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REGINA MELLO

REGINA MELLO
(Minas Gerais)

REGINA MELLO

"O LIVRO DE VIDRO"

 

 

MELLO, ReginaCinquenta.  Belo Horizonte: Anome Livros,  2010.  63 p. (Col. Museu              Nacional de Poesia, 1) 

 

 

As feridas ainda estão abertas, mas não sangram mais

Agora as feridas têm vida própria

Apodrecem em si, sangram em si, doem em si

Feridas escarnecidas doídas traídas e sentidas

Não, não podem mais...

 

*

 

Trapaças trapos transas tranças trancas trincas

Trágicas travessuras travessas transportam trilhas

Trago traída traumas travessos translúcidos trincados

Traças traçam trancadas tradições trazidas tripas

 

 

 

 

MELLO, Regina.  Passos perdidos: antologia 1986 a 2011. Belo Horizonte: Anome Livros, 2012.  96 p.  ISBN 978-85-98378-67-1   Editor: Wilmar Silva. Capa e projeto gráfico: Regina Mello. Diagramação e arte-final: Daigo da mata. Capa papel Supremo 300 g;m2, sobrecapa acetato com impressão, miolo Offset 120g;m2, textos fonte Futura BK BT corpo 12.  Col. A.M. (EA) 

 


 

Extraído de

 

POESIA SEMPRE. Número 35 – Ano 17 – 2010.   Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, 2010. Editor Marco Lucchesi.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

         Ele mordeu a Rosa
         Ele comeu a Rosa
         Mastigou a Rosa
         Gritou a Rosa
         Fez brotar amor
         Com a força-sangue
         O coração aberto
         que não cabia mais
         Não batia mais
         Dentro do peito
         Rosa da Rosa

         *

          

         Cabelo é linha, cordão, elástico, corda de violão
         Cabelo protege, enfeita, flutua, camufla
         Cabelo tem força, energia, cores e luz...
         Cabelo é roupa, pele, pelo, moda, pena
         Cabelo cresce, nasce, morre
         quebra ou arrebenta
         Cabelo que se arranca
         Cabelo que se implanta
         Cabelo, cabelo, cabelo
         Cabelo é osso, corpo, unha
         Cabelo é força, energia
         é travesseiro, ninho e aconchego
         Cabelo antena, cabelo relógio
         Cabelo flor, casca de árvore
         escama de peixe
         água do rio, mar, cachoeira
         Cabelo que escorre, enrola
         desliza, cai
         Cabelo está dentro, fora
         está preso, solto
         Cabelo de dentro, de fora
         cabelo que brota
         Cabelo, cabelo, cabelo
         mistério, broto, sopa

         *

 

         Sozinha,
         Quero ser torre
         E alcançar o céu
         Quero apontar
         Nuvens
         Costurar estrelas
         Com fios de raios de sol
         Bordar luas e luar
         Quero ser
         Chuva
         Chuva-fio que tece rio
         Quero vestir-me de céu

 

MELLO, Regina.  Antologia de Ouro III. Museu Nacional da Poesia – Organizaçăo. Belo Horizonte : Arquimedes Ediçőes, 2014.  

136 p. 15 x 21 cm.              ISBN 978-85-89667-50-0    
Ex. bibl. Antonio Miranda, exemplar enviado por Regina Mello.




                deus das folhas ao vento
proteja o verde bandeira
solto do mastro
entregue ao vento

é dia de pó de ouro

 

 

***

O que fazer com o coraçăo
Afagado ao pé da Serra do Curral Del Rei

O que fazer com o sabor de amor
Deixado no hálito no ar no mar

O que fazer com o som polido
Que reverbera em tímpanos alados

O que fazer com a pintura acima dos lábios
Nunca antes observada

O que fazer com o deseje de ser lua
De romper tempo e espaço

O que fazer com o imă repleto de setas
Apontando em direçăo sul

O que fazer com o desejo
De descobrir cantos e recantos

O que fazer com o sorriso
Que năo se apaga e chama a felicidade

O que fazer com o corpo sem ninho
Sem abrigo e desrumado

O que fazer com a semente amor

 


