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 CELSO  DE ALENCAR     poeta  e declamador paraense, radicado em   São Paulo desde 1972. Sobre Celso de Alencar, o  poeta e crítico Cláudio Willer, afirma que se trata do mais enfático poeta  contemporâneo brasileiro, enquanto o compositor e poeta, Jorge Mautner, o  considera um poeta da 4ª dimensão, escandalizador e libertador de almas. É  reconhecido entre os grandes talentos da geração de 70. A convite apresentou-se  na Inglaterra, França e Portugal.    É  tradutor da poesia do nicaragüense Rubén Darío e intérprete da poesia de Mao  Tse Tung. É autor de Tentações (1979), Salve Salve (1981), Arco Vermelho (1983, 1985 e 1992), Os Reis de Abaeté (1985), O Pastor (1994, infanto-juvenil), O Primeiro Inferno e Outros Poemas (1994  e 2001), Sete (2002), A Outra Metade do Coração (CD- antologia  poética), Testamentos (2003).    Participou  de diversas antologias entre as quais Poesia  Contemporânea Brasileira (2001, ed. Alma Azul, de Coimbra), Poesia do Grão-Pará (2001), Scène Poétique (2003, dez poetas  brasileiros e dez franceses, edição Cena e Consulado da França em São Paulo), Quando Freud Não Explica Tente a Poesia (2007),  além de publicações em revistas e periódicos. Palestrante e integrante de  diversos júris de concursos de poesia. Ex-diretor da União Brasileira dos  Escritores (gestão 1990/92 e 1992/94).      
                                                                                      
                                                                                                                                                      
                                                                                                                                                                                                                      
                                                                                                                                                                                                                                                                                      
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      TEXTO EM INGLÊS     Veja também o poema  ilustrado  O PRIMEIRO INFERNO na página de Poesia  Visual. (clicar...)   in Poemas Perversos                                                                                           NÃO ESQUEÇAMOS AS VELHAS AMIGAS DE 1925                             As mulheres nuas.               Aquelas  colocadas sobre as portas               que se  levantavam dentro das casas.               As que  exalavam aromas leves                de  lírios recém-nascidos.               Seus  seios prolongados.               Suas  pernas extensas e derramadas               no  próprio coração e na orelha que se estendia.               As bocas  sinuosas tombadas               sobre as batatas cozidas.               As  mandíbulas separadas pelos dentes               que se  cortavam e se distraíam.               Suas  mãos que se escondiam               entre as  pernas, dentro da genitália sombreada e vazia.               Não esqueçamos  as velhas amigas de 1925.                A cor dos  seus olhos iluminados.    As nádegas  arredondadas sobre as coxas.    Seus dedos  indicando o caminho    da cidade onde se  encontrava o rio.    Suas palavras mais  antigas    cantadas pelos  olhos solidários    e pela haste que se  ocultava    na garganta  incendiada e multiplicada    por trinta e uma e  mais cinco.    O doce que se  extraia de seus lábios estremecidos    e acordados nas  manhãs reconstituídas.    A pele que brotava  da própria pele    como se fosse de  aves rejuvenescidas.    Não esqueçamos as  velhas amigas de 1925.      Não esqueçamos    seus vestidos  estampados.    Suas maquiagens  avermelhadas.    Suas testas de onde  saíam    facas sujas de  leite e pão.    Seus cachorros de  raça alemã.    Suas bacias onde  lavavam roupas íntimas.    Seus braços finos  esticados sobre a cabeça.    Seus talheres de  prata importada.    Suas línguas de  mistério, delicadeza e furor.    Suas loucuras  quando tratavam da morte    e daquilo que as  fecundavam.    Não esqueçamos a  chuva e a noite,    as fotografias com  dedicatória.    Os cabelos  escondendo as costas.    O delírio debaixo  das mesas silvestres.    O amor prenunciado  e indestrutível.    Não esqueçamos as  velhas amigas de 1925.       POEM FOR SONNY  PERDUE   Eu Vós peço, Senhor, antes de excluir de Vossa terra aqueles que buscam abrigo onde os veados ainda correm na floresta, Vós que tendes como ancestrais povos vindos de lugares longínquos; consultai, eu Vós peço, os filhos  dos Estados Unidos da América. Consultai os Apaches, os Creek, os Navajos, os Cherokees, os Sioux, os Comanches. Consultai ainda os filhos dos escravos africanos, e também, Senhor, os filhos dos emigrantes, aqueles que como Vós construíram a Terra do  Pêssego. Permiti que todos alcancem o Mississipi, que todos adentrem as águas do Altamaha ou as do Chattahoochee e mais: que todos possam ser altos como os  pinheiros. A vida é um pássaro frágil e às vezes tem a idade de um castor. Meu dorso está nu  assim como a minha alma. À direita meus olhos vêem o Brassmount, à esquerda, os cemitérios deitados no chão. Eu Vós peço, não eliminai, Senhor, o sonho daqueles que a liberdade buscam.        ALENCAR, Celso de; PAULA, João Ricardo Scortecci de; MOTTA, Thereza  Christina Rocque da.  Papel  arroz.   Posfácio de  Dora Ferreira da Silva, Mário García-Guillén.   São Paulo: Grupo Peco – Só Poesia, 1981.   88 p. ilus.       
