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Imagem: http://literaturasergipana.blogspot.com/

 

 

 

AMANDO FONTES

 

 

Amando Fontes (Santos, São Paulo, 15 de maio de 1899 — Rio de Janeiro1º de dezembro de 1967) foi um político brasileiro. Exerceu o mandato de deputado federal constituinte pelo Sergipe em 1946.

 

 

 

ANTOLOGIA DOS POETAS BRASILEIROS BISSEXTOS CONTEMPORÂNEOS. Organização: MANUEL BANDEIRA.
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1996.  298 p,   12 x 18 cm. 
ISBN 979-85-209-0699-O    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Bissexto é todo o poeta que só entra em estado de graça de raro em raro.” MANUEL BANDEIRA

 

 

 

CREPUSCULAR

 

       Para Corália

 

... E na curva da estrada,
à hora misteriosa
e sagrada
do crepúsculo, encontrei-te.

 

As nuvens, lá no poente, eram tintas de rosa...

 

Hora crepuscular de sonho e prece,
em que a luz adormece,
e apaga...

 

Sobre a montanha a sombra desce,
e, pouco a pouco, se propaga,
densa se espalha...
Envolve a terra sonolenta,
negra mortalha...

 

Foi assim: adorei-te,
apenas vi teu vulto esguio
na curva do caminho
empoado e sombrio.

E de branco vestida,
branco de arminho,
estavas recostada
sobre os ramos virentes
de uma árvore florida
à beira do caminho.

 

Tinha na destra a face reclinada,
a tua linda face de madona,
triste e serena,,
que é como a tarde desmaiada
de cor morena...

 

E com a destra compunhas,
num gesto vago, estranho,
teu cabelo castanho,
perfumado,
anelado...

 

Ao longe, no horizonte, os olhos punhas,
seus olhos rasos d´água,
dolorosa expressão de tristeza e de mágoa
que trazias no peito, a amargurar-te a vida.

 

Dos meus olhos, também, vertia o pranto. 

 
 

         Por uma dor que a gente
sente, mas não se conhece,
de todas a mais pungente,
sempre a nós unida,
chorava o mesmo pranto que choravas...

 

         E vi, surpreso, que sofrera tanto,
em busca de um amor que me entendesse
quando à margem da estrada me esperavas.

 

                   (Aracaju, 22 de outubro de 1922).

 

 

 

 

 
 

          A PÍLULA VERDE

Trago-te no bolso,
Para te ingerir à hora certa,
Justamente como prescreveu o Doutor.

 

         Tens o poder mágico de me arrancares do poço
Negro, sem ar, poço gelado,
Onde às vezes desço...

De outras feiras, quando me encontro
No centro do escuro túnel,
Que não tem saída para a frente
E de onde não se pode recuar,
Vens, com tuas mãos carinhosas e potentes,
E me encaminhas pra o ponto,
O único ponto de onde se vislumbra
o portal claro do mundo...

 

         Ainda quando, certas ocasiões,
Me desligo da vida,
E o jornal me entedia,
A obra-prima não enleva,
Minha imaginação por completo se embota,
E nem chego a degustar o prazer
De uma conversa amiga,
A presença afetuosa dos meus,
A alegria que vem dos netos,
Tu restabeleces todos os meus contatos
E dás às coisas e às pessoas
Um sentido diferente e novo...

 

         E não é raro, ainda,
— Nos momentos em que a angústia,
Como um alimento indeglutido,
Se instala, e permanece no meu peito,
Arrastando-me aos pensamentos mais tenebrosos e absurdos —
Me surgires, para
Com teus estranhos poderes,
Me libertares do sofrimento e da opressão...

 

         Não constituis, portanto, como pensam,
Apenas um preparado químico:
Mais do que isso,
És uma invenção divina,
Que me restitui à vida,
E que me faz de novo ser eu mesmo!

 

                   (Teresópolis, maio de 1965)

 

 

 

          IMPRESSÕES DE CURITIBA

 

 
 

              (Para o querido Manuel Bandeira,
aquele que é grande, mesmo visto de perto)


Quando pisei teu solo,
no ano já distante de mil novecentos e vinte e sete
(é bom fixar bem essa data)
pois me dizem que bem diferente hoje és)
eu vinha do pequeno Sergipe,
semi-árido,
quase todo assentado numa planura linear,
de vegetação rasteira e rala,
povoado por uma gente profusamente amestiçada,
com alguns negros puros, de permeio,
loiras raríssimas,
(Sinhá, Célia, Conceição...)
umas poucas morenas gratas ao olhar,
e um grande séquito de cafuzas e caboclas
nem sempre feitas
par que fossem admiradas.

A primeira impressão, que,
quando te vi, me ficou,
Curitiba!
foi a que tinha serras verdadeiras,
e também verdadeiras matas de araucárias,
tão mais altas que as ingazeiras
beira-rio de nossa fazenda do “Aguiar”,
e muito mais compactas que as pequenas
manchas verdes de nossos raquíticos candeiais...
Depois, chegou-me a vez de assistir
à saída das crianças de tuas escolas:
eram, quase todas, brancas, brancas,
os cabelos de algumas, até, de tão loiros, eram brancos,
e vinham vestidas em claros aventais...
Andavam descalças, no verão,
pois não existia nelas o receio
de recolherem da terra
o germe da opilação...

E eram alegres, bem alimentadas e sadias,
Talvez, por isso, rissem tanto,
num gritante contraste
com os pequenos sergipanos,
macambúzios e impaludados,
que deixavam as aulas devagar,
rostos pendidos para o chão...

