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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


PÉRICLES PRADE

 

 

Péricles Pradenasceu em Rio dos Cedros, Santa Catarina. É poeta, contista, ensaísta, crítico literário e de artes plásticas. Presidiu a União Brasileira de Escritores/SP e o Instituto Brasileiro de Filosofia. É autor de dezenas de obras literárias, históricas, filosóficas e jurídicas. Na poesia escreveu Este interior de serpentes alegres, Sereia e castiças, Nos limites do fogo, Os faróis invisíveis, jaula amorosa, Pequeno tratado poético das asas, Além do símbolos e Em forma de chama; variações sobre o unicórnio. Publicou, ainda, os livros de contos Os milagres do cão Jerônimo e Alçapão para gigantes.

 

Em 31 de março de 1973 foi empossado na cadeira 28 da Academia Catarinense de Letras. Nasceu em Timbó, no Vale de ITAJAÍ, Santa Catarina (Rio dos Cedros, SC, 1942). Escritor (poeta, contista, historiador, crítico literário e de artes plásticas), advogado e professor universitário. Escreveu mais de sessenta obras nos campos da poesia, ficção, história, filosofia, literatura e artes plásticas.

 

PRADE, Péricles.  Gaiola de açúcar.  Prefácio de Jayro Schmidt. Florianópolis,  SC: Editora Terceiro Milênio, 2017.  72 p.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

MATRIMÔNIO

 

Alquímica aventura

reúne enxofre e mercúrio,

macho

         &

           fêmea

nesse lúdico altar agrícola

margem da retina.

 

Tudo esplende

                      através do incompleto olhar.

Olhar febril,

que não é só o da imagem proibida. 

 

 

 

LUTA

 

Luto contra palavras-primas
na linha do horizonte,
sentado sobre o trenó
que no engenho d'água
gira como um pião.

 

Réplica de luta de boxe

na arena iluminada pelo gás,

amigo íntimo dos balões.

 

A ilusão me sustenta
enquanto nas mãos
os tubos capilares guardo
para enfrentar o construtor
de sonhos triplicados.

 

 

PRADE, Péricles.  O retorno das serpentes. Fortaleza, CE: ARC Edições, 2017.  123 p. 14X21 cm.  Capa e prefácio: Floriano Martins. Posfacio: Claudio Willer  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

A vocação obsessiva do poeta é a mesma de um parente distante apenas no tempo: o holandês Hieronymus Bosch (1450-15160. Ambos são ferreiros refinados na escritura de suas evocações. Ambos mergulharam no ambiente ocultista, não como se fossem associados de uma ortodoxia, mas antes como quem busca os argumentos mais potentes para descrever a saga existencial pela qual se aventuram. Satíricos sutilíssimos, ambos, embora distintos no tratamento da ironia, na derrocada de mitos e outros vícios de linguagem. Dois felizes calígrafos dos deslizamentos da alma humana.”  FLORIANO MARTINS

 

 

        LIÇÃO

 

        Malabarista oculta
         nas pedras de variado peso,
         ao ingênuo aprendiz revelo
         lição de milenar astúcia.

        

         A própria paisagem sou
         quando quero, músculo
                  móvel
         que com prazer engana
         a bússola dos filósofos.

        

         Com a língua amarga,

         desfiada em chamas,
         à mesa estarei
         na hora do banquete.

 

         Junto

             Comeremos
         salmão defumado
         e mandalas de carne crua
         enfeitadas pela flora com garras.

 

 

 

        SUBMISSÃO

 

        Maduro fruto
         de enigmas,
                   submeto-me
         ao pé da Pirâmide de Giza.

 

         Deusa carnal,
                   ambígua substância
         síntese do Tudo e do Nada.

 

         De tua língua bífida
                   lágrima de sangue cairá
         nesta cova aurífera.

 

         Princípio.

                   Fim.

         Medo.

                  Desejo.
         Falo-vagina que se penetra
         ao girar como a luz
         devoluta das galáxias.

 

         Tu és,

                   eu sei,
         o cálice verdadeiro, energia animal
         em busca do indizível.

 

 

 

        PICTORAMA

 

        Corpo vertical
         de duas cabeças.
         Sol,
                   Lua,

         Masculino,
                   Feminino,

         pictorama do mapa dos opostos.

 

         Animus,
                   Anima,
        
Dia,
                   Noite,
         o eclipse é sombra triste
         da tríplice deusa que menstrua.

 

         Este
                   amigo,
         é o espetáculo
         por dentro e por fora.

 

 

 

         FILTROS

 

        Ressuscitam-me
                   os canais nervosos
         que na cabeça experiente
         aos enigmas respondem.

