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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS


T. S. ELIOT

 

 

Thomas Stearns Eliot OM (St. Louis, 26 de setembro de 1888 — Londres, 4 de janeiro de 1965) foi um poeta modernista, dramaturgo e crítico literário inglês nascido nos Estados Unidos. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1948.

 

Eliot nasceu em St. Louis, Missouri, nos Estados Unidos, mudou-se para a Inglaterra em 1914 (então com 25 anos), tornando-se cidadão britânico em 1927, com 39 anos de idade. Sobre sua nacionalidade e sua influência na sua obra, T.S. Eliot disse:

 

"Minha poesia não seria o que é se eu tivesse nascido na Inglaterra, e não seria o que é se eu tivesse permanecido nos Estados Unidos. É uma combinação de coisas. Mas, nas suas fontes, na sua força emocional, ela vem dos Estados Unidos."

 

 

 

Faleceu em 4 de janeiro de 1965. Segundo sua vontade, foi cremado e suas cinzas encontram-se na igreja Saint Michael, na vila de East Cocker, Somerset na Inglaterra.

 

Fonte: wikipedia

 

 

 

TEXTS IN ENGLISH    -    TEXTOS EM PORTUGUÊS

 

 

 

 ELIOT, Thomas Stearns, 1888-1965.  Poemas — Poems: 1910
1930.
  T. S. Eliot, traduzido por Idelma Ribeiro de Faria.
Apresentação: Cassiano Ricardo.   São Paulo:       Massao Ohno
Editor, 1985.  108 p.  Capa: Litografia do XVIII.  Página de rosto e
texto em inglês e português.  Tiragem de 500 exemplares.  Ex. bibl.
Antonio Miranda

 

 

 

 

Quis hic locus, quae
regio, quae mundi plaga?

 

 

MARINA

 

       What seas what shores what grey rocks and what islands
What water lapping the bow
And scent of pine and the woodthrush singing through the fog
What images return
Oh my daughter.

 

         Those who sharpen the tooth of the dog, meaning
Death
Those who glitter with the glory of the hummingbird, meaning
Death
Those who suffer the ecstasy of the animals, meaning
Death

 

         Are become unsubstantial, reduced by a Wind,
A breath of pine, and the woodsong fog
By the grace dissolved in place

 

         What is this face, less clear and clearer
The pulse in the arm, less strong and stronger —
Given or lent? more distant than stars and nearer than the eye

 

         Whispers and laughter between leaves and hurrying feet
Under sleep, where all the Waters meet.
Bowsprit cracked with ice and paint cracked with heat.
I mad this, I have forgotten
And remember.
The rigging weak and the canvas rotten
Between one June and another September.
Made this unknowing, half conscious, unknown, my own.
The garboard strake leaks, the seams need caulking.

 

         This forme, this face, this life
Living to live in a world of time beyond me; let me
Resign my life for this life, my speech for that unspoken,
The awakened, lips parted, the hope, the new ships.

         What seas what shores what granit islands towards my timbres
And woodthrush calling through the fog
May daughter. 1

 

 

 --------------------------------------------------------------------------------------------------

 

        

 

Quis hic locus, quae
regio, quae mundi plaga?

              

          MARINA

 

          Que mares que praias que penhas cinzentas que ilhas
Que água a lamber a proa
E perfume de pinho e o trucilar do tordo através da neblina
Que imagens retornam
Ó minha filha.

 

               Aqueles que afiam o dente do cão, significando
Morte
Aqueles que fulgem com o brilho do beija-flor, significando
Morte
Aqueles que se instalam na pocilga da satisfação, significando
Morte

 

               Tornaram-se insubstanciais, vencidos por um sopro,
Um hálito de pinho e a névoa-canção da selva
Por essa graça no espaço dissolvida

 

               Que face é essa menos clara e mais clara
No braço o pulso, menos forte e mais forte...
Dádiva ou empréstimo? mais longe que os astros e mais perto
que os olhos

 

               Sussurros e risinhos entre folhas e céleres pés
Sob o sono onde todas as águas se encontram.
Gurupés partido pelo gelo, pintura fendida com o calor,
Eu fiz isso, me esqueci
E me lembro.
As amarras débeis, as rusticas velas
Entre um junho e um outro setembro.
Esse desconhecido, semi consciente, estranho, fiz meu.
Vazam as tábuas de rebordo, as emendas pedem calafeto.

 

               Essa forma, essa face, essa vida
Vivendo para viver em um mundo-tempo além de mim; quisera
Minha vida ceder por essa vida, meu falar pelo não articulado,
A desperta, lábios entreabertos, a esperança, os novos barcos.

               Que mares que praias graníticas ilhas defrontam-me as vergas
E o tordo chamando através da neblina
Minha filha.1

 

Prende-se Marina pelo título à filha de Taísa e Péricles, nascida no mar e mais tarde roubada por piratas, da peça de Shakespeare, Péricles, Prince of Tyre e pela epígrafe a Hercules Furens, de Sêneca: sob o encantamento de Juno, Hércules, inconsciente, mata mulher e filhos. Voltando à razão não sabe onde se encontra mas acaba por reconhecer com horror o crime praticado

 

 

 

 

 

ELIOT, T. S.  A Terra Devastada.  Prefácio e tradução de Gualter Cunha.  Lisboa, Relógio D´Água, 1999.  65 p.  14 x 21 cm.  sobrecapa   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

IV Death by Water

 

Phlebas the Phoenician, a fortnight dead,
Forgot the cry of gulls, and the deep sea swell
And the profit and loss.

                                      A current under sea
Picked his bones in whispers. As he rose and fell
He passed the stages of his age and youth
Entering the whirlpool.

                                      Gentile or Jew
O you who turn the wheel and look to windward,
Consider Phlebas, who was once handsome and tall as you.

 

 

IV Morte pela Água

 

Phlebas, o Fenício, morto há duas semanas,
Esqueceu o grito das gaivotas, e a ondulação das profundidades
E os lucros e as perdas.

                                      Uma corrente submarina
Apanhou em sussurro os ossos dele. Ao subir e descer
Passou os estádios da sua idade e da sua juventude
Enquanto entrava no redemoinho.

                                      Gentio ou Judeu
Oh tu que rodas o leme e olhas a barlavento,
Lembra-te de Phlebas, que foi em tempos belo e alto como tu.

 

 

 

 

ELIOT, T. SQuatro quartetos.  Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.  91 p.   14,5 X 21 cm   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Uma bela edição, que recomendamos!!!

 

 

IV

 

A pomba mergulhando rasga o espaço
Com flama de terror esbraseado
220    Cujas línguas arrojam sem cessar

        Um jorro apenas de erro e de pecado.
        Toda esperança, ou mais desesperar,
        Está na escolha de uma ou de outra pira
        — Para que o fogo pelo fogo nos redima.

 

225    Quem, pois, urdiu tanto suplício?
        Amor. Amor é Nome de furtiva chama
         Sob as mãos que teceram com rancor
          A intolerável túnica de flama
          A que poder algum se pode opor.

230    Apenas suspiramos, ainda vivos,
         Por esse ou outro fogo consumidos.

 

 

 

 

Extraído de 

 

 

POESIA SEMPRE  - Ano 6 – Número 9  - Rio de Janeiro - Março 1998. Fundação BIBLIOTECA NACIONAL – Departamento Nacional do Livro -  Ministério da Cultura.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

Preludes

 

 

I

 

The winter evening settles down
With smell of steaks in passageways.
Six o'clock.

The burnt-out ends of smoky days.
And now a gusty shower wraps
The grimy scraps

Of withered leaves about your feet
And newspapers from vacant lots;
The showers beat

On broken blinds and chimney-pots,
And at the corner of the street
A lonely cab-horse steams and stamps.
And then the lighting of the lamps.

 

 

II

 

The morning comes to consciousness

Of faint stale smells of beer

From the sawdust-trampled street

With all its muddy feet that press

To early coffee-stands.

With the other masquerades

That time resumes,

One thinks of all the hands

That are raising dingy shades

In a thousand furnished rooms.

