|   Marselha,  França, julho de 2008 REYNALDO BESSA   Cantor, compositor,  violinista, escritor e poeta. Nasceu em Mossoró-RN. Está radicado em São Paulo  há duas décadas. Lançou cinco CDs, um deles é o “Com os Dentes”, contendo  músicas suas sobre poemas de autores clássicos e contemporâneos. Bessa tem  contos e poemas publicados em revistas, antologias e suplementos literários por  todo o país. “Outros Barulhos – poemas”, seu primeiro livro, ganhou o 3º lugar  no Prêmio Jabuti de 2009. Página do autor: www.reynaldobessa.com.br “Bessa é poeta. Pelas comparações novas. Pelo tempo de descrever, e, açaima  de tudo, de se calar na hora certa. “   Fabrício Carpinejar “Pressentir para sentir. Outros Barulhos.  Prensar-pensar Outros Barulhos. Habitar até pulsar Outros Barulhos. E entender  não Outros Barulhos de Reybaldo Bessa: sentir, pensar, pulsar, pulsar os seus  próprios barulhos. E ler Reynaldo Bessa como passagem de encontro à sua própria  vida em busca do mundo novo e do eu. O ser humano.” Wilmar Silva
 “Reynaldo Bessa concorreu com os maiores da nossa poesia até chegar ao 3º.  lugar do Prêmio Jabuti, e saiu na frente... melhor não citar nomes. É fácil  entender a razão (justa) do reconhecimento: um texto emocionante, aparentemente  despretensioso, mas pungente, numa autobiografia reinventada, entre surreal e  cruelmente realista. Linguagem contemporânea, sem rebuscamentos retóricos, sem  apelar para os coloquialismos banais e os barroquismos excessivos de outros  autores que locupletam blogues e revistas literárias. Barulho é o que não falta  na obra do jovem potiguar. Se não bastassem os versos criativos e definitivos,  é compositor e exibe uma voz emocionante, com aqueles desdobramentos sonoros  que apenas os nordestinos trazem em sua musicalidade.”  Antonio Miranda    TEXTOS  EM PORTUGUÊS E INGLÊSTradução de Sérgio Ivanchuk
 
 DeReynaldo Bessa
 Outros Barulhos.
 Poemas.
 Belo Horizonte: Anome Livros, 2009
 ISBN 978-85-98178-15-0
   uma  noite  minha  mãe puxava-me  pela mão  éramos  quatro; eu,  ela, o medo e a pressa disso  lembro-me bem enquanto  os três conversavam eu  pregava os olhos nos olhos tristes das casas e me  dava uma tremenda vontade de perguntar"mamãe, o que elas têm?"
     one  night  my  mother  grabbed  my hand  we  were four; me,  her, fear and rush I  can remember that...perfectly while  the three talked I  was staring at the sad houses' eyes and I  really wanted to ask "Mom,  what's their problem?
   como  figurinhas coladas no  horizonte, navios  iam e vinham parados, fugiam  dos nossos olhos da  margem, da terra, de longe, de  muito longe eu embarcava neles, pedindo; navios,  navios, me levem a lugar nenhum. 
   like small pictures sealed on the horizon, ships came and left - still they  ran away from our eyes the  border, land, distant places, I  used to be on board far far away, begging; ships, ships, take me nowhere.     quando  cai da rede vi  que eu existia mesmo minha  mae apareceu no umbral da porta logo,  meu pai, nu, nasceu de uma sombra e a puxou ele  queria terminar de foder com ela, e parece  que comigo também os  dois, silenciosamente, desapareceram na sombra vi  que eu nao existia mesmo quando  cai da rede.     when  I fell from the hammock I  realized that I really existed My  mom came by the door Soon,  my daddy, naked, was born by a shadow and took her away he  wanted to finish fucking her, and me — it seemed. both  vanished in the shadows silently then  I saw I did not exist at all when  I fell from the hammock     quando  eu tinha oito anos descobri  o tempo. ele  estava numa plaqueta, numa  mercearia dizia:"  fiado só amanhã" foi  aí que percebi que o tempo não  posa para fotos   when I was eight found  out the time it  was on grocery store warning sign: "buying  on credit only tomorrow"  then  I realized that the time  does  not stop to take photos
   um dia caminhei descalço por entre as poças  deixadas pela chuva.  meus pés balançavam as estrelas,  baldeava o céu relampejava e eu não tinha medo.  como pode alguém com fome  ter medo de relâmpagos?
   one day barefoot I walked among puddles left by the rain my feet shook the stars, poured the sky there were lightning bolts and I was not afraid.  how can a hungry person  fear lightning bolts?   
 Caderno de Antonio  Miranda com dedicatórias e textos poéticos de amigos coletados durante  encontros literários de 2009 a 2012
 
 
   Página publicada em  fevereiro de 2009       |