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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



CELSO DE ALENCAR

 

 

poeta e declamador paraense, radicado em São Paulo desde 1972. Sobre Celso de Alencar, o poeta e crítico Cláudio Willer, afirma que se trata do mais enfático poeta contemporâneo brasileiro, enquanto o compositor e poeta, Jorge Mautner, o considera um poeta da 4ª dimensão, escandalizador e libertador de almas. É reconhecido entre os grandes talentos da geração de 70. A convite apresentou-se na Inglaterra, França e Portugal.

 

É tradutor da poesia do nicaragüense Rubén Darío e intérprete da poesia de Mao Tse Tung. É autor de Tentações (1979), Salve Salve (1981), Arco Vermelho (1983, 1985 e 1992), Os Reis de Abaeté (1985), O Pastor (1994, infanto-juvenil), O Primeiro Inferno e Outros Poemas (1994 e 2001), Sete (2002), A Outra Metade do Coração (CD- antologia poética), Testamentos (2003).

 

Participou de diversas antologias entre as quais Poesia Contemporânea Brasileira (2001, ed. Alma Azul, de Coimbra), Poesia do Grão-Pará (2001), Scène Poétique (2003, dez poetas brasileiros e dez franceses, edição Cena e Consulado da França em São Paulo), Quando Freud Não Explica Tente a Poesia (2007), além de publicações em revistas e periódicos. Palestrante e integrante de diversos júris de concursos de poesia. Ex-diretor da União Brasileira dos Escritores (gestão 1990/92 e 1992/94).

 

 

TEXTO EM INGLÊS

 

 

Veja também o poema ilustrado

O PRIMEIRO INFERNO

na página de Poesia Visual.

(clicar...)

 

in Poemas Perversos 

                           

               

                         

                 NÃO ESQUEÇAMOS AS VELHAS AMIGAS DE 1925

            

              As mulheres nuas.

              Aquelas colocadas sobre as portas

              que se levantavam dentro das casas.

              As que exalavam aromas leves

              de lírios recém-nascidos.

              Seus seios prolongados.

              Suas pernas extensas e derramadas

              no próprio coração e na orelha que se estendia.

              As bocas sinuosas tombadas

              sobre as batatas cozidas.

              As mandíbulas separadas pelos dentes

              que se cortavam e se distraíam.

              Suas mãos que se escondiam

              entre as pernas, dentro da genitália sombreada e vazia.

              Não esqueçamos as velhas amigas de 1925.

 

             A cor dos seus olhos iluminados.

   As nádegas arredondadas sobre as coxas.

   Seus dedos indicando o caminho

   da cidade onde se encontrava o rio.

   Suas palavras mais antigas

   cantadas pelos olhos solidários

   e pela haste que se ocultava

   na garganta incendiada e multiplicada

   por trinta e uma e mais cinco.

   O doce que se extraia de seus lábios estremecidos

   e acordados nas manhãs reconstituídas.

   A pele que brotava da própria pele

   como se fosse de aves rejuvenescidas.

   Não esqueçamos as velhas amigas de 1925.

 

   Não esqueçamos

   seus vestidos estampados.

   Suas maquiagens avermelhadas.

   Suas testas de onde saíam

   facas sujas de leite e pão.

   Seus cachorros de raça alemã.

   Suas bacias onde lavavam roupas íntimas.

   Seus braços finos esticados sobre a cabeça.

   Seus talheres de prata importada.

   Suas línguas de mistério, delicadeza e furor.

   Suas loucuras quando tratavam da morte

   e daquilo que as fecundavam.

   Não esqueçamos a chuva e a noite,

   as fotografias com dedicatória.

   Os cabelos escondendo as costas.

   O delírio debaixo das mesas silvestres.

   O amor prenunciado e indestrutível.

   Não esqueçamos as velhas amigas de 1925.

 

 

 

 

POEM FOR SONNY PERDUE

 

Eu Vós peço, Senhor,

antes de excluir de Vossa terra

aqueles que buscam abrigo onde

os veados ainda correm na floresta,

Vós que tendes como ancestrais

povos vindos de lugares longínquos;

consultai, eu Vós peço, os filhos

dos Estados Unidos da América.

Consultai os Apaches, os Creek, os Navajos,

os Cherokees, os Sioux, os Comanches.