 

 

III

 

You tossed a blanket from the bed,

You lay upon your back, and waited;

You dozed, and watched the night revealing

The thousand sordid images

Of which your soul was constituted;

They flickered against the ceiling.

And when all the word came back

And the light crept up between the shutters

And you heard the sparrows in the gutters,

You had such a vision of the street

As the street hardly understands;

Sitting along the bed's edge, where

You curled the papers from your hair,

Or clasped the yellow soles of feet

In the palms of both soiled hands.

 

 

IV

 

His soul stretched tight across the skies

That fade behind a city block,

Or trampled by insistent feet

At four and five and six o'clock;

And short square fingers stuffing pipes,

And evening newspapers, and eyes

Assured of certain certainties,

The conscience of a blackened street

Impatient to assume the word.

 

         I am moved by fancies that are curled
         Around these images, and cling:
         The notion of some infinitely gentle
         Infinitely suffering thing.

 

         Wipe your hand across your mouth, and laugh;
         The worlds revolve like ancient women
         Gathering fuel in vacant lots.
 

 

 

Prelúdios 

I 

Atarde de inverno declina
Com ranço de bifes nas galerias.
Seis horas.

O fim carbonizado de nevoentos dias.

E agora um convulso aguaceiro enrola

Os encardidos restos

De folhas secas ao redor de nossos pés

E jornais que circulam no vazio

Dos terrenos baldios.

O temporal chicoteia

As persianas rachadas e o capuz das chaminés.
E na esquina de uma rua
Um solitário cavalo de coche
Bafeja e escarva o solo. E então
As lâmpadas dardejam seu clarão.

 

 

II

A manhã se apercebe

Dos miasmas de cerveja choca

Que impregnam as pisoteadas lajes

Da rua recoberta de serragem,

Imprimindo suas lamacentas pegadas

Até as matinais cantinas de café.

Em face de outros mil disfarces

Que o tempo reassume a cada passo,

Pode pensar-se em todas essas mãos

Que emergem como sombras embaçadas

Em milhares de quartos mobiliados.

 

 

III

 

Sacudiste da cama um cobertor,

De costas te quedaste, e esperaste;

Cochilaste, e velaste a noite que revelava

Milhares de sórdidas imagens

De que era a tua alma constelada;

Elas bruxulearam contra o teto.

E quando todos regressaram

E a luz escorregou entre as venezianas

E ouviste o canto dos pardais nas calhas,

Tiveste uma tal visão da rua

Como sequer ela própria a entenderia;

Sentada à beira da cama, anelaste

Em teus cabelos caracóis e papelotes,

E estreitaste as pálidas plantas dos pés

Entre as palmas de ambas as mãos sujas.

 

 

IV

 

Sua alma tensa se estendeu cruzando os céus

Que se estiolam por trás dos edifícios,

Ou a pisotearam insistentes pés

As quatro e às cinco e às seis horas da tarde;

E curtos dedos firmes a entupir cachimbos,

E jornais vespertinos, e olhos

Convictos de certas certezas,

A consciência de uma enegrecida rua

Impaciente por se apoderar do mundo.

 

            Movido sou por fantasias que se enredam
           
Ao redor dessas imagens, e a elas se agarram:
           
A noção de algo infinitamente suave
           
De alguma coisa que infinitamente sofre.

 

            Enxuga tuas mãos à boca, e ri;
           
Os mundos se contorcem como velhas mulheres
           
A juntar lenha nos terrenos baldios.

 

 

Tradução de Ivan Junqueira

 

 

 

La figlia che piange

 

O quam te memorem virgo...

 

            Stand on the highest pavement of the stair —
                       
Lean on a garden urn —
           
Weave, weave the sunlight in your hair —
           
Clasp your flowers to you with a pained surprise
           
Fling them to the ground and turn
           
With a fugitive resentment in your eyes:
           
But weave, weave the sunlight in your hair.

 

So I would have had him leave,

            So I would have had her stand and grieve,
                       
So he would have left

            As the soul leaves the body torn and bruised,
                       
As the mind deserts the body it has used.

 

I should find

            Some way incomparably light and deft.
                       
Some way we both should understand,
                       
Simple and faithless as a smile and shake of the hand.

        

She turned away, but with the autumn weather
                       
Compelled my imagination many days,
                       
Many days and many hours:

            Her hair over her arms and her arms full of flowers.
                       
And I wonder how they should have been together!
                       
I should have lost a gesture and a pose.
                       
Sometimes these cogitations still amaze
                       
The troubled midnight and the noon's repose.

 

 

 

La figlia che piange

 

         O quam te memorem virgo...

 

Detém-te no mais alto lance das escadas...
                    A uma uma apoiada...
         Em teus cabelos tece, tece a luz do sol...
         Tuas flores une a ti com surpresa magoada...
         Arremessa-as no chão e volta-te,
         No olhar fugidia revolta:
         Mas nos cabelos tece, tece a luz do sol.

 

Eu o teria feito assim partir

         E a ela assim estar de pé a se afligir,
                   Assim teria ele partido

         Como a alma deixa o corpo macerado, rompido,
                  Como o espírito abandona o corpo que exauriu.

 

Eu deveria encontrar

 Um caminho incomparavelmente claro e sutil
         Um caminho de mútua compreensão, simples
         E sem fé como um sorriso ou um aperto de mão.

 

Ela partiu, mas com a estação do outono
                   Por muitos, muitos dias, muitas horas,
                   Meu pensamento veio dominar:
                   Cabelos sobre os braços e entre os braços flores.
                   Juntos — e como? — fico a imaginar.
                   Eu devo ter perdido um gesto, uma atitude.
                   Essas cogitações me vêm amiúde intrigar
                   A meia-noite em tumulto e o meio-dia em quietude.

 

                   Tradução de Idelma Ribeiro de Faria

 

 

 

Gerontion

 

 

Thou hast nor youth nor age

But as it ivere an after dinner sleep

Dreaming of both.
                      
Shakespeare, Measure for Measure, ato III, cena 1

 

 

Here. I am, an old man in a dry month,
Being read to by a boy, waiting for rain.
I was neither at the hot gates
Nor fought in the warm rain

Nor knee deep in the salt marsh, heaving a cutlass,

Bitten by flies, fought.

My house is a decayed house,

And the jew squats on the window sill, the owner,

Spawned in some estaminet of Antwerp,

Blistered in Brussels, patched and peeled in London.

The goat coughs at night in the field overhead;

Rocks, moss, stonecrop, iron, merds.

The woman keeps the kitchen, makes tea,

Sneezes at evening, poking the peevish gutter.

                                          I an old man,
    A dull head among windy spaces.

 

Signs are taken for wonders. "We would see a sign!"
The word within a word, unable to speak a word,
Swaddled with darkness. In the juvescence of the year
Came Christ the tiger

 

 In depraved May, dogwood and chestnut, flowering judas,

To be eaten, to be divided, to be drunk
Among whispers; by Mr. Silvero
With caressing hands, at Limoges
Who walked all night in the next room;

    By Hakagawa, bowing among the Titians;
By Madame de Tornquist, in the dark room
Shifting the candles; Friiulein von Kulp
Who turned in the hall, one hand on the door.

    Vacant shuttles
Weave the wind. I have no ghosts,
An old man in a draughty house
Under a windy knob.


After such knowledge, what forgiveness? Think now

History has many cunning passages, contrived corridors

And issues, deceives with whispering ambitions,

Guides us by vanities. Think now

She gives when our attention is distracted

And what she gives, gives with such supple confusions

That the giving famishes the craving. Gives too late

What's not believed in, or if still believed,

In memory only, reconsidered passion. Gives too soon

Into weak hands, what's thought can be dispensed with

Till the refusal propagates a fear. Think

Neither fear nor courage saves us. Unnatural vices

Are fathered by our heroism. Virtues

Are forced upon us by our impudent crimes.

These tears are shaken from the wrath-bearing tree.

 

    The tiger springs in the new year. Us he devours. Think at last
    We have not reached conclusion, when I
    Stiffen in a rented house. Think at last
    I have not made this show purposelessly
    And it is not by any concitation
    Of the backward devils.
    I would meet you upon this honestly.
    I that was near your heart was removed therefrom
    To lose beauty in terror, terror in inquisition.
    I have lost my passion: why should I need to keep it
    Since what is kept must be adulterated?
    I have lost my sight, smell, haring, taste and touch:
    How should I use them for your closer contact?

