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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


LÉLIA COELHO FROTA

 

LÉLIA COELHO FROTA

 

 

Escritora, antropóloga e crítica de arte  (nascida em 11/7/1938  Rio de Janeiro, RJ), membro da União Brasileira de Escritores, da Associação Brasileira de Antropologia e da Associação Brasileira de Críticos de Arte. É autora de livros sobre arte e cultura brasileiras, entre os quais Mitopoética de 9 Artistas Brasileiros (Rio de Janeiro, Funarte, 1978), Ataíde (São Paulo, Editora Nova Fronteira, 1983), Mestre Vitalino (Editora Massangana, 1986) e Burle Marx: Paisagismo no Brasil (Câmara Brasileira do Livro/Brasiliana de Frankfurt, 1994). Foi responsável pelas representações brasileiras nas Bienais de Veneza de 1978 e 1988 e curadora da exposição Brésil, Art Populaire Contemporain, no Grand Palais (Paris, 1987). Recebeu os prêmios Jabuti (Câmara Brasileira do Livro) e Olavo Bilac (Academia Brasileira de Letras) pelo livro Menino Deitado em Alfa (Editora Quíron, 1978).

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS  /  TEXTOS EN ESPAÑOL / EN ITALIANO

 

 

João Sebastião

É cruzamento da linha.

Adeus verões, perfil humano,

monólitos, élitros, verdores.

A dinamite do concreto aqui

se realiza.

Bach pulveriza

todo contato terra.

Polifonicamente o órgão mói

todo humano cuidado:

aquilo que exulta e aquilo que dói.

Cuidado!

Sob o sopro ardente do arcanjo

Deixamos sem reticência o qualquer pó

para a nudez maior da claridade.

 

 

CARNAVAL

 

O caminhão do trio elétrico

teve que vir da Bahia

para animar as arquibancadas de aço.

 

Brilha

Cometa

anúncio de cigarro intergalático.

 

Os corações espectadores.

 

Frenesi, pula o trio

sob a chuva

na avenida

vazia à espera da escola

que corta

rio de luz

a massa do público paralisado

na sombra.

 

Turistas de nós mesmos.

 

Mas ainda há ainda tem

O Bloco do Barril da Rua Estela

estrela proletária do Jardim Botânico

sambando à beira das inacessíveis moradas.

 

         (Rio, 1970)

 

 

3. LIBERDADE

 

Passo pelo fio

de pérolas do Rossio:

não quero comprar flores

quero ver o rio.

 

 

8.  AMOR TIRANO

 

Invejável clausura

Tem o fauno da fonte

da Avenida da Liberdade.

Não sabe o que é saudade:

ele dura.

 

 

9.  PROJETO

 

Sim, iremos para a América do Sul

para as quadras de tênis vazias

para os parques de diversão silenciosos

movidos pelos anúncios luminosos.

 

 

         (do livro Menino deita em alfa, 1978)

 

 

UMA DOR

 

1.

O vento soprava árvores da esquerda.

Ao fundo, o menino tocava o violão

preso no ombro, como um pequeno navio adernado.

Uma dor

no mundo

rachava tudo fino e longe,

cinema mudo.

 

2.

Acordar é fechar as pálpebras.

Nossos olhos só escrevem

por cima, muito por cima.

E quando abrimos as janelas

É só o vento que está ali.

 

Existe uma dor

                   solta no mundo.

 

E eu quero deixar meu emprego, meus cabelos

                   minha família

para ir atrás dela

                   bicho com fome.

 

 

                   (do livro Brio, 1996)

 

 

Extraídos da obra FELIX, Moacir.  41 Poetas do Rio. Rio de Janeiro:  Funarte, 1998.

