Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



CECILIA MEIRELES

CECÍLIA MEIRELES

 

Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. É considerada uma das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa.



em Português   y Español

Veja também:  TEXTS IN ENGLISH

EN FRANÇAIS

EN ITALIANO

 

 

Veja também: Poemas infantis de Cecília Meireles

Veja também: Poemas infantis de Cecília Meireles 2


Tradução de poema de SARA TEASDALE  por CECÍLIA MEIRELES.

 

 

Veja também o ensaio: CECILIA MEIRELES E OS Poemas escritos na India por ANTONIO CARLOS SECCHIN

 

Veja também o ensaio:  CECÍLIA MEIRELES: SÓ SOMBRA – por ANTONIO CARLOS SECCHIN

 

 Vejam:  MODERNISMO : TRADIÇÃO E RUPTURA, por IVAN JUNQUEIRA, ensaio extraordinário (!!!) publicado originariamente na revista POESIA SEMPRE, da Fundação Biblioteca Nacional, em 1993. IMPERDÍVEL. Inclui texto sobre o poeta CECÍLIA MEIRELES:    http://www.antoniomiranda.com.br/ensaios/modernismo_tradicao_e_ruptura.html

 

Ver também: POESIA RELIGIOSA


Desenho de Cândido Portinari.

 

 

 


CECÍLIA MEIRELES (1901–1964) — Jornalista, educadora, cronista, realizou poesia das mais altas de nossa língua. Obras principais: Viagem, Vaga Música, Mar Absoluto, Retrato Natural, Romanceiro da Inconfidência, Metal Rosicler, Solombra. “Reinvenção” é de Vaga Música.

 

 

Extraído de: LEVE COMO UM BEIJA-FLOR.   São Paulo, SP: Laboratórios Wyeth-Whytehall Ltda, s.d.  64 p.  25,5X25 cm. Produzido por Segmento Farma. Fotos de beija-flores por Haroldo Palo Jr. Versos dos poetas Adélia Prado, Amadeu Amaral, Cecilia Meireles, Cora Coralina, Fernando Pessoa, Flavio Venturini Márcio Borges, Joyce Ana Terra, Judith Nunes Pires, Luis de Camões, Lupe Cotrim,  Nelson Angelo, Nelson Motta Rubens Queiroz, Olga Savary, Therezinha Guerra Del Picchia e Vinicius de Moraes.  “ Adélia Prado “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

  

 

 

MEIRELES, CecíliaPoesia completa. Volume 2. Apresentação de Alberto da Costa e Silva.           Coordenação Editorial André Seffrin.  São Paulo: Global Editora, 2017.  983 p.       14,5 x 22,5 cm. /Os dois volumes protegidos numa caixa de papelão. Ex. bibl. Antonio Miranda

 

PENSE PROSSIGA PARE

                 A Flora Egídio Thomé

 

PENSE   Prossiga Pare PARE     PENSE Prossiga PENSE   Pare PROSSIGA PENSE   PENSE Pare Pare       PENSE PROSSIGA

Etc.

1960

 

 

Do mar ao céu azul para onde sobem

 

 

Do mar ao céu azul para onde sobem
de azul a azul, estas escadas
pássaros antigos caídos
com suas asas encarnadas
ainda abertas, ainda estendidas,
em si mesmas desmoronadas...

 

Ó castelos de cavaleiros,
sangue e poeira das Cruzadas.
O mar e o céu nas aberturas
destas paredes arrombadas.
Os rostos, não, nem grito ou lança.
Mas, entre o azul e o azul, escadas.

 

                                                                  Setembro, 1962

 

De
Cecília Meireles 
PEQUENO ORATÓRIO DE SANTA CLARA
Gravuras de Manuel Segalá
Rio de Janeiro: Philobiblion, 1955.  ilus.  67 p
Edição de 320 exemplares, sendo este o de n. 63
autografado pela autora e  dedicado a Henriqueta Lisboa.
Acondicionado em caixa de madeira em formato de  oratório.


 

 

SERENATA

Uma voz cantava ao longe
entre o luar e as pedras.
E nos palácios fechados,
entregues às sentinelas,
— exaustas de tantas mortes,
de tantas guerras! —
estremeciam os sonhos
no coração das donzelas.
Ah! que estranha serenata,
eco de invisíveis festas!
A quem se dirigiam
palavras de amor tão belas,
tão ditosas
(de que divinos poetas?),
como as que andavam lá fora,
pelas ruas e vielas,
— diáfanas, à lua,
— graves, nas pedras...?


CONVITE

 

Fechai os olhos, donzelas,
sobre a estranha serenata!
Não é por vós que suspira,
enamorada...
Fala com Dona Pobreza,
o homem que na noite passa.
Por ela se transfigura,
— que é a sua Amada!
Por ela esquece o que tinha:
prestígio, família, casa...
Fechai os olhos, donzelas!
(Mas, se sentis perturbada
pela grande voz da noite
a solidão da alma,
— abandonai o que tendes,
e segui também sem nada
essa flor da juventude
que canta e passa!)

