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CARTA A WLADEMIR DIAS-PINO
SOBRE A ATUALIDADE DO POEMA-PROCESSO

SEGUIDA DE UMA

ENTREVISTA COM WLADEMIR DIAS-PINO

Por Antonio Miranda

 

Meu caro Wlade


Estou lendo e relendo a 2ª. Edição de “PROCESSO: Linguagem e Comunicação” (Vozes, 1973) que o amigo, generosamente, me obsequiou durante a visita que lhe fiz aí no Rio de Janeiro. Vivemos tantos anos distantes um do outro, e tínhamos tanto em comum!!!  Trata-se de uma proposta estética diferenciada dos manifestos ortodoxos que pululavam em nossas vanguardas poéticas no Brasil e em outros países. Estou tentando penetrar melhor nas propostas, e o seu livro é fundamental para a pesquisa, além de outros materiais que em boa hora me os cedeu.

Eu estava auto-exilado naqueles anos do Poema-Processo. Na Venezuela, de 1966 a 1972, em Brasília (1973-1974) e na Inglaterra (1975-1976). Em Brasília, trabalhando na Embrapa, com a literatura científica.


No final dos anos 50 e início dos anos 60, eu liderei um grupo que o Roberto Pontual, na revista Vozes, acreditava que era contituído de  clones... Era o Poegoespacialismo. Meu pseudônimo era DA NIRHAM EROS, também grafado Da Nirham Eros e da,nirham: eRos  (assim é como assinei artigos no SDJB.). Organizamos uma exposição fantasma entre os alicerces do antigo Ministerio da Educação e Cultura,  no Rio de Janeiro, logo depois da mudança da capital para Brasília... Restou daquilo tudo um micro-catálogo e uns poemas, quase todos inéditos, salvo alguns publicados em jornais da época.

(http://www.antoniomiranda.com.br/da_nirham_eros/poegoespacialismo5.pdf

http://www.antoniomiranda.com.br/da_nirham_eros/poegoespacialismotexto6.pdf

O  Pontual depois comentou na Revista Vozes, tempos depois,

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/roberto_pontual.html

além daquele texto que você e a nossa querida Regina Pouchain localizaram, que eu não sabia da existência em todos esses anos!!!:

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/danirham_eros4.html

Aonde quero chegar?  Acontece que naqueles tempos eu andei especulando sobre outros alfabetos... Como o que Álvaro de Sá  propôs e que está em seu livro.

 

O meu “alfabeto” partiu da mesma proposta. Queria um alfabeto que permitisse “escrever” pictoricamente, fazendo combinações figurativas, daí que as “letras” tinham ângulos retos ou curvos, que, combinadas, formavam figuras geométricas . Com este  “alfabeto” criei um “poema” visual que logo elaboramos em madeira, em duas camadas, articuladas com um pivô central que permitia que as duas peças pudessem ser movidas pelo público. E, ao mover-se, as “letras” mudavam de posição... e de sentido. A peça teve um acabamento primoroso, com pintura de automóvel, numa oficina de autos que ficava perto da Praça Saenz Penha, pois eu então morava no início da Tijuca.  


A peça foi levada para Belo Horizonte, aí pelo ano de 1959 ou 1960, junto com um não-objeto de Ferreira Gullar para uma exposição de poesia de vanguarda idealizada pelo (então) jovem Célio CésarPaduani, então estudante de Direito, que foi montada  num dos edifícios da UFMG no centro de Belo Horizonte. Que aconteceu com as duas peças?  Nunca mais soube delas. Eu fui para a Venezuela e perdi contato.com o Paduani, com o Gullar, com o Reynaldo Jardim, com todo mundo...  Recentemente  adquiri um volume de poemas do Paduani, que seguiu uma carreira brilhante na advocacia. Tentei entrar em contato com ele, mandei um e-mail para um endereço que capturei na Internet, e nunca recebi resposta, talvez  por causa de erro no endereçamento.


E o código do alfabeto?! Pois é, não tenho mais... Deixei quase tudo com o Roberto Pontual, em 1966, quando fui para a Venezuela.  Estive com ele, brevemente, em 1968 numa visita ao Rio, quando fomos com um amigo (o Dillon), assistir os Secos e Molhados (gloriosos tempos aqueles!) Depois soube que faleceu prematuramente. Ainda tentei um contato com um amigo comum que tínhamos: o Osmar Dillon:


http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/osmar_dillon.html

Tentei um contato com o marchand de uma galeria em que ele costuma expor seus trabalhos, mas não obtive resposta. Talvez a nossa querida Regina Pouchain se disponha a localizar o Dillon e, através dele, saber o que aconteceu com os arquivos do Pontual e, neles, recuperar os meus originais ou cópia deles... Daqui de Brasília, não tive sucesso. E vou tentar outra vez um contato com o Pontual, já que estou indo a Belô nos próximos dias para o lançamento de um livro meu.  Mas, se conseguirmos o “poegoespaço” que estaria com o Paduani, precisaria do código – como se fosse a Pedra da Roseta, nas mãos do Champollion – para decifrar a peça...