 NO  FUTURO
 Curvam-se os galhos ante os novos
 inventos
 sucumbem raízes na terra do
 futuro
           A  imensidão verde/defloradadeita-se  no chão para o sono eterno
 na procissão voam/caminham as criações
 do paraíso etéreo
           Os  fantasmas negros/queimadospercorrem  os claros
 e  deixam cair lágrimas
 no solo maculado
   SINFONIA / RURAL
   A flauta do pastorembala ovelhas brancas
           Espelha  o lar dos ancestrais/feudaismirifica  olhos/extáticos de passantes
 Abranda corpos despidos de calmacoroa cabeças/sonhadoras como o sopro
 do campônio
           Soa  finíssimos agudos e esparrama no ara  nostalgia/alegria da vida no campo
       ALENCAR, Celso de. Poemas perversos.  São Paulo: Pantemporâneo, 2011.  72 p.   14x21 cm.   Capa: fotografia de  Duílio Ramos.   Posfácio de João de Jesus  Paes Loureiro.ISBN 978-85-62402-09-8    Inclui um CD.      Muitas  vezes eu falo coisas estranhas   Às  vezes eu me deparo com pessoasque não entende o que eu falo.
 Mas quando eu digo: gontom, gontom, gontom,
 gontom, gontom ou crós, crós, crós, crós, crós crós,
 sou facilmente compreendido.
 Aqueles  que me ouve e têm compreensãodessa minha estranha fala,
 são os que eu encontro
 com a cabeça dentro de mim.
 Por  isso, muitas vezes,andando com botas para se proteger do frio
 eu digo coisas estranhas em voz alta
 nu, coberto de carvão e anil
 dentro de uma caixa silenciosa de papelão
 onde só aqueles que me compreendem plenamente
 conseguem ouvir.
     Colheita    Colha-me  logo.Colha-me, pois
 sou um pano leve
 que voa entre os pássaros
 de longas asas coloridas
 sem tempo e sem retorno.
 Colha-me  e prove-meenquanto há clarões vermelhos
 se estendendo nas varandas das casas
 enquanto suas mãos
 possam me alcançar.
 
 
 ALENCAR,  Celso.  Testamentos.   São Paulo: Quaisquer, 2003. 190 p.   14x21,5 cm.  Capa: desenho de  Valder Rocha.    ISBN 85-89866-01-7                Livro  Obsceno   
                                                                1          Poucos  foram os homensque  me olharam quando
 seu  passei carregando
 sobre  as costas
 as  três velhinhas mortas.
          Um  deles, o mais jovem,veio  ao meu encontro
 e  perguntou-me por que
 eu  transportava as velhinhas
 assim  amarradas como
 se  fossem um fardo
 de  lenha escura.
          Ainda  hesiteimas  coloquei a carga
 sobre  o manto curto
 da  estrada e enquanto
 bebia  água, lhe falei.
          As  três eram primas.Primas  de primeiro grau.
 Primas  irmãs.
 Primas  legítimas.
 Primas  de sangue.
          Na  manhã em queeu  as encontrei
 mostraram-se  distintamente
 alegres  e dedicavam
 horas  aos exercícios
 dando  voltas
 em  torno da casa.
          Idosas,com  ideais que só
 os  velhinhos têm
 acariciaram-me  o rosto
 e  eu sentindo que
 meu  coração se abria
 lhes  disse que buscava um
 abrigo  que protegesse da chuva.
          Por  quatro anos acolheram-menão  como a um filho
 mas  como a um amante.
