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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



PÉRICLES EUGÊNIO DA SILVA RAMOS

(1919-1992)

 

 

(Lorena SP 1919 - São Paulo SP 1992). Poeta, tradutor, ensaísta, crítico literário e professor. Forma-se na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em 1943. Três anos depois, estréia com o livro de poemas Lamentação Floral. Funda, em 1947, com outros escritores e poetas, a Revista Brasileira de Poesia, divulgadora dos preceitos estéticos da chamada Geração de 45. Assina por vários anos a coluna de crítica literária do Jornal de S. Paulo, Correio Paulistano e Folha da Manhã. Dedica-se ao trabalho de tradução, sobretudo de poemas, verte assim para o português composições de William Shakespeare (1564 - 1616), Stéphane Mallarmé (1842 - 1898), François Villon (ca.1431 - 1463) e Luís de Góngora (1561 - 1627), entre outros. Produz ainda uma série de antologias da poesia brasileira e é responsável pela edição da obra poética de Francisca Júlia (1874 - 1920) e  Álvares de Azevedo (1831 - 1852). A partir de 1966, leciona literatura portuguesa e técnica redatorial na Faculdade de Comunicação Social Cásper.

 

Fonte da biografia: www.itaucultural.org.br

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS    -    TEXTOS EN ESPAÑOL

TEXT IN ENGLISH

 

RAMOS, Péricles Eugenio da Silva.  Lamentação floral (poemas).  São Paulo: Editora Assunção     Limitada, 1946.  13x19,5 cm.  92 p.  “Desta edição em papel Westerledger, os primeiros cem exemplares, fora de comércio, foram numerados e assinados pelo autor.”  Ex. n. 26 na bibl. Antonio Miranda.  “ Péricles Eugênio da Silva Ramos “

 

 

O MUNDO, O NOVO MUNDO

 

Porque tentasse decifrar os signos da matéria,

com seu rumor de concha sob a forma silenciosa;

porque sem olhos se entregasse a tal empenho,

feriu os pés à margem do caminho,

dilacerou as mãos nas grimpas da montanha.

 

Um deus, porém —sim, foi um deus! —

penalizado o socorreu no meio da jornada,

oferecendo-lhe, na voz, os olhos com que visse,

as asas com que o vale do mistério transpusesse.

 

E o socorrido canta, e em sua voz um novo Sol gravita,

como o que luz no céu, porém mais quente,

como o que arrasa estrelas, mas sem corpo.

 

Ei-lo que canta, e um novo mar se encrespa;

ei-lo que canta, e um novo homem nasce,

um novo homem sob um novo Sol.

 

Ei-lo que canta; e uma só língua ecoa pela Torre de Babel;

ei-lo que canta!

 

E surge o mundo, o novo mundo, sobre o túmulo da esfinge.

 

 

                                    Lamentação Floral

 

 

MARINHA

 

Quanto esforço prometido,

quantos náufragos ao largo!

Nem sempre as ondas murmuram,

nem sempre arrulhas de amor.

 

Corpo de lenho constante,

meigo batel que conduzo:

infla teu peito de vela,

que as vagas já vêm rolando

escombros de puro céu.

 

Quando os sargaços bailarem

tangidos por vento irado,

remarei sobre teus seios,

galera branca de lua!

Remarei até chegarmos

às praias do novo reino.

 

Penedos, grutas, florestas,

campina rubra de espanto,

de que refúgio valer-me,

se obseda o efêmero prado?

 

Meu sangue é o sangue do mar,

navegarei sem descanso.

 

Nem quero sorte diversa:

quando soar o momento,

virão as noites sem astros,

não sei se em terra ou nas águas;

 

e ficarei para sempre

oculto nas algas frias,

ou perdido como um sonho

nas raízes do cipreste.

 

                     Lamentação Floral

 

 

EPITÁFIO

 

As ondas nascem,

as ondas morrem,

 

num só minuto;

 

mas o pensamento

pode eternizá-las.

 

As rosas nascem,

as rosas morrem;

mas o pensamento

pode concebê-las imortais.

