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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 


EUNICE ARRUDA

 

EUNICE ARRUDA
(1939-2017)

 

 

Poeta, autora de doze livros publicados, entre eles: “É tempo de noite” (1960), “O chão batido” (1963), “Invenções do desespero” (1973), “As pessoas, as palavras” (1976), “Mudança de lua” (1986), “Gabriel” (1990), “Risco” (1998), “Há estações” (2003). Pós-graduada em “Comunicação e Semiótica” pela PUC-SP.

 

Prêmio no Concurso de Poesia PABLO NERUDA, organizado pela Casa Latinoamericana, Buenos Aires, Argentina.

Presença em antologias, com poemas publicados no Uruguai, França, Estados Unidos e Canadá. Fez parte da diretoria da União Brasileira de Escritores.

Ministra oficinas de criação poética desde 1984, em locais como a Biblioteca Municipal Mário de Andrade e a Oficina da Palavra (Secretaria do Estado de São Paulo).

Coordenou os projetos “Tempo de Poesia/Década de 60” em 1995 e “Poesia 96/97”, promovidos pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Por tais iniciativas recebeu o prêmio de Mérito Cultural conferido pela União Brasileira de Escritores.

 

 

Veja também: haicais de Eunice Arruda

 


 

 

UM VISITANTE

Quem escreve
é
um visitante

Chega nas horas da noite
e toma o lugar do
sono
Chega à mesa do almoço
come a minha fome

Escreve
o que eu nem supunha
Assina o meu nome

(do livro "Mudança de lua", incluído em "Poesia Reunida", Pantemporâneo, 2012)

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RETORNO

 

Esse turbilhão que grita

agita

é gente

De coração

de mais tristeza - quem sabe - do que

nós

 

E a gente não ouve

não quer ouvir

Quer esquecer

quer não pensar

Mas a gente pensa

 

a gente envelhece muito quando volta

 

 

(do livro “É tempo de noite” - Massao Ohno Editora, 1960 – São Paulo – SP)

 

  

HORA POÉTICA

 

Para esquecer esta

dor

 

- transformá-la em poesia

 

Para eternizar esta

dor

 

- transformá-la em poesia 

 

 (do livro “O chão batido” – Coleção Literatura Contemporânea nº 07 – 1963 - São Paulo – SP)

 

AMPLIAÇÃO

 

Construo o poema

 

peda-

ço por

pedaço

 

Construo um

pedaço de

mim

em cada poema

 

 

 (do livro “As coisas efêmeras” – Brasil Editora – 1964 São Paulo – SP)

 

  

SENTENÇA

 

Convém nos

iniciarmos

cedo

As coisas são demoradas

 

E não é bom

colher os frutos

quando a boca não

conseguir  mais

saboreá-los

 

              

(do  livro “Invenções do desespero” - Edição da autora – 1973, São Paulo – SP)

 

 

OLHE AS PESSOAS

 

Olhe as pessoas

como são

suaves

 

Mas não se aproxime

têm garras

arranham o coração

 

Fique em seu quarto

em seu corpo

e

apenas

 

olhe as pessoas

 

 

(do livro “As pessoas, as palavras” Editora de Letras e Artes, 1976 – São Paulo – SP)

 

 

NO FINAL        

         gestos alheios

         desataram os laços

         salas fechadas recenderam

         flores pétalas

         esmagadas

        

         E o silêncio correu água fria nas veias

        

         no final

         os golpes acertaram melhor

 

 (do livro “Os momentos” - Editora Nobel/Secretaria do Estado da Cultura, 1981 – SP/SP)

 

  

NOTÍCIAS

 

As crianças morrem

 

Em piscinas

lagoas

no centro da cidade

 

O corte na testa

barrigas inchadas

costas afundadas

 

As crianças

elas também nos abandonam

 

   

(do livro “Mudança de lua” - Scortecci Editora, 1986  – São Paulo – SP)