Por que ando a la recherche du temps perdu ?...  É por causa de um projeto que alimento com o meu amigo José Fernandes, da UFG, que está escrevendo um livro sobre a minha produção de poesia visual desde aqueles anos  iniciais de minha vida de poetinha. Talvez o material não tenha mais valor do que o simbólico e sentimental, memorialístio, mas gostaria de localizá-lo...

Volto ao seu livro: pretendo extrair dele trechos de seu texto e exemplos de poemas. Imagino que isso não vai criar problemas com a editora, daí que pergunto se está de acordo. Seria uma página especial sobre o Poema-processo. Mais uma...

No mais, renovo minha alegria de viver este diálogo com vocês, fundamental para reconstruir esta etapa de nossa poesia, que eu não vivenciei por estar ausente do país. Mas que pretendo incluir em livro que estou gestando...

Um abraço

 Antonio

Brasília, 18 de janeiro de 2010

Observação: esta carta tem o propósito de iniciar um diálogo com o Wlade sobre aquela experiência do Poema-Processo, para registar o testemunho dele. Espécie de entrevista via epistolar, pela web, aberta ao público. Paralelamente, irmos publicando páginas com materiais relevantes sobre o assunto, com os links necessários, na reconstrução daquele processo criativo.

 

ENTREVISTA COM WLADEMIR DIAS-PINO

Leia-se, a guisa de introdução:

 

Poema/processo é aquele que, a cada nova experiência, inaugura processos informacionais. Essa informaço pode ser estética ou não: o importante é que seja funcional e, portanto, consumida. O poema resolve-se por si mesmo, desencadeando-se (projeto), não necessitando de interpretação para a sua justificação.

 

Processo: auto-superação do poema que se gasta conforme suas probabilidades vão sendo exploradas e que envelhece quando é sobrepujada por outro poema que o admita e exceda.

 

Poema / processo: a consciência diante de novas linguagens, criando-as, manipulando-as dinamicamente e fundando probabilidades criativas. Dando a máxima importância a leitura do projeto do poema (e não mais a leitura alfabética), a palavra passa a ser dispensada, atingindo assim uma linguagem universal, embora seja de origem brasileira, desprendida de qualquer regionalismo, pretendendo ser universal não pelo sentido estritamente humanista, mas pelo sentido da funcionalidade.

(...)
Função criativa do artista: trabalhar nos processos, reinventando-os. Mudança de qualquer espécie de estrutura, resposta a uma necessidade social”. W D-P

Vamos, então começar?

       

Antonio Miranda:    Quando, onde e em que circunstância surge o Poema Processo?

Wlademir Dias-Pino:  O movimento  pontilhista nas artes plásticas tem muito a ver com o surgimento da retícula na reprodução das imagens gráficas, assim como tem muito a ver com a participação do químico Michel Chevreul.  Talvez se possa dizer seguindo esse raciocínio, que a poesia concreta  é o apogeu e o findar da era da poesia essencialmente tipográfica. É com essa constatação que os poetas do movimento do poema processo anunciavam o aparecimento do mimeógrafo e também do offset, que permitiu a introdução da imagem dentro do poema, dialogando com as letras e mesmo com as palavras, sem o caráter simbólico dos caligramas que transformavam as palavras em linhas como contorno do poema, fechando uma figuração. Enquanto a substituição da forma simétrica e geométrica do concretismo, de origem pictórica, foi substituída pela imagem em geral, com elementos contemporâneos. Não mais a impressão por cravação, mas como “carimbo” circular do offset. 

