EDSON GUEDES DE MORAIS 
Fotografia impressa  pelo Poeta, contista, artista plástico  
e editor paraibano, nascido em Campina Grande (PB)m nasci em 1930. Falecido em 24  de outubro de 2024. 
 
 
Prosa líquida com algo de pecuária 
                     
                    O  meu amor se consome 
                      em  gestos vagos 
                      imprecisos, 
                      à  tua quase indiferença, 
                      em  meus próprios gestos 
                      tímidos 
                      esconde  e se reprime meu amor. 
   
                      Há  quase um abismo 
                      entre  nós: 
                      todos  os convencionalismos do mundo, 
                      e os nossos, 
                      mas  há também uma sequência 
                      assim  delineada tenuemente 
                      de  sorrisos breves 
                      e  um sem-fim de pensamentos. 
   
                      É  a vida que burla de nós: 
                      somos  como as vacas 
                      —  que ruminam seu pasto à noite —, 
                      ensimesmadas 
                      com  menos dignidade talvez, 
                      porque  elas são vacas sem que o saibam. 
   
                      Há-que  descobrir por trás dos gestos 
                      o  que eles representam, 
                      não  o amor de todos os dias 
                      mas  esse que nasce 
                      e  esvai-se em pensamentos. 
   
                      Talvez  um platonismo 
                      —  não importa sabê-lo, 
                      mas  senti-lo — 
                      como  a água que nas folhas 
                      desliza  e seu passo 
                      é  memorizado, se não o é, 
                      pelo  menos — para as folhas — 
                      sorvedouro  vital.   
 
                                          Rio de Janeiro,  15-10-1962 
                                                  
                
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