 

  

GABRIEL:

 

Era um anjo

omisso

 

Foi insubmisso

sem ter dito não

 

Sem anseio para o vôo

nem loucura para o plano

era um anjo vago

 

Que não optou

 

Entre o ser azul

celeste e a doce

lei da gravidade

 

Era um anjo

omisso

ou

de asas machucadas

 

           

(do livro “Gabriel:” - Massao Ohno Editor, 1990 – São Paulo – SP)

 

 

SACIEDADE  BIOGRÁFICA

 

Tenho andado sem pés

voando sem asas

Sou um sonho espalhado

 

Os rios recebem minhas cartas

com freqüência

facas  me apontam o coração

 

O que poderia dizer

(os pássaros já cantaram)

o que poderia amar

(os amantes se suicidaram)

 

Os assassinos conhecem o meu nome

 

 

(do livro “Risco” -  Nankin Editorial, 1998 – São Paulo – SP)

 

 

PAISAGEM

 

 

Ser tão

nas ruas

 

Sertão

nas ruas

 

 

(do livro “À beira” - Editora Blocos, 1999 – Rio de Janeiro – R


AS PRAIAS

 

As praias brancas

desertas

cansaram-se dos beijos do mar

Elas

estendem-se agora

preguiçosas

lânguidas

perdidas na rotina branca

das areias

As praias estão exaustas

dos afagos

do mar

Por isso elas são frias

e fazem castelos

em suas areias:

 

para o tempo passar

 

 

SOMBRA

 

Há uma mulher triste dentro da noite

com meus olhos

com meu rosto

com  minha angústia

 

Do dia impregnado de promessas

restou apenas uma mulher

Só mulher

 

Uma mulher ficou triste dentro da noite

triste

sentindo o frio gelando-lhe a vida

sem esperança

 

Há uma mulher triste dentro da noite

com  meus olhos

com meu rosto

com minha angústia

 

Oração e sono para ela

 

 

SENTENÇA

 

Convém nos

iniciarmos

cedo

As coisas são demoradas

 

E não é bom

colher os frutos

quando a boca não

conseguir  mais

saboreá-los

 

 

ERRO

 

Edifiquei minha

casa sobre a

areia

 

Todo dia recomeço

 

 

COMPOSIÇÃO – I

 

Criar impactos

com

palavras

 

Pérolas

deslizando

na correnteza

 

Como barcos

me transportam

aonde nenhuma viagem chega

e eu colho frutos raros

Nesta ilha – entre

pedras – ressuscito

 

Com o fôlego

das

palavras

 

 

UM DIA

 

um dia eu

morrerei

de sol, de

vida acumulada

na convulsão

das ruas

 

um dia eu

morrerei e

não

podia:

 

há poemas

escorregando de meus dedos

e um vinho não

provado

 

 

GEOGRAFIA

 

estar em

algum lugar

 

sempre

 

deixar o

corpo

posto

em algum lugar

 

porto

onde voltar

HÁ ESTAÇÕES

 

De
HÁ ESTAÇÕES
São Paulo: Escrituras, 2003
ISBN 85-7531-093-3

HAICAIS

Olhar o menino
sustentando — leve — no ar
a bolha de sabão

*

Nuvens de verão
Passos rápidos na rua
Roupas no varal

*

Verão. Meio-dia
Na sombra de uma nuvem
o boi cochila

*

Solidão no inverno
O velho aquece as mãos
com as próprias mãos

 

 

 

 

ARRUDA, Eunice.  Debaixo do sol.   Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2010.  72 p.   13,5x21 cm.   capa de cartão duro   ISBN 978-85-7480-524-5   Editor Plinio Martins Filho.  Col. A.M. 

