ANTONIO VICENTE PIETROFORTE
Antonio Vicente Seraphim Pietroforte nasceu em 1964, na cidàde de São Paulo.
Formado em Português e Lingüística, é mestre e doutor em Semiótica e Lingüística Geral pela FFLCH/USP, onde leciona atualmente.
Nos anos de 2005-2006, coordenou, ao lado do poeta Frederico Barbosa, o projeto Rompendo o Silêncio, na Casa das Rosas; e em 2006, o Escritor nas Letras, junto com o Centro Acadêmico de Estudos Literários e Lingüísticos Oswald de Andrade.
É autor do romance "Amsterdã SM" (2007), editado pela Dix; e dos livros "Semiótica Visual: Os Percursos do Olhar" (1 a ed 2004; 2a ed 2007) e "Análise do Texto Visual: A construção da Imagem" (2007), editados pela Contexto.
Ao contrário do que possa ser previsto pelo apressado ante essas linhas, a poética de Antonio Vicente Pietroforte ergue-se rítmica e precisa — aqui a contramão se opera para afirmar os rumos do professor de Linguística: o autor dispõe com estatura seu conhecimento sobre a poesia ccontemporânea brasileira (“Glauco, na hora de fazer / mais um soneto, qual a parte / do corpo que você escolhe?”) e compões madrigais, salmos, irikis, rengas e folias. / De pouco em pouco, a contramão nos seduz por suas rotas.” Ana Rüsche
Veja também>>>> A MUSA DROGADA, O CANTO VICIADO : A MUSA CHAPADA, por Ademir Assunção e Antonio Vicente Seraphim Pitroforte – resenha do livro
PIETROFORTE, Antonio Vicente Serafim. O Livro das músicas. São Paulo: [e] editorial, 2010. 66 p.
PIETROFORTE, Antonio Vicente Seraphim. O retrato do artista enquanto foge. Poesia completa (2007-2012). São Paulo: Annablume, 2013. 338 p. (Selo Annablume Literária) 14x23 cm. ISBN 978-85-391-0535-9 Foto da capa por Ana Cristina Joaquim. Inclui: “Considerações pre-faciais sobre a poesia de “o retrato do artista enquanto foge” de Antonio Vicente Seraphim PIetroforte, por E.M de Melo e Castro. Col. A.M.
de palavra quase muro (2008)
Antonio Vicente Seraphim Pietroforte e Antonio Miranda: reencontro nas RAIAS POÉTICAS, Famalicão, Portugal, em setembro de 2013.
O RETRATO DO ARTISTA ENQUANTO FOGE
São Paulo: Annablume, 2007
(Coleção Dix Editorial)
uma seleção
o que apetece, Balzac?
na descrição da forma mais
bonita, você se perde entre
o desenho e o fato; e agora
Glauco, na hora de fazer
mais um soneto, qual parte
do corpo que você escolhe?
a tinta da melancolia
te entrega uns braços, a veia
do poeta negro se toca
quando fica duro; palmeira,
a menina loira desmaia
sobre a mata, a pata da
donzela ciumenta te consome
como te consome
o pulso machucado; muitas
putas para Henry Miller, para
Jean Genet, travestis, viados
como na Ilíada, Aquiles
e Pátroclo; continua a
saga no drama, na comédia
é sempre uma mulher que te abre
o Céu como se abrisse as pernas;
como Camões na redondilha
pede um beijo às lavadeiras, Joyce,
numa carta à namorada
pede peidos na cara
*
está parado em frente ao Elevado
na Amaral Gurgel
toma cuidado
o emplasto que segura o saco
o talco no lugar da flor
puro Mistral
desceu pelo nariz nervoso
havia um sex-shop ali ano passado
beleza
há um pôster de mulher pelada
imenso
em cada prédio
dureza
fingir indiferença à mendiga suja
o pé descalço
a coxa dura
a curva da cintura
no vestido dado
vazio?
por que duas lésbicas precisariam
de um pinto de borracha
para completar o trio?
*
o brilho da água se recorta
no vôo do inseto
o Buda sentado alucina
esmeralda incrustada no olho de vidro
a loucura do fungo
nos night clubs em Nagazaki
pássaro feito de plástico
tão bonito que parece de verdade
minha doce emoção
se desgasta no excesso da palavra
o brilho da água
já não diz mais nada
mas soluça a água salgada do teu olho falho
grita na garganta, mais viscosa
só me diz a água
que do teu olho vaza
lacrimosa
neblina produto da fumaça
zebra riscada com chicote
o Buda toca uma punheta, e goza
) mas (sob o céu da Pérsia
no bico do Simorg
ela é minha de verdade
para Camila
*
shortsvermelho
reetus
vermelhovermelho
proeta
vermelho vermelho
zen
o vôo da garça
zen
o vôo da garça
ergo
semdramasemdrama
erectus
malae tenebrae
Orci
rubent rubent
como
se trata do corpus
como
se trata do animus
incógnito
trata-se da mens
lubrax
trata-se do noûs
outro anal para Camila
---
ninguém repara, amada
você não leva nada
em uma noite escura
quem sabe alguma prece rara, súcubo
a vespa pronta pra bater as asas
com ânsias, em amores inflamada
decotada, a Vênus
indecente, desfruta
ó ditosa ventura!
a sensação do tato
sob os pés, prece rara
— saí sem ser notada
o chão é caramelo puro, gata
sussurra pela noite escura, fada
estando minha casa sossegada
Obs. Os versos em negrita são do poeta Sâo João da Cruz
Página publicada em novembro de 2007.
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