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 HERMES FONTES(1888-1930)
   Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes (Buquim,  Sergipe, 28 de agosto de 1888 – Rio de Janeiro, a 25 de dezembro de 1930) foi  um compositor e poeta brasileiro. Fundou o jornal Estréia,  com Júlio Surkhow e Armando Mota, em 1904, no Rio de Janeiro. Formou-se  bacharel em direito em 1911, mas não exerceu a profissão. De 1903 ao final da  década de 1930 colaborou em periódicos como os jornais Fluminense, Rua do  Ouvidor, Imparcial, Folha do Dia, Correio Paulistano, Diário de Notícias e as  revistas Careta, Fon-Fon!, Tribuna, Tagarela, Atlântida, entre outras. Foi  também caricaturista do jornal O Bibliógrafo. No período, trabalhou como  funcionário dos Correios e oficial de gabinete do ministro da Viação. Em 1913  publicou seu primeiro livro de poesia, Gênese. Seguiram-se Ciclo da Perfeição  (1914), Miragem do Deserto (1917), Microcosmo (1919), A Lâmpada Velada (1922) e  A Fonte da Mata... (1930), entre outros. A poesia de Hermes Fontes é de  estética simbolista.  Fonte da biografia:  Wikipédia Veja também: POEMA VISUAL de Hermes Fontes TEXTOS EN  ITALIANO     FREIRE, Laudelino.   Pequena edição dos Sonetos brasileiros. 122 sonetos e retratos.   2ª. edição augmentada.  Rio de Janeiro: F. Briguet  e Cia. Editores,  1929. 256 p.  12,5x16 cm.  capa dura  Impresso na França por  Tours  Imp. R. et P. Deslis.        N.  06 642Exemplar da biblioteca de ANTONIO MIRANDA
                                      A  AGONIA DA VELA 
 —  Hastil branco a florir em luz e flamma; esguio
 Lirio secco, que o vento aniquilar promette,
 Ha uma véia a esvair-se... E isto, deve-o ao pavio
 — Eixo e alma do seu corpo alvo de espermacete.
 
 Desde acceso o pavio, eil-a que se derrete;
 Chamma — parece ter arrepios de frio...
 Dir-se-ia uma criatura, alanceada das sete
 Dores da Virgem-Mãe, lacrimejando, a fio...
 
 É um ser anêmico esse objecto inanimado :
 Arde o pavio, se, entretanto, o que se esvae é cêra...
 — Soffre a alma e o corpo é que se faz debilitado...
 
 É uma agonia humana... Um suor febril escorre.
 E — tal o humano ser desmaiara e morrera,
 A vida tremeluz... Vai desmaiando... Morre.
 
