde sollozas tu
transido de frío
sapo cururu
de la orilla del río.

 Traducción: Jorge Guimarães

POESIA MODERNA DEL BRASIL. Traducción, selección y notas de Raúl Navarro. Buenos Aires: Editorial Raigal, 1956. 252 p. (La Poesía) 11x19 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda

 

LA DAMA BLANCA

La Dama Blanca que yo encontre
Hace tantos años.
En mi vida sin ley ni rey,
Me sonrió em todos los desenganos.

¿ Era sonrisa de compasión?
¿ Era uma sonrisa de ironia?
No era escarnio ni piedad. Sino
Sólo em las tristezas me sonreiría.

Y la Dama Blanca sonrió también
A cada júbilo interior.
Sonreía como com cariño.
Pero todavia no era amor.

¿ Era deseo? — ¡ Cristo ! ¿ De tísicos?
¿ Por histeria? ... quién sabe no más...
La Dama tenía caprichos físicos:
Era uma estraña pervertida.

Era el genio de la corrupción.
Repertorio de vicios adulterinos.
Tuvo amantes: um montón.
Hasta mujeres. Hasta niños.

Al pobre amante que le quería,
Se le hurtaba sarcástica.
Con unos perjura, com otros fría,
Con otros mala.

La Dama Blanca que yo encontré,
Hace tantos años,
En mi vida sin ley ni rey,
Me sonrió en todos los desengaños.

Esa felicidade de años contínuos.
Sutil, me conquisto. ¡ E imaginad !
En una noche de mucho frío
A mi padre se llevó la Dama Blanca.

         (De Carnaval)

 

GOLONDRINA

La golondrina afuera está diciendo: —
“ ¡ Paseé el día inutilmente, inutilmente !”

!Golondrina, golondrina, mi cantar es más triste!
Pasé la vida inutilmente, inutilmente...

         (De Libertinagem)

 

EL ÚLTIMO POEMA

Así queria yo mi último poema
Que fuese tierno diciendo las cosas más simples
y menos intencionadas
Que fuese ardiente como un sollozo sin lágrimas Que tuviese la belleza de las flores casi sin perfume La pureza de la llama que consume los diamantes más límpidos La pasión de los suicidas que se matan sin explicación.

(De Libertinagem)

 

YO ME VOY PARA PASARGADA

Yo me voy para Pasárgada
Allá mi amigo es el rey
Tendré la mujer que quiero
En cama que escogeré
Yo me voy para Pasárgada

Yo me voy para Pasárgada
Aquí yo no soy feliz
Allá la vida es aventura
De tal modo inconsecuente
Que Juana la Loca de España
Reina y “soit-disant” demente
Viene a resultar pariente
De nuera que no tuve

Y como haré gimnástica
Andaré em bicicleta
Montaré em burros chúcaros
Treparé a la cucaña !
Tomaré baños de mar!
Y de sentirme cansado
Me echo al borde del río
Llamo a la Madre del Agua
Para que me cuente historias
Que en los tempos de mi infancia
Rosa me las há contado
Yo me voy para Pasárgada

Em Pasárgada hay de todo
Es otra civilización
Hay un proceso seguro
De impedir la concepción
Hay telefono automático
Hay alcaloide hasta hartar
Hay prostitutas bonitas
Para poderlas gozar

Y cuando me encuentre triste
Triste de no poder más
Cuando de noche sintiese
Que me quiero suicidar
— Allá mi amigo es el rey —
Tendré la mujder que quiero
En cama que escogeré.

Yo me voy para Pasárgada

         (De Libertinagem)

 

LA ESTRELLA Y EL ANGEL

Venus cayó llena de pudor en mi cama
Venus en cuyo ardor no había la mínima
                      partícula de sensualidade

Mientras gritaba yo su nombre tres veces
Dos grandes botones de rosas se marchitaron

Y mi ángel de la guarda quedó con sus manos
         unidas em el deseo insatisfecho de Dios.