 

Por isso eu vos tirei domar,

ó vagas!

 

Por isso eu vos tirei do lodo,

ó rosas!

Porém vos fiz etéreas e flamantes,

para brilhardes sobre a poeira em que me tornarei.

 

 

                     Lamentação Floral

 

 

ÁRIA ÓRFICA

 

Aragem presa em si mesma

(como a esfera em sua forma)

o arcanjo de antes do corpo

dorme em águas mais profundas;

 

dorme em águas de mistério,

sem pecado ou sofrimento,

ar inquieto antes do caule,

ar inquieto, nunca o lenho.

 

Desconhecido de mim,

fui eu próprio, hoje não sei:

a vida, não seu reflexo,

deixei-a em glebas longínquas...

 

Quem as visse, eis que seria

o mais puro dos mortais:

pois veria, além do tempo,

brilhar a carne das almas;

a carne que exige as cinzas

deste lodo que nos veste.

 

Orfeu deitado nas trevas,

meu olhar é como o sonho:

não vejo, mas estou vendo;

e assim, liberto da tumba,

na alvorada hei-de encontrar-me

junto às portas de meu Reino:

 

— sereno, lúcido e claro,

porém coberto de cinza...

 

 

Sol sem Tempo

                  

 

NAUFRÁGIO

 

Sob as gaivotas lunares

vogam na poeira das ondas

teus seios, folha perdida

frente a um rebanho de praias.

 

E à flor das águas resvala

teu ventre, promessa extinta:

—lamúria de espuma fria

gotejando sal e trevas.

 

Sim, morta quanta esperança

tão noturna como a lua!

 

 

Sol sem Tempo

 

 

A VELHA TIA

 

A velha tia, de tão velho sangue,

quase que a vejo a ler, a vista já cansada,

ou a fazer crochê nas tardes claras,

de grossos óculos e mãos de abelha;

quase que a vejo, quando em pleno Agosto,

numa explosão de pétalas e mel,

o pessegueiro é todo uma só flor,

uma só flor, formada de mil flores cor-de-rosa.

 

E o Amro com que fazia as suas colchas,

ponto a ponto, por meses e por meses,

a linha machucada nas águas

e rosas brancas a nascerem como rendas,

o amor da velha tia, de tão velho sangue,

volta no pessegueiro que nasceu por sua mão,

todo ele uma só nuvem cor-de-rosa,

mais de cor-de-rosa do que as flores das paineiras;

e são seus velhos dias que florescem novamente,

no doce pessegueiro a murmurar de abelhas.

 

E se assim é na terra,

fico a pensar que a velha tia, de tão velho sangue,

a velha tia, tão modesta e resignada,

se céu existe, nele é puro pessegueiro,

aberto em rosa e em favos gotejantes.

 

 

PRENÚNCIO

1

Passa o vento,
as folhas tremem:
a sombra se inquieta.

2

Do topo dos ipês
cai a sombra:
rendada, sonhadora, espiritual.

O sol, os ipês, a sombra;
o tempo, o homem, sua sombra:
breve passagem pela terra,
e a grande sombra,
constelar, definitiva, irmã das pedras.



A noite da memória. São Paulo: Art Ed., 1988.

 

 

 

RAMOS, Péricles Eugênio da Silva.  Lua de ontem.  Poemas.  Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editôra, 1960.  129 p.  14,5x22,5 cm.  “Desta edição, foram tirados, fora de comércio, vinte exemplares em papel Westpost, assinados pelo autor.”  Col. A.M.

 

 

LIVRO DE RUTE

ou

PAUSA IDÍLICA

 

Longe as choupanas, o Ângelus distante,

de volta ao lar caminha Margarida:

nas mãos a erva-cidreira e a flor-de-maio,

ah! Margarida, a suave, a azul-celeste,

a quase paina, idílio dos vinhedos,

pelos atalhos volta Margarida.

 

Pelos atalhos volta Margarida,

as horas tombam, como cinza, pela estrada:

asa sem fel, doçura agreste, olhos de azálea,

Margarida regressa mansamente,

lançando à poeira a sombra de seus passos.

