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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

MYRIAM FRAGA

 


Myriam Fraga was born I 1937, in Bahia, Brazil.  Her poetry has appeared first in many of the Brazilian periodicals and reviews. She has published many books of poetry, of which the most important are: Sesmaria, O Rison a Pele, As Purificações and A Lenda do Pásaro que Roubou o Fogo. She writes a week column on cultural events  fro A TARDE, the most important daily of he Northern Brazil, and is member of the Academy of Letters of Bahia.

 

 

 

From
Myriam Fraga
Seis poemas
Six Poemas by Myriam Fraga
Traslated by Richard O´Connell.

Ilustração de Calasans Neto.
Salvador: Edições Macunaima, 1985
Impresso por Artes Gráficas e Ind. Ltda.

 

 

 

MINOPAUTA

 

Não te mires no espelho

Côncavo das virtudes.

 

Esquece o labirinto.

 

Não cogites,

Devora

 

 

MINOGRAM

 

Don't look

In the concave mirror

Of virtue.

 

Forget the labyrinth.

 

Don't think,

Devour.

 

 

RETÓRICA

 

Quem dirá o que é o mal

E o que é o bem

Se todas as coisas se tocam

E se devoram

— Alfa Ômega —

E no final

É a mesma terra suja

De ninguém?

 

 

RHETORIC

 

Who can say what's bad

Or what's good

If all things impinge

And devour each other

— Alfa Omega —

If in the end

It's the same

Dirty world?

 

 

PENELOPE

 

Hoje desfiz o último ponto,

A trama do bordado.

 

No palácio deserto ladra

O cão.

 

Um sibilo de flechas

Devolve-me o passado.

 

Com os olhos da memória

Vejo o arco

Que se encurva,

A força que o distende.

 

Reconheço no silêncio

A paz que me faltava,

(No mármore da entrada

Agonizam os pretendentes).

 

O ciclo está completo

A espera acabada.

 

Quando Ulisses chagar

A sopa estará fria.

 

 

PENELOPE

 

Today I undid

The last thread of the web.

 

In the palace

 

Deserted

 

A dog is barking.

 

The humming of arrows

Brings back the past.

 

I see in my mind

The bow curving

Back on itself,

The arm that distends it.

 

In silence I find

The peace I have lacked

(In the marble hall

The suitors lie groaning).

 

The circle is complete,

The waiting ended.

 

When Ulysses arrives

The soup will be cold.

 

 

BANQUETE

 

O vinho

Que eu bebo

E o preço

De um homem.

 

O prato que eu como,

Sem fome,

E o salário

Da fome

De um homem.

 

Mas,

 

O sonho que eu travo

Com fúria nos dentes

 

E somente a metade

Do sonho

De um homem.

 

BANQUET

 

The wine

That I drink

Is the price

Of a man.

 

The meal that I eat

Without appetite

Is the wage

Of a man

Who is hungry.

 

But

 

The dream that I weave

Grinding my teeth

 

Is only half

Of a dream

Of a man.

 

 

INQUISIÇÃO

 

Costuraram sua boca

Com alfinetes

 

E ele dizia que NÃO

E perguntavam.

 

E cortaram seus dedos

 

E o lançaram

 

Bem no fundo do poço

 

E ele dizia que não, que não, que não

E seus cabelos cresciam como chamas.

 

 

INQUISITION

 

They stitched his mouth

With pins

 

And he still said NO

And they questioned him.

 

They cut off his fínger-tips

And dropped him

Into the deepest pit

 

And he still said no, he said no, he said no

And his hair grew like flames.

 

 

TRAJETÓRIA

 

Eu,

Que decepei a cabeça

De Holofernes

 

E apascentava os leões

Com vinhos de Marsala.

 

Eu,

Que dormi com Pizarro

Numa tenda encarnada,

 

Sacerdotisa do jaguar

E da serpente emplumada.

 

Eu,

Maria, a Sanguinária,

Isabel, a Católica,

 

Rainha destronada

Inocente e assassina.

 

Hoje masco chicletes

Perfumados a menta,

 

Estrela absoluta

Dos filmes de pornô.

 

 

TRAJECTORY

 

 

I,

 

Who cut off the head

Of Holofernes,

 

And tamed with wine

The lions of Rome.

 

I,
Who slept with Pizarro

In a red tent,

 

Priestess of the jaguar

And the plumed serpent.

 

I,

Bloody Mary,

Catholic Isabel,

 

A queen dethroned,

Innocent, assassin.

 

Today I chew

Mint-flavored gum

 

Superstar,

Queen of hard porn.

