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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



ADELAIDE PETTERS LESSA

 

 

Adelaide Petters Lessa nasceu em São Paulo. É educadora, psicóloga clínica, doutora em Ciências Humanas pela USP, professora universitária. Publicou, em prosa, Precognição, Paragnose do Futuro, Videntes do Cristo. Em poesia, Amoressência, O jogo do êxtase, Augusto e Quase Poética do meu Próximo.

 

 

Correspondência de Carlos Drummond de Andrade depois de ler Augusto, é a melhor apresentação da autora:

 

Drummond lê versos de Augusto

(fragmento)

 

“Quem inventa coisas como o esquife de avelã,

a mulher que leva brasas no avental,

quem convalesce de navios, de rosas e de arvoredos,

e descobriu em Amar um verbo redondo,

quem volta da expedição à pérola,

traz consigo a poesia, a mais fina e requintada poesia.

Que surpresa o seu livro, Augusto!

Em tão pouco sabe dizer tanto... Oito linhas curtíssimas

E aquela descoberta admirável sobre o universo:

         Tudo faz parte de um único verso.

Esta é a verdade dos poetas que reduz a sínteses

         Uma larga e sofrida experiência dos homens.”

 

  (De Amoressência)

 

De

AUGUSTO

São Paulo: Massao Ohno, 1998

 

 

 

AUGUSTO EM HORIZONTE CIRCULAR

 

Achei-me intemporal

num campo solitário.

O sol a pino ardeu

no fundo de meus olhos.

 

Senti a gravidez

da noite ao meio-dia.

Parei de ser e fui

o ritmo de tudo.

 

Fundiram-se, à escuta,

as flores com as nuvens.

Em mim estava o fulcro

De Amar, verbo redondo.

 

 

AUGUSTO, AO TIMBRE DE EINSTEIN

 

Olho capaz de ver-se a si mesmo.

Não o da abelha, multifacetado,

imóvel, alto, espelho simultâneo

de bosques de araucárias e violetas.

 

Não o do homem que não vê a nuca

por mais que vire o rosto e se contorça.

Mas o do monge em êxtase, pupila

Circunvidente, pálpebra de tudo.

 

Dentro do qual os cosmos se recriam,

Renascem gerações, há o descortínio

De ser, o meu, o corpo do infinito

Quando reverto à condição de luz.

 

 

 

 De

QUASE POETICA DO MEU PRÓXIMO

São Paulo: Escrituras Editora, 2000

ISBN 85-86303-81-X

 

 

OURIVES-MESTRAS

 

Exibo jóias raras e me prezo

de ser a vitrinista da poesia

de brasileira ourivesaria.

 

Coroa-me a tiara de Henriqueta,

madrinha lua de branquinhas tranças,

luar de pérola em buquê-de-noiva.

 

Tilintam braceletes de Cecília

Autografados pela musa antiga,

Santa Maria Egipcíaca.

 

De Auta, no pescoço, a correntinha

de ouro com pingentes extraídos

de uma jazida de ametistas.

 

Maria Braga Horta, um camafeu

de bem-querer esposo, filhos, pátria,

selou meu peito e me guardei em Deus.

 

Novas eu trago ao escrínio da poesia,

as jóias rútilas de ourives-mestras

de quem,  herdeira, peço a augusta bênção:

 

De Stella, um broche em flor, a Leonardo,

diamante rosa em berço de platina

com pétalas redondas, turmalinas.

 

De gargantilha de granadas, rubra,

de bíblica romã, sobe a tribuna

voz de Renata à sua gente muda.

 

De Adélia, um par de brincos marchetados

de azuis cristais de quartzo, um azul raro

na família dos chips eletrônicos.

 

De Astrid, seus anéis, jade e safira,

o de alamedas, seiva e clorofila,

o água-de-fonte, som de sensitiva.

 

Foi de Marília um medalhão em prata

com juras de poeta desterrado,

seu verso aos quinze anos da noivinha.

 

Resgato para mim aquele escrínio-lira,

lágrimas dela beijo, opalas agridoces,

nobres, intactas, na memória lírica.

 

 

HARI SARI

 

Quero casar-me virgem, divulgava

E os sedutores se retinham, transtornados.

 

De cor sabia o Alcorão e o Gita,

o Tao Te King, o Popol Vuh e a Biblia.

