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CLEVANE PESSOA
Clevane Pessoa de Araújo Lopes, potiguar, radicada em Minas Gerais desde a infância, trabalhou ativamente na imprensa de Juiz de Fora-Mg, nos Anos de Chumbo, mantendo a página Gente, Letras & Artes e a coluna diária Clevane Comenta, entre outras- na Gazeta Comercial. Radicou-se Belo Horizonte ao se casar com o engenheiro civil Eduardo Lopes da Silva,que então trabalhava na Via Expressa em viadutos e passarelas.Tendo iniciado Psicologia no CES (Centro de Ensino Superior)de Juiz de Fora,então formou-se na FUMEC desta capital (Belo9 Horizonte) .Acompanhou o marido a S.Luiz, Maranhão, S.Paulo, capital e depois a Belém, no Pará.Retornou a Belo Horizonte em 1990.Como funcionária do antigo INAMPS, exerceu um trabalho dedicado em prol dos menosvalidos e criou, por onde passou, atendimento integral à mulher, criança ,adolescente, idosos e família.
Foi editora de Literatura e Arte do tablóide de vanguarda Urgente,entre outros, como A Voz de Rio Branco, de Visconde de Rio Branco, MG, onde mantinha “A Voz da Mulher”.Escreveu na revista "o Lince" e em outras. Atualmente, é psicóloga, ilustradora,palestrista e oficineira de Poesia e Conto.
Tem livros de poemas publicados :Sombras Feitas de Luz ; "Asas de Água"( pela Plurarts), "A Indiazinha e o Natal"( Edições Haruko) ; "Partes de Mim"( R & S Gráfica e Editora) ;"Olhares teares,saberes", (Edit.Popular, S,Luiz-MA);Erotíssima (selo Catitu); Seu livro se Mulheres de Sal, Água e Afins,publicado pela Urbana Editora, RJ/Libergráfica BH.),reúne contos com protagonismo feminino. Seu livro "O Sono das Fadas" (selo Catitu-BH) foi lançado na Bienaldo Rio em 2009 e em vários espaços e cidades.Em 2011, foi relançado na Livraria Leitura do BH Shopping .Nesse ano, pela Pragmatha, do Rs,publicou CENTAURA-poemas .
A biografia completa em: https://www.recantodasletras.com.br/
Veja também: CLEVANE PESSOA – POESIA VISUAL
TEXTO EM PORTUGUÊS - TEXTO EN ESPAÑOL
ESPEJOS DE LA PALABRA / ESPELHOS DA PALAVRA 3 (POEMAS EN DOS IDIOMAS – POEMAS EM DOIS IDIOMAS) Org. Roberto Bianchi. Montevideo: aBrace editora, 2013. 120 p. Inclui os poetas brasileiros: Angela Togeiro, Brenda Mar(qu)es, Christina Hernandes, Claudio Márcio Barbosa, Clevane Pessoa, Dymythryus Padilha, Fátima Sampaio, Fernando Braga, Gacy Simas, Giselle Serejo, Kydia Mateos, Lucas Guimaraens, Marcelo de Oliveira Souza, Marco Llobus, Marcos Freitas, Maria Angélica Bilá Bernardes, Mariney Klecz, Neuza Ladeira, Nida Chalegre, Nilza Amaral, Nina Reis, Noralia de Melo Castro, Novais Neto, Oleg Almeida, Pedro Franco, Roberto Ferrari, Rodrigo Marinho Starling, Rozelene Furtado de Lima, Tânia Diniz e Tarcísio Pádua. Col. Bibl. Antonio Miranda
ANJO CAÍDO
O preto na paleta,
pingos de branco.
A mistura chega ao cinza,
as cãs, a neve suja, os dias de chuva,
as nuvens plúmbeas, a alma desanimada.
A velhice é cinzenta, sempre que a esperança verde
se esvai em goteiras de abandono.
A alma é gris na solidão
a voz perdida, a falta de carinho,
o desânimo que instiga o instinto de Thanatos.
