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 O  PAÍS DO/DE FUTURO   Poema de Antonio Miranda  *Foto de Márcio José de  Souza
 
 “o hábito nacional de deixar tudo para o dia seguinte”.
 MÁRIO DE ANDRADE.
 
 
 Eterna  nação do futuro! 
 Sem noção da própria história
 talvez por falta de memória.
 
 É que estamos ligados à terra
 e a terra é sempre o cotidiano
 em renovação
 com tudo que ela encerra:
 (uma questão de meridiano)
 luz, (in)salubridade, brotação
 - nascer e renascer a cada ano
 mas, por opção
 preferimos o pôr-do-sol
 aos arrebóis.
 
 Seres diurnos
 mas de hábitos noturnos
 sob os lençóis da madrugada
 amancebada.
 
 Stephan Zweig a falar de futuro!
 
 E com toda razão...
 não cultuamos heróis:
 vivemos de premonição
 enquanto os fatos históricos
 viram meras efemérides
 — que eufemismo!!!
 são datas oficiais
 — nunca pessoais, entranhadas.
 
 Nada sabemos da Independência
 e de sua conseqüência
 e a tal da Abolição da Escravatura
 ficou mesmo na assinatura.
 
 Em quem votamos
 nas últimas eleições
 (sem melhores opções)?
 
 Indiferentes a qualquer governo
 - em que nunca confiamos
 nem creditamos esperanças –
 pois não acreditamos em políticos.
 
 Entre nós, o caudilhismo
 fracassou
 enquanto prosperou nas vizinhanças.
 
 Sobreviveu ao coronelismo
 do voto de cabresto,
 pois votamos de arresto
 compulsória e obrigatoriamente.
 
 “Este futuro é sermos tudo”
 vaticinou Fernando Pessoa.
 
 O futuro é termos tudo
 que o passado nos l(n)egou.
 
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 Faz parte  do projeto TERRA  BRASILIS - poema-ensaio sobre o espaço, o tempo e os valores do  Brasil.
 *“O representante do Brasil, foto do jovem  MÁRCIO JOSÉ DE SOUZA, , participante do  Projeto Vamos Bater Foto, em exposição na Biblioteca Nacional de Brasília, em outubro  de 2007, realizado com a curadoria das fotógrafas Andrea Aymar e Regina Santos.       
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