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                  THIAGO DE MELLO 
                    
                  
                  MELLO, Thiago de.  Como sou.  Ilustrações Luciano Tasso.  São Paulo:  Global, 2013.  109 p.  13,5x23 cm.    ISBN 978-85-260-1936-2   Col. Bibl. Antonio Miranda 
                     
                    Poeta consagrado, destacou-se por sua firme luta pela redemocratização do  Brasil. Seu livro “Como Sou”, poeta amazonense, nos revela sua existência e  identidade. Vale a pena conferir.  
                    
                  O ofício de escrever 
                    
                                  Para  Tenório Telles 
                    
                  Lendo é que fico  sabendo: 
                    
                  o que escrevi já  caiu 
                  na vida. Não me  pertence. 
                  Leio e me assombro:  as palavras 
                  que arrumei com  paciência, 
                  severo de  inteligência, 
                  cuidando bem da  cadência, 
                  perseverante,  escolhendo, 
                  não escondo, as  mais sonoras 
                  e as que gostam  mais de mim, 
                  dando a cada uma o  lugar 
                  merecido no meu  verso 
                  (que desta ciência  os segredos 
                  me deu o tempo de  ofício, 
                  um exercício de amor), 
                  pois as palavras  começam 
                  a dizer coisas que  nunca 
                  ousei pensar nem  sonhar, 
                  pássaros  desconhecidos 
                  pousando no meu  pomar. 
                    
                  É quando descubro:  a rosa 
                  — rosa em carne de  palavra, 
                   
                  
                    
                  não a rosa da  roseira — 
                  que chamei para o  meu poema, 
                  rosa linda, venha  cá, 
                  venha enfeitar o  meu canto, 
                  se transmuda, mal a  leio, 
                  num sonho que vai  se abrir, 
                  no espinho que vai  ferir. 
                    
                  Só nesse instante  descubro 
                  que a rosa, para  ser rosa, 
                  no esplendor da  identidade 
                  com qualquer rosa  do mundo 
                  precisa ser inventada 
                  pelo milagre do  verbo. 
                    
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