O artista ama as cores
e mesmo assim, na compreensão a maior
de um mundo desigual,
mistura branco ao preto,
preto ao branco,
e faz um anjo, desanimado de tantas miserias, canalhices,
perdas,
bancarrotas, vicios,
traigdes , guerras
fome e desesperanças
espantado com os Homens,
que perdem cada vez mais
o supremo bem da paz
absoluta
e simples
abrir a boca de espanto,
cair das própria altura, em pleno vôo de reconhecimento,
e sentar-se desanimado, cansado de lutar
por urna humanidade falida e inconstante...
TEXTO EN ESPAÑOL
ÁNGEL CAÍDO
Lo negro en la paleta,
gotas de blanco.
La mezcla llega al ceniza,
las canas, la nieve sucia, los días de lluvia,
las nubes pesadas, el alma desanimada.
La vejez es gris, cada vez que se desvanece la esperanza verde en gotas de abandono.
El alma es gris en soledad,
la voz perdida, la falta de cariño,
el desaliento que instiga el instinto de Thanatos.
El artista ama los colores
y así mismo, en la comprensión mayor,
de un mundo desigual,
mezcla el blanco al negro,
negro al blanco,
y crea un ángel, desanimado de tantas miserias, picardías, pérdidas,
bancarrotas, vicios, traiciones , guerras,
hambre y desesperanzas,
espantado con los Hombres,
que pierden cada vez más
el supremo biem de la paz
absoluta
y simple,
abrir la boca de espanto,
cair de las propias alturas, en pleno vuelo de reconocimiento,
y sentarse desanimado, cansado de luchar por una humanidad fallida e inconstante...
LETRAS DE BABEL 3. Antología multilíngüe. Montevideo: aBrace editora, 2007. 225 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
Na Ciranda Dos Toques
O toque humano
nos inicia quando viemos à luz:
a parteira, o médico, fazem «um toque»
e medem a passagem para a vida.
Depois, tocados ao nascer,
no primeiro balido, limpam nossas proteções
e nos levam ao seio, onde as mãos maternas nos amparam
tocam de leve nosso rosto,
examinam dedinhos, e pés de cetim...
Para o banho, os toques molhados,
mãos firmes que nos amparam e higienizam...
Levantava meu filho os bracinhos
mal eu chegava do trabalho,
pedindo, com veemência:
—«Colinho, mamãe, colinho...»
Quantos toques de carinho...
Nas febres, nos pesadelos
de nossa infância, somos tocados,
para curar, para acalmar...
Para que os primeiros passos
sejam prazerosos, os pais,
os que nos cuidam, nos seguram com
seus toques de elos e afetos.
E quando adolescentes descobrimos
nosso corpo que cresce e aparece,
nos tocamos para constatar se somos (ainda)
as mesmas pessoazinhas de um ontem próximo...
E descobrimos os prazeres da sensualidade
que se entreabre qual botão de flor ao sol,
ao luar, à chuva,
nos suaves toques aos genitais...
Enamorados,
abrimos portas e acendemos fogueiras,
do toque das mãos nas mãos
às carícias completas e inteiras...
O toque da língua
na arca da aliança,
sagrada ao deus interior.
Adultescemos
e a palavra INTIMIDADE
é entendida em sua essência...
Quantas vezes nos tocamos à distância?
E os cegos que lêm com as pontas dos dedos,
no papel em braile e no corpo pleno de mistérios?
E o toque do sacerdote, no batismo,
na consagração,
na comunhão
e na extrema unção?
E as mãos dos médicos que lêm sintomas?
Dos pediatras em criancinhas que chorem para entender o circuito da dor? E as mãos dos veterinários,
que têm de saber mais que a palavra?
E os toques do artista, na tela, no barro,
em qualquer matéria?
E as piedosas mãos que vestem
as derradeiras vestimentas
naquele que
passou para outra dimensão?
E os anjos, que tocam
com toques de menta e de rosas?
E mãos da alma, que se tocam
através da extensão dom tempo?
Ah, o toque!
presente maior do Criador às suas criaturas!