 

    These with a thousand small deliberations
    Protract the profit of their chilled delirium,
    Excite the membrane, when the sense has cooled,
    With pungent sauces, multiply variety
    In a wilderness of mirrors. What will the spider do,
    Suspend its operations, will the weevil
    Delay? De Bailhache, Fresca, Mrs. Cammel, whirled
    Beyond the circuit of the shuddering Bear
    In fractured atoms. Gull against the wind, in the windy straits
    Of Belle Isle, or running on the Horn,
    White feathers in the snow, the Gulf claims,
    And an old man driven by the Trades
    To a sleepy corner.

 

                                Tenants of the house,
    Thoughts of a dry brain in a dry season.

 

 

GERONTION

 

" Não és jovem nem velho,

Mas como, se após o jantar adormecesses,

Sonhando que ambos fosses."

Shakespeare, Measure for Measure. ato III, cena 1

 

Eis-me aqui, um velho em tempo de seca,
Um jovem lê para mim, enquanto espero a chuva.
Jamais estive entre as ígneas colunas
Nem combati sob as centelhas de chuva
Nem de cutelo em punho, no salgadio imerso até os  
                                                            joelhos,
Ferroado de moscardos, combati.
Minha casa é uma casa derruída,
E no peitoril da janela acocora-se o judeu, o dono, Desovado em algum barzinho de Antuérpia, coberto
De pústulas em Bruxelas, remendado e descascado em
                                                             Londres.
O bode tosse à noite nas altas pradarias;
Rochas, líquen, pão-dos-pássaros, ferro, bosta.
A mulher cuida da cozinha, faz chá,
Espirra ao cair da noite, cutucando as calhas rabujentas.

                                          E eu, um velho,
Uma cabeça oca entre os vazios do espaço.

 

    Tomaram-se os signos por prodígios: "Queremos um
                                                            signo!"
A Palavra dentro da palavra, incapaz de dizer uma palavra, Envolta nas gazes da escuridão. Na adolescência do ano Veio Cristo, o tigre.

    Em maio corrupto, cornisolo e castanha, noz da
     faias-da-judéia,
A serem comidas, bebidas, partilhadas
Entre sussurros; pelo Senhor Silvero
Com suas mãos obsequiosas e que, em Limoges,
No quarto ao lado caminhou a noite inteira;
Por Hakagawa, a vergar-se reverente entre os Ticianos;
Por Madame de Tornquist, a remover os castiçais
No quarto escuro, por Frãulein von Kulp,
A mão sobre a porta, que no vestíbulo se voltou.

    Navetas ociosas
Tecem o vento. Não tenho fantasmas,
Um velho numa casa onde sibila a ventania
Ao pé desse cômoro esculpido pelas brisas.

 

    Após tanto saber, que perdão? Suponha agora
Que a história engendra muitos e ardilosos labirintos,
    estratégicos

Corredores e saídas, que ela seduz com sussurrantes
                                                            ambições, Aliciando-nos com vaidades. Suponha agora
Que ela somente algo nos dá enquanto estamos distraídos E, ao fazê-lo, com tal balbúrdia e controvérsia o oferta
Que a oferenda esfaima o esfomeado. E dá tarde demais Aquilo em que já não confias, se é que nisto ainda
                                                            confiavas,
Uma recordação apenas, uma paixão revisitada. E dá cedo  
    demais

    A frágeis mãos. O que pensado foi pode ser dispensado

    Até que a rejeição faça medrar o medo. Suponha

    Que nem medo nem audácia aqui nos salvem. Nosso heroísmo

    Apadrinha vícios postiços. Nossos cínicos delitos

    Impõem-nos altas virtudes. Estas lágrimas germinam

    De uma árvore em que a ira frutifica.

 

    O tigre salta no ano novo. E nos devora. Enfim suponha
Que a nenhuma conclusão chegamos, pois que deixei
Enrijecer meu corpo numa casa de aluguel. Enfim suponha
Que não dei à toa esse espetáculo
E nem o fiz por nenhuma instigação
De demônios ancestrais. Quanto a isto,
É com franqueza o que te vou dizer.
Eu, que perto de teu coração estive, daí fui apartado,
Perdendo a beleza no terror, o terror na inquisição.
Perdi minha paixão: por que deveria preservá-la
Se tudo o que se guarda acaba adulterado?
Perdi visão, olfato, gosto, tato e audição:
Como agora utilizá-los para de ti me aproximar?

 

    Essas e milhares de outras ponderações
Distendem-lhe os lucros do enregelado delírio,
Excitam-lhe a franja das mucosas, quando os sentidos esfriam,
Com picantes temperos, multiplicam-lhe espetáculos
Numa profusão de espelhos. Que irá fazer a aranha?
Interromper o seu bordado? O gorgulho
Tardará? De Bailhache, Fresca, Madame Cammel, arrastados
Para além da órbita da trémula Ursa

Num vórtice de espedaçados átomos. A gaivota contra o vento

Nos tempestuosos estreitos da Belle Isle,

Ou em círculos vagando sobre o Horn,

Brancas plumas sobre a neve, o Golfo clama,

E um velho arremessado por alísios

A um canto sonolento.

 

                                                   Inquilinos da morada,
Pensamentos de um cérebro seco numa estação dessecada.

 

Tradução de Ivan Junqueira   

 

 

 

 

The Waste Land

 

I. The Burial of the Dead

 

April is the cruellest month, breeding

Lilacs out of the dead land, mixing

Memory and desire, stirring

Dull roots with spring rain.

Winter kept us warm, covering

Earth in forgetful snow, feeding

A little life with dried tubers.

Summer surprised us, coming over the Starnbergersee

With a shower of rain; we stopped in the colonnade,

And went on in sunlight, into the Hofgarten,

And drak coffee, and talked for an hour.

Bin gar keine Russin, stamm'aus Litauen, echt deutsch.

And when we were children, staying at the archduke's,

My cousin's, he took me out on a sled,

And I was frightened. He said, Marie,

Marie, hold on tight. And down we went.

In the mountains, there you feel free.

I read, much of the night, and go south in the winter.

 

             What are the roots that clutch, what branches grow
Out of this stony rubbish? Son of man,
You cannot say, or guess, for you know only
A heap of broken images, where the sun beats,
And the dead tree gives no shelter, the cricket no relief,
And the dry stone no sound of water. Only
There is shadow under this red rock,
(Come in under the shadow of this red rock),

 

And I will show you something different from either
Your shadow at morning striding behind you
Or your shadow at evening rising to meet you;
I will show you fear in a handful of dust.

Frisch weht der Wind

Der Heimat zu

Mein Irisch Kind,

Wo weilest du?

"You gave me hyacinths first a year ago;
"They called me the hyacinth girl."

—Yet when we came back, late, from the Hyacinth garden,

Your arms full, and your hair wet, I could not

Speak, and my eyes failed, I was neither

Living nor dead, and I knew nothing,

Looking into the heart of light, the silence.

Oed' und leer das Meer.

 

    Madame Sosostris, famous clairvoyante,
Had a bad cold, nevertheless
Is known to be the wisest woman in Europe,
With a wicked pack of cards. Here, said she,
Is your card, the drowned Phoenician Sailor,
(Those are pearls that were his eyes. Look!)
Here is Belladonna, the Lady of the Rocks,
The lady of situations.

Here is the man with three staves, and here the Wheel,

And here is the one-eyed merchant, and this card,

Which is blank, is something he carries on his back,

Which I am forbidden to see. I do not find

The Hanged Man. Fear death by water.

I see crowds of people, walking round in a ring.

Thank you. If you see dear Mrs. Equitone,

Tell her I bring the horoscope myself:

One must be so careful these days.