=======================================================================

 

WILMAR SILVA ENTREVISTA REGINA MELLO

 

 

Poeta e artista visual, Regina Mello, diretora/fundadora do Museu Nacional da Poesia – MUNAP – conversa com Wilmar Silva, onde fala de sua experiência no campo da poesia e das artes no Brasil e no exterior, revelando um trabalho antenado ao seu tempo. A exemplo do Museu Nacional da Poesia, ecomuseu do terceiro milênio, Regina Mello empreende um projeto essencial não apenas para a compreensão do ser humano no universo, mas para a transformação da humanidade no espaço e no tempo.   

 

WILMAR SILVA

Regina Mello, como foi nascer no Quadrilátero Ferrífero?

 

REGINA MELLO

Nascer em Itaúna, em casa e ainda no tempo das parteiras, embora tenha nascido praticamente sozinha, com a benção do Padre Waldemar – Padre santo da cidade – foi uma santa aventura, pois, Itaúna acolheu todos os meus sonhos de menina. Ainda bebê, contava minha mãe que eu gostava de provar o sabor da terra. Mas isso logo passou e deu lugar a contemplação das flores, as “Mulatas na Sala”, as “Boninas”, as rosas, as muitas e variadas flores do campo, das frutas, as jabuticabas, as goiabas, as laranjas, os morangos, as raras maçãs...

 

WS

E a menina na Gruta de Nossa Senhora de Itaúna com o que sonhava?

 

RM

Ah! Que lugar encantado era a gruta! Em meio às montanhas, as imensas árvores, os misteriosos espaços, o santuário resguardava os segredos santos e despertava em mim a sensibilidade, a percepção refinada de quem observava o vento acariciar o tempo. Minha Tia Maria, irmã de meu pai, era a pessoa encarregada de cuidar da gruta, preparar as missas, receber os padres, levar flores para a Nossa Senhora. A missa na Gruta era muito mais interessante que na Matriz, naquele tempo a simplicidade do lugar, o encontro com a natureza, os mistérios e os segredos da gruta já me seduziam. Eu não gostava de sair daquele lugar. Lembro-me das muitas e muitas vezes que as lágrimas escorreram pelo meu rosto comovido pela beleza e emoção. A água benta que gotejava aos pés da Santa de alguma forma representava as lágrimas de um mundo que chorava sem cessar. Tudo naquele lugar me encantava, me comovia e me despertava para a vida. Em vidrinhos especiais eu e minha tia coletávamos água benta para doar a quem necessitava.

 

WS

Ser a vida que cresce é perder a infância ou fazer da infância um ensaio de correspondências entre presente/passado/futuro?

 

RM

Costumo dizer que sou uma museóloga nata, carrego comigo o meu presente/passado/futuro. Todas as fases de minha vida foram/são vividas com intensidade.

 

WS

Como foi chegar e habitar o Curral D’el Rey de Belo Horizonte?

 

RM

Cheguei a Belo Horizonte no início de 1970 com meu pai e minha irmã Magna para dar início ao 4º. ano primário, foi minha primeira experiência de viver longe de minha mãe e minha irmãs. Foi uma experiência doída e também desafiadora. Eu tinha 10 anos e tinha que tomar conta de mim e de minha irmã de 6 anos nesta cidade gigante. Moramos por longos e quase eternos meses na Av. Augusto de Lima perto do Mercado Central. Acordar cedo, caminhar até o ponto do ônibus todas os dias para ir a escola foi um martírio transformado em aventura, em campo de pesquisa e vivência. Eu observava tudo e todos, nenhum detalhe escapava. O tempo passou, a família chegou, e a vida seguiu com uma menina mais adulta e atenta. Tornei-me uma pesquisadora. Estudei em um colégio sem biblioteca, mas fiz da banca de revistas perto de casa meu lugar de pesquisa. Lá chegavam as novidades do mundo. Estava sempre atenta ao rádio que trazia a poesia aos meus ouvidos. Nunca consegui memorizar as letras, mas minha alma estava sempre muito bem alimentada de palavras, versos, sonoridades e sutilezas. Aos poucos os livros foram chegando e me apaixonei por Chico Buarque de Holanda quando li “Gota D’água”. Nem uma palavra ficou em minha memória, ficaram todas as sensações, os sentimentos e emoções vividas dentro do livro. Momentos só meus, guardados em minhas eternas gavetas de sonhos.