 

 

PRADE, PériclesPequeno Tratado Poético das Asas.  Ilustrações Rodrigo de Haro.   Posfácio Antonio Hohfeldt.  Florianópolis, SC: Livraria e Editora Obra Jurídica, 1999.  78 p. (Letras Contemporâneas) 13x23 cm.  “ Péricles Prade “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 


PRESSÁGIOS

 

Ave imortal

levada ao Alto

pelo grego, mensagem

sem peso, tatuagem

cifrada que flutua

 

 

PRADE, Péricles.  Casa de máscaras.  São Paulo: Iluminuras, 2012.  64 p.  14x19 cm.  Capa de Eder Cardoso, sobre fragmento de European Field, terracota de Antony Gormley.  Apresentação de Ronald Augusto e “orelha” do livro por Ailveira de Souza. ISBN 978-85-7321-402-4. 

 

Péricles Prade é um dos mais celebrados poetas de Santa Catarina, reconhecido em todo o Brasil, com uma trajetória de crescimento crescente. Na juventude andou com os Beatniks de São Paulo — Roberto Piva, Claudio Willer e outros — e agora reinventa sua própria trajetória de poeta, constantemente, com sua oitiva de esteta e pensador iconoclasta.  ANTONIO MIRANDA

 

“Diante da organização do livro, não é, portanto, arriscado interpretar Casa de Máscaras como obra autorreflexiva. É sobre o que Prade já escreve e, desta vez, reescreve, comentando: “Com o tempo eu recrio” — o título de um dos capítulos.  Daí o “Esboço de um romance para o próximo verão”, que anuncia obras futuras.”  CLAUDIO WIILER (in SUPLEMENTO CULTURAL DE SANTA CATARINA 84 – SET. 2014, p.6)

 

TRANSFORMAÇÃO

 

Regenero-me,

atraído pela ninfomaníaca

transformada em sémen.

O sangue

          é troféu

exposto na janela.

 

Irei ao lugar das Festas,

vê-la com os nativos

aguardando o pênis redentor.

 

Então,

          espécie de um deus

manco, serei guardião ungido

pelo sacerdote herege

condenado à glória.

 

 

ANTES DO APOCALIPSE

 

Amuletos

de prata pura

nas orgias de Agosto.

 

Tomou absinto.

 

Depois,

retornou à planície

de mãos vazias.

Nela permanece,

confortado pelo profeta

do nada Absoluto.

 

Sem memória,

os nós das lembranças

não desata.

 

E assim no Caos

substituiu o Deus ausente.

 

 

MIRANTE

 

Longe destas ruínas

o mar cresce

em suposto repouso.

 

Um martim-pescador

dá voos rasantes

precipitando a aurora.

 

Peixes espertos desovam

nos corais e gemas de ouro

fascinam o mergulhador.

 

Gaivotas grávidas

não encontram as mães

que nas nuvens se perderam.

 

Longe destas ruínas

o mar cresce

em suposto repouso.

 

 

 

PRADE, PériclesCiranda andaluz. Poemas.  Desenhos Federico García Lorca. Posfácio Dennis Radünz.  Florianópolis: Letras Contemporâneas Oficina Editorial, 2003.  71 p.  Capa: Fábio Brüggemann. ISBN 85-85775-88-2.  “ Péricles Prade “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

MUSEU TAURINO

 

"En frente de toro

se halla un tesoro"

     inscrição anónima

 

Para falar a verdade

entre touro e toureiro

fico com o primeiro

por Real caridade.

 

Certo que não me importa

se califas com destreza

destroem a fortaleza

de outra caça que é morta.

 

Quero que me perdoe, amada,

pelo verso contraditório,

mas não vou pró sanatório

pela confusão confessada.

 

Rendo glórias Lagartijo

toureiro antigo que se preza

e se for necessário reza

diante de qualquer corno rijo.

 

Presto-as também a Guerrita

retraio singular de valentia

que de touro matador fazia

animal que não mais se agita. '

 

Enfim a Manolete a homenagem

apesar de morto pelo miúra

pois com raça fez da lida dura

um toureiro criar nobre linhagem.

 

Córdoba,11.1.98

 

 

 

Péricles Prado

De

Péricles Prado

Sob a faca giratória
 Palhoça, SC: Ed. Papa-Terra, 2010. 
88 p.  ISBN  978-85-61894-01-4


 

DORSO INQUIETO

 

Casulo de peixes

felizes, provedor

de sóis e luas,

dorso

Inquieto de ondas suicidas.

 

Úmidas

a memória

neste jogo incolor

em que me perco

quando a viagem não consola.

