Foto: https://en.wikipedia.org/wiki/Yang_Lian_(poet)
YANG LIAN
( CHINA )
Yang Lian(chinês 楊煉 Yáng Liàn; nascido em 22 de fevereiro de 1955) é um poeta suíço-chinês associado aos Misty Poets e também à escola Searching for Roots. Ele nasceu em Berna,Suíça, em 1955 e foi criado em Pequim, China, onde frequentou a escola primária. [ 1 ] [ 2 ]
Sua educação foi interrompida pela eclosão da Revolução Cultural após 1966. Em 1974, foi enviado ao condado de Changping, perto de Pequim, para se submeter a uma "reeducação pelo trabalho", onde assumiu uma variedade de tarefas, incluindo cavar sepulturas. Em 1977, após o fim da Revolução Cultural e a morte de Mao Zedong, Yang retornou a Pequim, onde trabalhou na emissora estatal.
Yang começou a escrever poesia tradicional chinesa enquanto trabalhava no campo, apesar de esse gênero de poesia ter sido oficialmente proibido durante o regime de Mao Zedong. Em 1979, envolveu-se com o grupo de poetas que escreviam para a revista "Today" (Jintian), e seu estilo poético evoluiu para o estilo modernista e experimental comum naquele grupo.
O grupo "Today" atraiu considerável controvérsia no início da década de 1980, e o termo inicialmente depreciativo de "Poetas Nebulosos" foi aplicado a eles nessa época. Em 1983, o poema de Yang "Norlang" (nome de uma cachoeira no Tibete) foi criticado como parte da Campanha Antipoluição Espiritual, e um mandado de prisão foi expedido contra ele. Ele conseguiu escapar após uma denúncia de amigos; a campanha terminou logo depois.
Pós-1989
Yang Lian foi convidado a se tornar um pesquisador visitante pela Universidade de Auckland em fevereiro de 1989. Yang Lian estava em Auckland, Nova Zelândia, na época dos protestos e massacre da Praça da Paz Celestial em 1989, e estava envolvido em protestos contra as ações do governo chinês. Seu trabalho foi colocado na lista negra da China logo após 4 de junho de 1989, e dois livros de sua poesia que aguardavam publicação lá foram descartados. Desde então, ele se tornou um poeta chinês exilado na Nova Zelândia. Yang Lian publicou quinze coletâneas de poemas, duas coletâneas de prosa poética, muitos ensaios e um grande livro de prosa autobiográfica em chinês. Ele traduziu todas as obras de ficção de George Orwell para o chinês (ainda não publicadas devido à censura na China muito recente). Seu livro mais recente em inglês é "The Third Shore", uma antologia de traduções mútuas de poetas chineses e ingleses (coeditor WN Herbert), publicado pela Shearsman Books (Reino Unido) e pela Eastern Chinese Normal University Press (China), em 2013. Seu último livro, um poema extenso, intitula-se "Narrative Poem", um poema autobiográfico.
Yang Lian recebeu bolsas de escrita na Austrália, Estados Unidos, Itália e Alemanha, e viajou bastante. Embora tenha mantido a cidadania neozelandesa (1993) e, posteriormente, também se tornado cidadão britânico (2008), ele mora em Londres desde 1997 e atualmente reside em Berlim e Londres.
Yang Lian foi membro da Wissenschaftskolleg em Berlim em 2012/2013. Ele é professor convidado da Universidade de Artes de Nanquim, da Faculdade de Artes da Universidade de Hebei da Universidade de Yangzhou. Desde 2014, ele foi convidado para ser um professor distinto e escritor residente na Universidade de Shantou, província de Guangdong, China. Em 2013, ele foi convidado para se tornar membro da Academia Norueguesa de Literatura e Liberdade de Expressão. Junto com outros Misty Poets, ele teria sido indicado ao Prêmio Nobel de Literatura. Em 2024, ele recebeu o Prêmio Literário Internacional Zbigniew Herbert, tendo sido descrito como "um dos poetas vivos mais eminentes da China e um inabalável defensor da liberdade de expressão".