 

    Unreal City, Under the brown fog of a winter dawn,
A crowd flowed over London Bridge, so many,
I had not thought death had undone so many.
Sighs, short and infrequent, were exhaled,
And each man fixed his eyes before his feet.
Flowed up the hill and down King William Street,
To where Saint Mary Woolnoth kept the hours
With a dead sound on the final stroke of nine.
There I saw one I knew, and stopped him, crying: "Stetson!
"You who were with me in the ships at Mylae!
"That corpse you planted last year in your garden,
"Has it begun to sprout? Will it bloom this year?
"Or has the sudden frost disturbed its bed?
"Oh keep the Dog far hence, thafs friend to men,
"Or with his nails he ll dig it up again!
"You! hypocrite lecteur! — mon semblable, — mon frère!"

 

 

 

 

    A terra desolada

 

I. O enterro dos mortos

 

Abril é o mais cruel dos meses, germina

Lilases da terra morta, mistura

Memória e desejo, aviva

Agônicas raízes com a chuva da primavera.

O inverno nos agasalhava, envolvendo

A terra em neve deslembrada, nutrindo

Com secos tubérculos o que ainda restava de vida.

O verão nos surpreendeu, caindo do Starnbergersee

Com um aguaceiro. Paramos junto aos pórticos

E ao sol caminhamos pelas aléias do Hofgarten,

Tomamos café, e por uma hora conversamos.

Bin gar keine Russin, stamm' aus Litauen, echt deutsch.

Quando éramos crianças, na casa do arquiduque,

Meu primo, ele convidou-me a passear de trenó.

E eu tive medo. Disse-me ele, Maria,

Maria, agarra-te firme. E encosta abaixo deslizamos.

Nas montanhas, lá, onde livre te sentes.

Leio muito à noite, e viajo para o sul durante o inverno.

 

Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham Nessa imundície pedregosa? Filho do homem,
Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces
Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,

E as árvores mortas já não mais te abrigam, nem te consola o
     canto dos grilos,

 

E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas
Uma sombra medra sob esta rocha escarlate.
(Chega-te à sombra desta rocha escarlate),

 

E vou mostrar-te algo distinto

De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece
Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando;
Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.

Frisch weht der Wind

Der Heimat zu

Mein Irisch Kind,

Wo weilest du?

 

    "Um ano faz agora que os primeiros jacintos me deste; Chamavam-me a menina dos jacintos."
— Mas ao voltarmos, tarde, do Jardim dos Jacintos,
Teus braços cheios de jacintos e teus cabelos úmidos, não pude Falar, e meus olhos se enevoaram, eu não sabia
Se vivo ou morto estava, e tudo ignorava
Perplexo ante o coração da luz, o silêncio.
Oed'und leer das Meer.

 

    Madame Sosostris, célebre vidente,
Contraiu incurável resfriado; ainda assim,
É conhecida como a mulher mais sábia da Europa,
Com seu trêfego baralho. Esta aqui, disse ela,
É tua carta, a do Marinheiro Fenício Afogado.
(Estas são as pérolas que foram seus olhos. Olha!)
Eis aqui Beladona, a Madona dos Rochedos,
A Senhora das Situações.

Aqui está o homem dos três bastões, e aqui a Roda da Fortuna,

E aqui se vê o mercador zarolho, e esta carta,

Que em branco vês, é algo que ele às costas leva,

Mas que a mim proibiram-me de ver. Não acho

O Enforcado. Receia morte por água.

Vejo multidões que em círculos perambulam.

Obrigada. Se encontrares, querido, a Senhora Equitone,

Diz-lhe que eu mesma lhe entrego o horóscopo:

Todo o cuidado é pouco nestes dias.

 

     Cidade irreal,
Sob a fulva neblina de uma aurora de inverno,
Fluía a multidão pela Ponte de Londres, eram tantos,
Jamais pensei que a morte a tantos destruíra.
Breves e entrecortados, os suspiros exalavam,
E cada homem fincava o olhar adiante de seus pés.
Galgava a colina e percorria a King William Street,
Até onde Saint Mary Woolnoth marcava as horas
Com um dobre surdo ao fim da nona badalada.
Vi alguém que conhecia, e o fiz parar, aos gritos:
"Stetson, Tu que estiveste comigo nas galeras de Mylae!
O cadáver que plantaste ano passado em teu jardim
Já começou a brotar? Dará flores este ano?
Ou foi a imprevista geada que o perturbou em seu leito?
Conserva o Cão a distância, esse amigo do homem,
Ou ele virá com suas unhas outra vez desenterrá-lo!
Tu! Hypocrite lecteur!— mon semblable— , mon frère!"

 

                       Tradução de Ivan Junqueira

 

 

 

    Little Gidding

 

    II

 

    Ash on an old man's sleeve
    Is all the ash the burnt roses leave.
    Dust in the air suspended
    Marks the place where a story ended.
    Dust inbreathed was a house—
    The wall, the wainscot and the mouse.
    The death of hope and despair,
        This is the death of air.

 

    There are flood and drouth
Over the eyes and in the mouth,
Dead water and dead sand
Contending for the upper hand.
The parched eviscerate soil
Gapes at the vanity of toil,
Laughs without mirth.

             This is the death of earth.

 

     Water and fire succeed
The town, the pasture and the weed.
Water and fire deride
The sacrifice that we denied.
Water and fire shall rot
The marred foundations we forgot,
Of sanctuary and choir.

             This is the death of water and fire. 

    In the uncertain hour before the morning
        Near the ending of interminable night
        At the recurrent end of the unending

             After the dark dove with the flickering tongue
        Had passed below the horizon of his homing
        While the dead leaves still rattled on like tin

    Over the asphalt where no other sound was
        Between three districts whence the smoke arose
        I met one walking, loitering and hurried

             As if blown towards me like the metal leaves
        Before the urban dawn wind unresisting.
        And as I fixed upon the down-turned face

             That pointed scrutiny with which we challenge
        The first-met stranger in the waning dusk
        I caught the sudden look of some dead master

    Whom I had known, forgotten, half recalled        Both one and many; in the brown baked features
        The eyes of a familiar compound ghost

    Both intimate and unidentifiable.       
So I assumed a double part, and cried

        And heard another's voice cry: 'What! are you here?'

             Although we were not. I was still the same,
        Knowing myself yet being someone other—
        And he a face still forming; yet the words sufficed

             To compel the recognition they preceded.
        And so, compliant to the common wind,

                 Too strange to each other for misunderstanding,

    In concord at this intersection time

Of meeting nowhere, no before and after,
    We trod the pavement in a dead patrol.

I said: 'The wonder that I feel is easy,

    Yet ease is cause of wonder. Therefore speak:
    I may not comprehend, may not remember.'

And he: 'I am not eager to rehearse

    My thought and theory which you have forgotten.
    These things have served their purpose: let them be.

So with your own, and pray they be forgiven
    By others, as I pray you to forgive
    Both bad and good. Last season's fruit is eaten

And the fullfed beast shall kick the empty pail.   
For last year's words belong to last year's language

    And next year's words await another voice.
But, as the passage now presents no hindrance

    To the spirit unappeased and peregrine
    Between two worlds become much like each other,

So I find words I never thought to speak In streets
    I never thought I should revisit
     When I left my body on a distant shore.

Since our concern was speech, and speech impelled us
    To purify the dialect of the tribe
    And urge the mind to aftersight and foresight,

Let me disclose the gifts reserved for age
To set a crown upon your lifetime's effort.
     First, the cold friction of expiring sense
    Without enchantment, offering no promise 

 

 

   Little Gidding 

II

 

  Acinza sobre um velho é toda a cinza
    Que nos deixaram as rosas incendidas.
    A poeira no ar suspensa determina
    O sítio onde uma história teve fim.
    A poeira aspirada era uma casa,
    — A parede, o lambril e o rato escasso.
    A morte do esperar e do desesperar
              Esta é a morte do ar.

 

    Inundação e seca desabrocham
Dentro da boca, sobre os olhos.
Água morta e morta areia tentam
Levar vantagem na contenda.
O resseguido solo desventrado
Boquiabre-se ante o vão trabalho
E ri sem alegria dessa guerra.
    Esta é a morte da terra.

 

    A água e o fogo sucederam
À vila, ao pasto, à urze anónima.

A água e o fogo escarneceram
Do sacrifício que repudiamos.
A água e o fogo escarvarão
Os podres fundamentos que olvidamos
 Do santuário e de seu coro.
Esta é a morte da água e do fogo.