 Á  noite, não importava
 se  havia frio ou calor,
 eu  beijava suas pernas
 e  elas beijavam-me os braços.
          Arrebatadas  pelas delícias do céuentoavam  em coro
 composições  medievais deleitosas
 para  que eu, entre os seus braços,
 desmaiasse  de cansaço.
          Antes  que eu as matassecom  três toques de corneta
 disseram-me  que gostariam
 de  ser enterradas na vila
 onde  haviam sido criadas.
            2Vive  como imagem
 por  trás dos meus olhos
 a  língua trêmula da irmã
 mais  velha de minha mãe.
          Nas  visitas aos domingosnão  me permitiam a entrada
 e  eu aguardava ensaiando
 pequenos  passos no imenso
 jardim  da antiga
 fábrica  de chá.
          Foi  o acaso que colocouem  mim o cômodo
 protegido  pelas fortes
 barras  de ferro.
          Minha  mãe sentadadeitava  seus olhos
 sobre  a irã
 que  se via
 nua  completamente
 mijando  sobre a cama
 e  rindo apressadamente
 feito  louca.
          Ainda que a claridadefosse  tênue
 eu  via a sua urina
 espirrando  de sua buceta colossal
 e  os seus dois peitos frouxos.
          E  minha tia ao ver-mecom  seus olhos arregalados
 mostrou-me  a língua
 da  cor do corvo e
 tombou  como
 uma  árvore seca
 deixando  exposta
 a  sua nádega encurvada.
 E  sob gritos que só
 à  loucura cabe
 expulsou  minha
 mãe  do quarto.
            3O  homem que amava
 a  si mesmo sobre
 todas  as coisas
 matou-se.
          Elogiou  como os olhos desviadosa  mulher e os filhos
 e  ante que alguém lhe
 dissesse  olá se matou.
          Os  pombos que se alojavamentre  o forro e
 o  telhado da casa
 debandaram  entregando
 à  própria sorte
 seus  filhotes de o morto.
          Os  passarinhos que criavamseus  ninhos nas árvores
 que  sombreavam a casa
 também  se foram
 deixando  seus ovos raros
 à  mercê do morto.
          Os  quatro cães dinamarquesesque  o conduziram ao portão
 caíram  num sono profundo
 sobre o pavimento luminoso
 onde  são secados os grãos.
          Duas  vezes morto se vêo  rosto do homem
 que se amava.
 Era  tanto o seu
 amor  por si
 que  não cabia anunciar
 uma  única vez
 e  para sempre
 a  hora que
 iria  se matar.
            4Somente  eu posso
 falar  das amantes
 que  jogam
 olhares  tortos.
          Eu  jamais transgredios  ensinamentos do
 santo  missal e
 tampouco  interrompi
 o  sagrado gozo.
          Nenhuma  mulher que  se lastima
 move contra mim
 uma  calúnia sequer
 porque  minhas
 poucas  palavras foram
 mal  interpretadas e
 todas  conhecem a grandeza
 da  minha outra perna.
          Por  que se escondem elasentre  os sinos coloridos
 interpretando  cânticos
 incompreensíveis  como se
 bebessem  goles d´água?
          Florescem  as amantesentre  as laranjas
 porque  foram preservadas
 pela  minha baba ingênua
 e  meu sangue fervoroso.
          Eu  sinto o aromaque  sai de suas bocas doces
 como  se todas se
 achassem  perfumadas
 à  minha frente
 subindo  e descendo
 sonoras  e descansadas
 como  pênis vibrante
 no  vão da escada.
            5Sentai  sobre mim
 ó  senhora
 alma  excluída
 anjo  de precipício.
          Atentai  para as floresnegras  que se debruçam
 sobre  a vossa vagina
 menstruada
 noturna  e matutina.
          Retirai  os vossoscabelos  úmidos
 para  que o sol
 enxergue  os sulcos
 do  meu rosto
 por  onde se espalha
 a  água que deserta
 do  vosso corpo.
          Deitai  vossas pernasdesgovernadas  no meu pescoço
 e  o apertai com o vigor
 da  cobra grande
 para  que eu morra
 sob  intenso gozo.
          Os  vossos seios célebreseu  me olham
 como  se vissem
 em mim um cachorro
 protegei-os da volúpia
 dos  meus lábios
 e  guardai-os sob a
 manta  emplumada
 para  que neles eu
 descanse  depois de morto.