 

CÍRCULO

 

tantos poemas

rompendo gavetas

se espalham na sala

na pele

tantos poemas

pontos

brilhando as águas

                 escuras

avenidas me abraçam

com dias mormaço chuvas

repentinas e poemas

tantos passos rondando

os limites da casa

rodeando o corpo

tantos poemas

 

 

 

 

O PRISMA DE MUITAS CORES. Poesia de Amor portuguesa e brasileira.    Organização Victor Oliveira Mateus. Prefácio  Antônio Carlos Cortes.  Capa Julio Cunha.  Fafe: Amarante: Labirinto, 2010  207 p.      Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

 

Tríptico: Outra dúvida, Gabriel, Dádiva.

 

I

"Outra Dúvida"

 

Não sei se é
amor

 

ou

minha vida que pede
socorro

 

 

II

"Gabriel"

 

O amor é
sol

 

Respire

a cor no crepúsculo

 

 

III

"Dádiva"

 

Alguém te dirá
facilmente de
amor

 

Mas eu

eu rasgo minhas veias
para ter o que
te dar

 

 

 

 

 

 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

 

 

LAS PLAYAS

 

tradução de Roman Fontan Lemes

 

Las playas blancas

desiertas

cansáronse de los besos del mar

Ellas

extiéndense ahora

perezosas

lánguidas

perdidas em la rutina blanca

de las arenas

Las playas están exahustas

de las caricias

del mar

Por eso ellas son frías

y hacen castillos

en sus arenas:

 

para el tiempo pasar

 

Uruguay, publicada no jornal “El Chúcaro” – 1963

 

 

SOMBRA

 

tradução de Roman Fontan Lemes

 

Hay una mujer triste dentro de la noche

com mis ojos

com mi rosto

com mi angustia

 

Del dia impregnado de promesas

restó apenas una mujer

Solo mujer

 

Una mujer quedó triste dentro de la noche

triste

sentindo el frio helandole la vida

sin esperanza

 

Hay una mulher triste dentro de la noche

com mis ojos

com mi rosto

com mi angustia

 

Oracion y sueño para ella

 

Uruguay, publicada no jornal “El Chúcaro” – 1963

 

 

SENTENCIA

 

Tradução de Gabriel Solis

 

Nos conviene

iniciarnos

temprano

Las cosas son demoradas

 

Y no es bueno

cosechar los frutos

cuando la boca no

consiga mais

saborearlos

 

 

ERROR

 

Tradução de Gabriel Solis

 

Edifiqué mi

casa sobre la

arena

 

Todos los días recomienzo

 

 

COMPOSICIÓN – I

 

Tradução de Gabriel Solis   

                  

Crear impactos

con

palabras

 

Perlas

deslizándose

en la corriente

 

Como barcos

me transportan

donde ningún viaje llega

y yo cojo frutos raros

En esta isla – entre

piedras – resucito

 

Com el aliento

de las

palabras

 

 

UN DÍA

 

Tradução de Gabriel Solis

 

Un día yo

moriré

de sol, de

vida acumulada

en la convulsión

de las calles

 

Un día yo

moriré y

no

podría:

 

hay poemas

escurriendo de mis dedos

y un vino no

probado

 

 

GEOGRAFÍA

 

estar en

algún lugar

 

siempre

 

dejar el

cuerpo

puesto

en algún lugar

 

puerto

donde volver

 

 

 Extraídos de “Poesía de Brasil” – volume I , organização de Aricy Curvello – Proyecto Cultural SUR/BRASIL (enviados por la autora en feb. 2007)

 

 

 

 

ARRUDA, Eunice.  Poesia reunida.  São Paulo: Pantemporâneo, 2012.  287 p Inclui os textos dos livros: É tempo de noite (1960), O chão batido (1963), Outra dúvida (1963), As coisas efêmeras (1964), Invenções do desespero (1973), As pessoas, as palavras (1976, 12 ed. em 1984), Os momentos (1981), Mudança de lua (1989, 2ª ed. em 1989), Gabriel (1990), Risco (1998), À Beira (1999), Memórias (2001), Há estações (haicais, 2003), Olhar (haicais, 2008), Debaixo do sol (2010). Inclui também a fortuna crítica, e a participação da autora em antologias.  Col. A.M. 