         (De A Estrela da Manhã)

 

JACQUELINE

Jacqueline murió muy niña.
Jacqueline muerta era más bonita que um ángel.
¡  Ángeles ! ... Sé bien que no los hay em ninguna parte.

Lo que hay son mujeres extraordinariamente
           hermosas que mueren todavía niñas. ¡  
Em um tempo  miré tus retratos de niña como
         ahora  pequena imagen de
         Jacqueline muerta.
¡ Eras tan bonita !
Eras tan bonita, que merecías haber muerto em
         la edad de Jacqueline
— Pura como Jacqueline.

         (De A Estrela da Manhã)

 

ÚLTIMO CANTO DEL CALLEJÓN

Callejón que cante en dístico
Lleno de elipsis mentales.
Callejón de mis tristezas.
Y de mis perplejidades
(Mas también de mis amores.
De mis besos, de mis sueños).
¡ Adiós por siempre jamás !

Demolerán esta casa.
Mas mi cuarto há de quedar.
No como forma imperfecta
De este mundo de apariencias:
Quedará en la eternidade.
Con sus libros, con sus cuadros,
¡ En el aire sin variar !

Callejón de zarzas moras.
De pasiones sin después.
¡ Cuánta luz mediterranea
De esplendor adolescente
No recogió en estas piedras
De madrugada el rocío,
Pureza de amanhecer!

Callejón de mis tristezas,
¡ No me avergoncé de ti !

¡ Fuiste calle de mujeres ?
¡ Todas son hijas de Dios !
Antes fueron carmelitas...
Y eras sólo de pobres cuando,
Pobre, vine a vivir aquí.

Lapa — Lapa del Destierro —,
¡ Lapa contanto pecar !
(Pero cuando las seis toca,
La alta voz de las campanas,
Como esa voz que anunciaba
La concepción de María.
¡ Cuánta grcia angelical !)

Nuestra Señora del Carmen,
Pide desde su altar,
Limosnas para los pobres.
— Para mujeres tan tristes,
Para mujeres tan negras,
Que el templo les da refugio
 En sus noches sin hogar.

Callejón nacido en sombras
De la pared conventual,
Santo como la vida es santa
Pese a todas las caídas.
Por eso te amé conste,
Y canto para decirte !
¡ Adiós por siempre jamás!

         (De Lira dos Cinquent´anos) 

 

VERSOS DE NAVIDAD

Espejo, amigo verdadero,
Tú reflejas mis arrugas.
Y mis cabelos blancos.
Y mis ojos míopes y cansados.
Espejo, amigo verdadeiro,
Maestro del realismo exacto y minucioso.
¡ Gracias, muchas gracias !

Pero si fueses mágico,
Penetrarías hasta el fondo de este hombre triste,
Descubriendo al niño que alimenta este hombre,
El niño que todos los años en vísperas de Navidad
Piensa aún en poner sus zapatitos detrás de la puerta.

         (de Lira dos Cinquent´anos)

 

LA MUERTE ABSOLUTA

Morir. Morir em cuerpo y alma.
Completamente.

Morir sin dejar el triste despojo de la carne.
La exangue máscara de cera.
Rodeada de flores,
Que se pudrirán — ¡ dichosas ! — en un día,
Bañada de lágrimas
Nacidas menos de la nostalgia que del espanto
                                               de la muerte.
Morir sin dejar por acaso un alma errante...
¿ Em camino al cielo ?
¿ Pero qué cielo puede satisfacer tu sueño de cielo ?

Morir sin dejar un surco, un trazo, una sombra,
El recuerdo de una sombra
En ningún corazón, en ningún pensamiento,
En ninguna epidermis.

Morir tan completamente
Que un día al leer tu nombre en un papel
Pregunten: “ ¿ Quién fué ? ...”
Morir más completamente todavia,
— Sin dejar siquiera ese nombre.