 

WS

Sendo artista desde sempre, quando sentiu a poesia existindo como linguagem entre a vida e o mundo?

 

RM

O olhar inquisidor da artista estava presente aos quatro anos de idade ao observar o brotar de uma planta, sentir o vento no rosto, a cerca de arame farpado, a aranha, as diferentes formas, as cores das flores, a textura da terra, foram marcos de poesia, de sombras e memórias. Mais tarde, aos dez anos, lendo poemas de ... percebi que meus pensamentos eram poemas, eu pensava e sentia como aqueles poetas, então comecei a escrever e compreender que o mundo dentro e fora de mim eram reais.

 

WS

Como foi viver os poemas de seu livro de estreia “Cinquenta”, ou a poesia se vive apenas quando se escreve?

 

RM

A poesia é ar, luz, perfume e sabor, presente cotidiano dentro e fora, perto e longe, sobre nuvens e terra. “Cinquenta” carrega fragmentos do ano cinquenta, ano de passagem, balanço, coragem.

 

WS

Por que motivos os poemas de “Cinquenta” chamam a atenção de leitores que se emocionam com a sua poesia, através de leituras públicas, onde a sua voz se torna a voz de outros?

 

RM

Presenciei algumas pessoas emocionadas lendo ou ouvindo os poemas de “Cinquenta” e comentando que foram tocadas na alma, nas suas memórias. Outros que agora o tem como livro de cabeceira.

“Cinquenta” é um livro composto de cinquenta poemas, todos escritos em 2009, ano em que completei 50 anos de vida. É um livro delicadamente simples, fácil de ler, repleto de sutilezas e convites a reflexões. Difícil para os acostumados a textos complexos e digeríveis. É um livro também repleto de esculturas e pinturas, viagens no tempo, encontros e desencontros. Publicado em 2010 pela Anome Livros na Coleção Munap e teve lançamento nacional e internacional.

 

WS

Regina Mello é possível uma poesia que realmente suspenda a realidade em busca do sublime?

 

RM

Totalmente sublime é a poesia, por mais realista que seja, por ser poesia, suspende a realidade. A poesia é linguagem da alma.

 

WS

Como você trabalha a intersecção entre os conceitos de uma arte conceitual e a verdade de uma linguagem humanamente viva de amor?

 

RM

É como pensar o amor além do amor, a forma além da forma, a poesia além da poesia, a vida além da vida, a verdade além da verdade, o vazio além do vazio. Portas para o processo criativo que me domina e lança-me como anzol em alto mar.

 

WS

Híbrida por natureza, como foi instalar suas esculturas no Parque Municipal de Belo Horizonte, ao lado de árvores, árvores sacrificadas em Belo Horizonte pelo poder público e pela sociedade civil, supostamente, a favor da vida e da cidade?  

 

RM

As árvores, minhas irmãs árvores...

Um tríptico em aço inox, fumê, escovado e brilhante com mais de dois metros de altura foi plantado nos jardins do Parque Municipal Américo René Giannetti em setembro de 2009 numa exposição coletiva com mais onze escultores mineiros. Três esculturas em formas triangulares representaram um pedido de socorro à natureza. Em outro ponto do Parque, no largo da entrada principal a escultura “Sol de Portugal” desenhou sombras sobre antigos paralelepípedos carregados de marcas e memórias. Esta escultura representa o poema abaixo. Hastes em aço inox 240 cm de altura sustentaram uma esfera de 60 cm de diâmetro, revestido em alumínio sintético.