Consultai ainda os filhos

dos escravos africanos,

e também, Senhor, os filhos dos emigrantes,

aqueles que como Vós construíram a Terra do Pêssego.

Permiti que todos alcancem o Mississipi,

que todos adentrem as águas

do Altamaha ou as do Chattahoochee e mais:

que todos possam ser altos como os pinheiros.

A vida é um pássaro frágil

e às vezes tem a idade de um castor.

Meu dorso está nu

assim como a minha alma.

À direita meus olhos vêem o Brassmount,

à esquerda, os cemitérios deitados no chão.

Eu Vós peço, não eliminai, Senhor,

o sonho daqueles que a liberdade buscam.

 

 

 

ALENCAR, Celso de; PAULA, João Ricardo Scortecci de; MOTTA, Thereza Christina Rocque da.  Papel arroz.   Posfácio de Dora Ferreira da Silva, Mário García-Guillén.  São Paulo: Grupo Peco – Só Poesia, 1981.  88 p. ilus. 

 

 


NO FUTURO

Curvam-se os galhos ante os novos
inventos
sucumbem raízes na terra do
futuro

          A imensidão verde/deflorada
          deita-se no chão para o sono eterno
na procissão voam/caminham as criações
do paraíso etéreo

          Os fantasmas negros/queimados
          percorrem os claros
          e deixam cair lágrimas
          no solo maculado

 


SINFONIA / RURAL

 

A flauta do pastor
embala ovelhas brancas

          Espelha o lar dos ancestrais/feudais
          mirifica olhos/extáticos de passantes

Abranda corpos despidos de calma
coroa cabeças/sonhadoras como o sopro
                                          do campônio

          Soa finíssimos agudos e esparrama no ar
          a nostalgia/alegria da vida no campo

 

 

 

ALENCAR, Celso de. Poemas perversos.  São Paulo: Pantemporâneo, 2011.  72 p.  14x21 cm.   Capa: fotografia de Duílio Ramos.   Posfácio de João de Jesus Paes Loureiro.ISBN 978-85-62402-09-8   Inclui um CD.

 

 

Muitas vezes eu falo coisas estranhas

 

Às vezes eu me deparo com pessoas
que não entende o que eu falo.
Mas quando eu digo: gontom, gontom, gontom,
gontom, gontom ou crós, crós, crós, crós, crós crós,
sou facilmente compreendido.

Aqueles que me ouve e têm compreensão
dessa minha estranha fala,
são os que eu encontro
com a cabeça dentro de mim.

Por isso, muitas vezes,
andando com botas para se proteger do frio
eu digo coisas estranhas em voz alta
nu, coberto de carvão e anil
dentro de uma caixa silenciosa de papelão
onde só aqueles que me compreendem plenamente
conseguem ouvir.

 

 

Colheita

 

Colha-me logo.
Colha-me, pois
sou um pano leve
que voa entre os pássaros
de longas asas coloridas
sem tempo e sem retorno.

Colha-me e prove-me
enquanto há clarões vermelhos
se estendendo nas varandas das casas
enquanto suas mãos
possam me alcançar.



ALENCAR, Celso.  Testamentos.  São Paulo: Quaisquer, 2003. 190 p.  14x21,5 cm.  Capa: desenho de Valder Rocha.    ISBN 85-89866-01-7 

 

 

         Livro Obsceno

 

1

         Poucos  foram os homens
         que me olharam quando
         seu passei carregando
         sobre as costas
         as três velhinhas mortas.

         Um deles, o mais jovem,
         veio ao meu encontro
         e perguntou-me por que
         eu transportava as velhinhas
         assim amarradas como
         se fossem um fardo
         de lenha escura.

         Ainda hesitei
         mas coloquei a carga
         sobre o manto curto
         da estrada e enquanto
         bebia água, lhe falei.

         As três eram primas.
         Primas de primeiro grau.
         Primas irmãs.
         Primas legítimas.
         Primas de sangue.

         Na manhã em que
         eu as encontrei
         mostraram-se distintamente
         alegres e dedicavam
         horas aos exercícios
         dando voltas
         em torno da casa.

         Idosas,
         com ideais que só
         os velhinhos têm
         acariciaram-me o rosto
         e eu sentindo que
         meu coração se abria
         lhes disse que buscava um
         abrigo que protegesse da chuva.

         Por quatro anos acolheram-me
         não como a um filho
         mas como a um amante.
         Á noite, não importava
         se havia frio ou calor,
         eu beijava suas pernas
         e elas beijavam-me os braços.

         Arrebatadas pelas delícias do céu
         entoavam em coro
         composições medievais deleitosas
         para que eu, entre os seus braços,
         desmaiasse de cansaço.

         Antes que eu as matasse
         com três toques de corneta
         disseram-me que gostariam
         de ser enterradas na vila
         onde haviam sido criadas.

 

         2
         Vive como imagem
         por trás dos meus olhos
         a língua trêmula da irmã
         mais velha de minha mãe.

         Nas visitas aos domingos
         não me permitiam a entrada
         e eu aguardava ensaiando
         pequenos passos no imenso
         jardim da antiga
         fábrica de chá.

         Foi o acaso que colocou
         em mim o cômodo
         protegido pelas fortes
         barras de ferro.

         Minha mãe sentada
         deitava seus olhos
         sobre a irã
         que se via
         nua completamente
         mijando sobre a cama
         e rindo apressadamente
         feito louca.

         Ainda que a claridade
         fosse tênue
         eu via a sua urina
         espirrando de sua buceta colossal
         e os seus dois peitos frouxos.

         E minha tia ao ver-me
         com seus olhos arregalados
         mostrou-me a língua
         da cor do corvo e
         tombou como
         uma árvore seca
         deixando exposta
         a sua nádega encurvada.
         E sob gritos que só
         à loucura cabe
         expulsou minha
         mãe do quarto.

 

         3
         O homem que amava
         a si mesmo sobre
         todas as coisas
         matou-se.

         Elogiou como os olhos desviados
         a mulher e os filhos
         e ante que alguém lhe
         dissesse olá se matou.

         Os pombos que se alojavam
         entre o forro e
         o telhado da casa
         debandaram entregando
         à própria sorte
         seus filhotes de o morto.

         Os passarinhos que criavam
         seus ninhos nas árvores
         que sombreavam a casa
         também se foram
         deixando seus ovos raros
         à mercê do morto.

         Os quatro cães dinamarqueses
         que o conduziram ao portão
         caíram num sono profundo
         sobre o pavimento luminoso
         onde são secados os grãos.

         Duas vezes morto se vê
         o rosto do homem
         que se amava.
         Era tanto o seu
         amor por si
         que não cabia anunciar
         uma única vez
         e para sempre
         a hora que
         iria se matar.

 

         4
         Somente eu posso
         falar das amantes
         que jogam
         olhares tortos.

         Eu jamais transgredi
         os ensinamentos do
         santo missal e
         tampouco interrompi
         o sagrado gozo.

         Nenhuma mulher
         que se lastima
          move contra mim
         uma calúnia sequer
         porque minhas
         poucas palavras foram
         mal interpretadas e
         todas conhecem a grandeza
         da minha outra perna.

         Por que se escondem elas
         entre os sinos coloridos
         interpretando cânticos
         incompreensíveis como se
         bebessem goles d´água?

         Florescem as amantes
         entre as laranjas
         porque foram preservadas
         pela minha baba ingênua
         e meu sangue fervoroso.

         Eu sinto o aroma
         que sai de suas bocas doces
         como se todas se
         achassem perfumadas
         à minha frente
         subindo e descendo
         sonoras e descansadas
         como pênis vibrante
         no vão da escada.

 

         5
         Sentai sobre mim
         ó senhora
         alma excluída
         anjo de precipício.

         Atentai para as flores
         negras que se debruçam
         sobre a vossa vagina
         menstruada
         noturna e matutina.

         Retirai os vossos
         cabelos  úmidos
         para que o sol
         enxergue os sulcos
         do meu rosto
         por onde se espalha
         a água que deserta
         do vosso corpo.

         Deitai vossas pernas
         desgovernadas no meu pescoço
         e o apertai com o vigor
         da cobra grande
         para que eu morra
         sob intenso gozo.

         Os vossos seios célebres
         eu me olham
         como se vissem
          em mim um cachorro
         protegei-os da volúpia
         dos meus lábios
         e guardai-os sob a
         manta emplumada
         para que neles eu
         descanse depois de morto.

 

         6
         Inclinando-me sobre a
         árvores assassinada e fria
         beijei-lhe a extremidade
         mais larga e ainda que
         não envolvesse totalmente
         apertei-a longamente como se
         abraçasse minha mãe
         ainda viva.

         Desesperado por ter
         encontrado no chão
         uma árvore morta
         busquei socorro na
         primeira porta
         mas foi em vão
         pois a mulher que eu via
         não tinha os olhos
         e o homem carregava
         na perna uma gangrena.

         Voltando ao local do pesadelo
         avistei oito homens junto
         a uma carroça de muitas rodas
         medindo com estranhas
         fitas métricas toda a
         extensão da árvore morta
         e antes que eu lhes
         perguntasse o que faziam
         furiosos criticaram com
         longos serrotes nas mãos
         a minha presença.

 

         7
         Quem poderá me destruir
         mais que os fiscais da prefeitura?
         Que taxa de conservação municipal
         é essa, exorbitante, perversa,
         paga por mim com
         cédulas do estrangeiro
         sem comprovação
         do recebimento
         e sem carimbo
         de órgão público?

         Por que permitimos que
         esses larápios sejam convertidos
         em servidores públicos
         servidores do povo
         quando nada mais são
         que achacadores
         egressos do inferno?

         Alimentam-se do que
         esses ímprobos
         além das subtrações violentas?
         Onde colocam seus
         olhos de lince
         quando seus filhos
         ou amantes
         observam-lhe os rostos?

         E mortos,
         quem lhes prestará honras
         com flores em seus túmulos
         e salvas de palmas e discursos
         afora os seus comparsas?

 

         8
         Foi Nosso Senhor
         quem me disse:
         procura entre as mulheres
         aquilo que te consola
         não te reprimas
         nas salas onde
         tu guardas as maçãs
         porque tu
         assim como a mulher
         foste criado
         à minha imagem
         e semelhança.

          Saibas que não
         são condenados
         por mim aqueles que
         fornicam por necessidade.
         Eu não falo apenas
         de desejos do homem
         mas também das
         vontades da mulher.

         Foi o que me disse
         Nosso Senhor.

 

         9
         Chamaram-me de licencioso
         os falsos devotos.
         Ora, não há forma
         mais sutil e prodigiosa
         de se alcançar
         a loucura e a morte.

         Quando eu escrevo vagina
         não há pecado
         não há permuta
         é vagina literalmente
         não há palavra
         que a substitua.

         Quando eu digo
         que as mulheres
         atravessam  o mar
         apenas para ver
         a minha nudez
         e ao se aproximarem de mim
         embebedam-se até à tontura
         ora, por que teria eu
         que negar se não existe
         nada mais puro?

         Dizem-me que
         eu não rezo
         a homilia e o
         nono mandamento.
         Por que teria eu
         que seguir regras
         se a minha vida aqui
         é extremamente curta?

 

         10
         Eu te chamo para
         que tu me digas
         o teu nome de serpente.
         Olhas as minhas pernas
         marcadas pelos punhais
         que escondes nos teus dentes

         Fala-me do veneno que
         fabricas quando latejam
         as artérias da tua boca.
         O que carregas
         na tua vagina,
         essa bolsa circulante
         e portentosa, além do
         líquido precioso?

         E os teus olhos
         por que se avermelham
         como fogueiras
         que gritas para que
         cesse imediatamente o gozo?

         Fala-me o teu
         nome de serpente
         fala-me com a
         voz do galo
         para que se grave
         na memória do meu pênis
         a angústia de assistir
         a tua morte.

 

         11
         Um homem
         teve dez filhos.

         Cada vez que
         um nascia
         dizia ele:
         é a vontade
         de Deus.

         Deus os protege
         e os alimenta.

         Dos dez
         nos dois primeiros
         anos de vida
         seis
         morreram de fome.

 

         12
         Na minha rua
         ou melhor na calçada
         da minha rua
         vivia um homem
         que me parecia
         mais bicho
         do que indigente.
         Talvez
         um cachorro sujo
         ou um porco.

         Após tantas queixas
         dos meus vizinhos
         domingo quando
         ele ainda dormia
         surgiu um carro
         branco da prefeitura
         e o levou não se
         sabe para onde.

 

         13
         As mulheres que varrem
         as ruas da cidade
         não têm direito
         a vale-refeição.
         Nos seus bornais
         carregam escovas de cabelo
         absorventes sem abas e
         com uma só camada
         de proteção, passes de ônibus
         ou de trem, espelhos e batons
         além de suas marmitas
         miseráveis e frias.

 

         14
         Foi na última
         hora da tarde
         que meu pai
         me entregou
         a uma mulher
         de nome Rute.

         Andamos juntos
         por uma estrada
         estreita onde
         pedras minúsculas
         foram colocadas
         sobre a areia
         e em meu pai
         havia alegria
         pois cantava e
         dava longos
         ou pequenas corridas
         e gritava com sua
         voz entonada para
         que eu dobrasse a marcha
         e não perdesse de vista.

         Chegamos à casa
         que mais me parecia
         um palácio, debaixo
         de uma chuva fina.
         Os sapos coaxavam
         e tudo ali
         me era estranho.

         As cortinas
         as portas
         as poltronas
         os rostos das mulheres.
         Em tudo havia
         uma cor diferente.
         O vermelho
         o laranja
         o amarelo.

         Eu tinha
         quinze anos
         e fui levado
         manso como a vaca
         ou como o cordeiro
         pelas mãos de uma
         mulher de nome Rute
         rumo ao inferno.

 

         15
         Eu sou um assassino
         é verdade.
         Eu sou um assassino.
         Desde a adolescência
         quando disseram-me
         esta é uma propriedade privada
         aqui tu não entras,
         tornei-me verdadeiramente
         um assassino.

         Eu não uso nenhum
         instrumento cortante
         ou de fogo.
         Todos os meus mortos
         são empurrados para o pó
         pela violência dos meus olhos
         e pelos vestígios das
         minhas mãos atadas.

         Eu não grito
         porque desde a infância
         minha voz é fraca.
         E ando pouco porque
         a velhice em mim
         é gasta.
         Mas não há
         nenhuma alma
         que permaneça
         ainda viva
         que desdenhando
         do meu encanto
         não seja
         assassinada.

 

         16
         Os pássaros chegam à noite
         e pousam sobre mim
         e bicam as minhas entranhas.

         Ainda que eu lhes diga
         que há uma letra
         inteira na minha boa
         e peça por piedade
         para não golpearem
         com suas línguas
         a minha garganta,
         eles ferem-me,
         agridem-me com brutalidade
         e adornam o meu corpo
         com flores
         cercadas de borboletas
         e estremecem violentamente
         sobre o meu pau

 

         17
         Com um letra
         não se forma
         uma palavra.
         Com duas, sim.
         Pá, ré, sé,
         fé, pé, dó e
         outros exemplos
         que nem cabe
         citar agora.

         Enquanto falava de gramática
         Dona Dolores
         professora do primário
         mostrava-me as coxas.

         Eram lindas
         avolumadas e quanto
          mais eu olhava
         mais ela se abria.

          Terça-feira foi o último
         dia em que a vi.
         Suas pernas
         velhas e gordas
         estavam cobertas
         de flores.

        

           

 

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TEXTO EM INGLÊS

 

 POEM FOR SONNY PERDUE

 

Tradução: Thereza Christina da Motta

 

 

I beg you, Lord,

Before expelling from your land

Those who look for shelter where

The deer still runs through the forest,

You, whose ancestors

Came from far away places;

I beg you, ask the children

Of the United States of America.

Ask the Apaches, the Creeks, the Navajos,

The Cherokees, the Sioux, the Comanche’s.

Ask the children

Of the African slaves,

And also, Lord, the children of the immigrants,

Those, who, like You, have built the Peach Land.

Allow all to reach the Mississippi,

All to bathe in the waters

Of the Altamaha or the Chattahoochee and more:

That all be tall as the pine trees.

Life is a fragile bird

And sometimes it is as old as a beaver.

My back is bare

As well as my soul.

To the right, my eyes behold the Brassmount,

To the left, the tombs in the cemeteries.

I beg you, Lord, don’t wipe off

The dreams of those who yearn for freedom.

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2008; ampliada e republicada em julho de 2015; ampliada e republicada em janeiro de 2017

 

 
 


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