 

A uma hora incerta que antecede a aurora
    Vizinha ao término da noite interminável
    No recorrente fim do que jamais se finda

Após o negro pombo de flamante língua
    Perder-se no horizonte de sua fuga
    Enquanto as folhas mortas se moviam

    Vibrando ainda como lâminas de zinco
        Sobre o asfalto onde outro som nenhum se ouvia
              Entre três bairros de onde a fumaça emergia,

Alguém notei que andava, trôpego e apressado,
    Como se vindo a mim tal as folhas metálicas
    Que a brisa urbana da alvorada embala.

E ao mergulhar naquele rosto cabisbaixo
    Esse pontiagudo olhar inquisidor
    Com que desafiamos o primeiro estranho

Surgido na penumbra agonizante
    Captei o olhar fugaz de algum extinto mestre
    A quem outrora houvesse conhecido,

Esquecido, lembrado após sem nitidez,
    Como a um só e a muitos de uma vez;
    Sob o castanho sazonado das feições

Os olhos de um complexo e familiar espectro
    A um tempo só distinto e incognoscível.
    Gritei,cumprindo assim duplo papel,

    E uma outra voz ouvi bradar: "O quê!

  Tu por aqui?" Conquanto ali não estivéssemos.
     Contudo eu era o mesmo, embora um outro fosse

          —E ele um rosto ainda em formação;

   Mas bastaram as palavras para que aceitássemos
     O que já precedido elas haviam.

E assim, obedientes ao vento comum,
     Demais estranhos para não nos entendermos,
     Concordes nesse instante de erma interseção,
De em parte alguma estarmos, antes e depois,
    Em ronda morta o calçamento percorremos.
    Disse-lhe então: "É natural o espanto
Que sinto, embora a naturalidade
    Seja causa de espanto. Fala, pois: talvez

    Eu não possa entender, ou recordar sequer.
" E ele: "Não quero repetir o que esqueceste
    Sobre meus pensamentos e doutrinas.

    Tais coisas já cumpriram seu destino: deixa-as.
Faze o mesmo com as tuas, e roga aos outros

    Que as perdoem, como te rogo que perdoes

    A maus e bons. Comido foi o fruto
Da última estação, e a besta empanzinada

    Há de atirar seus coices contra o cocho.

    Pois as palavras do ano findo só pertencem
À linguagem do ano findo, e as palavras

    Do ano próximo outra voz aguardam.

    Mas, assim como agora a estrada se abre limpa
Ao intranqúilo e peregrino espírito

    Entre dois mundos que chegaram a parecer

    Demasiado iguais, assim descubro agora
Palavras que jamais pensei dizer

    Em mas que jamais pensei revisse

    Quando meu corpo abandonei sobre uma praia.
Posto que nosso fim era a linguagem,

    E a linguagem desde sempre nos levara

    A purificar o dialeto da tribo
E a instigar a mente para a antevisão

E a pós-visão, deixa-me revelar as dádivas

    À velhice reservadas, para que seja
    Coroado o esforço de tua vida inteira.

Primeiro, o enregelado atrito dos sentidos

Que expiram sem magia e nada prometer,
Senão a amarga insipidez de um fruto umbroso
    Quando alma e corpo, espedaçados, principiam
    A tombar cada qual para o seu lado.
Segundo, a lúcida impotência do ódio

    Ante a loucura humana, e a laceração do riso
    Perante aquilo que cessou de divertir-nos.

Enfim, a lacerante dor de reviver
    O que já concluíste, e o que foste; a vergonha
     De motivos tardes apenas revelados

E a consciência de todas as coisas malfeitas
    Ou feitas simplesmente em prejuízo alheio
    Que antes tomaste por virtuosas práticas.

Nesse momento é que se arranca o aplauso
    Dos tolos, e a honra se macula.
Erro após erro, o exasperado espírito

    Prosseguirá, se revigorado não for
    Por este fogo purificador
    Onde mover-te deves como um bailarino."

Raiava o dia. Na desfigurada rua
    Ele deixou-me, com uma esquiva despedida,
    E evaporou-se ao brônzeo som das trompas.

 

Tradução de Ivan Junqueira

 

 

 

 

ELIOT, T. S.  A Terra Árida. The Wast Land.  Tradução Gilmar Leal Santos.  Ilustrações Paolo Ridolfi.  São Paulo: HMC, 2017. 256 p. ilus. col. capa dura.   20x27,5 cm.  Edição bilíngue Inglês – Português. ISBN 978-85-93879-01-2   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

O título do livro The West Land tem diversas traduções em Português. Gilmar Leal elegeu "A Terra Árida" e faz a sua "Justificativa para a escolha do título" (p. 81-87). Outros títulos anteriormente escolhidos por tradutores foi "A Terra Inútil" (por Paulo Mendes Campos e Thiago de Mello), "A Terra Desolada" (Idelma Ribeiro de Faria), "A Terra Gasta", "A Terra Devastada" (Gualter Cunha).

 

COMO ADQUIRIR ESTA BELA EDIÇÃO
O EDITOR / TRADUTOR está negociando a distribuição desta edição, cujos direitos de publicação foram licenciados junto aos herdeiros de Eliot e sua editora inglesa, a Fáber & Fáber. Neste momento, os livros estão à disposição através do telefone dele: (44) 99931-0435, ou pelo e-mail pessoal:
fiilmar.leal.santos@Rmail.com.

 

 

 

IV. DEATH BY WATER

 

         312   Phlebas the Phoenician, a fortnight dead,

Forgot the cry of gulls, and the deep sea swell

315   And the profit and loss.

A current under sea

Picked his bones in whispers. As he rose and fell

He passed the stages of his age and youth

         Entering the whirlpool.
                   Gentile or Jew     
320    O you who turn the wheel and look to windward,

Consider Phlebas, who was once handsome and tall as you.

 

 

 

V. WHAT THE THUNDER SAID

 

In the first part of Part V three themes are employed: the journey to Emmaus, the approach to the Chapel Perilous (see Miss Weston's book), and the present decay of eastern Europe.

 

357 This is Turdus aonalaschkaepallasii, the hermit-thrush which I have heard in Quebec County. Chapman says (Handbook of Birds in East¬ern North America)

it is most at home in secluded woodland and thickety retreats.... Its notes are not remarkable for variety or volume, but in purity and sweetness of tone and exquisite modulation they are unequaled.

Its 'water-dripping song' is justly celebrated.

 

 

 

 

          IV. MORTE PELA ÁGUA

 

 

          312   Flebas, o Fenício, morto há uma quinzena,

Esqueceu-se do lamento das gaivotas, e das vagas do mar
                                                                          aberto

E dos prejuízos e lucros.

          315           Uma corrente submarina

Recolheu seus ossos em sussurros. Enquanto ele subia e
                                                                        descia

Ele relembrou as fases de sua idade e juventude

         Ao entrar no redemoinho.
                Gentio ou Jude
320     Ó você que gira o leme e mira o barlavento,

Lembre-se de Flebas, que um dia foi tão bonito e alto quanto                                                                              você.

 

 

 

V. WHAT THE THUNDER SAID

 

After the torch-light red on sweaty faces

After the frosty silence in the gardens

After the agony in stony places

325    The shouting and the crying

Prison and palace and reverberation

Of thunder of spring over distant mountains

He who was living is now dead

We who were living are now dying
330    With a little patience

 

Here is no water but only rock
          Rock and no water and the sandy road
          The road winding above among the mountains
          Which are mountains of rock without water
335    If there were water we should stop and drink
          Amongst the rock one cannot stop or think
          Sweat is dry and feet are in the sand
          If there were only water amongst the rock
          Dead mountain mouth of carious teeth that cannot spit
340     Here one can neither stand nor lie nor sit
          There is not even silence in the mountains
          But dry sterile thunder without rain
          There is not even solitude in the mountains
          But red sullen faces sneer and snarl
          From doors of mud-cracked houses
345    If there were water

 

And no rock

If there were rock

And also water

And water
350    A spring

A pool among the rock

If there were the sound of water only

Not the cicada

And dry grass singing

 

 

 

 355            But sound of water over a rock

Where the hermit-thrush sings in the pine trees
          Drip drop drip drop drop drop drop
          But there is no water

 

Who is the third who walks always beside you?