 

 

 

 

AUTORES BAIANOS: UM PANORAMA; BAHIANISCHE AUOTEREN: EIN PANORAMA; BAHIAN AUTHORS: A PANORAMA; AUTORES BAHIANOS: UN PANOROMA.   Organização Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB).  Salvador, Bahia: P55 Edições, 2013.  471 p + 10 p. s/ com as biografias dos autores nas quatro línguas.   p.  18x25 cm.  Inclui textos dos poetas Antonio Risério, Daniela Galdino, Florisvaldo Mattos, Karina Rabinovitz, Kátia Borges, Luis Antonio Cajazeira Ramos, Myriam Fraga, Roberval Pereyr e Ruy Espinheira Filho e traduções ao alemão, inglês e espanhol.  Col. A.M. 

 

CABALA

 

       ("As purificações ou 0 sinal de talião", 1981)

 

Perhaps for me

Good luck is enough,

Having gambling dice is enough,

 

Cutting the deck is enough

In the figure of the hanged man.

 

Perhaps for me

The silken skein is enough,

Three women seated in the parlor

Around the same spindle.

 

Life is a crooked thing

Written in straight lines,

 

The same secret line

I divine on my palm.

 

 

CABALA

 

          ("As purificações ou O sinal de talião", 1981)

 

 

Talvez para mim

Baste a sorte,

Bastem dados de jogar,

 

Baste o corte do baralho

Na figura do enforcado.

 

Talvez para mim

Baste a seda da meada,

As três sentadas na sala

Em volta da mesma roca.

 

A vida é uma coisa torta

Escrita com linhas certas,

 

A mesma linha secreta

Que adivinho em minha palma.

 

 

ENDOWMENT

 

          ("A lenda do pássaro que roubou o fogo", 1983)

 

I have my childhood and a dull echo of

drums in the dark.

 

I also have the howling in the silence, treasures

I destroy. Old junk snaps its secrets and

there is a taste of salt and tears and exile.

 

I have a bow and arrow of the luminaries of heaven.

I have the sunshine, a hard look like a spike. And

the more I sow the more I destroy, harvests of the

unpredicted.

 

This god is vital, this god, as necessary as

a swan. A god like a shower of gold,

like a bull crowned with leaves, fruits and roots.

 

The rest I make up myself. This journey, this

infinite delight. This bundle of flames. And this

bird, destructive and crude, in the bowels.

 

 

 

CABEDAL

 

          ("A lenda do pássaro que roubou o fogo", 1983)

 

Eu tenho a minha infância e um eco surdo de

tambores no escuro.

 

Eu tenho ainda o uivo no silêncio, tesouros que

destruo. Velhos trastes estalam seus segredos e

há um gosto de sal e lágrimas e degredo.

 

Eu tenho um arco e a seta dos luzeiros do céu.

Eu tenho a luz do sol, olho duro de espiga. E

quanto mais semeio mais destruo, searas do imprevisto.

 

Este deus é preciso, este deus, necessário como

um cisne. Um deus como uma chuva de ouro,

como um touro coroado de folhas, frutos e raízes.

 

O resto eu própria invento. Esta viagem, este

infinito delírio. Esta clave de chamas. E este

pássaro destruidor e bruto nas entranhas.

 

 

 

BOUNDARY

 

          ("A lenda do passaro que roubou o fogo", 1983)

 

My destination is the country of the dark horizon.

The homeland of the banned. The allotment of castaways.

The last bastion of suicides.

 

I pause on the threshold of absolute silence,

on the precipice where mad centipedes lurk awaiting

my fall.

 

I, who drank the magnetized blood of the earth,

of the bittersweet wine of tears and dew.

 

I, the chosen one, the anointed, the noted; he who

bears in the flesh the caress of ink in the subtle design of

ritual painting.

 

Just yesterday, on the lake, there floated my face and

beauty was a halo crowning my brow.

Yesterday was the journey, delirium, vertigo.

 

Oh pain! Ingratitude of men, today for me

they clouded the mirrors, and my face of shadow

and horror and scars is like a fiery residue

of bonfires dying.

 

Oh tragic destiny to be victor and vanquished.

Punished by dreaming beyond, by surpassing the dream and,

like the wind, mad and prophetic, destroying yourself.

 

What remains of me will be the mark, the memory, the seal;

the syllable perhaps of an imprecise feat. Trail of

feathers, ashes, on the face of the Sun

 

Like an ailing cyclops, I kneel and surrender,

in a basket, my head to the jackals.

 

Spattered with stars and blackberries, I close the

cage of absurd birds and enclose myself for

ever, invisible and abstract bird with the throat

of aurora pulsing inclemency.

 

And I reinvent the spring of this corner like cowbells,

like water chimes.