 

(...)

CLARA

Voz luminosa da noite,
feliz de quem te entendia!
(Num palácio mui guardado,
levantou-se uma menina:
já não pode ser quem era,
tão bem guarnida,
com seus vestidos bordados,
de veludo e musselina;
já não quer saber de noivos:
outra é a sua vida.
Fecha as portas, desce a treva,
que com seu nome ilumina.
Que são lágrimas?
Um vasto campo deserto,
a larga estrada divina!
Ah! feliz itinerário!
Sobrenatural partida!


================================


 

REINVENÇÃO

 

A vida só é possível

reinventada.

 

Anda o sol pelas campinas

e passeia a mão dourada

pelas águas, pelas folhas...

Ah! tudo bolhas

que vêm de fundas piscinas

de ilusionismo... — mais nada.

 

Mas a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada.

 

Vem a lua, vem, retira

as algemas dos meus braços.

Projeto-me por espaços

cheios da tua Figura.

Tudo mentira! Mentira

da lua, na noite escura.

 

Não te encontro, não te alcanço...

Só — no tempo equilibrada,

desprendo-me do balanço

que além do tempo me leva.

 

Só — na treva,

fico: recebida e dada.

 

Porque a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada.

 

 

                       

MOTIVO 

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

 

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

 

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço

- não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

 

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

- mais nada.

 

 

RETRATO

 

Eu não tinha este rosto de hoje,

assim calmo, assim triste, assim magro,

nem estes olhos tão vazio,

nem o lábio amargo.

 

Eu não tinha estas mãos sem força,

tão paradas e frias e mortas;

eu não tinha este coração

que nem se mostra.

 

Eu não dei por esta mudança,

tão simples, tão certa, tão fácil:

- Em que espelho ficou perdida

a minha face?

 

 

LEVEZA

 

Leve é o pássaro:

e a sua sombra voante,

mais leve.

 

E a cascata aérea

de sua garganta,

mais leve.

 

E o que lembra, ouvindo-se

deslizar seu canto,

mais leve.

 

E o desejo rápido

desse antigo instante,

mais leve.

 

E a fuga invisível

do amargo passante,

mais leve.    

 

 

CADA PALAVRA UMA FOLHA

 

Cada palavra uma folha

no lugar certo.

 

Uma flor de vez em quando

no ramo aberto.

 

Um pássaro parecia

pousado e perto.

 

Mas não: que ia e vinha o verso

pelo universo. 

 

HUMILDADE 

Tanto que fazer!

livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,

línguas que não se aprendem,

amor que não se dá,

tudo quanto se esquece.

 

Amigos entre adeuses,

crianças chorando na tempestade,

cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...

até o fim do mundo assinando papéis.

 

E os pássaros detrás de grades de chuva.

E os mortos em redoma de cânfora.

 

(E uma canção tão bela!)

 

Tanto que fazer!

E fizemos apenas isto.

E nunca soubemos quem éramos,

nem para quê.

 

 

SEGUNDO MOTIVO DA ROSA

 

         A  Mário de Andrade

 

Por mais que te celebre, não me escutas,

embora em forma e nácar te assemelhes

à concha soante, à musical orelha

que grava o mar nas íntimas volutas.

 

Deponho-te em cristal, defronte a espelhos,

sem eco de cisternas ou de grutas ...

Ausências e cegueiras absolutas

ofereces às vespas e às abelhas,

 

         e a quem te adora, ó surda e silenciosa,

e cega e bela e interminável rosa,

que em tempo e aroma e verso te transmutas !

 

Sem terra nem estrelas brilhas, presa

a meu sonho, insensível à beleza

que és e não sabes, porque não me escutas . . .

 

 

VIGÍLIA

 

Como o companheiro é morto,

todos juntos morreremos

um pouco.

 

O valor de nossas lágrimas

sobre quem perdeu a vida,

não é nada.

 

Amá-lo, nesta tristeza,

é suspiro numa selva

imensa.

 

Por fidelidade reta

ao companheiro perdido,

que nos resta?

 

Deixar-nos morrer um pouco

por aquele que hoje vemos

todo morto.

 

 

O CAVALO MORTO

 

Vi a névoa da madrugada

deslizar seus gestos de prata,

mover densidade de opala

naquele pórtico de sono.

 

Na fronteira havia um cavalo morto.

 

Grãos de cristal rolavam pelo

Seu flanco nítido: e algum vento

torcia-lhe as crinas, pequeno,

leve arabesco, triste adorno

 

— e movia a cauda ao cavalo morto.

 

As estrelas ainda viviam

e ainda não eram nascidas

ai! as flores daquele dia ...

 

— mas era um canteiro o seu corpo:

 

um jardim de lírios, o cavalo morto.

 

Muitos viajantes contemplaram

a fluida música, a orvalhada

das grandes moscas de esmeralda

chegando em rumoroso jorro.

 

Adernava triste, o cavalo morto.

