| EDINOR AVELINO     José Edinor Pinheiro Avelino nasceu em Macau em 17 de julho de 1898. É filho do Prof. Emídio Bezerra da  Costa Avelino e de Maria Irinéa da Costa Pinheiro.   Desde quando publicou os primeiros versos, chamou a  atenção dos homens de letra da província pelo vigor da sua poesia, firmeza de  linguagem e elevada inspiração. Otoniel Menezes, quando em 1923, publicou o  Jardim Tropical, fêz uma expressiva dedicatória a três poetas: Alberto de  Oliveira, o maior do Brasil, H. Castriciano, o primeiro no Rio Grande do Norte,  e Edinor Avelino, “a mais bela afirmação entre os novos!”   A poesia “Macau”, que publicamos nesta coletânea, é um  dos seus trabalhos máximos e mereceu de Fernando Almeida uma bela melodia, que  a tornou muito popular, mesmo porque merece ser considerada o hino oficial da  terra das salinas.   Edinor Avelino publicou Divagações, livro de versos da  mocidade e preparou outros, que ficaram inéditos.   Ao Assu, onde residiu, esteve em grande atividade  literária e deu de presente à terra dos carnaubais um belo soneto que é um hino  àquele “formoso vale, expressão, harmonia, para um canto divino, um poema  superior, daqueles que o artista arrebatado cria, cantando a natureza, a  formosura e o amor”.   O poeta é funcionário autárquico aposentado e reside em  sua cidade natal, “contemplando-a com os olhos cheios d’água nos grandes voos  do seu pensamento.”          (De: Síntesis,  1960):       JORNADA LÍRICA    É  solitária a estrada que palmilho. Ferem-me os cardos, o percurso enfada,
 sigo, apesar da dor e do empecilho,
 sempre cantando pela minha estrada.
   Diante  do pôr sol, da madrugada, da fonte azul, das árvores, do brilho
 da luz pela amplidão disseminada,
 diante do que Deus fez, me maravilho.
   Divinas  emoções experimento, cismas profundas, êxtases diversos, d
 entro do universal deslumbramento.
   Louvo  o som, louvo o aroma, louvo as cores. Hei de viver dizendo nos meus versos,
 a harmonia das coisas superiores.
                              M A C  A U    A minha terra, calma e boa, trago-a nas cismas da saudade em que ando atento, contemplando-a com os olhos cheios d'água, nos grandes vôos do meu pensamento. É das mais ricas terras pequeninas, apraz-me repetir, quando converso: possui alvas e esplêndidas salinas, as melhores salinas do universo. Lembro-a nos dias belos e fagueiros, com o seu ambiente ventilado e quieto, entre papoulas, morros e coqueiros, na mansuetude mística do aspeto. Lembro-lhe a enseada, o mangue, que pompeia um sugestivo ponto de abrigar! a costa se alongando, o alvor da areia, o velante farol de Alagamar! Vejo as ruas compridas, os sobrados, e em meio à nitidez do azul sidéreo, saudando os horizontes afastados, a alva torre do antigo presbitério. Vejo as ribas por onde, cismarento, eu costumava demorar-me dantes, cantando de lirismo e sentimento, em frente das maretas escachoantes. Com a ânsia de partir, serenamente, por sobre as ondas turvas e bravias, cheio de arrojo do meu sonho ardente, dás aventuras e das travessias, eu demorava a meditar no porto, olhando as velas no afanoso tráfico, como um piloto concentrado, absorto, no abismamento do êxtase geográfico! Plaga dos devaneios, a abençoa, minha alma em pobres versos comovidos, Imagem do passado, ilusão boa, enganosa ilusão dos meus sentidos. Do que a beleza estética, o bulício, a atração da mais linda capital, sei que ao meu coração é mais propício o seu recolhimento provincial. Ilha do bom destino, fantasia, rosa do litoral belo e risonho, que ao doce luar, desmaia e silencia, espiritualizada para o sonho! Conduzo-a na retina, por onde ande, Macau, canção do meu amor, doce ária. Meu sentimento, que se tornou grande lá na tristeza da angra solitária. Ninho embalado no rumor da brisa. Tetra de níveas garças e de moinhos. Cidade nobre, que se prismatiza entre miragens e painéis marinhos! que no amoroso amplexo, ao mar se estreita, na imperturbável paz do seu viver, sempre fidalga, sempre satisfeita, disposta para a todos receber. Trecho da natureza que decanto, porto das algas, poiso das baleeiras, ilha saudosa, plácido recanto, berço das minhas afeições primeiras, a minha terra, calma e boa, trago-a nas cismas de saudade em que ando atento, contemplando-a com os olhos cheios d'água, nos grandes vôos do meu pensamento.                                   Página publicada em  fevereiro de 2020 
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