Assim como o poema processo não contando economicamente com o cinema, foi buscar a animação gráfica nas histórias em quadrinhos, antecipando de certa forma a necessidade física da movimentação virtual dos dias de hoje. Ninguém pode negar o grande impacto que  a poesia concreta produziu no panorama da literatura nacional, ao ponto mesmo de fazer  com que de 1956 a 1966, não aparecesse nenhum poeta novo, ao real, de reconhecida importância.  Ficávamos muito preocupados com esse fato.  É que a poesia concreta pegou carona durante toda a vigência da popularidade do rock e o aparecimento estrondoso da minissaia.  Preocupados como já disse, com o não surgimento dos novos, procuramos contatos, com vários grupos de jovens, a fim de  encontrar uma solução.  Foi quando a “Porta de Livraria”, sob a responsabilidade do poeta Antonio Olinto, com as mesmas preocupações e o  patrocínio do concurso do Valmap  em parceria com o “Instituto Nacional do Mate”, instituiu um concurso de poesia nacional.  Por tudo, em ocasião, como trabalhava como programador visual do  Ministério dos Transportes, no departamento de Comunicação, com Antonio Olinto,  comecei a dar uma ajuda, no empacotamento da produção dos aproximadamente 2000 candidatos para serem enviadas as cópias para a comissão julgadora.

 Chegando ao instituto, encontrei os funcionários jogando fora os poemas de alguns candidatos, que eram, exatamente, os mais experimentais.  Tratei de reunir esse material, e procuramos contato com eles, através dos classificados do Jornal do Brasil, com o seguinte anúncio: “Você que é candidato ao concurso nacional de poesia, telefone para o número tal, para tratarmos de assunto de seu interesse”.  Tanto o interessante é que, como o anúncio era de tamanho maior do que o normal, ainda com cercadura, deu justamente, para preencher a página com ótima visualidade.  Depois ao receber notícias da grande maioria dos poetas, procuramos organizar reuniões até que surgiu a oportunidade, graças ao apoio da Carmem Portinho, de fazermos o lançamento do movimento do poema processo na ESDI – Escola Superior de Desenho Industrial, no passeio  público,  centro do Rio, vizinha da Escola Nacional de Música e principalmente,  vários terminais de pontos de ônibus. O movimento foi inaugurado simultaneamente   em Natal (Sobradinho), para que mostrássemos, nossa intencionalidade em fazer uma arte brasileira.  Como catálogo de lançamento, foi editado a revista Ponto I.

Diante do sucesso do evento, fomos convidados para fazer a 2ª exposição do movimento, na Escola de Belas Artes, de onde partimos com cartazes e fizemos uma rasgação de livros de poetas  superados, nas escadarias do Teatro Municipal. Os simbólicos portões de ferro se transformaram num paliteiro dos estandartes de protesto. Foi este fato, o primeiro “Poema Coletivo” da história da literatura brasileira, apelidado como “A Rasgação”, para que os reacionários não falassem em queimação de livros, o que é outra intencionalidade babilônica.  Talvez  seja interessante lembrar, que exatamente nessa época, a  Guarda Vermelha chinesa, estava aprontando em  Pequim, a reforma cultural de Mao Tse Tung. De repente, o impacto foi tamanho, que as forças do poder, instaladas propositadamente na brizolândia*, diante das câmeras da mídia, não tiveram força de arregimentar a sua violência característica, em reação.  Assim, o melhor de tudo, previmos com antecedência de dois meses, o terrível AI-5 (Ato Institucional Número 5), que pairava sob nossas cabeças.

Imagem da Rasgação 

Pesquisa complementar do entrevistador:

“... Procurando trazer os problemas da poesia brasileira ao público, os participantes guanabarinos realizaram um rasga-rasga de livros de poetas discursivos (Drummond, Cabral e seus satélites), nas escadarias do Teatro  Municipal, em 26 de Janeiro de 1968.  O fato pretendeu levantar os seguintes problemas; 1) Um protesto público contra a sigilosa política literária de troca de favores (igrejinhas); 2) A necessidade de mostrar que houve uma ruptura qualitativa do desenvolvimento da poesia brasileira; 3) Contra o caráter de eternidade no poema que tende sempre ao estável, impedindo o  aparecimento  do novo; 4) Afirmação aos novos poetas de que o tipo de poesia existente nos livros rasgados não poderia servir de modelo, pois estava superado e consumido; 5) O poema é como pilha, gastou, gastou; 6) É preciso espantar pela radicalidade.  Ao poema radical corresponde uma ação radical.  A luta já atingiu o grau de um vale-tudo oswaldiano; 7) O gesto constitui um fato dentro da realidade brasileira e não pode ser visto fora de seu contexto geral”. (Texto retirado do livro Processo: Linguagem e Comunicação). 

 

*A zona central da Cinelândia, no final da Avenida Rio Branco, frente ao Teatro Municipal e da “Gaiola de Ouro” (a sede da Assembléia Legislativa) concentravam-se os brizolistas, partidários político do governador Leonel Brizola, de onde veio a denominação de “Brizolândia” para a área. 

 

 

 
 
 
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