 

Lançando à poeira a sombra de seus passos,

Margarida regressa: branda regressa,

ao vento desfolhando os ramos de melissa:

e atrás de Margarida vai a noite,

cheia de estrelas como as palhas do arrozal;

e junto à noite, familiar, o desalento,

balindo como ovelha sem abrigo.

 

Balindo, ovelha triste!

                                                 Margarida pára,

e sem razão se põe a soluçar,

e chora, e chora sempre, ténue nostalgia,

azul-celeste à luz dos pirilampos...

 

 

FUGA

Penso nos dias de outrora:

risos, domingos. E neles
teu perfil e teus castelos,
tuas histórias e viagens.

Não me quiseste. Partiste.
Pedra eu era. Desejavas
os rios que têm o céu
e fuga nas suas águas:

contudo não me soubeste.

Pedra sou. Porém minha alma
revoa e estruge nas vagas,
e meu canto é a voz do vento
que percorre os sete mares.

Não me soubeste, ó das asas!
Não tentaste conhecer-me,
ainda mesmo se acordada,
ainda mesmo se dormindo.

E eras bela. E tinhas flama.
E era o mar, sendo praia.
Não me soubeste. Partiste.

Mas te sonho. Agora e sempre.

 

RAMOS, Péricles Eugenio da Silva. Poesia Quase Completa. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1972. 158 p. Capa de Eugenio Hirsch. Inclui um retrato do autor. 

 

 

NATUREZA MORTA 2

 

          laranja

 

É a mesma sala,

sombria de terrores e suspeitas,

coberta pela noite;

os móveis conhecidos,

o armário, a mesa, as cadeiras,

vidros e louças;

nave quadrada, barca de sombras

que se desfarão nem bem se fira

o interruptor.

 

Mas enquanto não há luz

neste mundo cifrado

cheio de presságios, medos,

veladas ameaças,

sinto espreitar-me, no escuro,

viscosa—viva—maligna,

ninho da raça dos dragões,

 

sinto espreitar-me, pupila,

esfera vegetal, musgo de sóis,

 

sinto espreitar-me

 

asiática, longínqua, edênica

 

a laranja, traição dourada,

a laranja a olhar em chamas,

cólera redonda.

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

 

ANTOLOGÍA DE POESÍA BRASILEÑA. Preparación, traducción y prólogo de Gabriel Rodríguez. Caracas: Fundación Editorial Popular de la Cultura; Fundción Editorial  El Perro y          la la Rana

 

EPITAFIO

 

Las olas nacen,

las olas mueren,

 

en un solo minuto:

 

pero el pensamiento

puede eternizarlas.

 

Las rosas nacen,

las rosas mueren;

pero el pensamiento

puede concebirlas inmortales.

 

Por eso las saqué del mar,

¡oh olas!

 

Por eso las saqué del lodo,

¡oh rosas!

Sin embargo las hice etéreas y flamantes

para que brillen sobre el polvo en que habré de

convertirme.

 

 

                    (Lamentação Floral)

 

 

 

ELEGÍA DEL 11 DE MAYO DE 1948

 

Había estrellas

cuando empalideció la carne;

y sol, y pájaros, y flores,

cuando quedaste, para siempre,

en tu casa de silencio.

 

(Ah, también tú, padre mío!

 

Tu rostro, como las fuentes,

huye bajo la tierra.

 

Amargo.

 

Ausente. ¿Pero qué importa?

Perdiste la cara que mostrabas a tu hijo,

pero, bien sé,

que es luz subiendo hacia la Luz,

y, si no puedo verte,

siento que caminas sobre la noche,

como el humo de los altares que se eleva hacia Dios.

 

Sí, para el Dios de amor que llora con los afligidos;

 

para ese Dios de paz que indica y muestra el puerto

a las naves que se extravían junto al Cabo de las

Tormentas.

 

 

SALMO

 

Cuando las madreselvas se callen en los setos

y el viento del cielo disuelva los últimos pájaros,

 

cuando la neblina impenetrable apague mi vista,

anocheciendo la esposa luminosa, la voz de la hija,

 

cuando el cetro de las sombras me hiera en la frente,

¡Señor! que mi vida no haya sido en vano;

y que en las plazas de la ciudad yo deje murmurando

un pensamiento benevolente;

o en los campos, que poblé de frondas perdularias,

pueda quedar cantando, como un loto en la corriente,

el ala afable de un gesto de bondad.

 

Al pie de los cerros

donde las aguas se posan en mis hombros,

dame fuerzas. Dios mío, para encontrar la paz;

dame fuerzas, Corazón de Nubes,

para que yo sea la piedra blanca y todo olvide;

dame fuerzas, oh Manos de Otoño, oh pura Primavera,

para que yo sacie los labios en la cascada de Tu Nombre.

 

Evita a esta sed la esponja de vinagre

desviando la copa y la hiél de mi boca,

derrama sobre mí tu claridad

para que yo parta, oh Rey, soñando eternidad;

y recubierto por el manto que me concediste,

pueda yo dormir tranquilo junto al Rostro irrevelado,

 

ajeno, para siempre, al escarnio del momento corruptible.

 

          (Sol sem Tempo)

 

 

 

TEOLOGÍA ONÍRICA

 

Sin él, todo se derrumbaría,

y cielos y techos,

quedaríamos perdidos en la existencia;

él es el rostro exacto de la verdad,

el pecho, la cara, la frente de la verdad,

          en su candida desnudez:

porque la verdad más vulgar

es la simple cabellera,

la nuca, el dorso,

línea del cuerpo que se precipita

hacia el suelo general, definitivo.

 

Sin él, sin el sueño, el cielo se desplomaría,

la sombra tragaría al mismo Dios,

que sueña y es el sueño que es soñado por él mismo,

ora serena, ora perdidamente,

las manos llenas de estrellas, en las pupilas

el brillo de las galaxias,                :

desnudez sagrada y centelleante

para henchir la noche cuando el sueño sueña:

que el sueño es Dios que sueña y crea el tiempo,

este espejismo, la fuente y su rumor de hojas de agua,

la tierra y su rumor de viento y lluvia,

el cielo y su rumor de nubes y cantigas,

la vida y la muerte, como un rostro y su perfil.

 

 

 

BODAS DE CANÁ O MAGISTERIO DE LA LUNA

Y DEL SOL

 

Para encontrarse con el amado,

aquella mujer se cubrió con telas costosas

y pedrería,

y se envolvió en una neblina de perfumes,

y salió radiante como el sol a dar en los duraznos.

 

-¿Cómo te atreves, insensata,

a traer el sol en tus cabellos

cuando la noche ya ha caído?

¿A qué dioses supones tentar?

¿Por qué esas telas de fuego

y esos aromas de condenación

cuando en el umbral de mis campos

hay una simple higuera estéril

como dádiva de los cielos?

 

Báñate en el agua de las fuentes

y vestida con tu propia desnudez

preséntate a la puerta de la casa de mis padres,

como si fueras una fuente que brota de las tinieblas:

sólo como realmente eres, así

entrarás en la casa de mis padres,

y serás la sal de mis días.

 

***

 

¿Por qué tiras ventana afuera el oro de las mañanas,

como si tus arcas estuvieran desbordantes?

Pesa en tus manos el trigo de la simplicidad:

no lo atesores ni lo disipes.

 

La mayor gloria está en comunicarse con alegría,

espíritu elevado,

en transmitirse como el vino que da vida a las copas:

piensa en que los otros merecen oír la música

y sentarse a las bodas de Cana.

 

El claro de luna es colectivo,

y el Sol, cuando alumbra, es la luz de todos.

 

          (Lua de Ontem)

 

 

TEXTO EM ITALIANO

 

 

Texto extraído de:

 

CHIOCCHIO, Anton Angelo.  Poesia post-modernista in Brasile.  Roma: dell´Arco, s.d.  40 p.  ilus. 12x17,5 cm.  “ Anton Angelo Chiocchio “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

EPITAFFIO

 

Le onde nascono,

le onde muoiono,

 

in un solo minuto;

 

ma il pensiero

può farle eterne.

 

Le rose nascono,

le rose muoiono;

 

ma il pensiero

può concepirle immortali.

 

Per questo vi ho tolto dal mare,

onde!

 

Per questo vi ho tolto dal fango,

 

rose!

 

Però vi ho tatto eteree e fiammanti,

 

perché brillaste sulla polvere che io diventerò.

 


TEXT IN ENGLISH


AN INTRODUCTION TO MODERN BRAZILIAN POETRY. Verse translations by Leonard S. Downes.  [São Paulo]: Clube de Poesia do Brasil, 1954.  84 p.  14x20 cm.  “ Leonard S. Downes “ Ex. Biblioteca Nacional de Brasília

 

EPIGRAPH

The waves are born
and the waves die

in one short minute,

but thought can make
them live for ever.

Roses are born
and roses die
but thought can give
them immortality.

For this I drew you from the sea,
O waves!

For this drew you from the loam
O roses!
And made you brilliant and ethereal
to blaze above the dust I shall become.

 

 

REVISTA DE POESIA E CRÍTICA    No.  9 – Brasília – São Paulo – Rio  -
Setembro  1983.  Diretor  José Jezer de Oliveira.    112 p.
                                                       Ex. doação do livreiro Brito - DF

 

POEMAS DE UM LIVRO INÉDITO:

 

 

       AR

      
Invisível presença,
       ar que narras contos impossíveis de entender
       ou que em silêncio escutas tudo o que dizemos,
       a abrir de puro espanto os olhos
       graves, porém amargamente azuis,
       ar que te acastelas em redor de nosso corpo,
       indescartável companhia,
       como dizer teus benefícios, ar?
       teus gestos sóbrios ou violentos, tua limpidez,
       teus mil e um corpos, todos inseguros?
       Pavor de que nos deixes, generoso,
       e que fiquemos, peixes, a ofegar no solo.
       Em tuas águas somo guelras, barbatanas,
       navegação sem rumo apenas na aparência.
       Mar de sombras, pai de toda a vida,
       água impalpável, frasco de perdão,
       tu es o mar e a nau, a gávea a balançar no espaço,
       o mastaréu, o leme a cordoalha.
       Centro de luz a rezumbir de abelhas,
       em ti repousa, imaterial,
       dormindo mas solícito e imutável,
       o mais antigo deus de quantos deuses haja.
       E é um deus que nos envolve e nos dá vida
       e nossa vida é um marinheiro à espera de seu porto
       — um porto branco, rude,
       rude, fincando atento, inescapável,
       as amarras finais que amarram todo homem.



 
      ÁGUA

        Pudéssemos fazer-nos água, a de formas
        incalculáveis, múltiplas, inconcebíveis:
        macho decapitado, aranha
        de infinitas teias, rosto amorfo,
        água mãe, filha e mãe de nuvens.

        Como ser o que és, sem ser mutável,
        água,
        água fêmea, púbis de virgem,
        água de sexo transparente, puro seio?

        Água, água de um milhão de formas,
        pudéssemos humildemente
        ser um só de teus espelhos,
        deixando o orgulho humano
        para as nuvens com as quais se ilude
        enquanto sopra o vento, o vento pouco, amargo, sem piedade.



       
ONZE HORAS

       
Movendo a cabeleira luminosa
       o dia tira fogo das bigornas,
       o martelar gritos de luz por sobre a terra.
       O céu vende algodão e mel.

       Só quem tem ânimo é digno dessa hora
       potente, sensual, de torso de ágata:
       seremos rios a clamar impetuosos
       ou seixos mudos no areal.

       O corpo assume a loura pele do momento
       e a luz circula em nossas veias
       tornando-nos milagres a pilhar o instante
       e a desfrutá-lo: a desfrutá-lo ruivo,
       ácido, generoso, sumarento de violência e fogo.

 

*

Página ampliada e republicada em fevereiro de 2023


 

 

 

 

 

Página publicada em fevereiro de 2008; ampliada e repubicada em dez. 2014



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