POESIA GOIANA
HELVÉCIO GOULART
Em 12 de agosto de 1935, nasceu em Itajubá (MG), filho de Bráulio Goulart de Azevedo e de Elisa Capelo Goulart. Encontra-se em Goiânia desde 1956, e ele mesmo diz que Goiás lhe deu “o aprendizado das coisas, a lição do trabalho e o otimismo diante do futuro”. Formou-se em Direito pela Universidade de Goiás e, no serviço público, exerce cargos na administração estadual e municipal. É o fundador da televisão Brasil Central – Canal 13.
Fernando Mendes Vianna, ao analisar o livro Duração dos Dias, diz que que “Talvez a poesia brasileira nunca tenha chegado tão próxima da recuperação da essência do tempo da infância. E muito mais raramente ainda com tal depuração lírica...” E Domingos Carvalho da Silva, ao resenhar Memória das águas, antevia que o livro “nos devolve antes de tudo a convicção, a singela e linear verificação de que o mundo mecanizado, robotizado, cibernético, não alcança absorver o todo vivencial, deixando sempre interstícios luminosos e um campo ilimitado, propício às formulações do espírito, à realização da poesia como succés e não como échec.”
Bibliografia: A janela azul, Memória das águas, As palavras e Duração dos Dias.
LÍRICA VII
Passem a viver entre nós seus joelhos pensativos
A flor de seus cabelos na cinza da neblina
O seixo de sua voz que rola para a morte
Uma morte sem esquinas e sem olhos
A simples morte do desterro dos velhos
Passem a dormir em nossos ombros
As estrelas dos portos e das vilas
Esculpidas nos céus dos oprimidos
Nas bandeiras comoventes da Pátris
No antigo coração das lembranças
INVERNO
Não se esquecerá no momento em que o frio
pousar suas mãos de mármore na casa.
Os jardins quedarão entre a névoa
e passos chegarão de longe
feito chuva.
Muitas palavras viajam solitárias.
Velhos livros se abrem onde flores morreram.
Na vidraça
há mulheres que chegam
vestidas de pelúcia
e súbito
o coração de queima
num incêndio.
ESPERANÇA
Nada ficou das acácias
num dia de sol
na alta janela onde os crisântemos
continuam em flor.
Uma coisa está morta, outra está viva.
Assim se continua a andar
por um caminho sem começo
e sem fim.
Nos bancos dos jardins, feitos de névoa,
há mágicos sentados.
As cabras comem as últimas flores da Primavera
e a esperança é um rio velho atravessando a noite.
OS DIAS
Foram-se os jovens dias dos limoeiros em flor
Evadidos das mãos
E do corpo que esperava retê-los
Perfeitos
Para sempre
Foram-se as magnólias
Os chorões os ciprestes
Nas estações de ouro
O ninho das canções que os canários entregavam
Presos aos seus pés que cantavam
Cantavam
PALÁCIOS
Alguém tirara o mundo do bolso do colete
E ficava a mostrá-lo aos que passavam
Um corvo veio vindo e pousou em seu ombro
Na hora das pessoas se beijarem na boca
Se amarem no asfalto nos telhados nas esquinas
Nos becos nas árvores nas águas de peixes inebriados
Alguém tirara o mundo de dentro de seu bolso
De um bolso enorme onde cabiam todos
As viúvas dos assassinados
Os que morriam sempre os que sempre matavam
Também os loucos os palhaços
Da cidade do país da terra inteira
Todos verdes da grama dos palácios
Das casas senhoriais em que moram as vespas as cobras as aranhas
Os pobres elefantes dos circos de arrabalde
E era assim que tinha de ser dizia-se
Tinha de ser assim para que morresse
A última esperança para que morresse
Da Antologia Poética (Editora UFG), 1995
Sonetos de Amor (Sétimo)
Gastou-se o tempo em mim na busca inútil,
gastou-se o céu em meu olhar de apelo,
gastou-se o eterno em minhas mãos de barro
e a vida se gastou em libertar-me.
E preso a tudo e a todos e ao silêncio
que só deixara em mim rastro fortuito
eu fui, que primavera eu procurava
colher-te o rosto e as mãos de amada ausente.
Mas que distância em mim, que sangue e estrelas
não pisei com meus pés de sortilégio
e não perdi meu sonho e minha infância?
E após voltar, que trago em minhas vestes?
- uma idéia de ti, que é mais longínqua
e essa imagem de amor, que antes é morta.
Informações sobre o escritor Salomão Sousa
consultar o blog http://www.safraquebrada.blogspot.com/
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