De quebra,

         eficiente executiva,

         modelo grego, de beleza olímpica,

         moderna, refinada, virtuosa

era invencível no xadrês dos mestres,

em tiro ao alvo, no flamenco puro,

tai-chi, rappel, judô e capoeira.

 

O pai, de olho profético, estimava:

— Tem equilíbrio. É rústica e suave.

Saberá defender-se e preservar-se.

 

Casou conforme quis, mulher inteira.

Fez-se budista, unida a um monge, casto,

enquanto os sedutores transtornados

lançaram-se à fogueira

entre pôsters do Buda e Dalai-lamas.

 

 

NARCISA

 

Se houve traição não foi só dele

         que amava desfrutar várias amantes,

         ou simultâneas, ou em séries,

         desde que, apaixonadas, fossem elas.

 

Se apaixonado, perderia o mando.

         Jamais enlouquecido, ele gozava

         de gozo das mulheres temporárias,

         nunca poroso, nunca transvazante,

 

                   apenas entretido em salivar

                   um selo no postal às que jogava,

                   aos sórdidos cassinos, em soluços.

 

Narcisa, a última da agenda,

por quem ele daria o sangue e a vida,

essa o traiu, clone risonho

de sua irresponsável jogatina.

 

 

HERÁCLITA

 

Orfã, cresceu com sua avó

francesa, desligada, nonchalante,

a placidez das plácidas.

Tout casse, tout lasse, tou passe.

O tempo era a carruagem

Da tolerância. Laissez-faire, laissez aller.

 

Um bicho carpinteiro, o avô luso

sentia horror à mãos vadias:

Se não tens o que fazer

a saia descostures e tornes a cosê-la.

 

Penélope de Portugal, a jovenzinha

passou de roca-e-fuso a um tear elétrico

e a um micro digital, plug and play, delete,

que o ir e vir da Nasa é retorno santo.

 

O namorado, sobre a ponte, fez notar

que rio nenhum é o mesmo, onda nenhuma

se eleva e cai igual à outra

para nenhum surfista.

 

Então ela se vai

de namorado em namorado,

cíclica, ardendo como buscapé,

que o ir e vir da Lua é trabalho

para a maré.

 

 

HERBORISTA

 

Um homem sorridente, prestativo.

Na meia idade, tem saúde esplêndida.

Diz ser pajé de setecentos anos.

Cura com plantas e “acerta mão”.

 

         Ele recorre ao boldo para o fígado,

         à malva para a boca e a garganta,

         erva-cidreira para um sono calmo,

         maracujá na insônia, ou alfazema.

 

Com agrião, já levantou da cama

um jovem desfibrado, anêmico, raquítico.

Limão já impediu que se amputasse

A perna de um piloto de helicóptero.

 

         Se a doença é gastrite, guaçatonga

         cicatriza as úlceras do estômago.

         Bronquite e asma cedem aos vapores

         do eucalipto aromático, balsâmico.

 

Gengibre dá voz límpida aos cantores,

grindélia e guaco vencem coqueluche,

quinino acaba com as febres da malária.

 

         Com alho cura gripe e mau olhado.

         Espiga de milho emagrece o obeso

         se for usado apenas o cabelo.

         Quebra-pedra arrebenta cálculo urinário.

         Cebola, uva, abacaxi, tomate,

         laranja e couve-flor antioxidam

         radicais livres que dão vida ao câncer.

         A graviola serve ao diabético.

         Guaraná retarda os males da velhice.

 

E santa de louvor e ladainha

nossa espinheira-santa:

desinfetante, tônica, analgésica,

cicatrizante, o povo a batizou

de salva-vidas, Espinho do Divino.

 

A salsa, lisa ou crespa, é outra santa.

O mel de abelha-jataí...

         Mas alguém chora à porta do herborista:

         — A vespa te picou? A cobra te mordeu?

         Contraveneno aplica-se, menino.

 

Mestre das ervas, fitoterapeuta,

sabe de cor receituário antigo,

riqueza das florestas e campinas,

das feiras e cozinhas,

do hospital dos pobres, longe das cidades.

Pajé conhece vinhos, chás, tisanas,

inalações e a prece repetida:

 

         — Espinho do Divino, serve este ferido!

 

Ele é quem diz, na extraordinária louvação

à selva, ao campo, à horta e ao pomar:

 

         — Confia em nossa flora,

         preserva nossas matas,

         salva o teu sorriso,

         festeja a vida!

 

 

Homenagem aos raros cientistas que pesquisam os valores medicinais da flora brasileira.