 

 

NÃO SÓ O CORPO PRENDI

 

Nas raízes dos sonhos,

não só o corpo prendi.

Também minh´alma, em quatro

separada comos as Estações de Vivaldi.

 

Nas raízes dos sonhos,

não só o corpo prendi.

Também o desejo, como o dos pardais

nas rendas do amanhecer.

 

E nelas por favor

não me enforque

com esses fios quase invisíveis.

 

 

O QUE ME RESTA

 

Resta-me o tambor.

Aonde foram parar

os outros instrumentos?

 

Se no couro bato,

bato até doer

o que nos dedos resta.

 

E agora, Senhor,

por que diante do altar

ainda minto?

 

De
NOS LIMITES DO FOGO

Desenhos de Cavani Rosas
2ª. Ed. São Paulo: Massao Ohno, 1979

 

 

O ESCORPIÃO SONOLENTO
(fragmentos)

Os rios não se partem,partem a mim

que  apenas os conheço como afogado

em suas entranhas, sábio ou despido

entre vegetais, oh cobertor marinho

 

0 olho não vê a carruagem da morte

que conduz no liquido o corpo azul

Sem rede o prisioneiro laçou o sol

Assim pôde o herói salvar o menino

 

0 mergulho é passageiro, uma viagem

ao interior da água  para conquista

da estrela farsante entre  espinhos

 

Na volta o ar não surpreende,soprei

outra vez mantendo  o passo contido

pelo relógio que não  quer as horas

 

 ---------

 

0 tesouro é procurado nos centros

das metrópoles, mas é nos infernos

que ele esta, guardado nos altares

que cobrem o rosto do desesperado

 

Não quero as moedas, as espalhadas

pelos errantes círculos, as doidas

construtoras,as pesadas, as fartas

que na cor já  revelaram os tempos

 

No bolso ha o estranho ritmo, sede

do ouro; nem se quisesse o demônio

ele saltaria  para o viciado corpo

 

Faca é de prata,  a morte vale mais

assim, mais respeitada, pois morrer

é bom se  presente a nobre  matéria

 

Péricles Prade

De
Péricles Prade
EM FORMA DE CHAMA
Variações sobre o Unicórnio.

Florianópolis: quaisquer, 2005.    79 p.
ISBN  978-85-89866-0303


Úmida Serpe 

Úmida serpe, a ti retorno
dependente, água pura, substância sorvida
por Tales de Mileto. Generosa
umidade, metáfora radical
em aquário antigo, espiral divina cifrada
pela permanência, nervo imortal
que se arrasta, escama sagrada, oratório,
beleza semovente entre vegetais ciganos 

 

Serpente da Arábia & Cia 

Com a sua metade-mulher
esconde-se a lagarta menor
dentro da madeira gemente. Água
profunda, imortal como a planta,
refaço-me hoje e sempre. Ah mercúrio,
a serpente da Arábia é jóia fatal
em meu frágil pescoço. E o que faz
no sexo a salamandra enlaçada? Melusina,
Melusina, onde estás celebraremos o casamento 

 

Antídoto 

No bebedouro a serpente
com seu beijo envenenava
toda a água corrente
que dele então brotava 


Os animais o chamaram
para o líquido sujo beber
E se o Unicórnio invocaram
é porque queriam viver
 

Ele anula o veneno
ao entrar na fonte impura,
transformando-o a gole pleno
novamente em água pura

Péricles Prade

 

De

Péricles Prade
PANTERA EM MOVIMENTO
breves poemas de muito amor

Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2006.
62 p.  ISBN  87- 85-7662-017-0


                                    INCENSO 

                            Teu cheiro é essência,

                   erva sagrada que na cama incensa. 

 

                            Todo o odor o corpo

                      impregna, se em vez de um

                     são dois os que se entregam. 

 

                     À noite dormem os amantes

                       se o faro dela como o meu

                          o próprio sonho aspira. 

  

                                      PERDIÇÃO    

  

                              Perco-me na selva doce 

                                        desses pêlos. 

 

                                      E se me perco, 

                                                 levito 

                                entre um gozo e outro. 

 

                                               Vê-la, 

                                                        revê-la, 

                                         muda caverna 

                                      que às vezes canta. 

 

 

                                      SE GIRA O SOL

                            

                               Giro quando amor eu faço,

                               se não giro, então desfaço.

 

                               Giro quando amor eu faço.

                             O sexo é o sol porque te enlaço.

 

                                Giro quando amor eu faço,

                                Se gira o sol no teu espaço.

 

                                 Giro quando amor eu faço,

                                e se for agora, então refaço. 