         In the air, a pervasive aroma of amaryllis.

 

 

 

LIMITE

 

         ("A lenda do pássaro que roubou o fogo", 1983)

 

Meu destino é o país do obscuro horizonte.

A pátria dos banidos. A sesmaria dos náufragos.

O reduto final dos suicidas.

 

Detenho-me no limiar do silêncio absoluto,

à beira do precipício onde lacraias alucinadas espreitam

minha queda.

 

Eu, que bebi do sangue imantado da terra,

do vinho doce-amargo de lágrimas e de orvalho.

 

Eu, o escolhido, o ungido, o assinalado; o que

guarda na pele a carícia da tinta no desenho sutil

da pintura ritual.

 

Ainda ontem, no lago, boiava minha face e

a beleza era um halo coroando-me a fronte.

Ontem era a viagem, o delírio, a vertigem.

 

Ó dor! Ingratidão dos homens, hoje por mim

turvaram-se os espelhos, e meu rosto de sombra

e horror e cicatrizes é como um rescaldo ardente

de fogueiras morrendo.

 

Ó trágico destino de vencer e ser vencido.

Castigo de sonhar além de ultrapassar o sonho e,

como o vento, alucinado e profético, destruir-se.

 

De mim ficará a marca, a lembrança, o sinete;

a sílaba talvez de uma gesta imprecisa. Rastro de

plumas, cinzas, sobre a face do Sol.

 

Como um ciclope doente, ajoelho-me e entrego,

numa cesta, minha cabeça aos chacais.

 

Salpicado de estrelas e amoras silvestres, fecho a

gaiola dos pássaros absurdos e encerro-me para

sempre, ave invisível e abstraia, com a garganta

de aurora palpitando inclemência.

E reinvento a primavera deste canto como cincerros,

como sinos dê água.

 

No ar, um penetrante aroma de amarilis. 

 

 

 

ARS POETICA

 

          ("Femina", 1996)

 

Poetry is a

Woman thing.

A common task,

Rekindling the fires.

 

On the corners of death

I buried the fat

Substantial placenta

 

And walked serene

On the coals

To the other side

Where the demon dwells.

 

Poetry is always like that:

 

An alchemy of fetuses,

A slow porous seeping of

Poisons beneath the skin.

 

Poetry is the art

Of rapine.

 

No hunting, as such,

But always on the hands

A flash of blood.

 

In vain,

I seek my fate:

In the quartered bird

The writing in the entrails.

 

Poetry as cravings,

As a growing belly,

The skin stretched

With popping wombs.

 

Poetry is this passion

Delicate and perverse,

This pearly moisture

The runs from my body,

 

Soaking my clothes
Like fever sweats.


 

ARS POÉTICA

 

          ("Femina", 1996)

 

 

Poesia é coisa

De mulheres.

Um serviço usual,

Reacender de fogos.

 

Nas esquinas da morte,

Enterrei a gorda

Placenta enxundiosa

 

E caminhei serena

Sobre as brasas

Até o lado de lá

Onde o demónio habita.

 

Poesia é sempre assim:

Uma alquimia de fetos,

Um lento porejar

De venenos sob a pele.

 

Poesia é a arte

Da rapina.

Não a caça, propriamente,

Mas sempre nas mãos

Um lampejo de sangue.

 

Em vão,

Procuro meu destino:

No pássaro esquartejado

A escritura das vísceras.

 

Poesia como antojos,

Como um ventre crescendo,

A pele esticada
De úteros estalando.

Poesia é esta paixão

Delicada e perversa,

Esta umidade perolada

A escorrer de meu corpo,

 

Empapando-me as roupas

Como uma água de febre.

 

 

 

POSSESSION

 

          ("Femina", 1996)

 

The poem touched me

With its grace,

With its feathery paws,

With its breath

Of perfumed breeze.

 

The poem made me

Its horse;

A chill in the spine,

A shiver,

A dance of mirrors

And swords.

 

Suddenly, without warning,

The poem like lightning

"Elegba, pombajira!"

Touched me with its grace,

Fiery as a whip

Precise as a hurled stone.

 

 

POSSESSÃO

 

          ("Femina", 1996)

 

O poema me tocou

Com sua graça,

Com suas patas de pluma,

Com seu hálito

De brisa perfumada.

 

O poema fez de mim

O seu cavalo;

Um arrepio no dorso,

Um calafrio,

Uma dança de espelhos

E de espadas.

 

De repente, sem aviso,

O poema como um raio

- Elegbá, pombajira! -

Me tocou com sua graça,

Aceso como chicote,

Certeiro como pedrada.

 

 

 

 
 
 
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