         360    When I count, there are only you and I together

But when I look ahead up the white road

There is always another one walking beside you

Gliding wrapt in a brown mantle, hooded

I do not know whether a man or a woman
365     —But who is that on the other side of you?

 

What is that sound high in the air
          Murmur of maternal lamentation
          Who are those hooded hordes swarming
          Over endless plains, stumbling in cracked earth
370    Ringed by the flat horizon only

What is the city over the mountains

Cracks and reforms and bursts in the violet air

Falling towers

Jerusalem Athens Alexandria
375    Vienna London Unreal

 

A woman drew her long black hair out tight
          And fiddled whisper music on those strings
          And bats with baby faces in the violet light
380    Whistled, and beat their wings

And crawled head downward down a blackened wall

And upside down in air were towers

Tolling reminiscent bells, that kept the hours

And voices singing out of empty cisterns and exhausted wells.

 

         385   In this decayed hole among the mountains
                   In the faint moonlight, the grass is singing
                   Over the tumbled graves, about the chapel

 

         There is the empty chapel, only the wind's home.
         It has no windows, and the door swings,
390    Dry bones can harm no one.

         Only a cock stood on the roof-tree
         Co co rico co co rico

         In a flash of lightning. Then a damp gust
         Bringing rain

 

395    Ganga was sunken, and the limp leaves
         Waited for rain, while the black clouds
         Gathered far distant, over Himavant.
         The jungle crouched, humped in silence.
         Then spoke the thunder

400    DA

         Datta: what have we given?

         My friend, blood shaking my heart

         The awful daring of a moment's surrender

         Which an age of prudence can never retract

405    By this, and this only, we have existed

         Which is not to be found in our obituaries
         Or in memories draped by the beneficent spider
         Or under seals broken by the lean solicitor

 

In our empty rooms

410    DA

         Dayadhvam: I have heard the key
         Turn in the door once and turn once only     
         We think of the key, each in his prison
         Thinking of the key, each confirms a prison

415    Only at nightfall, aetherial rumours

         Revive for a moment a broken Coriolanus

         DA

         Damyata: The boat responded  
         Gaily, to the hand expert with sail and oar
420    The sea was calm, your heart would have responded
         Gaily, when invited, beating obedient
         To controlling hands

 

                   I sat upon the shore
         Fishing, with the arid plain behind me
425    Shall I at least set my lands in order?
         London Bridge is falling down falling down falling down
         Poi s'ascose nelfoco chegli affina
         Quandofiam ceu chelidon—O swallow swallow
         Le Prince d'Aquitaine à la tour abolie
 430   These fragments I have shored against my ruins
         Why then He fit you. Hieronymo's mad againe.
         Datta. Dayadhvam. Damyata.

                   Shantih      shantih      shantih

 

 

 

V. WHAT THE THUNDER SAID

 

In the first part of Part V three themes are employed: the journey to Emmaus, the approach to the Chapel Perilous (see Miss Weston's book), and the present decay of eastern Europe.

 

357 This is Turdus aonalaschkaepallasii, the hermit-thrush which I have heard in Quebec County. Chapman says (Handbook of Birds in East¬ern North America)

it is most at home in secluded woodland and thickety retreats.... Its notes are not remarkable for variety or volume, but in purity and sweetness of tone and exquisite modulation they are unequaled.

Its 'water-dripping song' is justly celebrated.

360 The following lines were stimulated by the account of one of the Antarctic expeditions (I forget which, but I think one of Shackleton's): it was related that the party of explorers, at the extremity of their strength, had the constant delusion that there was one more member than could actually be counted.

 

367-77 Cf. Hermann Hesse, Blick ins Chaos:

 

Schon ist halb Europa, schon ist zumindest der halbe Osten Europas auf dem Wege zum Chaos, fahrt betrunken im heiligem Wahn am Abgrund ent-lang und singt dazu, singt betrunken und hymnisch wie Dmitri Karamasoff sang. Ueber diese Lieder lacht der Burger beleidigt, der Heilige und Seher hbrt sie mit Tranen.

 

401 'Datta, dayadhvam, damyata' (Give, sympathise, control). The fable of the meaning of the Thunder is found in the Brihadaranyaka— Upanishad, 5, 1. A translation is found in Deussen's Sechzig Upani-shads des Veda, p. 489.

 

407 Cf. Webster, The White Devil, V, vi:

 

...they'll remarry

Ere the worm pierce your winding-sheet, ere the spider Make a thin curtain for your epitaphs.

 

411 Cf. Inferno, XXXIII, 46:

 

Also F. H. Bradley, Appearance and Reality, p. 306.

 

My external sensations are no less private to myself than are my thoughts or my feelings. In either case my experience falls within my own circle, a circle closed on the outside; and, with all its elements alike, every sphere is opaque to the others which surround it.... In brief, regarded as an existence which appears in a soul, the whole world for each is peculiar and private to that soul.

 

424 V. Weston, From Ritual to Romance; chapter on the Fisher King.

 

427 V. Purgatorio, XXVI, 148.

 

'Ara vos prec, per aquella valor
que vos guida al som de l'escalina,
sovegna vos a temps de ma dolor.'
Poi s'ascose nel foco che gli affina.

 

         428  V. Pervigilium Veneris.  Cf. Philomela in Parts II and III.

 

         431  V. Kyd´s  Spanish Tragedy.

 

433 Shantih. Repeated as here, a formal ending to an Upanishad. 'The Peace which passeth understanding' is a feeble translation of the content of this word.

 

 

 

 

V. O QUE O TROVÃO DISSE

 

         Após o rubor das tochas nos rostos suados
         Após o silêncio gélido nos jardins
         Após a agonia nos rochedos
325    Os gritos e os choros

         Prisão e palácio e reverberação

         Do trovão de primavera sobre as distantes montanhas
         Aquele que estava vivo agora está morto
         Nós que estávamos vivendo agora estamos morrendo
 330   Com um pouco de paciência

 

         Aqui não há água, mas apenas rocha
         Rocha e sem água e a estrada arenosa

         A estrada serpenteia por sobre as montanhas
         As quais são montanhas de rocha sem água
335    Se houvesse água deveríamos parar e beber

         Entre as rochas ninguém pode parar ou pensar

         O suor é seco e os pés pisam na areia

         Se ao menos houvesse água entre as rochas

         A boca da montanha morta tem dentes cariados e não pode
                                                                                         cuspir

340    Aqui ninguém consegue nem ficar em pé nem deitar
                                                                                nem sentar

         Não há nem mesmo silêncio nas montanhas

         Só trovão seco e estéril sem chuva

         Não há nem mesmo solidão nas montanhas

         Só faces sombrias e rubras que debocham e rosnam

         Desde as portas das casas de barro ressecado

345   Se houvesse água

         E não rochas

         Se houvesse rochas

         E também água

         E água

350   Uma fonte

         Uma poça entre as rochas

         Se ao menos houvesse o som de água

         Não o da cigarra

         Nem o do canto da grama seca

355             Mas o som de água batendo na rocha

                   Onde o sabiá canta nos pinheiros
                   Plic ping plic ping ping ping ping
                   Mas aqui não tem água

 

         Quem é aquele terceiro que caminha ao seu lado?

360    Quando conto, somos apenas você e eu

         Mas quando eu olho a estrada branca à frente
         Sempre tem outra pessoa caminhando ao seu lado
         Agasalhado por um manto castanho, encapuzado
         Não sei se é homem ou mulher

365    — Mas quem é aquele do seu outro lado?

