|   TEXTO  EM PORTUGUÊS E ESPAÑOL (Tradução de Aurora Cuevas Cerveró)   OS NERVOS DA MEMÓRIA
 de ANTONIO MIRANDA
 Pintura de Jomadi  (MG)   É quando a memória  me impõe suas condições, me contradiz, refaz  situações que relegam ao  esquecimento. Desencontros,  desconsolos, descalabros.   Recupero detalhes  que nem percebera antes! Aparta de mim estas  evidências!   Revejo o que nem  havia visto! Basta! Quero escapulir  pela tangente, pelas mãos do amor  que já esqueci e que era único,  definitivo, insubstituível. Às calendas!   Que não venham as  amargas lembranças que eu releguei ao  esquecimento, mas que afloram  como cogumelos.   Que ressuscitem as  paixões que me incendiaram até se desvanecerem  em situações tão adversas. Não  aguento mais! Quero recuperar o  que mais queria e me vem o que mais  desprezei.   A memória é infensa  aos meus apelos (tem nervuras  sensíveis: contradizem minha  vontade) e me devolve o que  já ruminei e vomitei tantas  vezes.       LOS NERVIOS DE LA MEMORIA    Es cuando la  memoria me impone sus condiciones, me contradice,  rehace situaciones que relegará al  olvido. Desencuentros,  desconsuelos, descalabros.   ¡Recupero detalles  que ni percibía antes! ¡Aparta de mí estas  evidencias! ¡Reveo lo que ni  había visto! ¡Basta! Quiero salirme por  la tangente, por las manos del  amor que ya olvidé y que era único,  definitivo, insustituible. ¡Las calendas!   Que no vengan los  amargos recuerdos que relegué al  olvido, pero que afloran  como hongos.   Que resuciten las  pasiones que me incendiaron hasta desvanecerse  en situaciones tan adversas. ¡No  aguanto más! Quiero recuperar lo  que más quería y me venga lo que  más desprecié.   La memoria está  indefensa ante mi apelación(nervaduras sensibles:
 contradicen mi  voluntad) y me devuelve lo  que ya rumié y vomité tantas  veces.       Extraído de:    MIRANDA,  Antonio.  Del azul más distante.  Do azul mais distante.  Edición bilíngue  Traducción y prólogo de Aurora Cuevas Portada:  José Maria Pérez de Zamora. Madrid: Saceda, 2008.  ISBN 978-84-612-6116-1   Comentário sobre o  poema:     A  propósito, gostei da viva e desconcertante poesia de Do Azul Mais Distante, que  li nas duas versões, a saber, o original e a tradução da nossa amiga Aurora  Cuevas. Desfrutei, assombrado, da companhia de romeiros e rameiras, hereges e  degenerados, em pensões soturnas e noites prateadas e premonitórias. Escutei,  perplexo, os estranhos desígnios, vaticínios e litanias do Padre Fernandes.  Assisti, estupefato, às estrepolias do Nelson Teixeira, sátiro fornicador sob o  sol escaldante de terras ínvias alucinadoras. Gostei especialmente do poema Os  Nervos da Memória. Seguirei lendo sua primorosa poesia.  MÁRCIO CATUNDA, Madri, 18 jan. 2013   |