 

 

PLANTA CARNÍVORA

 

(voz do diabo)

 

Aos desafetos serviu alume,

urtigas, urzes, cicuta, estrume.

 

Tem o desmanche de seu curtume

no inferno onde quem fez assume.

 

Nada se perca,

nada se esfume.

 

(voz de amigo)

 

         Aos desafetos

         serviu alume,

         urtigas, urzes,

         cicuta, estrume.

 

         Curte o desmanche

         de seu curtume

         no limbo onde

         quem fez assume.

 

                   Nada se perca,

                   tudo se arrume.

 

(voz de anjo)

 

Aos desafetos

         serviu alume

urtigas, urzes,

         cicuta, estrume.

 

Curte o desmanche

         de seu curtume

na terra onde

         quem fez assume

 

Nada se perca.

         Tudo se emplume.

 

 

FALCATRUA

 

Pena de garça, no cartório, é garantia

de uma escritura honesta, lavra pura?

 

Mestre contábil não confundiria

graça divina com falsa poesia.

 

 

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Os poemas publicados em LITERATURA – Revista do Escritor Brasileiro, Ano XVI, Nov. 2006/ Abr. 2007, N. 33, editada pelo contista, poeta e crítico Nilton Maciel.

 


AFLIÇÃO DE UM JOVEM POETA

 

Ele: Livro de poesia

        é como

        teia de aranha.

 

Ela: Prende a folha, prende a chuva,

        rehidrata a sobrevida.

 

Ele: É coleta de sangue,

        balanço de suor, colcha de pranto,

        esperma, linfa, baba,

        é mordida, auto-defesa.

 

Ela: Mas, pelo design,

        espantosa, delicada geometria ...

 

Ele: Estrela, sistema solar,

        mandala no ar, exágono de êxtases.

 

Ela: ... sujeita a riscos,

            vendavais, tempestades,

            pedras e lava,

            e críticos impérvios.

 

Ele: O analfabeto rasga.

        O cego pisa.

 

Ela: E a mãe conserva,

        entre pétalas de rosa  

        e penas caídas,   

        azuis, de periquitos.

 

 

CIDADÃ

 

em Los Angeles, 1996

 

Só não é presa por andar vestida

com uma teia de viúva-negra

esburacada.

 

Só não é presa porque anda ereta,

semi-dormida até encostar no beco

de móveis descartados.

 

Na poltrona cambaia ajeita os braços

do jovem corpo nu

para picar-se, mais uma vez,

entorpecida pela droga.

 

Ela é um fantasma de hematomas, pronta

para dormir em morte solitária

entre sarnentos gatos.

 

Inutiliza a vida por um vício

e além a espera

o Vale atroz dos Suicidas.

 

São Paulo, 02.02.00 celebrando

Nossa Senhora das Luzes, a Candelária.

Noite das Velas de Diwali, Índia 

 

 

VELÓRIO

 

Dei farol baixo sobre o peso morto

abandonado num caixão de ripas

sem tampa e sem adeus de flor-de-estrada.

 

Nenhum irmão de luto, ou caridade

de velas que fingissem companhia,

anônimo em seu câmbio transumano.

 

Só teve as ripas sob o corpo findo,

sem um cavalo que o jogasse à vala,

fadado às chuvas, bichos, ventania.

 

Imune a padeceres e agonia,

estava solto, de alma viva e quente

em vôo acima do capim cidreira.

 

Achei de lhe dizer, solenemente,

o trinta e dois, um salmo-profecia

"Tu me cinges de alegre livramento ...

11 abril 2001

 

ALTAR

 

Em memória do amigo assassinado,

ele cortou três galhos de um carvalho,

subiu ao cume de um penhasco ao vento,

 

prendeu tiras de roupa como folhas,

gravata estilhaçada como flor

e um relógio de pulso como fruto.

 

Mirou o sol poente, consangüíneo,

vazou sua dor em trapos de alma em fúria:

 

- Absurdo. Um justo. Meu irmão. Um puro.

 

 

13 junho 2002 Santo Antonio.  

 

 

DEUS-MAE

 

Aos sofredores do mundo

quisera escrever um poema

que fosse de alívio eterno

 

assim como, na hora extrema,

Deus é todo materno.

 

 

in Augusto

 

 

Página republicada em junho de 2008.

 

 

Outros textos da autora em: http://br.geocities.com/jerusalem_13/adelaide.html


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