 

         O que é aquele som lá no alto no ar

         Murmúrios de lamentos maternais

         Quem são aqueles na horda de encapuzados invadindo

         Planícies sem fim, tropeçando em terras ressecadas
370    Cercados somente pelo horizonte plano

         Qual é a cidade nas montanhas

         Que quebra e se reconstrói e lança no ar violeta

         Torres desmoronando

         Jerusalém Atenas Alexandria
375    Viena Londres

         Irreal

 

Uma mulher esticou bem forte seus cabelos negros compridos  E dessas cordas tirou uma música sussurrada
E morcegos com faces de bebe à luz violeta

         380    Assobiaram, e bateram suas asas

         E rastejaram de cabeça para baixo por uma parede escurecida

         E no ar e de cabeça para baixo estavam torres

         Tocando os sinos que ainda restavam, que davam as horas

         E vozes cantando saíam de cisternas vazias e de poços
                                                                                     exauridos.

 

385    Neste buraco decadente entre as montanhas
         Sob um tênue luar, a grama está cantando
         Sobre as covas ruídas, nos arredores da capela

         Há uma capela vazia, onde só o vento mora.
         Não tem janelas, e a porta balança,
390    Ossos secos não machucam ninguém.

         Somente um galo pousado na cumeeira
         Co co ricó co co ricó

         Num clarão de relâmpago, uma lufada úmida
         Traz a chuva

 

395    O Ganga estava baixo, e as folhas murchas

         Esperavam pela chuva, enquanto as nuvens negras
         Juntavam-se ao longe, por sobre Himavant.
         A mata vergou-se, arqueada em silêncio.
         Então o trovão falou

400    DA

         Datta: o que é que nós demos?

         Meu amigo, o sangue que agita meu coração

         A terrível ousadia no momento da entrega

         O qual uma vida de prudência não pode redimir

405    Por isso, e somente por isso, nós existimos

         E isso não pode ser encontrado nos obituários
         Ou nas memórias tecidas pela aranha benevolente
         Ou debaixo dos selos quebrados por um tabelião magro
         Em nossos quartos vazios

410    DA

Dayadhvam: eu ouvi a chave Dar a volta na porta uma vez apenas  uma vez Nós pensamos na chave, cada um em sua
                                                                            prisão Pensar na chave, confirma-se a prisão

415    Apenas na caída da noite, rumores etéreos

         Revivem por um momento um Coriolano destroçado

         DA

         Damyata: o barco respondeu
         Alegremente, nas mãos destras em vela e remo
420    O mar estava calmo, seu coração teria respondido   
         Alegremente, se convidado, batendo obediente
         Para mãos que têm controle
                   Eu sentei à margem

         Para pescar, tendo atrás de mim um campo árido
 425    Será que ao menos devo deixar as minhas terras em ordem?

         London Bridge is falling down falling down falling down

         Poi sdscose nelfoco chegli affina

         Quando fiam ceu chelidon — Ó andorinha andorinha

         Le Prince d'Aquitaine à la tom abolie
430    Com estes fragmentos eu escorei minhas ruínas

         Então eu lhe satisfarei. Jerônimo está louco novamente.

         Datta. Dayadhvam. Damyata.

                   Shantih      shantih    shantih

 

 

 

V. O QUE O TROVÃO DISSE

 

Na primeira parte da Parte V, três temas foram empregados: a jornada para Emaús, a chegada até a Capela Perilous (veja o livro da Srta. Weston) e o presente declínio da Europa ocidental.

357    Este é o Turdus aonalaschkae pallasii, a espécie de sabiá que eu ouvi na Província de Quebec. Chapman diz (Handbook of Birds of Eastern North America) que vive em regiões solitárias repletas de árvores e em refúgios de vegetação espessa.... Suas notas não são famosas pela variedade ou volume, mas pela pureza e suavidade do tom e uma deliciosa modulação que é inigualável.

Sua "canção da água pingando" é igualmente celebrada.

 

360 Os versos seguintes foram estimulados por conta de uma das ex pedições à Antártica (eu esqueci qual delas, mas acho que foi uma do Shackleton): foi relatad

o que uma parcela dos exploradores, no extremo de suas forças, tinha uma constante ilusão de que existia um membro a mais do que era contado.

 

367-77   . Hermann Hesse, Blick ins Chaos:

Schon ist halb Europa, schon ist zumindest der halbe Osten Europas auf dem Wege zum Chãos, fáhrt betrunken im heiligem Wahn am Abgrund ent-lang und singt dazu, singt betrunken und hymnisch wie Dmitri Karamasoff sang. Ueber diese Lieder lacht der Biirger beleidigt, der Heilige und Seher hõrt sie mit Tranen.

 

401  "Datta, dayadhvam, damyata" (Dar, solidarizar, controlar). A fábula do significado do Trovão encontra-se em Brihadaranyaka — Upanishad, 5, 1. A tradução para o alemão está em Sechzig Upanishads des Veda, de Deussen, p. 489.

 

407 Cf. Webster, The White Devil, V, vi:

 

.. elas irão se casar de novo

Antes que os vermes entrem em suas mortalhas, antes que a aranha Teça uma cortina fina para seus epitáfios.

 

411 Cf. Inferno, XXXIII, 46:

 

         ed io sentii chiavar l'uscio di sotto
         all´oribile torre.

 

E também F. H. Bradley, Appearance and Reality, p. 306:

 Minhas sensações externas não me são menos privadas do que são meus pensamentos ou sentimentos. Em qualquer dos casos minha experiência repousa dentro de meu próprio círculo, um círculo fechado por tora; e, com dos os seus elementos parecidos entre si, toda esfera e opaca para as outras que estão em volta.... Em resumo, considerada uma existência que se manifesta em uma alma, o mundo inteiro, para cada um, é peculiar e pri¬vativo para aquela alma.

 

424 V. Weston, From Ritual to Romance; capítulo sobre o Rei Pescador.

 

'Ara vos prec per aquella valor

que vos guida al som de l'escalina,
sovegna vos a temps de ma dolor."
Poi sascose nel foco che gli affina.

 

428 V. Pervigilium Veneris. Cf. Filomela nas Partes II e III.

 

429 V. Gerard de Nerval, soneto El Desdichado.

 

431 V. Spanish Tragedy, de Kyd.

 

433 Shantih. Repetido aqui, o final formal de um Upanishad. "A Paz que vai além da compreensão" é uma tosca tradução do conteúdo desta palavra.

 

 

 

 

 

TEXTS IN ENGLISH – TEXTOS EM PORTUGUÊS

 

ELIOT, T. SPoemas.  Organização, tradução e posfácio Caetano W. Galindo.  São Paulo: Companhia das Letras, 2018.  438 p.  14 x 21 cm  Capa dura revestida de tecido.   Título original: Collected Poems  1909-1962.  ISBN  978-85-359-3178-5   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Devemos celebrar esta edição da obra de Eliot: autor de mérito indiscutível, tradução de qualidade, e a impressão extraordinária da Companhia das Letras, disponível nas livrarias físicas e virtuais do Brasil!!

 

The Hollow Men

 

A penny for the Old Guy

 

 

I

 

We are the hollow men

We are the stuffed men

Leaning together

HeadpieceJilled with straw. Alas!

Our dried voices, when

We whisper together

Are quiet and meaningless

As wind in dry grass

Or rats'feet over broken glass

In our dry cellar

 

Shape without form, shade without colour,

Paralysed force, gesture without motion;

 

Those who have crossed

With direct eyes, to death's other Kingdom

Remember us — if at all — not as lost

Violent souls, but only

As the hollow men

The stuffed men.

 

 

II

 

Eyes I dare not meet in dreams

In death's dream kingdom

These do not appear:

There, the eyes are

Sunlight on a broken column

There, is a tree swinging

And voices are

In the wind's singing

More distant and more solemn

Than a Jading star.

 

Let me be no nearer

In death´s dream kingdom

Let me also wear

Such deliberate disguises

Rat's coat, crowskin, crossed staves

In a field

Behaving as the wind behaves

No nearer —

 

Not that final meeting

In the twilight kingdom

With eyes I dare not meet in dreams.

 

 

III

 

This is the dead land

This is cactus land

 

Here the stone images

Are raised, here they receive

The supplication of a dead man's hand

Under the twinkle of a Jading star.

 

Is it like this

In death's other kingdom

Waking alone

At the hour when we are

Trembling with tenderness

Lips that would kiss

Form prayers to broken stone.