 

Sol de Portugal

Flutua sobre hastes agulha

 

Sol de Portugal

Suspenso!

 

Raios tortos penetram o solo

Criam hastes que o sustenta

E o expõe vestido de prata

 

Ó Sol prateado

Brilha e reluz a brancura pacífica

Encontro de sol com sol

                                       Fusão alva que só o céu detém

 

WS

Sendo você, Regina Mello, ativista da vida e da poesia, como nasceu o MUNAP - Museu Nacional da Poesia?

 

RM

O Museu Nacional da Poesia – MUNAP é um desejo antigo de provar que é possível pensar museu além de museu. Que é possível preservar o patrimônio imaterial, construir memórias além de resgatar memórias.

Provar que é possível a humanização, que reunir pessoas faz bem para a saúde, compartilhar processos criativos, inspirar conceitos, estimular pesquisas, salvaguardar memórias e vidas.

Em fevereiro de 2006 demos início ao Museu Nacional da Poesia – MUNAP com a criação do projeto: Original – livro de artistas, vinte artistas prestaram homenagem a Mozart em seus 250 anos. Numa proposta de permuta de trabalhos entre artistas, criamos os mais diversos conceitos de homenagem a Mozart em técnicas e materiais que passaram entre tintas, travesseiros, alfinetes, café, retratos, poesia, fotografias a gravuras. Trabalhos que hoje compõem o acervo do Wien Museum, Austria, Museu da Imagem e Som de Recife e Fundação Clóvis Salgado, teve exposições nacionais e internacionais. O MUNAP está cadastrado no IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus desde 2006, ano que marca o inicio de nossa participação na 3ª- Semana Nacional de Museus.

 

WS

O que é o Museu Nacional da Poesia e quais são os projetos criados através do MUNAP? 

 

RM

O Munap é um museu de asas, um museu sem formas e sem bordas, um museu aberto e vivo, existe através de ações. Através de projetos para humanização, construção da paz, do amor, da arte e do saber sentir. Seus principais projetos são: Original – livro de artistas, desde 2006, citado acima, a Galeria da Árvore criada em 2007, espaço dinâmico que reune artistas e poetas para refletir sobre processos criativos. Instalada desde 2008, no Parque Municipal Américo René Giannetti, no Largo das Bougainvilles em Belo Horizonte. Uma galeria a céu aberto composta de um muro com dezesseis metros de cumprimento. Espaço aberto ao público de terça a domingo de 6h às 18h. Sementes de Poesia, desde 2008, um recital com microfone aberto também no Parque Municipal na Praça dos Fundadores, todo terceiro domingo do mês de 10h às 12h. Coleção de livros Munap, 2010, publicação de livros de poesia em parceria com o autor e a Anome Livros e muitos outros projetos.

 

WS

Como tem sido a sua experiência frente ao projeto Sementes de Poesia, que acontece ao terceiro domingo do mês na Praça dos Fundadores no Parque Municipal de Belo Horizonte, pensando em sua geopolítica com microfone aberto ao público?

 

RM

É uma alegria poder promover há quatro anos um espaço assim tão democrático, múltiplo e simples. A convivência a céu aberto, a portas abertas, abre mentes e corações, e a integração é perfeita entre vida e obra, entre pássaros e flores, luz e perfume, ar, poesia, liberdade e coragem. 

 

WS

E a Galeria da Árvore, também no Parque Municipal de Belo Horizonte, como as pessoas se sentem nesses lugares, onde o cotidiano é o lugar de partida e de chegada da própria obra de arte ao vivo?