 

PRADE, Péricles.  Labirintos. Variações sobre os arcanos maiores do Tarô.  FLORIANÓPOLIS, sc: Letras Contemporâneas – Oficina Editorial Ltda, 2008.  109 p. 16,5x23,5 cm.  capa dura    ISBN 978-85-7662-043-3  Capa e projeto gráfico: Fábio Bruggemann.  Ilustraçôes: cartas de tarô de Court de Gelin, 1781.  Col. A.M. 

 

ESTRELA DE 5 PONTAS

 

Estrela flamígera, onipotente, Verbo

feito carne, pentagrama de luz, raio único,

elevado, Cristo Interno - é assim

que eu vim ao Mundo.

Sou

a

Estrela de 5 pontas.

"Pernas abertas,

braços abertos.

Tanto à direita

quanto à esquerda.

Sou

a

Estrela de 5 pontas.

Pés para cima,

cabeça para baixo.

Estrela, Estrela invertida

de 5 pontas.

Sei

que ainda sou

uma estrela de 5 pontas.

 

Do céu, do céu

caíram 2 pentagramas.

Em absinto São João transformou

as águas humanas.

 

Lúcifer, também caí

entre vaginas na vida

vendo a estrela da manhã

pelo Verbo conduzida.

Não

sei se sou

Estrela de 5 pontas.

 

Sobre répteis sou águia.

 

Nas mãos agora tenho

os fios deste lenho

retidos pelo destino.

 

Sobre as duas colunas, sentado,

fique tranquilo, hierofante.

Se é um sinal que me fazes,

obedecerei como um infante.

 

Sim,

ainda sou

Estrela de 5 pontas.

 

 

 

[  PRADE, Péricles ]  MOISÉS, Carlos Felipe.  Balaio: alguns poetas da Geração 60 & arredores.   Florianópoilis. SC: Letras Contemporâneas, 2012.  224 p.  16x23 cm.  ISBN  978-85- 7662-072-3.  Capa e projetro gráfico: Fabio Bruggermann.   Ilustração da
 capa:           Fernando Lindote.  Col. A.M. 
SUMARIO: Amicus Plato;  O CENÁRIO: Uma geração; Palanque, Salão & Gabinete; Mestre Massao Ohno, editor de poesia; Lembrança de Dora Ferreira da Silva; Mário Faustino; Hilda Hilst; Mário Chamie; Renata Pallottini; Lupe Cotrim. OS POETAS NOVÍSSIMOS: Lindolf Bell; Neide Archanjo; Álvaro Alves de Faria; António Fernando De Franceschi; Rodrigo de Haro; Rubens Rodrigues Torres Filho; Péricles Prade; Roberto Piva. OUTROS POETAS: Jayro José Xavier; Carlos Nejar; Cacaso; Ana Cristina César; Armando Freitas Filho; Alcides Villaça; Ruy Espinheira Filho; Sebastião Uchoa Leite; Armindo Trevisan; José Lino Grunewald. FRAGMENTOS: Plural e diversificada; Poesia brasileira, hoje; Nos primeiros anos; Ambiente literário; Geração; Um grupo; A Coleção dos Novíssimos. A poesia brasileira, hoje. Col. A.M. 

 

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A partir da obra Em forma de Chama: Variações sobre o Unicórnio, localizam-se na produção poética de Péricles Prade singularidades afetas às imagens e ao logos poético em esquiva do signo e da cultura, na perspectiva do Endobarroco. Porém, não se trata de retomada do Barroco nem de um “eterno barroco” de expressão universal. Ao Endobarroco relacionam-se contrastes implícitos às imagens, que, insurgindo-se na Literatura desde os alvores da Cultura Moderna, chegam aos nossos dias, traduzindo-se como desvio do princípio de identidade.

            Neste ensaio, o nome Endobarroco compreende traços comuns à Literatura e às Artes, abrangendo características subjacentes a estratos imagísticos e ideativos, que, passando por transformações e períodos diversos, se insurgem nos dias de hoje. Na poesia, trata-se da convivência de oposições e diferenças afetas a palavras e idéias, deixando transparecer tensões intrínsecas ao nascedouro das imagens, no plano da imaginação poética. Trata-se da dinâmica refletida no Logos, que nasce junto à imagística, e subsume contrastes no plano do dizer. Porém, nessa fusão, o conceito de Endobarroco refere-se a uma dinâmica pertencente não só às imagens e à semântica, mas extensiva a estratos morfossintáticos e sonoros, caracterizados por oposições e/ou diferenças. Abarcando e insuflando ambivalências, paradoxos e oximoros, dentre outras possibilidades imagísticas, o Endobarroco revela como característica básica o desvio do princípio de identidade, afluindo na instância imagético-semântica da poesia. Caracterizando uma poética desconstrutora de modelos, em certo sentido esse desvio deixa transparecer insurgência de pensamento divergente quanto ao plano sociocultural.