 

E viam-se uns cavalos vivos,

altos como esbeltos navios,

galopando nos ares finos,

com felizes perfis de sonho.

 

Branco e verde via-se o cavalo morto,

 

no campo enorme e sem recurso

 

- e devagar girava o mundo

entre as suas pestanas, turvo

orno em luas de espelho roxo.

 

Dava o sol nos dentes do cavalo morto.

 

Mas todos tinham muita pressa,

e não sentiram como a terra

procurava, de légua em légua,

o ágil, o imenso, o etéreo sopro

que faltava aquele arcabouço.

 

Tão pesado, o peito do cavalo morto!

 

 

METAL ROSICLER, 9

 

Falou-me o afinador de pianos, esse

que mansamente escuta cada nota

e olha para os bemóis e sustenidos

ouvindo e vendo coisa mais remota.

E estão livres de engano os seus ouvidos

e suas mãos que em cada acorde acordam

os sons felizes de viverem juntos.

 

"Meu interesse é de desinteresse:

pois música e instrumento não confundo,

que afinador apenas sou, do piano,

a letra da linguagem desse mundo

que me eleva a conviva sobre-humano.

Oh! que Física nova nesse plano

para outro ouvido, sobre outros assuntos...”

 

 

MEIRELES, CecíliaViagem. Poesia 1929-1937.   Lisboa: Editorial Imperio, 1939.  197 p.       12,5x19 cm  “Cecília Meireles “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

CANTATA MATINAL

Acordai, descuidadas,
que se abriram as portas,
e passaram as cabras.

Acorrei, descuidosas,
que já comem às pressas
as palmeiras e as rosas.

Veio a luz da alvorada
e brilhou nas palmeiras
que eram pura esmeralda.

Vão-se as nuvens da aurora,
e só ficam as palhas
e os espinhos das rosas!

Ai, que berram as cabras,
e mão posso feri-las,
e não posso enxotá-las!

Ai, que meus olhos choram,
vendo a sua alegria
sobre tanta derrota!

Acorrei, descuidadas,
vê-de a terra assaltada
e o sol, que desabrocha!

 

 

          AUSÊNCIA

 

          Por mais tarde que seja,
          estou vendo a alvorada,
          em cravos restituída
          e em safiras molhada.

          Tão certa é a minha vida
          que em cego mar escuro
          encontro o que procuro
          e não me atrevo a nada.

          De esplendores ferida,
          fecho os olhos... Que ausente
          quero ser. Tão distante

          que eu mesma não me veja,
          — à morte indiferente,
          para qualquer instante.

 

 

Cecilia Meireles

 

De
Cecilia Meireles
POEMAS ESCRITOS NA ÍNDIA
Rio de Janeiro: Livraria São José, s.d.
108 p. (1954?)



HUMILDADE

Varre o chão de cócoras.
Humildade.
Vergada.
Adolescente anciã.

Na palha, no pó
seu velho sári inscreve
mensagens de sol
com o tênue galão dourado.

Prata nas narinas,
nas orelhas,
nos dedos,
nos pulsos.

Pulseiras nos pés.

Uma pobreza resplandecente.

Toda negra:
frágil escultura de carvão.
Toda negra:
e cheia de centelhas.

Varre seu próprio rastro.

Apanha as folhas do jardim
aos punhados,
primeiro;
uma
por
uma
por fim.

Depois desaparece,
tímida,
como um pássaro numa árvore.

Recolhe à sombra
suas luzes:
ouro,
prata,
azul.
E seu negrume.

O dia entrando em noite.
A vida sendo morte.
O som virando silêncio.

 

 

 

Cecília Meireles

De
Cecília Meireles
SOLOMBRA
Ilustrações de Pomar
Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1963

 

 

Há mil rostos na terra: e agora não consigo

recordar um sequer. Onde estás? inventei-te?

Só vejo o que não vejo e que não sei se existe.

 

Esperamos assim. Por esperança, a espera

vai-se tornando sonho afável; mas descubro

no olhar que te procura uma névoa de orvalho.

 

Qualquer palavra que te diga é sem sentido.

Eu estou sonhando, eu nada escuto, eu nada alcanço.

Quem me vê não me vê, que estou fora do mundo.

 

Lá, constante presença em memória guardada,

percebo a tua essência — e não sei nem teu nome.

E à tentação de tantas máscaras felizes

 

se opõe meu leal, nítido sangue.

 

 

 

***

 

 

 

 

Eu sou essa pessoa a quem o vento chama, 

a que não se recusa a esse final convite, 

em máquinas de adeus, sem tentação de volta. 

 

Todo horizonte é um vasto sopro de incerteza: 

Eu sou essa pessoa a quem o vento leva: 

já de horizontes libertada, mas sozinha. 

 

Se a Beleza sonhada é maior que a vivente,  

dizei-me: não quereis ou não sabeis ser sonho?  

Eu sou essa pessoa a quem o vento rasga. 

 

Pêlos mundos do vento, em meus cílios guardadas  

vão as medidas que separam os abraços.  

