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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

EDGAR ALLAN POE

 

 

Edgar Allan Poe (nascido Edgar Poe; Boston, Massachusetts, Estados Unidos, 19 de Janeiro de 1809 — Baltimore, Maryland, Estados Unidos, 7 de Outubro de 1849) foi um autor, poeta, editor e crítico literário americano, integrante do movimento romântico americano. Conhecido por suas histórias que envolvem o mistério e o macabro, Poe foi um dos primeiros escritores americanos de contos e é geralmente considerado o inventor do gênero ficção policial, também recebendo crédito por sua contribuição ao emergente gênero de ficção científica. Ele foi o primeiro escritor americano conhecido por tentar ganhar a vida através da escrita por si só, resultando em uma vida e carreira financeiramentedifíceis.
/Continua em: /pt.wikipedia.org/wiki/Edgar_Allan_Poe/

 

 

TEXTOS EM INGLÊS E PORTUGUÊS

 

 

POE

Poema visual a partir de um verso do poeta EDGAR ALLAN POE, elaborado (a partir de tradução do texto)  por PAULO MIRANDA e CARLOS VALERO

 

Poema visual extraído de

 

ZERO À ESQUERDA. São Paulo, SP: nomuque edições, 1981.  29x51,5 cm.  Imagens soltas, de diferente tamanho em Invólucro idealizado por Omar Khouri e Paulo Miranda. Produtores e impressores serigráficos: Carlos Valero, Julio Mendonça, Omar Khouri, Paulo Miranda, Sonia Fontanezi, Tadeu Jungues, Walter Silveira e Zeluiz.
Inclui trabalhos dos poetas visuais: Aldo Fortes, Augusto de Campos, Carlos Varelo, Décio Pignatari, Edgar Braga. Elcio Carriço, Haroldo de Campos, Julio Mendonça, Julio Plaza, Lenora de Barros, Luiz Antonio de Figueiredo, Lygia de Azeredo Campos, Neoclair João Vito Coelho, Omar Khouri, Paulo Miranda, Regina Silveira, Renata Ghiotto, Samira Chalhub, Sonia Fontanezi (Atravessa-), Tadeu Junges, Villari Herrmann, Walt B. Blackberri e Zeluiz.  
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Extraído de

 

 

MOTTA, Thereza Christina Rocque daHorizontes.   Rio de Janeiro. RJ: Ibis Libris, 2014.    224 p.  12x18 cm.  Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno Pimental Francisco.  Foto da capa: Necesio Tavares.  ISBN 978-85-7823-190-3  Ex. bibl. Salomão Sousa.  

 

Take this kiss upon the brow!
And, in parting from you now,
Thus much let me avow —
You are not wrong, who deem
That my days have been a dream;
Yet if hope has flown away
In a night, or in a day,
In a vision, or in none,
Is it therefore the less gone?
All that we see or seem
Is but a dream within a dream.

 

 

Edgar Allan Poe, "A dream within a dream”.

 

Deixa que eu beije a tua fronte!
E, ao separar-me de ti agora,
 

Deixa-me dizê-lo assim —
Não há erro em crer
Que meus dias foram sonho;
Mas se a esperança se foi
Numa noite ou num dia,
Numa visão ou nenhuma,
Foi pouco o que passou?
Tudo que vemos ou somos
É só um sonho dentro de um sonho.

 

 

 

