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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 

ARARIPE COUTINHO

 

 

Nasceu no Rio de Janeiro em 1968 mas vive em Aracajú, Sergipe, desde 1979, onde é articulista de jornais e apresentador de programa de TV. É autor de meia dúzia de livros de poesia. Recebeu os títulos de Cidadania Aracajuana e Sergipana e é membro da Academia Sergipana de Letras. Foi diretor da Biblioteca Pública Municipal.

 

Encontramos um exemplar do livro de Araripe Coutinho — “O DEMÓNIO QUE É O AMOR”  entre os muitos títulosos que o poeta Aricy Curvello doou para a Biblioteca Nacional de Brasília. Em boa hora. resgatamos este poeta de linguagem atual e instigante, de uma região que freqüenta pouco nossa página até o momento.

Faleceu em 2014

 

 

XLII

 

Adentro avesso e o reto

É vulva aberta, mucosa

No inferno de nossos dentros.

 

Espeto o desejo como quem

Procura o risco, o medo, a coragem

De avançar perdido por algo que sei

Desde a infância, aurido.

 

Homem é sempre treva. Mas pode

Trazer o mundo para dentro de nós.

E a arte nessa selva é sempre

A morte.

 

Invento de muros. Paredes altas.

Consumo de felicidades mortas

E a maçã no escuro é Clarice

Sem decifrar GH, seu mito.

 

Estou apodrecendo como

Quem constrói uma catedral

Sem missa. Assim rendido no portal

Avanço sempre que me vejo.

 

Sou um mesmo homem

Que não conhece deus, mas que o ama.

Seria o amor assim? Este nunca vir.

 

Sim. É desejo o que me mata.

São negros e azuis e o quarto cabe

Cada um com seu poder.

 

Eu sempre rendido.

 

 

XL

 

Aparecer no espelho e dizer: morra!

Este é o meu tempo. Fantasmas visitando

O quarto escuro. Uma mulher de unhas longas

Tez avermelhada, sombrancelhas de chagas

Mal dormidas. É a morte. Ainda que o dia

Amanheça a noite nunca chega.

Estou tateando a ogiva de um amor sem matéria.

Carregando o andor de um santo sem fé.

É minha esta prece. É vasta, solene, quase muda.

Entendo a morte como a um copo de café.

Sirvo as compotas de frutas uma a uma.

É jambo, ameixas e morangos.

Nenhum sabor

Decifra esta ira. Estou incendiado

Desde amor.

 

 

XLIV

 

Tenho dito sempre

Que genet e Jeanne moreau

Estão certos: “todo homem mata aquilo que ama”.

Os negros na vidraça ensaboados

E o quarto aguardando bater seis horas.

É deu visitando a estrebaria.

Pondo fogo no feno, impedindo que se durma

Ao longo de uma costela larga.

Mas pode o desejo fraturado

Acender outra chama? Pode.

Desce as escadarias. Põe o colchão

De sombras na varanda. Deixa os glúteos

À mostra. Concentra o verde da vida

Entre os lábios. Deserta a última

Claridade. É ele quem ama.

Mesmo escuro põe vida nas coisas.

E inflama.

 

 

 

COUTINHO, Araripe.  Do abismo do tempo.  Aracaju, SE: Sercore Artes Gráficas, 2006.      s.p.  21x18 cm.  Capa: Heyder Macedo.  “Araripe Coutinho “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Quero dizer que aprendi morrendo

 

Quero dizer que aprendi morrendo
E que o púrpura-jade

Do teu casaco quase

Emprenha o meu vazio de afeto.

 

Recebe de mim

Aquilo que conduz o nada
Conhecida que sou

Em juntar teus trapos

 

Para só depois sim
Amarrar o cadarço
Da nossa desolação.

 

 

Órfão de Deus

 

Órfão de Deus

Porque é preciso perder
O homem

No emaranhado de teias
Que se desfaz.

Dentro de mim
Trafegam orfanatos
Extensos corredores
Antigas casas.

Órfão é tudo

O riso, o sexo, a vida.

Pôr para dentro esta ferida rasa.
Deitado no Teu colo.

Órfão de Ti.

Nunca desamparada.

 

 

Entrega-te como quem vai morrer ...

 

Entrega-te como quem vai morrer.
E não te distanciarás

Do átrio onde um dia

Viveste o teu triunfo.

A tua morte apenas um pretexto
De não amar. Incansável corpo
Que te visita exausto.

Enfrenta o dentro corroído,

O que não deixa. Devora

E vai construindo ilhas

Como quem passeia por uma
Casa de pássaros. Norteia.

E passa como quem não tem
Mais medo. Estertor redobrado
De agonia.

 

 

O que comemos ...

 

O que comemos devolvemos
Sem ira. Tudo é da terra.

Adubo e esterco vão do intestino
Até a raiz da planta

Que devolve bela a folha
Verde que também morrerá
Depois da infância.

Uma folha não dura mais

Que um mês e se segura a flor
Desencanta. Até para o antúrio
Pesa carregar beleza e lírio.

O que comemos de saboroso
Planta em nós mesmos um
Deserto de sangue. Este jorro
Vermelho só precisa do sêmen
Do trigo para manter

O coração vivo.

O que comemos é espanto.

 

 

 

 

 

ANTOLOGIA DA NOVA POESIA BRASILEIRA . Org. Olga Savary. Rio de Janeiro: Ed. Hipocampo, Fundação Rioarte, 1992.   334 p.   ilus    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

                AMOR SEM ROSTO

A noite traz em sua alma
uma agonia de poeta louco
as horas por si se desmancham
eu mancha dessas horas
reclamo pela fome do ontem
amor amar o nada
este abismo de tudos
mudo eu mudo só
hei de juntar os lados
há noite em ferrugem sobre os lábios
carrego um dragão no peito
(fruto de adultério da morte com a poesia)
asia se eu morre de amor
sei que sou um deus ateu
odeio berceuses
adeuses para mim é licor
por isso fantasio o medo
finjo o beijo que não é seu
mas o que fazem os homens
que não são meus?
Pesam-me os dedos da mão
o hábito de roer a dor
ser ator do meu próprio espelho
eu não decifro a morte
engulo
e quando paro
calo.

 

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2008. Ampliada em dezembro de 2015. Ampliada em setembro de 2020



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