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POÉSIE BRÉSILIENNE EN FRANÇAIS
Coordination de ARICY CURVELLO

MYRIAM FRAGA

MYRIAM FRAGA

 

 Eu sou ninguém 

Eu que não tenho face

Eu sou ninguém

No entanto

Eu sou o canto a cólera a quimera

Eu sou o pássaro sofrer

Eu sou o homem

Em busca de seu sonho

Eu sou o sonho

 

O fogo

No tormento da volta

Eu sou a rota

Do pássaro no céu

Eu sou a terra semeada

Eu sou as mãos batendo

O ritmo das palmas

Eu sou

A simetria e a cor

Da palavra esperança

 

A primavera é nossa

E a luz

Cristalina paisagem.

 

 

Je suis personne

 

Moi, je n’ai plus de face

Je suis personne

Cependant

Je suis le chant la colère la chimère

Je suis l’oiseau souffrir

Je suis l’homme

À la recherche de son rêve

Je suis le rêve.

 

Le feu

Dans le tourment du retour

Je suis la route

De l’oiseau dans le ciel

Je suis la terre semée

Je suis les mains battant

Le rythme des palmes

Je suis

La symétrie et la couleur

Du mot espérance.

 

Le printemps est à nous

Et la lumière

Cristallin paysage. 

 

  

Cicatrizes 

A face calcinada,

O desespero

Do amargo desengano.

 

A alegria se foi.

Restou-me o canto,

Derradeiro refúgio

Ùltimo quarto

Da obscura morada.

 

Restou o canto

Ao pássaro,

Restou o canto,

O abecedário,

A palavra;

Inventário do homem.

 

Sobrou o que sobrou

O estilo na carne,

 

Sobrou o que sobrou,

O louco intérprete

Da alma de ninguém

Do coração de tudo.

 

Hoje o homem é a sombra

Do pássaro,

Hoje o homem é o canto vivo

Da ramagem

 

A lembrança de fundas cicatrizes. 

 

Cicatrices 

La face calcinée,

le désespoir

de l’ amère désilusion.

 

La joie s’en est allée.

Il m’est resté le chant,

dernier refuge

dernière chambre

de l’obscure demeure.

 

Il est resté le chant

à l’oiseau,

il est resté le chant,

l’abécédaire,

le mot;

inventaire de l’ homme.

 

Il est resté ce qui a excédé

le style dans la chair.

 

Il est resté ce qui a excédé,

le fol interprète

de l’âme de personne

du coeur de tout.

 

Aujourd’hui l’homme est l’ombre

de l’oiseau,

aujourd’hui l’homme est le chant vif

de la ramure

 

le souvenir de profondes cicatrices.

 

 

 

(Da antologia  bilingüe “Poésie du Brésil”, seleção de Lourdes Sarmento, edição Vericuetos, como nº 13 da revista literária francesa  “Chemins Scabreux”, Paris, setembro de 1997.Traduções de Lucilo Varejão, Maria Nilda Miranda Pessoa e outros.)

 

Página publicada em setembro de 2008

 



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