  • POE, Edgar Allan.  O Corvo. (The Raven)  Versão original em inglês. Ediçao trilíngue.
    Traduções – Português: “O Corvo” : Machado de Assis / Fernando Pessoa.  Francês: “Le Corbeau” : Charles Baudelaire.  Ilustrações: Lupe Vasconcelos. São Paulo: E M P Í R E O, 2015.  14,5 x 21,5 cm.  ilus. p&b  capa dura.  Ex. bibl. Antonio Miranda
  •  
  • Esta edição tem, além da qualidade dos textos e das traduções, a oportunidade da leitura da apresentação feita pelo próprio Poe de seu poema! Vale a pena ler (na edição completa, à venda em livrarias físicas e na internet...!!!)
  • Quando, de fato, os homens falam de beleza, eles querem dizer, precisamente, não uma qualidade, como é suposto, mas um efeito — referem-se, em suma, apenas àquela intensa e pura elevação da alma — não do intelecto, ou do coração —sobre a qual eu comentei, e que é apreciada em consequência da contemplação da beleza. Ora, designo o Belo como o domínio do poema (..., p. 12-13)
  • Eu havia chegado à ideia de um Corvo — a ave do mau presságio — repetindo monotonamente a expressão “Nunca mais” /em inglês, Nevermore/, na conclusão de cada refrão, num poema de tom melancólico e extensão de cerca de cem linhas.” (..., p. 16)
  • Aqui então, pode-se dizer que o poema teve seu começo pelo fim — onde todas as obras de arte devem começar (..., p. 18)
  • “Ora, cada um dos versos, tomado separadamente, fora empregado antes, mas a originalidade que “O Corvo” tem está em sua combinação na estrofe;
    nada, nem mesmo próximo disso jamais foi tentado. O efeito dessa originalidade de combinação é ajudado por outros incomuns, alguns inteiramente novos efeitos do romance, oriundos da aplicação dos princípios de rima e de aliteração
    .” (..., p. 20)


                                                                  EGAR ALLAN POE
                                                        (Graham´s Magazine, abril 1846)

  “A alma, o sentido, o pávido segredo
      Daquelas sílabas fatais,
   Entender o que quis dizer a ave do medo
      Grasnando a frase: “Nunca mais.”

                                      MACHADO DE ASSIS

 

O CORVO

(excertos)

 

                        Em certo dia, à hora, à hora
                        Da meia-noite que apavora,
     Eu caindo de sono e exausto de fadiga,         

                        Ao pé de muita lauda antiga,
     De uma velha doutrina, agora morta,
     Ia pensando, quando ouvi à porta
     Do meu quarto um soar devagarinho,

                        E disse estas palavras tais:
     "É alguém que me bate à porta de mansinho;

                        Há de ser isso e nada mais."

 

                        Ah! bem me lembro! bem me lembro!

                        Era no glacial dezembro;
     Cada brasa do lar sobre o chão refletia

                        A sua última agonia.
             Eu, ansioso pelo sol, buscava
             Sacar daqueles livros que estudava
            Repouso (em vão!) à dor esmagadora

                        Destas saudades imortais
     Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora,

                        E que ninguém chamará mais.

 

(...)

 

 

Abro a janela e, de repente,

                        Vejo tumultuosamente
      Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
                        Não despendeu em cortesias
      Um minuto, um instante. Tinka o aspecto
      De um lord ou de uma lady. E pronto e reto
      Movendo no ar as suas negras alas.

                        Acima voa dos portais,
      Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;

                        Trepado fica, e nada mais.

 

                        Diante da ave feia e escura,

                        Naquela rígida postura,
      Com o gesto severo — o triste pensamento
                        Sorriu-me ali por um momento,
      E eu disse: "0 tu que das noturnas plagas
      Vens, embora a cabeça nua tragas,
      Sem topete, não és ave medrosa,

                        Dize os teus nomes senhoriais;
      Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"

                        E o corvo disse: "Nunca mais".

 

 


 

O CORVO

(1845), de

EDGAR ALLAN POE

 

(Localizamos outra edição, aqui reproduzida completa,
do célebre poema na  

 

       Tradução de
MACHADO DE ASSIS


Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."

Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora.
E que ninguém chamará mais.

E o rumor triste, vago, brando
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido,
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto, e: "Com efeito,
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais."

Minh'alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: "Imploro de vós, — ou senhor ou senhora,
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso 
Batestes, não fui logo, prestemente, 
Certificar-me que aí estais."
Disse; a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.

Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.

Entro coa alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Alguma cousa que sussurra. Abramos,
Eia, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso 
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso,
Obra do vento e nada mais."

Abro a janela, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto,
Movendo no ar as suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.

Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".

No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"

Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".

Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera,
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais".

Assim posto, devaneando,
Meditando, conjeturando,
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava.
Conjeturando fui, tranquilo a gosto,
Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.

Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso,
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais,
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!”
E o corvo disse: "Nunca mais."

“Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fique no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua.
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua."
E o corvo disse: "Nunca mais".

E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e, fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!