ISBN  85-85781-72-6

 

 

AMAROAMAR

Montemuro, serra,
vai, coração, erra,
esfacela-te em mágoa
nostálgica de Mozart
no antiqüíssimo quarto
de outra alta paixão
para aumentar a sede
de Deus, e seu falcão.
preza ao céu conceder-te
uma alforria leve
a resvalar na sorte
desta que se quis  pura
desta que se quis casta
e cada vez mais se afasta
da seráfica altura.
Pode ser que no escuro
se rompa a trasmontana
porta do puro amor
aorta que me leva
— sangue derramadíssimo —
ao horto felicíssimo
onde um bater de pálpebra
uma treva minúscula
seja morrer: cidade
da afinal claridade.

 

COMPASSO DE NERVAL

Porque sempre princesa desterrada
a viúva, a quebradiça, a desolada
a esperar a mão que me levante
e me leve e me liberte e me incorpore
a uma feudal jurisdição
onde amada, eu seja sujigada
a pesadas correntes de paixão
que liguem e me larguem
que generosamente domestiquem
minha arredia vontade de fundir-me
num amplo levantamento acompanhado —
ave ditosa que só voe no compasso
da certeza do solo do seu dono.

 

            (De Alma & Pétalas 1972-1974 (Onze poemas portugueses)
            parte do livro MENINO DEITADO EM ALFA (São Paulo: Edições
            Quíron; Brasília: INL, 1978).


FROTA, Lélia Coelho.  Caprichoso desacêrto.  Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1965.  111 p. (Coleção Poesia Sempre, vol. 24) 11,5x17,5 cm.  Retrato da autora por Maria Leontina.  “ Lélia Coelho Frota “  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília.

 

REDONDAMENTE ENGANADA

Vira-me o reverso
da medalha em outra
face vossa, amado.
Leve esquecimento

Decanta-se em tempo
do que rias, claro
pássaro num aro
de encantado giro.

Já me esfuma, não
mais adianta, vai
bem-alado perfil
diluir-te no vago

Som deste anafil
que soa à distância
da âmbar primavera
pétala-por-pétala

em que flores, sem
ter pressentimento
do mínimo alento
que por ti respiro.

(Frio foi o périplo
e o amor, renhido,
no âmago da rosa
que me construí).

 

 

 

 

HIPÓTESE DE MAIO

 

Sobre a mesa o relógio

anuncia meu tempo

que se desfaz em crivo

de aflito pensamento.

De que jardins me evado

de que amores provenho

de que enredo impreciso

se armara o que estou sendo

entre meus dicionários

fragmentos de retratos

os rútilos canários

enfunadas cortinas.

Os amigos inquietos

o silêncio a aumentar

concêntrico, severo

em torno das conversas

além da ausência,

além dos constantes afetos.

Resíduos de passeios

em paisagens alheias

empinham-se em gavetas —

cartas de amor nos seus

macios envelopes

risadas e conchinhas

a voz que fala sempre

no fundo da sonata

diletantes poemas

todos concordemente

citando o  coração

ladeado de flores

zéfiros sorridentes

(e os sabia chorosos).

As gavetas estufam

o que nelas se havia

adquire vida própria

um sitiado encanto

e expulsa da memória

de que participava

com escassa competência

eu, que leve o lembrava.

O conteúdo humano

desse ditoso espólio

palpita, e entretanto

— semicerrados olhos

agitar de cambraia —

invencível o sono

se engolfa na dolência.

Sono maior que o escuro

a corromper a luz

diuturna nostalgia

de um sonho, não sei mais

ao certo o que seria.

Coágulo sombrio

adensando-se em zona

fechada, onde me perco

neste mês-de-maria

pensando o que seria

de mim, no dissolvido

rumor que me povoa

sem conduzir à fala

da sempre poesia

sem revelar o muito

de amar que pretendia

antes de antes, não sei

ao certo o que seria.

Mas bem que perfazia

um circuito profundo

onde a primeira imagem

(início e ata finda)

que ainda se reflete

é a da jovem correndo

pela campina, soltos

cabelos, e as glicínias

a descer pelos ombros

prendendo-se na boca

primavera garrida

pelo azul florentino.

