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propósito
Poema de Antonio Miranda
Dê-me a mão
a ver florescer o mandacaru,
a ver o algodão brotar da terra,
Os agaves enfileirados militarmente,
agressivos, apontando suas espadas.
Venha ver o São Francisco
colossal, encurralando em Paulo Afonso
esparramado mais adiante:
e é o mesmo rio!
O da garganta rouca e trêmula
e a placidez
sob a alvura dos saveiros
— triangulares, arquejantes velas,
em Propriá, em Penedo.
Eu te quero mostrar
desta janela em hotel beira estrada,
desta casas de estudantes,
desta pensão gaúcha,
deste albergue noturno em Curitiba,
ou desta rede de pouso
a cara íntima de minha gente.
Sem estabelecer horários,
sem organizar rígidos itinerários
como as agências de turismo,
porque a gente que buscamos
resiste aos protocolos,
odeia toda burocracia,
deve ser vista de surpresa
e sem compromissos.
Depois vejamos Mossoró:
o gesso em que forjamos os homens,
o sal com que os temperamos
e a carnaúba,
abanos da seca,
e o abandono da terra,
agreste, cactosa, por reflorestar.
É inverno
e também há chuvas,
raras, com precipitação gaga
e acidental:
para o monopólio da terra,
alheia à exploração do sol
(curtindo o dorso nu dos salineiros).
Mossoró, RN, 19.02.1963
Escrito em viagem aos 22 anos de idade.
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