Eu sou essa pessoa a quem o vento ensina: 

 

«Agora és livre, se ainda recordas».

 



MEIRELES, Cecília.  Mar absoluto e outros poemas. Porto Alegre: Edição da Livraria do Globo, 1945.  249 p.  17x20 cm.  Retrato (desenho) da autora por Aroad Azebes. Inclui os poemas de “Mar Absoluto” (p. 9-191), “Os Dias Felizes” (p. 195-222) e “Elegia” (227-238).   Desenho da capa de M. H. Vieira da Silva, Letras de H. Sobotka.   “Desta edição foram tirados centro e cinquenta exemplares fora de comércio, numerados de 1 a 150 e rubricados pela autora.”  Col. A.M.

 

O TEMPO NO JARDIM

 

Nestes jardins — há vinte anos — andaram os nossos muitos passos,

e aqueles que então éramos se contemplaram nestes lagos.

 

Se algum de nós avistasse o que seríamos com o tempo,

todos nós choraríamos, de mútua pena e susto imenso.

 

E assim nos separámos, suspirando dias futuros,

t nenhum se atrevia a desvelar seus próprios mundos.

 

E agora que separados vivemos o que foi vivido,

com doce amor choramos quem fomos nesse tempo antigo.

 

 

3º MOTIVO DA ROSA

 

Antes do teu olhar, não era,

nem será depois, — primavera.

Pois vivemos do que perdura,.

 

não do que fomos. Desse acaso

do que foi visto e amado: — o prazo

do Criador na criatura...

 

Não sou eu, mas sim o perfume

que em ti me conserva e resume

o resto, que as horas consomem.

 

Mas não chores, que no meu dia,

há mais sonho e sabedoria

que nos vagos séculos do homem.

 

 

MEIRELES, Cecília.  Canções por Cecília Meireles.   Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1956. 112 p.  (Poesia sempre)  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, oriundo da coleção de Marly de Oliveira.

 

SE ESTIVE NO MUNDO

 

ou fora do mundo. . .?

Mas que lhe respondo,

se o Arcanjo pergunta,

num tempo profundo ?

 

No mundo passava:

porém muito longe.

Por sonhos e amores

me desintegrava.

 

O mundo não via :

minha permanência

foi, por toda parte,

fantasmagoria.

 

Dava, mas não tinha.

E, nessa abundância,

nada me ficava :

nem sei se fui minha.

 

Se estive no mundo

ou fora do mundo ?

— Assim me apresento,

se o Arcanjo pergunta

meu nome profundo. 

 

 

 

POESIA RELIGIOSA>>>

 

 

FONTELES, Graça Roriz.  Cecilia Meireles: lirismo e religiosidadeSão Paulo: Scortecci, 2010.  205 cm.  16x23 cm.  ISBN 978-85-85-366-1918-7 “Graça Roriz Fonteles” Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Ao final do livro acima, a autora “desvenda os mistérios dessa relação de Cecília com o Sagrado e encontra a intertextualidade fecunda, riquíssima e cativante de perscrutar inúmeras passagens da poesia dos Salmos no contexto de seus poemas.” Veja um exemplo em relação ao “Poema da tristeza”: 



CECILIA MEIRELES. Uma homenagem.  Julho 1989.  Projeto gráfico: Victor Burton. Apresentação: Sebastião Lacerda; Walmir Ayala.   .  /Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1989.  s.p.      17 x 28 cm.   Edição especial. Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

R O M A N C E
D E
S A N T A
C E C Í L I A


Escrito por Cecília Meireles em Roma, em 1953.

 

Era de família patrícia,
e residia nesta casa.
Em que lugar se sentaria?
Quem ouviu sua voz? e que harpa?
Há sombras de música antiga
no átrio, no corredor, na sala :
ó voz ,ó som. ó ar sem morte
suspenso nesta imensa pausa!

Desgostosa dos velhos deuses
e do Evangelho enamorada,
percorria prados celestes:
entre santos e anjos andava.
Medo nenhum toldava a fonte
cantante e fresca de sua alma.
E o ardente sangue de martírio
que os caminhos cristãos alaga
era um rio do paraíso
em que o seu amor navegava.

Que era de família patrícia,
leve de voz suave de cara.
Estas pedras viram seus olhos,
sua figura delicada.


Nestes etéreos aposentos,
em santidade se inclinava.
O tempo era cheio de horrores,
de perseguições e desgraças:
mas os anjos que aqui se encontram
servos foram de sua graça:
um, as sandálias lhe prendia:
outro, os vestidos lhe bordava:
o terceiro é o que suas tranças
lavava em transparentes águas,
e, depois de as lavar,
cobria com uma cândida toalha.


Sendo de família patrícia
e em idade de ser casada,
foram celebrados os ritos.
E ela entre a terra e o céu pairava.
De cada lado, um grupo de anjos
descendo, para coroá-la.
Dos anjos o mais poderoso
em sua câmara a esperava.

