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LIZARDO CRUZADO

 

 

Notável poeta peruano, de Trujillo, Perú, nascido em 1975. 

 

“Um poeta extraordinário, dos melhores e mais pungentes e esperpênticos que lemos nos últimos tempos, com o exato senso de maldade e do sublime. Vibrei traduzindo-o. E até usei um neologismo — desgarradouramente — para ser fiel ao original, misto de desgarramento com duradouro... Acho que valeu. É inevitável a comparação com o grande Ernesto Cardenal, com seu famoso Poema para Marilyn Monroe, bem mais lírico mas igualmente tão humanizante.”   Antonio Miranda

 

 

TEXTO EN ESPAÑOL  /  TEXTO EM PORTUGUÊS

 

 

PARA M. M.

 

                  (O sea, para

Marilyn Monroe: para Mi Madre)

 

                  Decir que Marilyn Monroe no fue Mi Madre

no es lo mismo

que decir que Mi Madre no fue Marilyn Monroe.

Fijo que suena confuso como un sofisma;

pero viendo bien, viéndola bien,

viéndolas,

ambas tienen —aparte del esqueleto

lentísimo y el erizado pellejo celeste —

el mismo parque de atardecer quebrado,

unos cuantos sueños hechos mierda,

fotografias amarillentas

—cual marchitas magnolias—

olvidadas bajo el colchón o los párpados,

y unas ardientes ganas de ser amadas

mordidas lamidas y apretadas

como maduras chirimoyas o como higos.

aunque fuera el viento neoyorquino el que

alzó a Marilyn la faldas

y a Mi Madre las ropas opimiesen

ls resecas

brisas del arenal,

ambas han llorado desnudas al menos una vez,

extraviadas entre ortigas y sedas.

Y si Mi Madre no hubiera

abandonado el cine oscuro donde su juventud aullaba

con la última butaca clavada

en pleno pecho,

tal vez estaria ella ahora escribiendo sus memórias;

y por outro lado —o por el mismo—

se hallaría Marilyn pelando legumbres y patatas

o hirviendo sopa y calcetines

cuando muere la tarde.

 

Ambas

fueron desgarradamente felices

e infelices también —desgarradoramente—.

 

La única

y pequeña diferencia es que Marilyn reventó

al tomarse cincuenta cápsulas de nembutal

y que Mi Madre

me parió a a mí.

 

Lo cual

Verdaderamente es casi lo mismo.

 

 

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TEXTO EM PORTUGUÊS

Tradução de Antonio Miranda

 

 

PARA M. M.

 

                  (Ou seja, para

Marilyn Monroe: para Minha Mãe)

 

 

                  Dizer que Marilyn Monroe não era Minha Mãe

                   não é o mesmo

                   que dizer que Minha Mãe não era Marilyn Monroe.

                   Percebo que resulta confuso como um sofisma;

                   Ma vendo bem, vendo-a bem,

                   vendo-as

                  ambas têm —além do esqueleto

                   lentíssimo e o eriçado couro celeste —

                   o mesmo parque de entardecer quebrado,

                   uns quantos sonhos que viraram merda,

                   fotografias amarelecidas

                   — como magnólias murchas—

                   esquecidas debaixo do colchão ou das pálpebras,

e umas ardentes ganas de serem amadas

mordidas lambidas e apertadas

como graviolas maduras ou como figos.

Mesmo tendo sido o vento novaiorquino que

levantou a saia de Marilyn

e o fato de que à Minha Mãe as roupas oprimissem

                   as ressecadas

                   brisas do areial,

                   ambas choraram despidas ao menos uma vez,

                   extraviadas entre urtigas e sedas.

                   E se Minha Mãe não tivesse

                   abandonado o cinema escuro onde sua juventude uivava

                   com a última cadeira cravada

                   em pleno peito,

                   talvez estivesse agora escrevendo suas memórias;

                   e por outra lado —ou pelo mesmo—

                   Marilyn estaria descascando legumes e batatas

                   ou fervendo uma sopa e as meias

                   quando a tarde cai.

 

                   Ambas

                   foram desgarradamente felizes

                   e infelizes também  desgarradouramente —.

 

                   A única

                   e pequena diferença é que Marilyn rebentou-se

                   ao tomar cinqüenta cápsulas de nembutal

                   e que Minha Mãe

                   me pariu.

 

                   O que, aliás,

                   é praticamente quase a mesma coisa.

 



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