            6Inclinando-me  sobre a
 árvores  assassinada e fria
 beijei-lhe  a extremidade
 mais  larga e ainda que
 não  envolvesse totalmente
 apertei-a  longamente como se
 abraçasse  minha mãe
 ainda  viva.
          Desesperado  por terencontrado  no chão
 uma  árvore morta
 busquei  socorro na
 primeira  porta
 mas  foi em vão
 pois  a mulher que eu via
 não  tinha os olhos
 e  o homem carregava
 na  perna uma gangrena.
          Voltando  ao local do pesadeloavistei  oito homens junto
 a  uma carroça de muitas rodas
 medindo  com estranhas
 fitas  métricas toda a
 extensão  da árvore morta
 e  antes que eu lhes
 perguntasse  o que faziam
 furiosos  criticaram com
 longos  serrotes nas mãos
 a  minha presença.
            7Quem  poderá me destruir
 mais  que os fiscais da prefeitura?
 Que  taxa de conservação municipal
 é  essa, exorbitante, perversa,
 paga  por mim com
 cédulas  do estrangeiro
 sem  comprovação
 do  recebimento
 e  sem carimbo
 de  órgão público?
          Por  que permitimos queesses  larápios sejam convertidos
 em  servidores públicos
 servidores  do povo
 quando  nada mais são
 que  achacadores
 egressos  do inferno?
          Alimentam-se  do queesses  ímprobos
 além  das subtrações violentas?
 Onde  colocam seus
 olhos  de lince
 quando  seus filhos
 ou  amantes
 observam-lhe  os rostos?
          E  mortos,quem  lhes prestará honras
 com  flores em seus túmulos
 e  salvas de palmas e discursos
 afora  os seus comparsas?
            8Foi  Nosso Senhor
 quem  me disse:
 procura  entre as mulheres
 aquilo  que te consola
 não  te reprimas
 nas  salas onde
 tu  guardas as maçãs
 porque  tu
 assim  como a mulher
 foste  criado
 à  minha imagem
 e  semelhança.
           Saibas que nãosão  condenados
 por  mim aqueles que
 fornicam  por necessidade.
 Eu  não falo apenas
 de  desejos do homem
 mas  também das
 vontades  da mulher.
          Foi  o que me disseNosso  Senhor.
            9Chamaram-me  de licencioso
 os  falsos devotos.
 Ora,  não há forma
 mais  sutil e prodigiosa
 de  se alcançar
 a  loucura e a morte.
          Quando  eu escrevo vaginanão  há pecado
 não  há permuta
 é  vagina literalmente
 não  há palavra
 que  a substitua.
          Quando  eu digoque  as mulheres
 atravessam  o mar
 apenas  para ver
 a  minha nudez
 e  ao se aproximarem de mim
 embebedam-se  até à tontura
 ora,  por que teria eu
 que  negar se não existe
 nada  mais puro?
          Dizem-me  queeu  não rezo
 a  homilia e o
 nono  mandamento.
 Por  que teria eu
 que  seguir regras
 se  a minha vida aqui
 é  extremamente curta?
            10Eu  te chamo para
 que  tu me digas
 o  teu nome de serpente.
 Olhas  as minhas pernas
 marcadas  pelos punhais
 que  escondes nos teus dentes
          Fala-me  do veneno que fabricas  quando latejam
 as  artérias da tua boca.
 O  que carregas
 na  tua vagina,
 essa  bolsa circulante
 e  portentosa, além do
 líquido  precioso?
          E  os teus olhospor  que se avermelham
 como  fogueiras
 que  gritas para que
 cesse  imediatamente o gozo?
          Fala-me  o teunome  de serpente
 fala-me  com a
 voz  do galo
 para  que se grave
 na  memória do meu pênis
 a  angústia de assistir
 a  tua morte.
            11Um  homem
 teve  dez filhos.
          Cada  vez queum  nascia
 dizia  ele:
 é  a vontade
 de  Deus.
          Deus  os protegee  os alimenta.
          Dos deznos  dois primeiros
 anos  de vida
 seis
 morreram  de fome.
            12Na  minha rua
 ou  melhor na calçada
 da  minha rua
 vivia  um homem
 que  me parecia
 mais  bicho
 do  que indigente.
 Talvez
 um  cachorro sujo
 ou  um porco.
          Após  tantas queixasdos  meus vizinhos
 domingo  quando
 ele  ainda dormia
 surgiu  um carro
 branco  da prefeitura
 e  o levou não se
 sabe  para onde.