         (de Lira dos Cinquent´anos)

 

MANZANA

Por un lado te veo como um seno
marchito Por outro como un vientre de cuyo ombligo pende
                                               aún el cordón placentário
Eres roja como el amor divino

Dentro de ti en pequenas simientes
Palpita la vida prodigiosa
Infinitamente

Y quedas tan simple
Junto a un cubierto
En un cuarto pobre de hotel.

(de Lira dos Cinquent´anos)

 

LA REALIDAD Y LA IMAGEN

El rascacielo sube en el aire puro que fué lavado
                                                     por la lluvia
Y descende, reflejando en el charco fanhoso del pátio.
Entre la realidade y la imagen, en el espacio seco
                                                         que las separa,
Cuatro palomas pasean.

         (de Poesias Escolhidas)

 

BRISA

Vamos a vivir en el nrodeste, Anarina.
Dejaré aquí mis amigos, mis libros, mis riquezas,
                                                   mi vergüenza
Dejarás aquí tu hija, tu abuela, tu marido, tu amante.

Hace aquí mucho calor.
En el nordeste hace calor también.
Pero allá hay brisa:
Vamos a vivir de brisa, Anarina.

         (de Poesias Escolhidas)

 

  

 

ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA. Selección, inroducción y traducción de ÁNGEL CRESPO.   Barcelona: Editorial Seix Barral, 1973.
 Serie Mayor 15.  440 p. ISBN 84-322-3815-5   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

         Poética

 

        Estoy harto del lirismo comedido
         Del lirismo bien educado
         Del lirismo funcionario público con cuaderno de notas expediente
                   protocolo y palabras de aprecio al Señor Director
        
         Estoy harto del lirismo que se detiene y va a averiguar en el
                   diccionário el caracter vernáculo de un vocablo
  
         Abajo los puristas

         Todas las palabras, sobre todo los barbarismos universales
         Todas la construciones, sobre todo las sintaxes de excepción
         Todos los ritmos, sobre todo los innumerables

         Estoy harto del lirismo galanteador
         Político
         Raquítico
         Sifilítico
         De todo el lirismo que capitula ante cualquier cosa que se ajena

         Por lo demás no es lirismo
         Será contabilidade, tabla de cosenos, secretario de amante
                   ejemplar con cien modelos de cartas y las diferentes
                   maneras de agradar a las mujeres etc.

         Mejor quiero el lirismo de los locos
         El lirismo de los borrachos
         El lirismo difícil y pungente de los borrachos
         El lirismo de los borrachos de Shakespeare

         — No quiero saber nada del lirismo que no es liberación.

 

 

         El último poema

 

        Así queria yo mi último poema

         Que fuese tierno diciendo las cosas más sencillas y menos
                   intencionales?
         Que fuese ardiente como un sollozo sin lágrimas
         Que tuviese la belleza de las flores casi sin perfume
         La pureza de la llama en que se consumen los diamantes
                   más límpidos
         La pasión de los suicidas que se matan sin explicaciones.

 

 

         Madrigal melancólico

 

        Lo que yo adoro en ti
         No es tu belleza.
         La belleza es en nosotros donde existe.
         La belleza es un concepto.
         Y la belleza es triste.
         No es triste en sí.
         Sino por lo que hay en ella de fragilidade e incertidumbre.

         Lo que yo adoro en ti
         No es tu inteligência.
         No es tu espíritu sutil.
         Tan ágil y tan luminoso.
         — Ave libre em el cielo matutino de la montaña.
         No es tu ciência
         Del corazón de los hombres y las cosas.

         Lo que yo adoro en ti
         No es tu gracia musical,
         Sucesiva y renovada a cada momento,
         Gracia aérea como tu propio pensamiento,
         Gracia que perturba y que satistace.

         Lo que yo adoro en ti
         No es la madre que ya perdí.
         No es la hermana que ya perdí.
         Y mi padre.