Fitava o esposo a clara esposa:
o cunhado, sua cunhada,
que, toda coberta de estrelas,
entre flores e anjos brilhava.
Levantaram as mãos orantes
e não puderam dizer nada:
e sentiram na própria testa
a luz do céu. — fluida cascata:
fulgia a noiva, longe e perto,
rosa do amor intemerata.

E por estes campos romanos
o Evangelho se propagava.
E havia muito sofrimento
marcando a extensão das estradas.
Mas, nas catacumbas secretas,
ressoava a divina palavra,
entre corredores e tochas
e pedras de túmulo e de ara
com letras gregas e desenhos
de peixe, de pomba e de barca.
E os anjos desciam às covas
de onde os santos se levantavam.

Era de família patrícia
e seus deuses abandonara.
E os tiranos a perseguiam
como os caçadores a caça.
E vieram soldados terríveis,
quando ela do banho voltava,
toda perfumada infância
que o coração lhe embalsamava.
Seu corpo era uma flor tão pura!
Que flor não seria sua alma?

E eis a milícia — o punho, a força —
que no calidário a fechava.
Da oculta fornalha subiam
tênues serpentes de fumaça.
E o mundo fugia a seus olhos,
e ela, cega e imobilizada,
era uma rosa prisioneira
num poço de incertas opalas.
(Mas na cruz de seu gesto orante
o Espírito Santo pousava.)

Era de família patrícia
e da luz de Deus desposada.
Viveu três dias e três noites
no calidário sufocada.
Os anjos vinham socorrê-la:
moviam suas longas asas,
secavam sua lisa fronte,
clareavam-lhe a vista baça,
e esperançavam-lhe os ouvidos
com sobre-humanas alvoradas.

Mas os soldados, entre os anjos,
seu duro perfil recortavam,
e entre as celestes melodias
perpassavam gumes de espadas.
E ela, perdida no nevoeiro,
— ó trémulas opalas falsas! —
ouve os homens que lhe perguntam
pelo Deus em que acreditava...

... E não sabe se é vida ou sonho
ou morte, essa bruma compacta,
e repete a lição de Cristo,
e em fé seu coração exalta,
e vê que a névoa se dispersa,
e que brilha uma luz mais vasta,
fonte aberta no céu ferido
pelos três golpes de uma adaga.

Fora de família patrícia
e ali seu destino encerrava.
Ao primeiro golpe, caída,
na sua santidade calma,
torce a cabeça e entrega a nuca
para ser logo degolada.
Ao segundo golpe, uma fina
fita de sangue se desata.
Mas nem mesmo o terceiro golpe

a cabeça ao corpo separa.
Porque um anjo lhe ampara a testa,
o segundo os ombros lhe ampara,
e o terceiro detém o sangue
que um colar de rubis ensarta.

Ao primeiro golpe, ela estende
um dos dedos, convicta e exausta,
para dizer que Deus é uno,
pai de toda a Vida criada.
Ao segundo golpe, desdobra
outro dedo, com o que declara
Que Jesus Cristo é um só seu Filho,
morto na Cruz por nossa causa.
Ao terceiro golpe, ainda afirma

que a outra pessoa consagrada
é o Espírito Santo. E assim deixa

as mãos na vida eterna salva

Virgem Mártir Santa Cecília,
doce romana, rosa casta!
— seu corpo, frio, numa pedra;
em luz, aos pés de Deus, sua alma.

O tempo gasta os outros mortos,
mas a Virgem Mártir não gasta.
Tal como guando foi ferida,
tal como foi assassinada,
depois de séculos e sonhos
nas catacumbas a encontraram.
Nem seu vestido apodrecera
nem seu perfil se desmanchara.
E com seus três dedos dizia,
com seus três dedos afirmava
que há somente um Deus Verdadeiro
em três pessoas consagradas:
Padre, Filho e Espírito Santo,
conforme o Evangelho ensinara.

Era de família patrícia
e esta foi a sua morada.
Virgem Mártir Santa Cecília,
socorre a quem se despedaça,
por amor às coisas divinas,
sob o duro gume de espadas!
Socorre a quem, por sonho puro,
com ferro e fogo o mundo mata!
Protege a que,. devotamente,
relembra o teu nome e relata
a história do teu sacrifício,
— luta do espírito e das armas. —
cada 22 de novembro, que ficou sendo a tua data.

 

 

 

10 POEMAS EM MANUSCRITO.  Organizador: João Condé Filho. Rio de Janeiro: Edições Condé, 1945.  Folhas soltas, dobradas.  29x39 cm. Prefácio de Álvaro Lins.  Capa de Santa Rosa. 

Inclui poemas manuscritos de Abgar Renault, Cecília Meireles, Murilo Mendes e Augusto Meyer ilustrados por Tomas Santa Rosa; poemas de Jorge de Lima, Mário de Andrade e Vinicius de Moraes ilustrados por Percy Deane; poemas de Augusto Frederico Schmidt, Carlos Drummond de Andrade  e Manoel Bandeira ilustrados por Cândido Portinari. A clicheria foi executada por Latt & Cia Ltda e a impressão esteve a cargo do mestre  João Luis dos Santos, nas oficinas gráficas dos Irmãos Pongetti.  “Desta  edição foram tirados 15 exemplares F.C., numerados de I a XV e destinados ao prefaciador, aos poetas e aos ilustradores e 150 exemplares numerados de 1 a 150, compostos em papel Goatskin Parchment e com a rubrica do organizador. Exemplar n. 132. Col. bibl. Antonio Miranda. 