 

 

 

POE, Edgar Allan.  Obra poética completa. Trad. Margarida Vale de Gato.  Ilustrações de Felipe Abranches.  Lisboa: Tinta da China edições, 2009, 357 p. RI 115,  capa dura  ISBN 978-972- 8955-93 -9 Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

IMITAÇÃO

 

Uma maré negra, insondável,
De orgulho interminável...
A vida que eu tive outrora
Seria mistério, ilusão...
Um sonho que se infundia
De loucas ideias da aurora
Com os seres que antes havia,
Que minha alma não veria,
Deixasse-os eu transcorrer
Com olhos de fantasia!
Não guarde a terra o legado
Daquilo que foi revelado
Ao meu espírito: o pensamento
Que o prendia... o encantamento.
Pois tal ânsia luminosa
Se findou, e o tempo vaporoso...
E o meu repouso neste mundo
Acabou com um suspiro fundo;
Pouco importa! morra embora
Com uma ideia que amei outrora.

 

 

[Só]

 

Eu não foi, desde a infância

Como outros eram... não olhei

O que outros viam... não busquei

Na mesma fonte as minhas ânsias...

Não foi do mesmo poço que tirei

Minha amargura... meu coração

Não entoou, em coro, hinos de louvor..

E tudo o que eu amei, amei em solidão.

Então—na minha infância—no alvor

De minha vida atormentada, fui refém

Do mistério que ainda hoje sobrevêm

Do abismo donde brota o mal e o bem.

Da torrente, da nascente...

Da rubra fraga ascendente...

Do Sol que em mim revolveu

No seu fulgor outonal...

Do clarão que ascendeu

Pelo espaço, e em mim rasou...

Do trovão, do temporal...

Da nuvem que se moldou

(Conquanto azul fosse o céu)

Em demónio e me ensombrou.

 

 

O CORVO, poema de EDGAR ALLAN POE,
em tradução de FERNANDO PESSOA.

 

“O CORVO”  causou muita controvérsia e rejeição de editores até ser publicado em 1845, no Evening Mirror, três anos depois de sua criação original. Edgar Allan Poe  fez modificações e aperfeiçoamentos seguindo as impressões dos leitores, quase sempre reticentes ou até injuriosas... A obra foi reimpressa e difundida por outros editores, consagrando o autor muito além das expectativas.
A tradução de Fernando Pessoa é considerada muito pessoal, em relação à forma e ao vocabulário, e no ritmo (melopeia) impostos pela criatividade e personalidade do autor, numa língua formalmente bem diferente. E é bom lembrar que Pessoa adotou heterônimos, outras personalidades na sua trajetória literária. Devemos ressaltar que Pessoa  viveu na África do Sul, onde iniciou sua educação  formal,  e garantem os biógrafos que ele começou a escrever os seus textos poéticos em inglês. . E é bom lembrar que adotou heterônimos, outras personalidades na sua trajetória literária. E que faz a sua tradução, digna de admiração, décadas depois da versão original de Poe.  E não devemos esquecer o que grande poeta português confessou:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

Conhecemos mais de uma tradução ao nosso idioma, mas particularmente a “estilosa” edição do livro “Três poemas e uma gênese”, de mil exemplares,  de novembro de 1985.
A versão do texto que apresentamos aqui não foi escaneada deste livro que conservo em minha biblioteca pessoal, mas de uma versão da internet que me foi enviada por um amigo. Nem cheguei a confrontar os textos, apenas aceitei a indicação até porque fazer uma cópia fac-similar sem a autorização da editora seria ilegal, embora o texto original, conforme me informou meu amigo, já está no domínio público. Reproduzimos aqui a capa do livro português, recomendando-a a bibliófilos e leitores mais exigentes.  Vale a leitura também dos textos sobre a obra publicados nesta edição, disputada por bibliófilos. E cabe ressaltar que existe uma versão “Leitura interpretada do poema de Poe, pelo músico paulista Carlos Fernando”,  no Youtube” https://www.youtube.com/watch?v=AB-3rsAu7A4

 

O CORVO 

Tradução por Fernando Pessoa

 

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.

Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigos, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ânsia e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
E a minh´alma dessa sombra que no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!

 

 

 

Página publicada em abril de 2018; ampliada em julho de 2018; ampliada em julho de 2019


 

 

 
 
 
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