Lo que yo adoro em tu naturaleza     
No es el profundo instinto maternal
En tu flanco abierto como una herida.
Ni tu pureza. Ni tu impureza.
Lo que yo adoro enbn ti — ¡Lastímame y consuélame!
Lo que yo adoro en ti es la vida.

 

 

 Manzana

 

 Por un lado te veo como un seno marchito.
 Por el otro como un vientre de cuyo ombligo pende aún el
         condón placentario

 Eres bermeja como el amor divino

Dentro de ti en pequenas pepitas
Palpita la vida prodigiosa
Infinitamente

Y quedas tan sencilla
al lado de un cubierto
En un cuarto pobre de hotel.

 

 

Poema de finados

 

Mañana, dia de defuntos,
Ve al cementerio. Ve
Y busca en las sepulturas
En dónde a mi padre enterré.

Lleva tres rosas bien hermosas.
Di arrodillada una oración.
No por el padre, por el hijo:
Que tiene mayor precisión.

Lo que de mí queda en la vida
Es la amargura que sufrí.
Pues nada quiero, nada espero,
Y en verdad estoy muerto allí.

 

 

Mozart en el cielo

 

El día 5 de diciembre de 1791 Wolfgang Amadeus Mozart
         entró en el cielo, como un artista de circo, haciendo
         piruetas extraordinárias sobre un miravolante caballo
         blanco.
Los angelitos atónitos decían: ¿Qué ha sido? ¿Qué no há sido?
Melodías jamás oidas volaban en las líneas suplementarias
         superiores de la pauta.
Durante un momento se suspendió la contemplación inefable.
La virgen le besó em la cabeza
Y desde entonces Wolfgang Amadeus Mozaart fue el más
         joven de los ángeles.

 

 

Estupendo Estupendo

 

Estupendo estupendo estupendo,
Tengo todo cuanto quiero.

Tengo el fuego de las constelaciones  extinguidas hace milenios.
Y el trazo brevíssimo — ¿que há sido? ¡ya pasó! — de tantas
         estrellas candentes.

La aurora se apaga,
Y yo guardo las más puras lágrimas de la aurora.

El día viene, y día adentro
Continúo poseyendo el secreto grande de la noche.

Estupendo estupendo estupendo.
Tengo todo cuanto quiero.

No quiero el éxtasis ni los tormento.
No quiero lo que la tierra tan sólo da en trabajo.

Las dádivas de los ángeles son inaprovechable:
Los ángeles no comprenden a los hombres.
No quiero amar,
No quiero ser amado,
No quiero combatir,
No quiero ser soldado.
—Quiero la delicia de poder sentir las cosas más sencillas.

 

 

Arte de amar

 

Si quieres sentir la felicida de amar, olvida tu alma,
El alma es lo que estropea el amor.
Sólo en Dios puede encontrar satisfación,
No, en otra alma.
Sólo en Dios — o fuera del mundo.

Las almas son incomunicables.

Deja a tu cuerpo entenderse con otro cuerpo.

Porque los cuerpos se entienden, pero las almas no.

 

 

Preparación para la muerte

 

La vida es un milagro.
Cada flor,
Com su forma, su color, su aroma,
Cada flor es un milagro.
Cada pájaro,
Con su plumaje, su vuelo, su canto,
Cada pájaro es un milagro.
El espacio, infinito,
El tiempo es un milagro.
La memoria es un milagro.
La conciencia es un milagro.
Todo es milagro.
Todo menos la muerte.
—Bendita muerte, que es el fin de todos los milagros.

 

 

La realidad y la imagen

 

El rascacielos sube em el aire puro lavado por la lluvia
Y baja reflejado en el charco del patio.
Entre la realida y la imagen, en el suelo seco que las separa,
Cuatro palomas pasan.

