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FRANÇOIS SILVESTRE 

 

François Silvestre de Alencar nasceu na Fazenda Cajuais, no sopé da Serra do Martins, interior do Rio Grande do Norte. Durante o período da faculdade [de Direito, na UFRN]– que duraria 10 anos, entre aulas, prisões e clandestinidade – François Silvestre inicia sua trajetória de líder estudantil e militante político de esquerda.

Foi diretor cultural da Casa do Estudante de Natal, preso diversas vezes acusado de subversão, e durante todo o ano de 1974 esteve preso na Colônia Penal João Chaves condenado pela Auditoria Militar do Recife. De formação marxista, filiou-se ao PCR (Partido Comunista Revolucionário) e esteve por longos períodos na clandestinidade sob o pseudônimo de Paulo. Está inscrito no BNM 420 do Projeto Brasil Nunca Mais - Perfil dos Atingidos. Em 1982 foi candidato a deputado federal e em 1986 a deputado estadual, ambas as candidaturas sem sucesso.

Em 1999 publica o Dicionário Político do Rio Grande do Norte e em 2002 o aclamado romance A Pátria não é Ninguém, sucesso de crítica. Em 2003 assume a presidência da Fundação José Augusto (autarquia do governo do Estado do RN) e institui o mais arrojado projeto de gerência cultural da história da instituição. Foi o idealizador do programa Casas de Cultura (que consolidou o projeto de interiorização das ações culturais pelo estado) e fundador da Revista Preá, referência de publicação cultural: “A mais bem feita e criativa revista da história do jornalismo do Estado” (Ney Leandro de Castro). Em 2008 publica As alças de Agave, um livro de difícil definição literária, mas que se aproxima da memória e da crônica. A obra culmina com um ‘Manifesto Neoanarquista’ que expõe o pensamento político atual do escritor e parte da premissa de que “nenhuma ideologia sobreviveu ao exercício do poder”.

(…) Atualmente François Silvestre vem trabalhando num projeto historiográfico sobre as Repúblicas do Brasil, na peça de teatro O Roubo do Fole, e no segundo volume de A Pátria não é Ninguém. É Procurador do Estado do Rio Grande do Norte, comanda a coluna Plural aos domingos no Novo Jornal (Natal) e tem um blog no Portal no Ar. Fonte: wikipedia, fragmento.

 

 

SILVESTRE, François.  Luz da noite ao vento norte.  Natal, RN: Edição do Autor, 1979.   70 p.   14x21 cm.  Impresso na Editora Critério Ltda  Ex. bibl. Antonio Miranda

Os versos seguintes são de sua obra de estreia, ainda em formação, que ele mesmo apresenta. Reproduzimos um poema escrito enquanto estava confinado numa prisão, nos anos de chumbo da ditadura militar:

 

REFLEXÃO NA CELA 

As formigas passeando pela barra branca da parede
dão um show de liberdade. Carregando uma mosca morta
mostram o quanto é possível realizar no conjunto e
na mesma direção. As formigas e sua fraqueza individual,
elas e sua força coletiva... que pena não serem políticas.
Um guarda passa e examina o cadeado . ..

 As moscas desafiando o baygon e zumbindo ora intermitente
ora constantemente por sobre a cabeça. Ato exequível do
pequeno irritando o grande. Irritação que gera violência.
Providências e mais providências.
Outro guarda passa e pede um cigarro ...
 

Cansado de observar aquilo e andar pelo retângulo,
no pouco espaço que lhe é reservado. Não dá para cansar
andando no universo de cinco passos, mas finge que está
suando e vai tomar banho para passar o tempo.
Demora o tempo suficiente para materializar uma cena erótica,
e lá se vai, quem sabe, um engenheiro, advogado
ou até mesmo um subversivo.
Um terceiro guarda passa e examina o cadeado ...
 

Tenta dormir, porque dormindo o tempo não é assistido.
Mas apenas cochila a no cochilo a preguiça dos segundos
equivale a séculos. Um grito de alguém chamando o sentinela desperta o sono, que não foi mesmo assassinado
pelo personagem de Shakespeare. Só uma reforma no calen­dário gregoriano.
Um guarda chega e olha desconfiado ...

Gostaria de sonhar com uma estrada tipo aquela "ponte do bem" de Zoroastro. Estreita como o presente
mas muito larga no futuro. Se houvesse pelo menos

uma vitrola ...

Apitos de guardas que se aproximam ...

 

Toca a sirene do rancho. Comer é um sacrifício.

Com exceção dos cozidos de muriú, tapiocas de Cajuais

ou queijo dos Três Irmãos.

Como seria bom envelhecer dois anos.

Um guarda pede um saco para esconder pães roubados ...

 

0 entardecer é triste e idiota. Triste pelas lembranças
que provoca, idiota pela vontade de fazer versos.
O anoitecer é a fossa e insônia. Tem-se de acreditar
no consolo de Stefan Zweig ou Francisco Otaviano.
As moscas são substituídas pelos pernilongos e muda
o som da orquesta de zumbido. O livro fica sempre
em movimento para alcançar as réstias que driblam as grades.
A lâmpada fica no corredor a critério do sentinela da hora.
Tudo aqui é externo, menos as pessoas.
Outro guarda bate forte a coronha no cimento ...

 

Uma zoada infernal, depois um silêncio de estourar os ouvidos.
A conversa entre dois sentinelas, o manejar dos fuzis
e o silêncio de volta. A espera inútil de um novo dia.
Inútil porque aqui todos os dias são velhos.
Nenhum guarda passa mais!

 

Col. Penal de Igapó/74

 

Página publicada em outubro de 2016

 

 

 
 
 
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