 

RM

Por ser a Galeria da Árvore um espaço também a céu aberto, a portas abertas, um encontro marcado para viver e respirar arte, recebe as mais diferentes pessoas, porém, pessoas pares. Como disse Goethe: “Conhecer pessoas que pensam e sentem como nós, mas que embora distantes estejam perto em espírito, é que faz do mundo um jardim habitado”. As pessoas sentem-se a vontade em diálogo com a arte em que muitas vezes nas galerias e museus são privadas. A Galeria da Árvore nasceu em 2007 marcando a 1ª- Primavera nos Museus - IBRAM, participando com a apresentação de todas as artes, música, cinema, artes visuais, poesia, performance, etc.

 

WS

E o projeto Original – livro de artistas, como tem multiplicado o livro/objeto pelo mundo?

 

RM

Ainda timidamente, por ser um projeto de ação entre os artistas e poetas totalmente sem apoio financeiro. Mas aos poucos o projeto caminha para mundos distantes, como Áustria e Portugal.

 

WS

Como foi organizar a Antologia de Ouro Museu Nacional da Poesia?

 

RM

Foi uma experiência nova e bastante difícil, gostei muito, um enorme desafio, muita responsabilidade e muitos bons diálogos com os poetas. Também um projeto totalmente financiado pelos participantes.

 

WS

Escrever um poema é o mesmo que fotografar, por exemplo, a sombra de uma árvore fadada à morte, onde pássaros amanhecem falando ao sol? 

     

RM

Absolutamente, não. Escrever um poema é moroso, por mais pronto que ele venha, vem de um ruminar profundo e atento, um poema pode levar anos e anos para ser construído, assim como uma catedral. Fotografar basta um olhar atento, um clicar atento e se tem, por exemplo, a Poesia das Sombras.

 

WS

Minas Gerais tem uma devoção ao espírito de uma tradição, tendo em vista a sua experiência de vida no exterior, como o povo de Minas Gerais recebe a sua arte?

 

RM

Com aplausos! As pessoas que tem oportunidade de observar meu trabalho de arte, de refletir sobre ele e também se pronunciar estão sempre bastante impressionadas e não economizam elogios. Estou sempre ouvindo que sou uma artista internacional, que deveria estar nas bienais. Que meu trabalho é apurado e precisa ser compartilhado com o mundo.

 

WS

Regina Mello, se você pudesse habitar a ilha do amor por uma noite que livros de poesia você levaria para ler ao som dos pássaros?

 

RM

Eu levaria toda a obra de Tomas Tranströmer traduzida para português, levaria também Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder "Oficio Cantante", Edgar Allan Poe, Ezra Pound e Cummings. Entre eles eu viveria um mar de rosas. 

 

WS

Com a queda das vanguardas que se tornam tradição, como é ser artista atravessada por dois séculos?

 

RM

Mudança é um território familiar e estimulante, viver a plenitude do século XX, século de grandes transformações, conquistas e revolução da comunicação faz com que estejamos mais antenados com o mundo. Mais abertos e descondicionados, logo, mais humanos e criativos. É como viver passado/presente/futuro ao mesmo tempo, é ser atemporal. Adoro!

 

WS

Uma obra de arte é a obra em si ou é o resultado de um tempo mercado?

 

RM

Uma obra de arte depende do olhar do outro. Depende se se olha, se se vê.

 

WS

Como você entende as poéticas do terceiro milênio em Minas Gerais frente o contexto poético nacional?

 

RM

Não consigo separar as poéticas de Minas Gerais do mundo, entendo as poéticas como uma linguagem universal. E entendo que o mundo tem falado com suas múltiplas línguas e múltiplas linguagens uma poética unimúltipla.

 

WS

O que não é performance, Regina Mello?

 

RM

Se partirmos do princípio que performance é ação, o que não é performance é estático, é inanimado, imutável. Será? Mas se falarmos de performances artísticas, de “Fluxus” com Joseph Beuys até Marina Abramovic, o que não é performance tem fronteiras.

 

WS

Sendo difícil dançar a própria vida, como as pessoas reagem com a sua performance do abraço?

 

RM

Em grande maioria se sentem acolhidas e envolvem-se no estranho abraço.