            Mas ao abordarmos o Endobarroco na poesia de Prade, tangenciamos outras questões. Dando continuidade à fundamentação dos argumentos aqui apresentados, recorremos a vários outros autores, além dos já mencionados, cujas idéias traduzem neste ensaio base filosófico-epistemológica, adequando-se a temáticas e questões próprias da poética de Prade. Para compreender sua poética como desvio de discurso, recorremos ao pensamento de Jacques Derrida, visitando a noção de descontrução. Mas interpretando-a através de desdobramentos. E, para tratar a questão da poesia como desvio de cultura, recorremos à filosofia de Gaston Bachelard, igualmente através de desdobramentos. Na poética bachalardiana, enfatizamos as noções de matéria, imagem, imaginação, espaço e tempo poéticos. Considerando essas instâncias, localizamos na poesia de Prade tensões endobarrocas a partir das matérias que lhes servem de estofo imaginativo: O fogo e a água.

Texto de Mirian de Carvalho, extraído da obra METAMORFOSES NA POESIA DE PE´RICLES PRADE. (Florianópolis: quaisquer, 2006.  p. 11-12

 

Leia mais sobre Péricles Prade em:


[ PRADE, Péricles ]  SILVA, Benedito Luz e.  O unicórnio segundo Péricles Prade: Aspectos míticos, místicos e esotéricos.  São Paulo: Editora do Escritor, 2013.   231 p.  Capa e projeto gráfico: Fabio Bruggemann.   16x23 cm.   Col. A.M. 

PRADE, Péricles.  Memória grega e outros poemas viajantes   com ilustrações de Franz Kafka.  Florianópolis, SC: Letras contemporâneas, 2014.  118 p.  13x23 cm.  ISBN 978-85-66712-08-7  “ Péricles Prade “ Ex. bibl. Antonio Miranda

APLAUSOS

O eclipse
          é sombra triste
          da deusa tríplice
que menstrua com pernas
abertas ou fechadas.

Eu
          e meu sósia
o milagre aplaudimos
do começo ao fim.

 

DESOVA

Eis o antiquíssimo
gerador do mundo.
O
ovo
primordial
posto
&
reposto
pela ave divina
após o primeiro coito.

 


PRADE, Péricles.  Olho gótico.  Florianópolis, SC: Letras contemporâneas, 2014.  74 p.  13x23 cm. Ilustrações de Vincent van Gogh.  ISBN 978-85-66712-00-1   “ Péricles Prade “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

VINCENT

 

Queima-me os olhos

estes girassóis carnívoros

vomitados sobre o azul

em Auvers-sur-oise.

 

Flores

          de puro fogo,

                              8

                              medalhas de luz

tatuadas pela lâmina nervosa.

 

Trigo solar

é o teu nome, delírio vegetal

que a si mesmo

se alimenta.

 

(Van Gogh, Jarro com Girassóis,

Munique, 17.9.2007)


PRADE, PériclesSobre o livro mudo.  Florianópolis, SC: Letras contemporâneas, 2014.  118 p.  13x23 cm.  SBN 978-85-66712-07-01   “ Péricles Prade “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

DIANTE DO ATANOR

Gémeas

imagens.

 

Em cima o ovo filosófico

queimando ao sol

pelos anjos suportado. E Netuno

não só o tridente exibe

quando na redoma o olho aquático

do delfim sob os seus pés

reflete Diana e Apoio jovens.

 

O pé direito

do anjo esquerdo

a linha divisória dos mundos

                                ultrapassa.

Sua vontade percebi

nas axilas de suas grandes asas.

 

 

Embaixo Mística Irma e Flamel,

                                       esposos

diante do forno sagrado, os joelhos

úmidos pelas preces no oratório

à margem da vela acesa.

 

Ela, dupla

Viúva, cujos braços graciosos
ascendem rumo ao ouro da milésima

manhã.

 

Ele, Nicolas

sobrevivente, elixir espiritual

que o tempo físico congela.

 

 

E o amor do alquímico casal

que o outro ovo aquece

separando o enxofre,

                o mercúrio

                    e o sal.

 

Janelas não há,

só a cortina

aberta para o macrocosmo.

 

Aqui serei o artífice

negado pelo soprador

amante apenas da matéria.

 

 

 

 Página publicada em setembro de 2009; ampliada e republicada em junho de 2010; ampliada e republicada em junho de 2013. P�gina ampliada em fevereiro de 2018.


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