 

Poema de Cecília Meireles, ilustrado por Santa Rosa.


 

 

PRANTO NO MAR

 

Eu sempre te disse que era grande o oceano
para a nossa pequena barca.
Cantavas, quando eu te dava o desengano
de partir por água tão larga.

Não, tu não devias ter ido.
Mas foi tempo perdido.

Eu sempre te disse que os olhos de morto
ficaram nas águas suspensos,
procurando os vivos, os mastros, o porto,
na oscilação de águas e ventos.

Não, tu não devia ter ido.
Mas era amor perdido.

Teço velas negras para a barca nova,
redes de prata para as ondas.
Ensinai-me, peixes, sua funda cova
nestas escuridões tão longas!

Não,, tu não devias ter ido.
E isto é pranto perdido

 

--------------------------------------------------------------------------------------------------

 

 

Poema extraído de

DF LETRAS. A REVISTA CULTURAL DE BRASÍLIA. Câmara Legislativa do Distrito Federal. Ano V. No. 59/62.

 

 

         A maioria dos biógrafos da poetisa brasileira Cecília Meireles lembra o fato de que no verão de 1940 ela deu cursos sobre a cultura brasileira na Universidade do Texas, em Austin. Ela, portanto, ajudou também na implantação do programa de língua portuguesa e literatura luso-brasileira da Universidade.
         Pessoas que ainda moram no Texas recordam-se de Cecília Meireles como uma professora carismática e uma encantadora pessoa humana. Durante sua estada escreveu pelo menos dois poemas, que vamos examinar com algum detalhe: o primeiro, um curioso poema sem título escrito em inglês, em ligação com uma conferência sobre assuntos internacionais, na Universidade do Texas; e o segundo, com um título em inglês, mas escrito em português, com uma mistura de termos mexicanos, “Mexican List and Tourists”, descreve sua visita aa um restaurante de Austin e foi publicado em “Vaga Música” (1942)_:

 

 

 


---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- TEXTOS EN ESPAÑOL


REINVENCIÓN 
Tradução de Anderson Braga Horta

La vida sólo es posible

reinventada.

 

Anda el sol por las campiñas,

pasa la mano dorada

por las aguas, por las hojas...

¡Ah! todo pompas

que vienen de hondas piscinas

de ilusionismo... — sin nada.

 

Pero la vida, la vida,

la vida sólo es posible

reinventada.

 

Viene la luna y retira

las cadenas de mis brazos.

Me proyecto a unos espacios

llenados de tu Figura.

¡Todo mentira! Mentira

de la luna, en noche oscura.

 

No te alcanzo, no te encuentro...

En el tiempo equilibrada,

del columpio me desprendo

que afuera del tiempo lleva.

 

Sola — en nieblas,

quedo: recibida y dada.

 

Porque la vida, la vida,

la vida sólo es posible

reinventada.

MOTIVO 

         Traducción de Patricia Tejeda 

 

Canto porque el instante existe

y mi vida está completa.

No soy alegre ni soy triste:

soy poeta.

 

Hermano de las cosas fugitivas,

no siento gozo ni tormento.

Atravieso noches y dias

en el viento.

 

Si desmorono o si edifico,

si permanezco o me deshago

- no sé, no sé. No sé si es que me afirmo

o paso.

 

Sé que canto. Y la canción es todo.

Tiene sangre eterna la ala ritmada.

y un dia sé que estaré mudo:

- ?más?, nada.  

 

RETRATO 

Traducción de Patricia Tejeda      

 

No tênia este rostro de hoy,

así calmo, así triste, así magro,

ni  estos ojos tan vacíos,

ni el lábio amargo.

 

No tenía estas manos sin fuerza,

tan inertes y frias, y muertas;

no tenía este corazón

que ni se muestra.

 

No percibí esta mudanza,

tan simple, tan cierta, tan fácil:

- ?En qué espejo mi rostro perdido

se deshace? 

 

LEVEDAD 

        Traducción de Patricia Tejeda

 

Leve es el pájaro:

y su sombra volante,

más leve.

 

Y la cascada aérea,

de su garganta,

más leve.

 

Y lo que recuerda, oyéndose

deslizar su canto,

más leve.

 

Y el deseo rápido

de este antiguo instante,

más leve.

 

Y la fuga invisible

del  amargo pasante,

más leve.  

 

CADA PALABRA UNA HOJA 

         Traducción de Patricia Tejeda

 

Cada palabra uma hoja

en el lugar perfecto.

 

Una flor de vez en cuando

en el ramaje abierto.

 

 Un pájaro que parecia

posado y cierto.