A performance do abraço foi apresentada em Curitiba, Belo Horizonte e São Paulo, 2001 a 2005. Em cada apresentação uma nova surpresa. O abraçado experimentou juntamente comigo o estranho encontro do estranho, despertou reflexões e sentimentos guardados.

Houve comentários de que esta experiência jamais seria esquecida, agradecimentos e perguntas. Abraços quentes e frios, olhares pertos e longínquos, dentro e fora.

 

WS

Raspas e restos interessam a você, Regina Mello, a exemplo do projeto “Doe suas unhas”?

 

RM

Sim! Muito me interessa. Aprendi que migalhas são valiosas, aprendi a contentar com pouco e ainda assim compartilhar.

“Doe Suas Unhas” é um trabalho iniciado em 2000 quando me vi obrigada a decidir se seria doadora de órgãos ou não. Porque naquela época tinha que colocar na carteira de habilitação: doador ou não doador. Isso me fez refletir muito, pesquisar e tomar decisões.

Junto ao estímulo de pensar sobre matriz, criei o “Doe Suas Unhas”. Um projeto talvez sem fim. Caixas de vidro com um orifício central foram espalhadas pela cidade a fim de coletar unhas cortadas. E pessoas foram estimuladas a doarem suas unhas. E até hoje recebo doações. O projeto está vivo!

 

WS

 “Passos Partidos”, no prelo, é diferente de sua estreia com “Cinquenta”?

 

RM

“Passos Partidos” é uma coletânea de 80 poemas de 1986 a 2011. Um pouco do olhar de uma poeta que desenhou no tempo linhas de Belo Horizonte a Berlim, de Berlim a Veneza, de Veneza a Curitiba, de Curitiba a Belo Horizonte, de Belo Horizonte a Lisboa, de Lisboa a Cidade do Porto, da Cidade do Porto a Belo Horizonte. O livro tem quatro partes, divididas por costuras invisiveis, porque costuras não separam, costuras juntam, costuras unem.

 

WS

Regina Mello, o que é o amor?

 

RM

É uma flor!

 

Regina Mello nasceu em 1959 em Itaúna, Minas Gerais, Brasil. Vive e trabalha em Belo Horizonte, Minas Gerais. Poeta e artista visual, bacharel em Escultura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP - UEPR) em Curitiba, artista plástica pela Escola Guignard (UEMG) em Belo Horizonte, além de cursos de extensão em artes visuais, música, filosofia e gestão cultural no Brasil e Alemanha. Com perfil multidisciplinar, realizou sessenta e três exposições individuais e coletivas, nacionais e internacionais com diversas técnicas. Publicou dois livros/escultura de poesia “Livro de Vidro I e II” (2004/2005). Organiza e participa da “Antologia de Ouro Museu Nacional da Poesia” (Anome, 2010, BH) e participa da revista “Poesia Sempre” nº 35 (Fundação Biblioteca Nacional, 2012, RJ). Publica seus textos e imagens na internet e no blog reginamellobr.blogspot.com. Autora dos livros de poesia “Cinquenta” (2010), volume I da Coleção MUNAP, parceria com Anome Livros e "Passos Partidos", Anome - 2012. Fundadora e diretora do Museu Nacional da Poesia – MUNAP, desde 2006. Curadora e idealizadora dos projetos: Galeria da Árvore, Sementes de Poesia, Original – livro de artistas, Ecolivro Brasil, entre outros.

 

 

Antonio Miranda e Regina Mello, Belo Horizonte, 2012.

MELLO, Regina.  Antologia de Ouro IVMuseu Nacional da Poesia / Organização Regina Mello.  Belo Horizonte,  Arquimedes Edições, 2016.   160 p.  15 x 21 cm.  ISBN 978-85-89667-56-2
Ex. bibl. Antonio Miranda, enviado pela editora.


       

         Críptico azul
       Velai nossas dores
       Aliviai as cores
       Densas da turva
       Imagem carvão


       ***

       A Lua grávida do Sol
       Iluminou o fundo do mar
       sepultada estrela
       caída por te amar

 

*

 

 

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