 

 

Evocación de Recife

 

No la Venecia Americana.
Não la Lauaritsstad de armadores de las Indias Occidentales
No la Recife de los Mascates
Ni siquiera da la Recife que aprendí a amar después —
         Recife de las revoluciones libertarias
Sino la Recife sin historia ni literatura
Recife sin nada más
Recife de mi infância

La Calle de la Unión donde yo jugaba al frío-caliente y
         rompía los cristales de la casa de doña Anita Viegas
Totonio Rodrígues es muy viejo y se ponía los quevedos en
         la punta de la nariz
Después de cenar las familias ocupaban la calle con las sillas
         chismes, noviazgos, risas
Se jugaba en medio de la calle
Los niños gritaban:
                           
                            ¡Conejo sal!
                            ¡No sale!

A lo lejos las voces blandas de las niña politonaban:

                            Rosal dame una rosa
                            Clavel dame un capullo

(De aquellas rosas muchas rosas
Em capullo habrán muerto...)
De repente
                 en las lejanías de la noche
                                                          una campana

Una persona mayor decía:
¡Fuego en San Antonio!
Otra contrariaba: ¡San José!
A Totonio Rodrgues le parecia que siempre era en San José.
Los hombres se ponían el sombrero salían fumando
Y a mí me daba rabia de ser niño porque nos podía ir a ver el fuego

Calle de la Unión...
Qué lindos eran los nombre de las calles de mi infancia
Calle del Sol
(Me asusta que hoy se llame de Dr. Fulano de tal)

Detrás de la casa quedaba la Calle de la Saudade...
                            ...donde se iba a fumar a escondidas
Del lado de allá estaba el muelle de la Casa de la Aurora
                            ...donde se iba a pescar a escondidas

Capiberibe
Capiberibe
Allá lejos el sertoncito de Caxangá
Bañeras de paja
Un día vi a una muchacha desnudita en el baño
Me quedé parado con el corazón latiendo
Ella se rió
                   Fue mi primera iluminación

¡Crecida! ¡Las crecidas! Barro nbuey muerto árboles destrozos
         remolino desapareció
Y en la hojarasca del puente del ferrocarril los criollos intrépidos
         em yangadas de bananeira

Novenas
             Cabalgatas

Yo me eché en regazo de la niña y ella empezó a pasar
         la mano por mis cabellos

Capiberibe
—Capiberibe

Calle de la Unión por donde todas las tardes pasaba la
         negra de las bananas
                   Com el chal vistoso de paño de la Costa
Y el vendedor de rollo de cañas
El de cacahuetes
                          que se llamaban miduínes y nos eran
                                      torrados eran cocidos

Me acuerdo de todos los pregones:
                            Huevos frescos y baratos
                            Diez huevos por un patacó
Fue hace mucho tiempo...

La vida no me llegaba por los periodicos ni por los libros
Venía por la boca del pueblo en la lengua equivocada el Pueblo
Lengua verdadera del Pueblo
Porque él es el que habla gracioso el portugués del Brasil
                            Mientras nosotros
                            Lo que hacemos
                            Es imitar
                            La sintaxe lusíada
La vida con una porción de cosas que yo no entendìa bien
Tierras que no sabía donde quedaban

Recife...
            Calle de la Unión...
                                        La casa de mi abuelo...
¡Nunca pensé que se acabase!
Todo allá parecia impregnado de eternidad

Recife...          
Mi abuelo muerto
Recife muerto, Recife bueno, Recife brasileño como la casa

         de mi abuelo.

 

 

 

Buey muerto

 

Como en desbordada corriente,
Me siento medio submergido
Entre destrozos del presente
Dividido rueda, enorme, el buey muerto,
Buey muerto, buey muerto, buey muerto.

Árboles de un paisaje en calma,
Com vosotros — ¡altos de más! —
Queda el alma, la atónita alma,
Atónita por siempre jamás,
Que el cuerpo se va con el buey muerto,

Buey muerto, buey descomedido,
Buey espantosamente, buey
Muerto, sin forma ni sentido
Ni significado. Qué fue
Nadie lo sabe. Ahora es buey muerto,
Buey muerto, buey muerto, buey muerto.