 

Mas, no: que iba y venía el verso

por el universo. 

 

HUMILDAD 

         Traducción de Patricia Tejeda

 

!Tanto que hacer!

libros que no se leen, cartas que no se escriben,

lenguas que no se aprenden,

amor que no se da,

todo cuanto se olvida.

 

Amigos entre adioses,

niños llorando en la tempestad,

ciudadanos firmando papeles, papeles, papeles...

 

Y los pájaros detrás de rejas y lluvias,

y los muertos em redomas de alcanfor.

 

(!Y una canción tan bella!)  

 

!Tanto que hacer!

E hicimos apenas esto.

Y nunca supimos quiénes éramos

ni para qué.

 

                    

Las traducciones de Patricia Tejeda han sido extraídas de la obra GABRIELA MISTRAL & CECÍLIA MEIRELES/ GABRIELA MISTRAL Y CECÍLIA MEIRELES. Edição conjunta da Academia Chilena de la Lengua y Academia Brasileira de Letras, em 2003. Una bella edición bilíngüe de textos de las grandes poetas de Sudamerica, fuera de mercado pero disponible en muchas bibliotecas de los dos países.

 

 

 

PÁJARO

 

         Traducción de Ricardo SiIva-Santisteban

 

 

Lo que ayer cantaba

ya no canta.

Murió de una flor en la boca:

no de la espina en la garganta.

 

Amaba el agua sin sed

y, por cierto,

a pesar de tener alas, miraba el tiempo

libre de necesidad.

 

No fue anhelo o imprudencia:

no fue nada.

Y el día toca en silencio

Ia desventura causada.

 

Si acaso eso es desventura:

perder la vida

sobre una rosa tan bella,

por una herida tan ténue.

 

 

De:  POETAS AMERICANAS. Selección de Reybaldo Jiménez.   Buenos Aires: Editorial Leviatan,  1998.  142 p.  Poetas internacionais, incluindo a brasileira Cecília Meireles. 

 

 

De
Cecília Meireles
Antología poética (1923-45).  
Selección y traducción de Gastón Figueroa.
Montevideo: 1947.  35 p. (Cuadernos “Poesía de América”, 1. 
35 p.   Edição de 300 exs.

 

 

EPIGRAMA N.° 1

 

Posa sobre esos espectáculos infatigables

una sonora o silenciosa canción:              

flor del espíritu, desinteresada y efímera.

 

Por ella, los hombres te conocerán,

por ella, los tiempos versátiles sabrán

que — aunque inútilmente — el mundo más bello quedó

cuando anduvo por él tu corazón.

 

 

 

EPIGRAMA. N.° 3

 

Mutilados jardines y primaveras abolidas

abrieron sus milagrosos ramos

en el cristal en que se posa mi mano,

 

(¡Prodigioso perfume!

 

         Recompusiéronse tiempos, formas, colores, vidas.

 

         ¡Ah, mundo vegetal, nosotros, humanos, lloramos
         sólo de la incerteza de la resurrección.

 

 

 

CANCIÓN EXCÉNTRICA

 

Ando en procura de espacio

para dibujar la vida.

En números me embarazo,

pierdo siempre la medida.

Si pienso encontrar salida,

en vez de abrir un compás,

arrojóme en un abrazo,

en despedida tenaz,

 

Si vuelvo sobre mi paso,'

todo lejos y fugaz.

 

Y mi corazón de acero,

ya sintiendo ya el cansancio

de esta búsqueda de espacio

para dibujar la vida.

 

Hoy, exhausta y descreída,

no me animo a un breve trazo:

— saudosa de lo que no hago,

— de lo que hago, arrepentida.

 

 

 

VITUREIRA, Cipriano S.  Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade - Tres edades en la Poesía Brasileña actual. Estudio y antología.  Dibujos de  Adolfo Pastor.  Montevideo: Ediciones A.C.E.B.U. , 1952.    Exemplar n. 16,  assinada pelo Autor, de uma  tiragem especial de 60 exs. Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

                    EPIGRAMA No. 4

 

                       El llanto se acerca a los ojos
                    para que trasborde y caiga la pena.
                    El llanto va casi llorando
                    como la onda que toca en tu arena.

                       Mas bajan del cielo las órdenes
                    y el mar llama el mar hacia el centro.
                    El llanto huye sin vestígios
                    pero com náufragos adentro.

 

 

                    TIMIDEZ

 

                     Bástame un pequeno gesto
                     hecho de lejos y leve,
                     para que vengas conmigo
                     para que siempre te lleve...

                     — pero ese yo no lo haré.

                     Una palabra caída
                     del monte de los instantes
                     deshace todos los mares
                     y une tierras muy distantes...

                     — palabra que no diré.

                     Para que tú me adivinhes
                     entre ventos taciturnos,
                     apago mis pensamentos,
                     visto los trajes nocturnos,

                     — que amargamente inventé.

                     Y em tanto no me descubres,
                     los mundos van navegando
                     en aires ciertos del tempo
                     hasta no se sabe cuándo...

