| RENATO NUNES (1932 -    Renato Barros Nunes nasceu em  Laranjeiras, Sergipe, no dia 31 de janeiro de 1932, é um dos fundadores do  Clube Sergipano de Poesia.
               MARALTO      
                           a pedra bateu na  bússolae  o norte caiu no mar
 dia  no céu — todavia
 não  é sol o sol não há
           a pedra bateu na bússolae  o norte caiu no mar
 chegar  na hora — embora
 não  saiba por onde vá
           o  fim da tarde não tardao  corpo quer descansar
 quanto  mais o barco avança
 mais  perto de não-chegar
           —  será que o porto recua?O  sol que vi já é luar
 e  o barco cego navega
 navega  por navegar
           —  o farol de que falaramainda  está no lugar?
 Onde  a noite é mesmo noite
 não  é em terra — é no mar
           Você  que pesca alta noitenas  brumas do alto mar
 veja  se pesca meu norte
 pois  eu preciso chegar
           são  pequenas grandes coisastão  próprias do navegar:
 —  a pedra bateu na bússola
 e  o norte caiu no mar
                           (De Ferramenta azul – 1964)                 POEMA À BEIRA DO TUMULTO     eu que não sou o alfa nem o ômega mas apenas uma letra esgarranchada
 
 eu que não sou o princípio nem o fim mas apenas um meio circulante
   eu que não fui não sou nem serei mas apenas uma admissão de possibilidade   vos digo que a preocupação é as fezes de todo dia  findoe adubo fresco que fecunda a hora
   desmontei peça por peça o meu relógio e não encontrei a verdade
 porque a verdade ficou retida na alfândega
 antes mesmo de existir o mar
   ah o amor! esse desamar desaguar lágrimas em esgrimas continuo lutando
   sol lembra praia como peixe esta parede azul pois a praia é um tabuleiro de decúbitos
 onde onda e areia
 cometem entrevistas cenas lésbicas
   quero somente o que não possam tomar:o sol e o mar
   no dia em que a bomba cair no meu quintal abrirei um poço
 pois a oportunidade azeita a vida dos que já nascem  com engrenagem
   um corredor é um corredor enquanto houver parede não será isso subestimar o chão? a ideia não é como desce ao subsolo em pleno vôo   deus  perdoe o meu perdão porque os meus pecados se renovam (evitar cansaço)   comem as lagartas folhas de pagamentopor trás desta cerca $+$+$+$+$+$+$+$
 morre uma natureza cifrada
   à beira do tumulto peremptório ergue-se este poema tumultuoso
 como um tapa-boca violento
 com mira de revólver em cima
                         Out. 1966                  (Do livro Poemas de Pedro Álvares Cabral - 1968)       Página publicada em janeiro de 2020      
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