Buey muerto, buey descomedido,
Muerto, sin forma ni sentido
Ni significado. Qué fue
Nadie lo sabe. Ahora es buey muerto,
Buey muerto, buey muerto, buey muerto.

 

 

Variaciones serias en forma de soneto

 

Veo mares tranquilos que reposan
Tras los ojos de las niñas serias.
Miran muy alto y lejos, mas no osan
Mirar a quien la mira, y quedan serias.

Al borde de los labios se les pasan
Ángeles invisibles. Mas tan serias
Son, alto y lejos, que ellos nunca osan
Dar una risa a aquellas bocas serias.

¿En qué pensais, oh niñas, si reposan
Mis ojos en los vuestros? ¡Ellos osan
Soledades hollar que son tan serias!

¿Pero podré deciros que ellos osan?
¿O van, por causas, ay, mucho más serías,
Pecados a lavar que no reposan?

 

 

HADAD, Jamil Almansur, org.   História poética do Brasil. Seleção e introdução de  Jamil Almansur Hadad.  Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio         Abramo.  São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943.  443 p. ilus. p&b  “História do Brasil narrada pelos poetas. 

HISTORIA DO BRASIL – POEMAS

O ESPÍRITO DA AUTONOMIA

 

Foto: WIKIPIDEA

 

OURO PRETO

 

Ouro Branco! Ouro Preto! Ouro Podre!  De cada
Ribeirão trepidante e de cada recosto
De montanha o metal rolou na cascalhada
Para o fausto d´el-Rei para a glória do imposto.

Que resta do esplendor de outrora? Quase nada;
Pedras...  templos que são fantasmas ao sols-posto.
Esta agência postal era a Casa de Entrada...
Este escombro foi um solar...  Cinza e desgosto!

O bandeirante decaiu... é funcionário.
Último sabedor da crônica estupenda,
Chico Diogo escarnece o último visionário.

E avulta apenas, quando a noite de mansinho
Vem, na pedra sabão lavrada como renda,
Sombra descomunal, a mão de Aleijadinho!

(POESIAS COMPLETAS – Civilização Brasileira -
Rio de Janeiro, 1940)

 

 

LUCENA, Gilberto de Sousa.  A Santa e o Barqueiro e Outros Ensaios.   João Pessoa, Idéia, 2006.  133 p.    
                                          Doação de Anderson Braga Horta


 

BALADA DE SANTA MARIA EGIPCÍACA

Santa Maria Egipcíaca seguia
Em peregrinação à terra do Senhor.

Caía o crepúsculo, e era como um triste sorriso de
mártir...

Santa Maria Egipcíaca chegou
À beira de um grande rio
Era tão longe a outra margem.

E estava junto à ribanceira,
Num barco,
Um homem de olhar duro.

Santa Maria Egipcíaca rogou:
— Leva-me à outra parte do rio.
Não tenho dinheiro. O Senhor te abençoe.

O homem duro fitou-a sem dó.

Caía o crepúsculo, e era como um triste sorriso de
mártir...
— Não tenho dinheiro. O Senhor te abençoe.
Leva-me à outra parte.
O homem dura escarneceu: — Não tens dinheiro.
Mulher, mas tens teu corpo.  Dá-me o teu corpo, e
vou levar-te.

E fez um gesto.  E a santa sorriu.
Na graça divina, ao gesto que ele fez.

Santa Maria Egipcíaca despiu
O manto, e entregou ao barqueiro
A santidade da sua nudez.

 

*

VEJA e LEIA outros poemas de MANUEL BANDEIRA em nosso Portal:

 

http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/brasil/manuel_bandeira.html

 

Página republicada em setembro de 2022

 

 

Página ampliada e republicada em junho 2008, idem novembro 2008.. ampliada e republicada em maio de 2010; ampliada e republicada em julho de 2015. Ampliada em novembro 2015. Ampliada em fevereiro de 2016. Ampliada em março de 2016. Ampliada em junho 2016. Ampliada em setembro de 2016 - Ampliada em agosto de 2018

 

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