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CEM POEMAS CEM MIL SONHOS; homenagem aos 50 anos da Passeata dos Cem Mil: maior manifestação popular contra a Ditadura Militar no país. Organização: por Rodrigo Starling. Entrevista com Vladimir Palmeira. Belo Horizonte: Starling, 2018. 176 p. 14 x 20 cm. Capa: Jackson Abacatu. N. 09 814
Exemplar da biblioteca de ANTONIO MIRANDA
MUITO MAIS DE CEM MIL SONHOS – As AsAs
I
No fluxo/refluxo dos sonhos de liberdade,
caminham em vários espaços,
junto com os cem mil no Rio,
jovens estudantes e até não estudantes,
braços dados, suados, colados,
às vezes mãos se entrelaçam, barreira humana,
muro andante, a caminho de uma liberdade
que tão cedo não existirá.
No meio, há os equivocados, à espera os infiltrados,
os que foram doutrinados, os que estão convencidos,
muitos seriam heróis e alguns já eram bandidos,
ali misturados, respirando o mesmo ar
e todos a suar...
Corações em uníssono
em compasso e descompasso—
líderes e pau-mandados,
sonhadores e invasores.
Alguns, do Mal paridos,
outros do Bem dados à luz.
Sonhadores X Delatores
dos jovens com AsAs
E até adultos coesos.
Talvez gente da festiva,
talvez por ingenuidade,
mas também segue à deriva
na Marcha do Cem Mil,
com os mais conscientizados.
Outras cidades fazem o mesmo,
mães choraram de medo
outras bem sequer sabiam
dos ideais de seus filhoss...
“Liberdad, Liberdade
Abre as AsAs sobre nós”
diz o hino expectante.
Houve as Mães
que foram às ruas, assistir e apoiar.
“Um estudante foi morto — e se se fosse seu filho?”
bradavam os impactuados com as mortes inúteis.
em especial a de Edson, um secundarista:
“o protesto no Calabouço,
revelavam, denunciavam, sussurravam à sucata,
os AlAdos, que escaparam —
seria por alimento mais em conta”
oficialmente, para baixarem o preço
do “pÃo nosso de cAdA dia”, metáfora universal,
já que alimentavam suas mentes e espíritos,
necessitavam “comer comida decente e a baixo custo”
para ter/reter energia necessária.
II
Namoradas, amadas, esposas, irmãs e amigas,
— fazia tempo — crochetavam AsAs de barbante molhadas
por lágrimas,
—cada lágrima aperta um ponto—
para que não se desmanchassem,
pois as mulheres sabem que o crochê, qual o bordado,
atravessa os tempos:
“O pano se vai, o bordado e o crochê, ficam”,
ensinam avós e mães...
E entregaram — as que não foram e as que lá estavam —
essas AsAs para que os jovens
tatalassem, arrulhassem, cantassem e... fugissem
enquanto fosse possível, se necessário fosse.
Rebordaram com pérolas de ideias,
em uníssono, cada uma em seu canto,
num coral de distâncias e proximidades,
incansáveis murmuravam orações, versos,,,,,
e hinários foram cantados.
As que marcharam, andaram como se dançassem.
Mas o tempo mostrou os tecidos esgarçados,
manchados de sangue escuro, já decomposto,
pérolas espalhadas nas celas,
barbantes brutalmente partidos,
quais as almas dos mártires torturados.
e as lembranças dos ressuscitados
dos salvos.
Sabemos que alguns engoliram AsAsAs
sob socos, chutes, escarros, pontapés, choques, estupros
unhas e dentes arrancados,
para confissões do sabido, do vivido e do jamais acontecido
e morreram engasgados pelos bordados e crochetados
— símbolo de seu bem querer.
Muitos sobreviventes as enviaram às suas cabeças:
os resistentes, culpados ou inocentes, inocentes e culpados
vomitgaram As AsAs e de alguma forma
muito mais de cem mil Anjos as remendaram
para que cada sonho pudesse se eternizar.
E puderam escapar.
Suas AsAs viraram sonhos...
E as Walkirias de todos os tempos
recolheram-no dos campos sem batalhas
e as mães e as amadas
voltaram a crochetar e a bordar...
*
VEJA e LEIAM outros POETAS de MINAS GERAIS em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/minas_gerais/minas_gerais.html
Página publicada em maio de 2025.
Página publicada em março de 2020; ampliada e republicada em setembro de 2020
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