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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: https://fflch.academia.edu/ 

 

CAIO GAGLIARDI

 

Professor da Universidade de São Paulo na área de Literatura Portuguesa. Realizou pesquisas de Pós-Doutorado no Dipartimento di Studi Europei, Americani e Interculturali da Università degli Studi di Roma "La Sapienza" (UNIROMA/2019 & 2014) e no Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada (USP/2008), Doutorado em Teoria e História Literária (UNICAMP/2005), Mestrado em Teoria Literária (UNICAMP/2000) e Graduação em Letras (UNICAMP/1997). É coordenador do Grupo de Pesquisa Estudos Pessoanos (http://estudospessoanos.fflch.usp.br/) a respeito do poeta português Fernando Pessoa. (Fonte: Currículo Lattes)

 

 

SALAMANDRA – REVISTA DE POESIA. Número 1.  Campinas, São Paulo, Outubro de 2001.  Editores: Pablo Simpson e Pedro Marques. Capa e diagramação: Pablo Simpson.  Apoio: Instituto de Estudos da Linguagem e do Centro Acadêmico de Letras e Linguística – UNICAMP.   Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

       DEPOIS

 

       migalhas de pão no lençol
(...)
umedecidas

                          (em frente ao espelho)

 

        cicatrizando...
(...)
um arremedo, de homem

 

 

       05 – 10.11.99             

 

       1.
Freio-de-mão
na velocidade-prosa
Aqui é preciso calma

        Desabituar-se
da olhadela,
do ritmo-jornal.

        Sem o trânsito da pressa
(que desinteressa)

        Adotar os passos
do inspetor de rua
(da paciência):

        A cadência de que ama
reiniciando
a partir do ponto final

        A consciência de dois
caminhos —
o específico e o mais geral.

 

 

        2.
Receber a coisa então
como quem traspassa o apuro
assinalá-la o murro
de torná-lo embrulho
da própria indagação

        Dar a cada passo
o valor da conquista —
que não se marca em velocímetro
que não se cronometra ou se lista
Mas como faz o alpinista
que a mede por centímetro
(em sua arte-equilibrista)
seja a rocha de água ou aço

Como o alpinista,
que em cada falha incrusta
o planejamento e a ferramenta,
um movimento que se ajusta
ao ar rarefeito
ao seu cansaço

Receber a coisa então
com cautela de cirurgião
(quando termina o parto)
com fórceps, oxigênio e exaustão

Dar a ela a concretude
de quem cria
a atitude de quem fia
a argamassa à fumaça
o cimento à desgraça
o adiamento à partida

A sabedoria de se fazer do tempo
a hora convertida
no fermento derradeiro
da inevitável conclusão.

 

3.
Reconhecer, por fim,
a natureza do processo,
infinita.

Que dado um final
continua-se a trilha
de um novo acesso

Que não se transita aqui
do cenho ao bocejo
do tapa ao aperto de mão

Assimilar a grafia do tapa
(seu desejo de faca)
como o ensejo da composição

Que não se conforma na hora
(no ponto banal)
mas alimentada da paciência

Da experiência
que é só depois,
quando surge o vergão.

 

 

18 – 19.10.99

 

Se eu pudesse subir descalço
no gume da faca
Se eu pudesse cravar as unhas
no mármore da placa
Se eu pudesse parar a bala
Se eu pudesse abraçar a lava
Se eu pudesse mergulhar no gelo
Se eu pudesse olhar de frente
as feras indomadas da natureza
Se eu pudesse domá-las
e engradá-las num formato-jaula
específico e trancado,
sem que com isso se apagasse a
sua natureza, de fera
Se eu pudesse, ao contrário,
atiçá-la, dar a ela a ânsia
a sombra e o espreitamento
Se eu pudesse inoculá-la da fuga
do instinto da escapulida
da explosão do bote
do urro, e contê-los  a todos
num aparente só inquietamento
Se eu pudesse trancar-se com ela
ou carrega-la consigo,
ser cúmplice da fera
Se eu pudesse fazê-la da janela
Se eu pudesse, finalmente
tornar-se como ela
Deus seria o grafite
o mar de papel
e o sol luz de vela.

 

 

GATOS PARDOS           

 

Tinham o medo e o frio
dos gatos pardos pelas manhãs de inverno,
bromélias murchas nas lapelas,
os guarda-chuvas abertos
cobrindo-lhe o lodo das pegadas
(duas vagas negras no lugar de rastros).
Passavam como a água da chuva,
em sereno marulho, cedo, como se nunca.
Se os vissem diriam quem eram...
Mas passaram, como toda manhã
homens com guarda-chuvas abertos,
botas de camurça escarlate
e bromélias murchas nas lapelas devem passar,
sem se notar.

 

 

08. 99

Venta:
na janela aberta
a inquietação do caco.

 

VERSAL – Revista de Poesia.  Ano 1, Número 2, Agosto 1997. Campinas, SP.  Editor: Gabriel Antunes.  14,5 x 20,5 cm.  Tiragem: 100 exemplares.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

        Aracne

 

        Nas sombras do jardim
Em silêncio
Um pequeno ser trabalha.

        Tece de si, meticuloso,
Um finíssimo fio,
Que nele se agarra.

        Aos poucos, orgânica,
Aérea
A estrutura toma forma —

        Sem tear ou trama:

        Somente gana
Teima
Calma.

        E a rede,
Que de um delicado fio partira,
Traz consigo o esqueleto invisível
De sua inconfundível forma:

        É arte, dor e alma.

       

        Amarras

 

       I

        No seio de uma cíntia voz
Ela diz, Lídia...
Ela, incrustada em mim:
Íris de lince
Cenho de fera — Ela
Pantera.

        II

        Caio implícito
do que em mim
Dela —

        No pensamento, exangue,
Destroços
Restos do que era.

        Nas garras,
Carne
Sangue:

        Alma que vela.

 


Ronda

       Na escuridão da rua
A umidade fria.
Esparsas nuvens cinzas.

        Uma matilha em lentos passos
(Sob o vento, o leve ganiçar...)

        — Um casal!

        Cheiro de morte no ar.
      

 

 

Página publicada em setembro de 2019.        


 

 

 
 
 
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