|  POESIA INFANTIL / INFANTO-JUVENILCoordenação de Liliane  Bernardes
 
   MANOEL  DE BARROS
   Manoel Wenceslau  Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT) em 19 de dezembro de 1916. Além de  poeta, é também advogado e fazendeiro. Fez curso sobre cinema e sobre pintura  no Museu de Arte Moderna. Escreveu seu primeiro poema aos 19 anos, mas sua  revelação poética ocorreu aos 13 anos de idade quando ainda estudava no Colégio  São José dos Irmãos Maristas, no Rio de Janeiro, cidade onde residiu até  terminar seu curso de Direito, em 1949. Seu primeiro livro  foi publicado  no Rio de Janeiro, há mais de sessenta anos, e se chamou "Poemas concebidos  sem pecado".      Ilustrações deROBSON CORRÊA DE ARAÚJO
 
 
   O MENINO QUE CARREGAVA  ÁGUA NA PENEIRA
 
 Tenho um livro sobre águas e meninos.
 Gostei mais de um menino
 que carregava água na peneira.
 
 A mãe disse que carregar água na peneira
   
 
 A mãe disse que era o mesmo que
 catar espinhos na água
 O mesmo que criar peixes no bolso.
 
 O menino era ligado em despropósitos.
 Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
 A mãe reparou que o menino
 gostava mais do vazio
 do que do cheio.
 Falava que os vazios são maiores
 e até infinitos.
 
 Com o tempo aquele menino
 que era cismado e esquisito
 porque gostava de carregar água na peneira
 
 
   
 
 No escrever o menino viu
 que era capaz de ser
 noviça, monge ou mendigo
 ao mesmo tempo.
 
 O menino aprendeu a usar as palavras.
 Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
 E começou a fazer peraltagens.
 
 
 
       Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
 O menino fazia prodígios.
 Até fez uma pedra dar flor!
 A mãe reparava o menino com ternura.
 
 A mãe falou:
 Meu filho você vai ser poeta.
 
 
 
   Você vai encher osvazios com as suas peraltagens
 e algumas pessoas
 vão te amar por seus despropósitos.
      A MENINA AVOADA   Foi na fazenda de meu pai antigamenteEu teria dois anos; meu irmão, nove.
   Meu irmão pregava no caixoteduas rodas de lata de goiabada.
 A gente ia viajar.
   As rodas ficavam cambaias debaixo do caixote: Uma olhava para a outra. Na hora de caminhar as rodas se abriam para o lado de fora. De forma que o carro se arrastava no chão. Eu ia pousada dentro do caixote com as perninhas encolhidas. Imitava estar viajando.   Meu irmão puxava o caixote por uma corda de embira. Mas o carro era diz-que puxado por dois bois.   Eu comandava os bois: - Puxa, Maravilha! - Avança, Redomão!   Meu irmão falava que eu tomasse cuidado porque Redomão era coiceiro.   As cigarras derretiam a tarde com seus cantos. Meu irmão desejava alcançar logo a cidade - Porque ele tinha uma namorada lá. A namorada do meu irmão dava febre no corpo dele. Isso ele contava.   No caminho, antes, a gente precisava de atravessar um rio inventado. Na travessia o carro afundou e os bois morreram afogados. Eu não morri porque o rio era inventado.   Sempre a gente só chegava no fim do quintal E meu irmão nunca via a namorada dele - Que diz-que dava febre em seu corpo.       Ouça o poema CANTIGAS POR UM PASSARINHO À TOA, de MANOEL DE BARROS, lido por Lia Mello, de um  CD para deficientes visuais.:  BARROS, Manoel de. Cantigas por um passarinho à toa.  São Paulo, SP: Fundação Dorina Nowill para  Cegos, [2016?] Patrocínio Bradesco / Libbs.   Ministério da Cultura.  CD MP3.  Poema lido por Lia Mello. Tempo: 2:32 minutos. “Manoel de Barros”  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília.      RECOMENDAMOS
 Ler é saudável. Também em livros!!! Manoel de Barros é um menino que cresceu,  envelheceu e, no entanto, continua tão jovem na sua criatividade! E nos brinda  seu talento com livros. Foi ele que disse: “Tudo o que não invento é falso”  querendo nos ensinar que as coisas só existem para nós quando as reinventamos.  Ler é uma forma de reinventar o mundo.
          Manoel  de Barros escreve “proesia”, uma combinação de poesia e prosa. Gostoso de ler.  Escolhemos um poema de seu livro “MEMÓRIAS INVENTADAS para crianças”.  Só um por causa dos “direitos autorais”, mas  aqui leiam outro na livraria..., outro numa biblioteca e, se puderem, comprem o  livro!!! Vale a pena. DeManoel de Barros
 MEMÓRIAS  INVENTADAS
 para crianças
 Iluminuras de Martha Barros
 São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010.
 31 p. ilus. capa dura - ISBN  978-85-7665-559-6
           PERALTAGEM
 O canto distante da sariema encompridava a tarde.
 
 E porque a tarde ficasse mais comprida a gente sumia dentro dela.
                     E quando o grito da mãe nos alcançava a gente já estava do outro lado do rio,                     O pai nos chamou pelo berrante.                     Na volta fomos encostando pelas paredes da casa pé ante pé.                     Com receio de um carão do pai.                     Logo a tosse do vô acordou o silêncio da casa.                     Mas não apanhamos nem.  E nem levamos carão nem.                     A mãe só que falou que eu iria viver leso fazendo só essas coisas.                     O pai completou: ele precisava de ver outras coisas além de ficar ouvindo 
                    só o canto dos pássaros.                     E a mãe disse mais: esse menino vai passar a vida enfiando água no espeto!                     Foi quase.   Comentando...   O menino Manoel  era um peralta. O poeta Manoel, já adulto, continua um peralta... escrevendo  versos que contam sua infância. Escrevendo suas memórias de menino no Pantanal  onde ele nasceu, do jeito como eles falam por lá...  Agora é a vez de você contar também. Invente a  sua história. Como disse o poeta, tudo o que a gente não inventa é  falso...  A.M. 
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