 

         Também me surpreendeu fortemente
o ver
que teus carroções de transporte
das colônias circunvizinhas
não eram puxados por bois,
mas por duas parelhas de cavalos luzidios,
ostentando nas correias da testeira,
rebrilhantes guizos retinintes,
e que, ao invés do carreiro convencional
na boleira traziam um velho italiano de cachimbo,
e ar filosofal,
ou uma velha e encarquilhada polonesa,
quando não se encantava meu olhar
descobrindo, no condutor,
uma linda criatura de outro sexo,
o sangue querendo brotar través a pele,
e que seria alemã, tcheca, finlandesa,
ou, simplesmente,
uma grácil paranaense já em terceira geração...

 

         Vi-me, em seguida,
na tão afamada “Rua Quinze”,
e a população que ante mim desfilou
era gentil, bem calçada e bem nutrida.
As mulheres se vestiam
au dernier cri de Paris
e da França provinham
os perfumes que, empós elas, deixavam um rastro estonteante.
Os homens usavam grossos casacos bem talhados,
luvas de couro de cão, polainas e bengalas.
Ouviam-se as frases na língua que nossas mães nos ensinaram,
mas este casal,
aquele grupo álacre que passava,
se entendia em idiomas estranhos, guturais,
quando não no doce italiano de Petrarca.

Eram todos claros e corados,
e só a longos intervalos surgia um ser de cor...
(Não sou racista, asseguro,
e muito menos infrator da Lei Afonso Arinos,
tanto que nutro profundo entusiasmo por Pelé,
e considero Vera Lúcia, a mulata,
uma legítima Paul Neyron desabrochada...)
Nasci esteta, porém,
e, como tal,
amo somente o que é grande, puro e belo...
Que me perdoem os brasileiros de outros rincões:
mas tudo que ali eu via
me dava a vívida impressão
de andar em viagem de turismo
por velhas e nobres terras estrangeiras..,

 

         E tuas casas?
Quase todas, mesmo as mais pobres,
eram guarnecidas de cortinas,
enceradas e limpas,
e possuíam jardina, onde imperava a rosa,
acolitada por tulipas, lírios, margaridas...
Algumas tinham os tetos pontiagudos,
à espera da neve, que,
apenas transcorridos decênios e decênios,
às vezes te faziam ficar
(como eu próprio veria, no ano seguinte)
toda a alva,
como se não estivesses situada em pleno trópico...

 

         Tudo era belo, diferente, típico...

 

         Mas o que sobremaneira me alumbrou,
e me fez desejar, intensamente,
foi constatar que tuas mulheres,
— não todas é certo —
mas muitas delas,
a lavadeira,
a “pajem”
a empregada do balcão,
a senhora do milionário,
a do oficial de  Artilharia,
eram belas, belas, belas,
e em seus olhos carregavam
promessas inefáveis,
convites claros
a um maior desfrutamento mais intenso da vida,
pois sabiam que a mocidade logo passa,
e seu momento era aquele, justamente...

 

         Foi assim, Curitiba!
que maravilhaste o nortista vintenário
e que no coração trazia a ânsia de vencer,
de fruir,
de ser parceiro atuante
no grande jogo humano e arriscado da existência...

 

         Por isso te quero bem,
e repito as propostas de rever-te,
pois me dizem
que estás crivada de arranha-céus,
povoada de novas raças,
boas, trabalhadoras, plácidas,
mas feias,
e que te fizeram mudar completamente a feição...

Quero-te como havia sido,
um dia,
cercada por bosques de pinheiros seculares,
se projetando para o azul,
com tuas lentas carroças de hortaliças,
o gárrulo alvoroço dos infantes de tuas escolas,
as flores de teus jardins,
teu povo alegre de tez clara,
e, sobretudo,
a beleza sem par de tuas mulheres!

 

                            (Teresópolis, 8 de maio de 1966)

 

 

 

 

         APELO ARDENTE

 

 
 

              (Para Geraldo Jordão Pereira)


Oh! Não!
Que não me esmaeça nunca,
no decorrer dos anos
o brilho fulgurante
de teus olhos!
Que o viço e a maciez de tua pele
permaneçam sem a mácula
da mais leve ruga,
de uma só mancha!
Nem te transmude noutra
a cor de teus cabelos!

Ah! Que também não se perca,
que não se arruíne
a rijeza de tua carne moça
só comparável à do látex compacto!
Que seja tudo,
— até que eu me fine —
como conheci,
no dia em que surgiste,
semelhando uma rosa inda mal desabrochada,
minha alma e meus sentidos conturbando,
e logo me levando a conhecer
mundos insuspeitados e ignotos,
onde teria sido bom ficar
por todo o resto da existência,
pois lá era constantemente antemanhã,
tudo quieto,
de ruído só se ouvindo
o alegre trinar da passarada!

         Oh! Não!
Que pare o tempo!
Mas que não envelheça nunca!
Que fiques eternamente
como continuas a ser na minha lembrança,
na lembrança do primeiro dia em que vieste,
no teu andar silencioso e rápido,
a curta cabeleira esvoaçando,
estampados no rosto,
o descuido e a alegria de viver,
os lábios entreabertos
num sorriso ainda de criança,
em todo o teu semblante revelando
o desconhecimento mais total
dos mistérios da vida,
do mistério do amor!

 

                (Rio, 24 de maio de 1966)

 

 

 

 

Página publicada em maio de 2020



 


 

 

 

        

                 

 

 


 

 

 
 
 
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