                     — y un día me acabar é.

 

                              (De “Viaje” 1939)

 

 

                          INTERLUDIO

 

                        Las palabras están muy dichas
                     y el mundo muy pensado.
                     Quedo a tu lado,

                        No me digas que hay futuro
                     ni pasado.
                     Deja el presente, es un muro
                     sin cosas escritas, claro.

                        Deja el presente.  No hables,
                     no me explsiques el presente,
                     que el total es demasiado.

                         En aguas de eternamente
                     el cometa de mis males
                     se hunde ya, desarbolado.

                     Quedo a tu lado.

 

                              (De “Vaga música” 1942)

 

           
                       
 
                                  

SAMPAIO, Adovaldo FernandesVoces femininas de la poesía brasileña.  Ensayo antológico. Selección, traducción y notas de Adovaldo Fernandes Sampaio. Prólogo de Jeanine Varenne. Introducción de Peregrino Júnior.  Goiânia, GO: Oriente, 1979. 143 p.

 

 

NOCTURNO

          Estrella fría

         de tu mano.

         Tenue cristal,

         exigua flor.

         ¡Ay! Nieva amor.

         Luna desierta

         de tu mirar.

         ¡Puro, glacial

         fuego sin color!

         ¡Ay! Nieva amor.

         Inmenso invierno

         de corazón.

         Hielo sin fin

         deslizándose...

         Yo cantaba

         en la soledad:

         ¿Tu frío viene

         del cielo, de mí,

         de ti, de quién?

         ¿Ya no hay sol,

         verano, calor?

         ¡Ay! Nieva amor.

 

 

        

         CONTEMPLACIÓN

 

         No acuso.  Ni perdono.

         Nada sé.  Nada.

         Contemplo.

         Cuando los hombres aparecieron,

         yo no estaba presente.

         Yo no estaba presente,

         cuando la Tierra se desprendió del Sol.

         Yo no estaba presente,

         cuando el Sol apareció en el cielo.

         Y, antes de haber el cielo.

         YO NO ESTABA PRESENTE.

         ¿ Cómo he de acusar o perdonar?

         Nada sé

         Contemplo.

         Parece que a veces me hablan.

         Mas también no estoy segura.

         ¿Quién desea oírme, em estos parajes

         donde todos somos extranjeros?

         No acuso ni perdono.

Qué haremos, errantes entre
las invenciones de los dioses?

   

DIBUJO

         Árbol de la noche
         con ramas azules
         hasta el horizonte.

         Extendí mis brazos
         y sólo hallé
         nieblas difusas.

         El resto era sueño
         en el profudo fin
         de la vida y de la noche.

         La memoria en llanto
          las ramas azules
         queda a procurar.

         Y de ojos cerrados
         veo lejos, solos,
         mis alados brazos.

         Oh noche azul, árbol...
         ¡ Suspiro subiendo
         muro de saudade!

 

        

         CANCIÓN

 

         Eras  un rostro
         en la noche ancha
         de altos insomnios
         iluminada.

         Serás un día
         vago retrato
         de quien se diga:
         "el antepassado".

         Eras um poema
         cuyas  palabras crecían
         entre misterio y lágrimas.

         Serás silencio,
         tempo sin rastro
         de olvidos
         atravesado.

         De eso es que sufre
         la magullada
         flor de la memoria
         que al viento habla.

 

                  De Retrato Natural, 1949)

 

 

        

         CANCIÓN

 

         Nunca te hubiera querido
         decir palabra tan loca:
         pegóme el viento en la boca,
         desde entonces no te he oído.
         Él llevóse la palabra,
         pero dejóme el sentido.

         El sentido está guardado
         en la faz con que te miro,
         em mi perdido suspiro
         que te sigue alucinado,
         en  mi sonrisa suspensa
         como un beso malogrado.

         Nunca nadie vio a ninguno
         que hiciese el amor tan triste.
         Esa tristeza no viste
         y yosé que se ve bien...
         Sólo que aquel mismo viento
         cerró tus ojos también.


        

        

         EPITAFIO DE LA NAVEGADORA

 

                            A Gastón Figueira


         Si te preguntaron quién era
         ésa que a hielos y arenales
         quiso enseñar la primavera:

         Y que sus ojos fue esparciendo
         por los mares sin dioses de esta vida,
         sabiendo que, de así perderlos,

         Quedaría también perdida;
         y que en algas y espumas presa
         dejó su alma agradecida;

         Ésa que sufrió de belleza
         y que nunca deseó más nada
         y nunca tuvo uma sorpresa

         en su faz toda iluminada,
         di t~u: "No pude conocerla;
         está su historia mal contada,
         mas su nombre de barca y estella
         fue: SIRENA DESESPERADA."
        
                 
(Apud Lucia Contreras y Livia Ramh,
                  Mensaje del Brasil: Algunos Poetas, Buenos Aires,    1975)

 

Atualizada e republicada em março de 2017; ampliada em agosto de 2019.

Voltar à página Poesia Brasil SempreTopo da Página

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar