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IVETE TANNUS

(1936-1986) poeta paulista, professora universitária, socióloga e pedagoga. Estreou, em 1960, com A violeta e o espelho. Seguiram-se A irmã escolhida (1961), Canto de Amor e Morte para um rei (1963), Eu do teu ser (1964) e
O poeta e a Origem 1966).

TANNUS, Ivete.  Canto de amor e de morte para um Rei.  São Paulo: Livraria Martins Editora, 1963.  63 p.  14x21,5 cm.   ilus.  Prefácio de Cassiano Ricardo.  Cara e ilustrações de Aldemir Martins.   Col. A.M.

 

A AMADA ERRANTE

 

A solidão do mar me segue até na lama profunda

Percorro arfando este deserto

Onde fica a distância, da qual me chegam indizíveis
          apelos ?

 

Entreabro a túnica fosforescente

Com a cicatriz ao peito, para não esquecer minha origem

Porque o homem solitário viria tomar-me pela mão

E abrigar-me no glorioso flanco

Imaginando que sou a amada errante.

 

Os que esperam por mim

Morrerão sem me ver... Como espalharei o segredo

          da ternura

Se envolveram-me em liames

Se algemaram meus pulsos

E agonizo lenta na areia que canta sob meus pés

Como harpas de obuses?

 

Por que não me trazem agora,

Sim, agora, as lâmpadas finais dos altares

Como um sinal de espera ou de esperança?

 

Tenho um encontro marcado há longo, longo tempo

Mas não chegarei nunca.

 

 

O GRANDE CREPÚSCULO

 

Vai buscar pois as cinzas na planície

E lava-as no orvalho dos lírios incendiados

Vai buscá-las e com esses restos reconstrói na cinza
          insensível

Teu amante mutilado.

 

A papoula jaz profundamente sepultada na areia que o

vento agita.

 

Acorda-o sem rumor e dança em redor dos juncos

          vermelhos

Ai seus cabelos rescendem a nardo e pétalas de loto.

 

Para ti florescem os narcisos.  (Pouco faltará para

chegarmos a esse grande crepúsculo).

 

Como poderei salvar até ao amanhecer a grande flor que

cresce no precipício?

 

 

Página publicada em outubro de 2013

 


 

 

 
 
 
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