            13As  mulheres que varrem
 as  ruas da cidade
 não  têm direito
 a  vale-refeição.
 Nos  seus bornais
 carregam  escovas de cabelo
 absorventes  sem abas e
 com  uma só camada
 de proteção, passes de ônibus
 ou  de trem, espelhos e batons
 além  de suas marmitas
 miseráveis  e frias.
            14Foi  na última
 hora  da tarde
 que  meu pai
 me  entregou
 a  uma mulher
 de  nome Rute.
          Andamos  juntospor  uma estrada
 estreita  onde
 pedras  minúsculas
 foram  colocadas
 sobre  a areia
 e  em meu pai
 havia  alegria
 pois  cantava e
 dava  longos
 ou pequenas corridas
 e  gritava com sua
 voz  entonada para
 que  eu dobrasse a marcha
 e  não perdesse de vista.
          Chegamos  à casaque  mais me parecia
 um  palácio, debaixo
 de  uma chuva fina.
 Os  sapos coaxavam
 e  tudo ali
 me era estranho.
          As  cortinasas  portas
 as  poltronas
 os  rostos das mulheres.
 Em  tudo havia
 uma  cor diferente.
 O  vermelho
 o  laranja
 o  amarelo.
          Eu  tinhaquinze  anos
 e  fui levado
 manso  como a vaca
 ou  como o cordeiro
 pelas  mãos de uma
 mulher  de nome Rute
 rumo  ao inferno.
            15Eu  sou um assassino
 é  verdade.
 Eu  sou um assassino.
 Desde  a adolescência
 quando  disseram-me
 esta  é uma propriedade privada
 aqui  tu não entras,
 tornei-me  verdadeiramente
 um  assassino.
          Eu  não uso nenhuminstrumento  cortante
 ou  de fogo.
 Todos  os meus mortos
 são  empurrados para o pó
 pela  violência dos meus olhos
 e  pelos vestígios das
 minhas  mãos atadas.
          Eu  não gritoporque  desde a infância
 minha  voz é fraca.
 E  ando pouco porque
 a  velhice em mim
 é  gasta.
 Mas  não há
 nenhuma  alma
 que  permaneça
 ainda  viva
 que  desdenhando
 do  meu encanto
 não  seja
 assassinada.
            16Os  pássaros chegam à noite
 e  pousam sobre mim
 e  bicam as minhas entranhas.
          Ainda  que eu lhes digaque  há uma letra
 inteira  na minha boa
 e  peça por piedade
 para  não golpearem
 com  suas línguas
 a  minha garganta,
 eles  ferem-me,
 agridem-me  com brutalidade
 e  adornam o meu corpo
 com  flores
 cercadas  de borboletas
 e  estremecem violentamente
 sobre  o meu pau
            17Com  um letra
 não  se forma
 uma  palavra.
 Com  duas, sim.
 Pá,  ré, sé,
 fé,  pé, dó e
 outros  exemplos
 que  nem cabe
 citar  agora.
          Enquanto  falava de gramáticaDona  Dolores
 professora  do primário
 mostrava-me  as coxas.
          Eram  lindasavolumadas  e quanto
 mais eu olhava
 mais  ela se abria.
           Terça-feira foi o últimodia  em que a vi.
 Suas  pernas
 velhas e gordas
 estavam  cobertas
 de  flores.
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                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     TEXTO EM INGLÊS     POEM FOR SONNY PERDUE
                                                                                                                                                       Tradução: Thereza Christina da Motta     I beg you, Lord, Before expelling from your land Those who look for shelter where The deer still runs through the forest, You, whose ancestors  Came from far away places; I beg you, ask the children Of the United States of America. Ask the Apaches, the Creeks, the Navajos, The Cherokees, the Sioux, the Comanche’s. Ask the children Of the African slaves, And also, Lord, the children of the immigrants, Those, who, like You, have built the Peach Land. Allow all to reach the Mississippi, All to bathe in the waters  Of the Altamaha or the Chattahoochee and more: That all be tall as the pine trees. Life is a fragile bird And sometimes it is as old as a beaver. My back is bare As well as my soul. To the right, my eyes behold the Brassmount, To the left, the tombs in the cemeteries. I beg you, Lord, don’t wipe off The dreams of those who yearn for freedom.       Página publicada em  janeiro de 2008; ampliada e republicada em julho de 2015; ampliada e republicada em janeiro de 2017   |