Desde 2005, é professor na European Graduate School em Saas-Fee, Suíça, e diretor artístico da série Unique Mother Tongue, de eventos internacionais de poesia e arte, realizados periodicamente em Londres. Desde 2017, Yang Lian, juntamente com Mang Ke e Tang Xiaodu, republica a revista online Survivors Poetry [1], como um dos dois editores-chefes.
POESIA SEMPRE China Ano 14 Número 27. 2007. Editor Marco Lucchesi. Rio de Janeiro: MINISTÉRIO DA CULTURA / FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. 247 p. ISBN 0104-0626 No.10 384
Exemplar da biblioteca de ANTONIO MIRANDA
1989
Quem diz que os mortos podem se abraçar?
como vários cavalos crinas cinzas prateadas
fora da janela sob a gélida luz lunar
mortos sepultados nos dias que passaram
que acabaram de passar loucos amarrados aos leitos
rijos como pregos
que pregam a madeira da escuridão
é assim que a cada dia fecham a tampa dos caixões
quem diz que os mortos estão mortos? O morto
encerrado no último dia vaga como dono da eternidade
seus quatro rostos voltados à quatro paredes
um outro massacre sangue
é ainda a mesma e célere paisagem
dormir dentro do túmulo é uma sorte mas logo despertamos
num amanhã de pássaros mais t
O jogo das mentiras
Quando mentimos estrias de tigres marcam as trevas
na rua vendidas sem piedade à luz dos lampiões
as mentiras tomam o lugar dos passantes
nós passeamos mas uma formiga que irrompe na área
proibida do sonilóquio
só pode entender dedos
peso fatal a todo baixar da Lua
e gritos idiotas de ajuda em algumas pequeníssimas gargantas
não ninguém jamais mentiu a si mesmo
são apenas palavras que brincam a sós
brincam no sono e sonhamos o oceano
brincam no oceano e seguimos na onda para outra ilha
lá onde aportamos temos fome
criamos e massacramos papagaios e macacos
que se transformam em pedras ferozes
mas não falamos quando não falamos
as mãos se tornam crocodilos que em águas mortas mordem
a cauda uns dos outros
Mãe
Se em sonho vejo teu rosto renasces
te reencarnas essa árvore delicada como a carne
há muito devia se curvar cheia de frutos
se andas com pés desnudos na praia
níveos grãos de sal escalam dos tornozelos inchados às costas
já escalaste o túnel da manhã
tiras os sapatos fora da porta
surda aos suspiros dos órfãos
A morte é agora a nossa nova família
à luz de velas ano após ano tornam-se os mortos femininos
no quarto ao lado trocas de roupa
como na infância indiferente aos detalhes do vestiário
tu me deixas e deixas também a vergonha do mundo
mas que me guia nesta sono? ao visitar uma doença
sangue descrito grosseiramente na escola era apenas a tua doença
segues no lugar em que morreste deixa que eu te siga
para agarrar a tua idade
separado por um vidro separado por uma gota de leite seco
dos teus olhos vejo a minha metamorfose
depois da chuva os corpos estão em outro lugar
estás sempre lá de pé
mas sempre mais longe eu morro na distância que mingua
vou te encontrar num sonho no meu último dia
O livro do exílio
Não estás essa marca de caneta
apenas traçada foi varrida pela tempestade
branca como um pássaro morto que ronda teu rosto
Lua fúnebre, mão despedaçada que
põe do avesso os teus dias
põe do avesso a página onde não estás
enquanto escreves
e gostas de te ver assim emendado
como a voz de um outro
ossos triturados e cuspidos num canto
o som cavo de água sobre água
migra ao acaso dentro de um respiro
dentro de um fruto para não ver aquele outro
és todo crânio espalhado no chão
entre as palavras, entre os versos, numa noite ficaste velho
a tua poesia no mundo se insinua
*
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Página publicada em maio de 2025.
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