Na mão direita tinha

uma roseira viva

juritis entoavam

campestres ladainhas

e pela transparência

de sua carnação

via-se-lhe o coração

com um só nome gravado

a rubro, fulcro infenso.

Corria na campina

fantástica, e ainda

posso lembrar que em fuga

amava sempre, e ria.

 

 

 

 

FROTA, Lélia CoelhoBrio.  Prefácio: Benedito Nunes.  Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996. 100 p.   Ilustrações: Maria Leontina.  ISBN 85-85625-42-2   Col. A.M.

 

KAIPE

 

     a Walmir

 

Entrou

no hiperespaço

Alto de onda

          armou o salto.

 

Já não cabia

em camisa, carro, lençol, sala nem quarto.

 

Fiel

          à misericórdia

do jantar, da ópera, da mão escrevendo, de Cristo.

 

Emparedado por dentro

já não cabia no isto.

 

Fora, fora do filme

onde a vida

tentação estóica

pinga a conta-gotas do relógio.

 

Acelerava todo dia

as quatro pontes do coração

longe, longe do esbarro

que o rosto amado faz e desfaz ali

perto-da-pétala, onde respira.

 

Sem querer, viveu-se,

derramou-se do sangue. Preferiu

a estrela-guia do menino à sua frente

surfando entre baleias, alegria.

 

 

 

 

FROTA, Lélia Coelho.  Quinze poemas de Lélia Cordeiro Frota.  Capa e ilustrações de Milton Dacosta.  Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1956.   Tiragem: 500 exs . em papel Velutine.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

QUADRAS LEVES PARA MIRLIFLÔRES

 

Ora,

voou a flora

de riso

que seu olho deixou.

 

Nada

sobrenada no golfo

azul que outrora

seu braço cortou.

 

Vira

e suspira

pergunto a Elvira

(ali a mortavirgem)

onde você ficou:

 

Mirliflôres

bardo ingrato

nesta fonte calma

e grave

desfolho meus malmequeres:

voltará, não voltará.

 

 

FROTA, Lélia CordeiroPoesia Reunida   1956-2006.  Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2012.  526 p. 14,5x22,5 cm.  ISBN  978-85-88747-42-5  Prefácio geral de Heloisa Buarque de Holanda.  Poesia Lembrada, por Henriqueta Lisboa. Inclui: Quinze Poemas; Alados idílios; Caprichosos desacerto; Um Cordeiro, uma pomba  e uma fonte, Romance de Dom Beltrão; MENINO DEITADO EM ALFA: Apresentação Luiz Paulo Horta, Joia sofrida, por Otto Lara Resende  - Ar da alma (1975-1976), Alma e Pétalas (1972-1974). BRIO:  Ascese da linguagem, por Benedito Nunes – Brio. A pétala trincada, Dois até breves, Veneza de vista e ouvido, Duas palavras, por Alexandre Eulálio; POSFÁCIO: Improviso para Lélia, Armando Freits Filho, Bibliografia e Índice.  Capa dura revestida de tecido. Miolo em papel Polen Bold 90 g.  Design gráfico, capa e diagramação: Lúcia Nemer e Martuse Fornaciari.  Col. A.M.

 

AD USUM

 

O meu ofício é de palavras

que só estremecem ao rumor

do amor.

 

O meu ofício é de missão

secreta, sob a capa do ar:

lembrar.

 

O meu ofício desconhece

qualquer das formas de folgar:

sonhar?

 

No meu ofício é que se aprende

por dentro - terra e ultramar -

a olhar.

 

Sua alegria é de um minuto

e nada a pode compensar:

cantar.

 

Entre um minuto e outro perpassam

nuvens de tamanho esperar:

durar.

 

O meu ofício é de saber

morrer, de nas pedras gravar:

passar.

 

          (De Um Cordeiro, uma Pomba e uma Fonte)

 

 


TEXTOS EN ESPAÑOL

TRADUCCIÓN DE

ADOVALDO FERNANDES SAMPAIO

 

IDILIO DE NUBES

Él hablaba de torres;

ella pensaba en nubes.