 

 

RIMAS

 

Deus não tem

pedra na

mão

 

Ele usa

as pessoas

- um irmão -

para nos arrancar

de algum chão

 

Ainda não é

aqui

então

 

É a próxima é a próxima é a próxima a estação

 

 

NO DIA

 

Um sol

me abraça

 

Amo o que é

          sonho

          fumaça

 

O que passa

 

 

 

 

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TRADUCCIÓN Y NOTA INTRODUCTORIA DE

ADOVALDO FERNANDES SAMPAIO

 

SUGESTIÓN

 

Recuesta la cabeza en la

tarde que

cae

 

Cualquier cosa

además del vacío

habrás con certeza de encontrar

         en el abandono de tus ojos cerrados

         en el deslizar sin prisa de las cosas

 

Mira

la vida es un río

y hay que hablar en voz baja

mecer en silencio el sueño niño

llorar bajo

para no despertar el sueño de las

cascadas

 

 

SPLEEN

 

Habla quedo

en voz baja

Apaga la luz

y deja el gramófono a la sordina

Lástima que yo no tenga cigarrillos

ni amor

que darte

  

 

Extraído de la obra

VOCES FEMENINAS DE LA POESÍA BRASILEÑA

Goiânia: Editora Oriente, s.d.

Os poetas Antonio Miranda, Eunice Arruda e Álvaro Alves de Faria
 encontram-se na Casa da Rosas, São Paulo (20/3/2010).

 

***

ANTOLOGIA DOS NOVÍSSIMOS.  São Paulo: Massao Ohno Editora, 1961.  “Coleção dos Novíssimos”  vol. 9.  Capa de João Susuki.    
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

       O DEUS E O DOMINGO

Eu ia ser feliz
domingo
Naquele tempo bastava pouco...

Não sabia que no domingo
é fácil
chover
e muito difícil viver...

Ah! eu ia ser feliz!...
Mas
domingo
Deus descansa

e a gente sofre mais

 

 

 

       CANTIGA DE NINAR

Dorme
embora seja
sempre tarde
que a gente adormece

Mas ao som da noite
existe uma canção
Fina e
triste
para embalar o sono

Não é sono criança de
criança



HISTÓRIA SEM IMPORTÂNCIA

da menina que
brincou
apenas
por não ter brinquedos
 

 

ARRUDA, Eunice.  Invenções do desespero.  São Paulo: Edição da autora, s.d.;   111 p.    14 x 21 cm            Ex. bibl. Antonio Miranda

 

ANGÚSTIA

buscar-te
na solidão
das praias
desertas
ouvir-te
na voz
do
vento
e
sentir
doer
na alma
a certeza amarga
de
nunca
te
encontrar


 

BONECA DE PANO

Enterraram a boneca
a boneca de
pano

Era trapo
Era nada

Enterraram a boneca

Agora enterro
a unha na terra
e a boneca
hoje de carne
grita


REMINISCÊNCIA

A menina ficou
atrás

Hoje carrega desejos
e mais peças de
roupa
por sobre
um corpo todavia
vertical

Apenas o rosto diz
de fugas
e do vaso
quebrado e esquecido
no fundo do
quintal


 

DA FINALIDADE DO TRABALHO

Não trago mensagem
na voz

Quando escrevo
é a vida que
exercito
para
que
tudo o que exista
em mim fique
escrito

Por isso não trago
mensagem na voz

É missão de
quem escreve
apenas eternizar o que foi
breve

***

 

Leia mais hai-kais de EUNICE ARRUDA em:

http://www.antoniomiranda.com.br/haicai/eunice_arruda.html

 

 

 

 

Página republicada em junho de 2008; ampliada em janeiro de 2021

 

 



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