 

 

IV

 

The eyes are not here

There are no eyes here

In this valley of dying stars

In this hollow valley

This broken jaw of our lost kingdoms

 

In this last of meeting places

We grope together

And avoid speech

Gathered on this beach of the tumid river

 

Sightless, unless

The eyes reappear

As the perpetual star

Multifoliate rose

 

Of death's twilight kingdom

The hope only

Of empty men.

 

 

V

 

Here we go round the prickly pear

Prickly pear prickly pear

Here we go round the prickly pear

At five o'clock in the morning.

 

Between the idea

And the reality

Between the motion

And the act

Falls the Shadow

 

For Thine is the Kingdom

 

Between the conception

And the creation

Between the emotion

And the response

Falls the Shadow

 

                            Life is very long

 

Between the desire

And the spasm

Between the potency

And the existence

Between the essence

 

And the descent

Falls the Shadow

 

                            For Thine is the Kingdom

 

For Thine is

Life is

For Thine is the

 

This is the way the world ends

This is the way the world ends

This is the way the world ends

Not with a bang but with a whimper.

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS

Tradução: Caetano W. Galindo

 

 

Os homens ocos

 

Uma moeda para o Velho

 

I

 

Somos os homens ocos

Somos homens empalhados

Apoiados todos juntos

Com chapéus cheios de palha. Ah!

Nossas vozes secas, dado

Sussurrarmos juntos

São mudas, sem sentido,

Como vento em capim ressequido

Ou patas de ratos nos cacos de vidro

De nossa cave seca

 

Forma sem corpo, sombra sem cor

Paralítica força, gesto sem impulso;

 

Os que tenham ido

Olhando firme, ao reino outro da morte

Recordam-nos — se tanto — não como perdidos

De almas violentas, mas apenas

Como os homens ocos

Os empalhados.

 

II

 

Olhos que não ouso olhar em sonhos

No reino de sonhos da morte

Não são:

Lá, os olhos são

Luz do sol em coluna partida

Lá, há uma árvore oscilando

E vozes estão

Com o vento cantando

Mais distantes, mais solenes

Que um astro em desaparição.

 

Que eu não fique mais perto

No reino de sonhos da morte

Que também eu porte

Disfarces tão deliberados

Casaco de rato, pele de corvo, cajados cruzados

Num campo

Agindo como o vento se comporta

Não mais perto —

 

Não aquela última visão

No reino crepuscular

Dos olhos que não ouso olhar em sonhos.

 

 

III

 

Esta é a terra morta

Esta é a terra dos cactos

 

Aqui as imagens de pedra

São criadas, aqui recebem

A súplica da mão de um homem morto

Sob o brilho de um astro em desaparição.

 

É assim

No reino outro da morte

Acordar sem companhia

Na hora em que estamos

Tremendo de ternura

Lábios que beijariam

Formam preces para pedra partida.

 

 

IV

 

Os olhos não estão aqui

Não há olhos aqui

Neste vale de estrelas moribundas

Neste vale oco

Mandíbula partida de nossos reinos perdidos

 

Neste último dos pontos de encontro

Tateamos unidos

E calamos a fala

Reunidos na praia do túmido rio

 

Sem ver, a não ser

Que os olhos ressurjam

Como estrela perpétua

Multifoliada rosa

 

Do reino crepuscular da morte

Esperança apenas

De homens vazios.

 

 

V

 

Rodando em volta da pereira

Da pereira da pereira

Rodando em volta da pereira

Ás cinco da manhã.

 

Entre ideia

E realidade

Entre impulso

E ato

Cai a Sombra

Pois Vosso é o Reino

 

Entre concepção

E criação

Entre emoção

E reação

Cai a Sombra

 

                            A vida é muito longa

 

Entre desejo

E espasmo

Entre potência

E existência

Entre essência

 

E declínio

Cai a Sombra

 

                            Pois Vosso é o Reino

 

Pois Vosso é

A vida é

Pois Vossa é a

 

É assim que o mundo acaba

É assim que o mundo acaba

É assim que o mundo acaba

Sem estrondo, num gemido.

 

 

 

TEXT IN ENGLISH  -  TEXT IN ENGLISH  -  TEXTO EM PORTUGUÊS

 


 

REVISTA DE POESIA E CRÍTICA    No.  17 – Brasília – São Paulo – Rio  -
Setembro  1993    Conselho Diretor: Afranio Zuccolotto, Cyro Pimentel, Waldemar Lopes.    112  p.
                                                       Ex. doação do livreiro Brito – DF
 

 

 

Similiter et omnes revereantur Diaconos,

 ut mandatum Jesu Christi; et Episcopum,

ut Jesum Christum, existentem filium Patris;

Presbyteros autem, ut concilium Dei

et conjunctionem Apostolorum.

Sine his Ecclesia non vocatur;

de quibus suadeo

vos sic habeo.

            S. IGNATH AD TRALLIANOS

        And when this epistle is read among you,
         that it be read also in the church of the Loaodiceans.

2

The broad-backed hippopotamus

Rests on his belly in the mud;

Although he seems so firm to us

He is merely flesh and blood.

 

Flesh-and-blood is weak and frail,

Susceptible to nervous shock;

While the True Church can never fail

For it is based upon a rock.

 

3

The hippo's feeble steps may err

In compassing material ends, 10

While the True Church need never stir

To gather in its dividends.

 

The 'potamus can never reach

The mango on the mango-tree;

But fruits of pomegranate and peach

Refresh the Church from over sea.

 

At mating time the hippo's voice

Betrays inflexions hoarse and odd,

But every week we hear rejoice

The Church, at being one with God.

 

The hippopotamus's day

Is passed in sleep; at night he hunts;

God works in a mysterious way

The Church can sleep and feed at once.

 

I saw the 'potamus take wing

Ascending from the damp savannas,

And quiring angels round him sing

The praise of God, in loud hosannas.

Blood of the Lamb shall wash him clean

And him shall heavenly arms enfold,

Among the saints he shall be seen

Performing on a harp of gold.

 

He shall be washed as white as snow,

By all the martyr'd virgins kist,

While the True Church remains below

Wrapt in the old miasmal mist.

 

 

TEXTO EM PORTUGUÊS

Tradução de DOMINGOS CARVALHO DA SILVA


O HIPOPÓTAMO

                  
Similiter et omnes revereantur Diaconos,

 ut mandatum Jesu Christi; et Episcopum,

ut Jesum Christum, existentem filium Patris;

Presbyteros autem, ut concilium Dei

et conjunctionem Apostolorum.

Sine his Ecclesia non vocatur;

de quibus suadeo

vos sic habeo.

            S. IGNATH AD TRALLIANOS

          E quando esta epístola tiver sido lida entre vós,
          será por isso lida também na igreja dos Loodiceanos.


        

         O hipopótamo, de couraça
         No dorso, chafurda no mangue
         E embora nos pareça de aço,
         É simplesmente carne e sangue.

         A carne é frágil e intranquila,
         Pelos nervos traumatizada;
         Mas a Igreja jamais vacila,
         Sobre uma pedra edificada.

         Poderás o hipo´se perder,
         Submisso aos instintos mais brutos,
         Mas a Igreja, sem se mover,
         Arrecada seus novos lucros.

         A manga, no alto da mangueira,
         Não pode o ´pótamo alcançar,
         Mas o fruto da romãzeira
         Reanima a Igreja no ultramar.

         A voz do hipo espalha ameaças
         Durante o cio, urrando aos céus.
         Cada semana damos graças
         À Igreja, a única de Deus.

         Dorme hipopótamo de dia
         E à noite caça.  A igreja — exemplo,
         Luz com que Deus nos extasia —
         Dorme e se nutre ao mesmo tempo.

         Eu vi o ´pótamo que alçava
         Voo sobre úmidas savanas,
         Cercado de anjos que cantavam
         O poder de Deus, em hosanas.

         Lavado no sangue de Cristo,
         No céu, sem mancha, para sempre,
         Ele entre os santos será visto
         Tangendo uma harpa refulgente.

         Lavado em branco e neve seja
         Por virgens e celestes chamas;
         E cá embaixo ficará a Igreja
         Neste velho foco de miasmas.

 

*

Página ampliada e republicada em março de 2023

 

 

 

 
 
 
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