Él cruzaba los rios,

Los fieros altiplanos,

los sabios pensamientos.

Ella, arpillera y seda,

tejía los pañales,

inicio de promesa

del que nace de un si.

Em dias tan azules

la fuente deslumbrada

murmura derramando su luz

— era la brfisa

Desmayada em la brisa.

Morir, morir de amor.

 

 

 

Extraído de la obra

VOCES FEMENINAS DE LA POESÍA BRASILEÑA

Goiânia: Editora Oriente, s.d.

 

 

ANTOLOGÍA DE POESÍA BRASILEÑA. Preparación, traducción y prólogo de Gabriel Rodríguez. Caracas: Fundación Editorial Popular de la Cultura; Fundción Editorial  El Perro y          la la Rana, 2008.   437 p.  Col. Poesía del Mundo. Série Antologías.     Col. A.M. 

 

HIPÓTESIS DE MAYO

 

Sobre la mesa el reloj

anuncia mi tiempo

que se deshace en huecos

de afligido pensamiento.

De qué jardines me evado

de qué amores provengo

de qué enredo impreciso

se arma lo que estoy siendo

entre mis diccionarios

fragmentos de retratos

canarios resplandecientes

cortinas henchidas.

Los amigos inquietos

el silencio que aumenta

concéntrico, severo

en torno de las conversas

más allá de la ausencia

y los constantes afectos.

Residuos de paseos

por paisajes ajenos

apilados en gavetas—

cartas de amor en sus

suaves envoltorios

risas y conchillas

la voz que siempre habla

al fondo de la sonata

poemas diletantes

todos en concordância

citando al Corazón

flanqueado de flores

céfiros sonrientes

(y los tordos lastimeros).

Las gavetas se hinchan,

lo que en ellas había

adquiere vida propia,

un sitiado encanto

y expulsa de la memoria

de la que participaba

con escasa competencia

yo, que apenas lo recuerdo.

El contenido humano

de ese dichoso espolio

palpita, y entretanto

-ojos entornados

agitar de liencillos-

invencible el sueño

se atasca en el dolor.

Sueño mayor que lo oscuro

para corromper la luz

perdurable nostalgia

de un sueño, ya no sé

por cierto, lo que sería.

Coágulo sombrío

abultándose en zona

cerrada, donde me duelo

en este mes-de-María

pensando lo que sería

de mí, en el disuelto

rumo que me puebla

sin conducir el habla

de la siempre poesía

sin revelar lo mucho

de amar que pretendía

antes de antes, no sé

por cierto lo que sería.

Más bien que completa

un circuito profundo

donde la primera imagen

(principio y acta concluida)

que todavía se refleje

es la de la joven corriendo

por la campiña, sueltos

los cabellos, y las glicinas

bajándole por los hombros

prendiéndose en la boca

primavera garrida

por el azul florentino.

En la mano derecha tenía

un rosal vivo

avecillas entonaban

campestres letanías

y por la transparencia

de su carnación

se le veía el corazón

con un solo nombre grabado

a fuego, núcleo intacto.

Corría por la campiña

fantástica, y todavía

puedo recordar que en fuga

amaba siempre, y reía.

 

 

CANCIONCILLA LIVIANA

 

No trates de tejer con huecos

metafísicos nuestro amor.
Él es lúdico. Y no precisa

de tu floreo sin calor.

 

Y ni sugieras más a tu dama,

alejandrinos con disculpa:

sólo tu perfil, incisivo y breve,

ya destruirá si queda, alguna culpa.

 

Yo no espero ni desespero.

Para amarte, urdiré una esquela

de más amar, que disuelva

los sinsabores de tu seducción.

 

Sutil es la vida, rudo el juicio

que determina mi pasaje—

enternecerme con tus indicios

mientras habitas otros paisajes.

 

                    (Caprichoso Desacerto)

 

 

Página republicada em junho de 2008, ampliada e republicada em jan. 2009. Ampliada e republicada em janeiro de 2014.

 




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