 
  SUPERSTIÇÃOH.F. *
 “As duas  iniciais do nome a que respondo(e é pena que, horas e horas, me atarefe
 nesta superstição!),
 as duas iniciais do meu nome — H.F. —,
 tem um símbolo bom, junto a símbolo hediondo,
 um destino de herói e um de vilão:
 Há no H uma escada, um degrau de subida<
 uma vaga noção de arquitetura
 interrompida.
 O F é, porém,,
 forca...  poste fatal...  marco do fim da Vida...
 guindaste de almas para a sepultura,
 para a eterna Altura,
 para o Além...
 Para subir à  forca do meu Ftenho ao lado uma escada — o meu H.
 Carrasco, magarefe,
 alto lá!
 alto lá!
 Por suas iniciais, meu nome ensina
 a não temer pressentimentos vãos.
 Ergástulo, fogueira, guilhotina,
 cicuta, ópio, ou morfina...
 — Quem sabe a sua sina?
 — Quem sabe lá se há de morrer por suas mãos?”
 *H.F., isto  é, Hermes Fontes. Poema de “música pós-simbolista ou pré-modernista”, espécie  de “melo-fanopéia gráfica” no entender de Décio Pignatari em seu livro PIGNATARI,  Décio. Comunicação poética. São Paulo: Cortez & Moraes, 1977, à  página 41-42..   TODOS  TÊM SUA GLÓRIA...   Ó  glória, glória triste, excelsa glória,  irmã  do amor e da felicidade!  Visão  miraginal da trajectória  curta  de nossa curta Mocidade!   Só  se logra alcançar-te, à merencória  luz,  quando a alma de ti se dissuade  e  não és mais o que és, pois a memória  do  que foste, é que é gloria, de verdade.   O  glória que eu julgava inatingível,  se  és apenas a fama, e o amor é apenas  a  posse corporal de urna mulher...   Que  vos valeu penar as grandes penas  de  sonhar que eras quase um impossível,  se  és um sonho ao alcance de qualquer?!                     (de A  Fonte da Mata...)     PERFEIÇÃO   Tanto  esforço perdido em ser perfeito!  Em  ser superno, tanto esforço vão!  Sonho  efêmero; acordo e, junto ao leito,  a  mesma inércia, a mesma escuridão.   Vejo,  através das sombras, um defeito  em  cada cousa, e as cousas todas são,  para  os meus olhos rútilos de eleito,  prodígios  de impureza e imperfeição!   Fico-me,  noite a dentro, insone e mudo,  pensando  em ti, que dormes, esquecida  do  teu amargurado sonhador...   Ali,  Mas, se ao menos, imperfeito é tudo   salve-se,  as mil imperfeições da vida,  a  humilde perfeição do meu amor!     Suave  Amargor    Sofrer  é o menos, minha suave Amiga; todos  têm sua cruz ou seu cajado —  cruz de dor, ou cajado de dever...   Este  é sereno; aquele se afadiga: um,  só pelo desejo contrariado, outro,  por esperar, sem nunca obter.     Tudo  muda, dirás... Mas, certamente, não  muda a luz: — vem sempre do Nascente para  o mesmo calvário de Sol-Pôr!   Sofrer  é o menos... A dificuldade é  sofrer sem protesto e sem rancor; é  morrer sem tristeza e sem saudade:   Morrer,  de olhos em Deus, devagarzinho, ciciando  uma palavra de carinho aos  que vivem sem fé e sem amor...     Jogos de  sombras     Sempre  que me procuro e não me encontro em mim, pois  há pedaços do meu ser que andam dispersos nas  sombras do jardim, nos  silêncios da noite, nas  músicas do mar, e  sinto os olhos, sob as pálpebras, imersos nesta  serena unção crepuscular que  lhes prolonga o trágico tresnoite da  vigília sem fim, abro  meu coração, como um jardim, e  desfolho a corola dos meus versos, faz-me  lembrar a alma que esteve em mim, e  que, um dia, perdi e vivo a procurar nos  silêncios da noite, nas  sombras do jardim, na  música do mar...     A  cigarra      Não,  orgulhosa! não, alma nobre e vadia, nunca  foste pedir migalha ao formigueiro! Dessedenta-te  o sol e te nutre a alegria De  viver e morrer cantando, o dia inteiro...    Que  infâmia ires ao vizinho celeiro tu,  que tens o celeiro universal do Dia, e  preferes morrer queimada em teu braseiro íntimo  a renunciar a tua fantasia!    Não!  tu és superior ao código e ao compêndio, à  Economia, ou à Moral. — Aristocrata, crês  que prever miséria é já um vilipêndio.    Primadona  pagã do Jardim e da Mata, trazes  dentro em ti mesma, em teu constante incêndio, a  luz, que te alimenta e o fogo, que te mata...         TEXTOS EN  ITALIANO       Extraído de MIRAGLIA, Tolentino.  Piccola Antologia poetica brasiliana.  Versioni.  São Paulo: Livraria Nobel, 1955.  164 p.   Ex. bibl. Antonio Miranda    ORO... Oro  è gloria, oro è forza, oro è ventura. Miracolo rifuso in talismano !
 — Causa di tutto il ben  che si procura;
 Ragione dei viver fugace e vano.
 Ed  io, modesta umil creatura, Disdegno Lloro . . . Vivo nell’arcano,
 Sognando un sogno che mi trasfigura
 In fulgido mattin l'animo insano !
 Si, di tutti i  tesori io riderei,Sol per aver, nel turbinio dei mondo,
 Uocchio di Médio, ch'avvicina Dio.
 E nel mio ideale,  bramereiPoter sapere il tuo pensiero a fondo,
 Ma che Nessuno penetrasse il mio!
   BUENA DICHA La maga  mi guardó e poi mi disse :— Brillarai. Amarai. E soffrerai. —
 Era bambino, qunando ciò predisse,
 E non passati giá vent’anni, ormai . . .
 E come, per  saperlo, si prefisse Il suo destino, di docezze e guai,
 Volle brillare, volle amare e visse
 Chi, alla vecchiezza,  si scordasse i  lai.
 Per  brillare-la gloria chiesi all’arte. Per amar-chiesi il bene  dell’affetto.
 Per soffrire, la croce, con fervore.
 Ma la gloria  mancó. E, d'altra parte, Menti l’amore. Tutto menti . . . eccetto
 Degl’imortali il padre, ch'è il dolore !
   LA FORMICA E dicon che non  hai nervi, o nervosa, Vibratile, minuscola formica !
 Pensano che anima non hai. Lo dica
 L'esempio che ci dai, in ogni cosa.
 Cosi piccola,  attiva, laboriosa, Porti le foglie, nella tua fatica,
 Od i maturi chicchi delia spica
 E ricami la foglia delia rosa.
 Tu  passi, ed un confronto mi riporta A Atlante, ch'erge il mondo sulle mani;
 Alla formica, che quel chicco porta
 E al sognator,  che invano lotta e spera, Giomo e notte, lo splendido dimani,
 Al peso emozional d'una chimera.
   FONTES, Hermes.  Arquejo. Jaboatão, PE: Editora Guararapes EGM, 2015.  29 p.   20x13,5 cm.  Editor: Edson Guedes  de Moraes.  Ilus. col. edição  limitada.  Inclui os textos críticos:  “Hermes Fontes – poeta da fonte da mata”, por Luiz Antônio Barreto; “Hermes  Fontes e o símbolo silenciado”, por Caio Cardoso Tardelli. Ex. bibl. part.  Antonio Miranda. Veja -book:     https://issuu.com/antoniomiranda/docs/hermes_fontes   
 TEXTO  EN ESPAÑOL                  LA ESTRELLA DEL ALBA          El día se aproxima... ¡oh rubía Estrella del Alba,Escudera  del sol, cuya vanguardia asumes!
 A  tu beso estelar se siente el alma salvaaaa,
 Cuando,  azules linternas, las luciérnagas sumes...
              Por el llano del Aire huye la Noche malva,Se  van los astros... sola sonríes, te presumes
 Una  unánime salva de palmas, una salva
 De  pétalos, sonidos, colores y perfumes...
              ¡Estrella  del Alb, hermana, novia de soñadores!Copa  donde los ojos, contra el mal, van bebendo
 Remedios  inmortales y purificadores...
             Etéreas brumas, regia novia, te están  ciñiendo;Es  un velo nupcial que, preñada de flores,
 La  Tierra, por tu luz rubia, te está ofreciendo...
 
                             Traducción de ÁNGEL CRESPO       Página publicada em  maio de 2009, Página  republicada em dezembro de 2015 
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