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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




 

CLAUDER ARCANJO

 

Antonio Clauder Alves Arcanjo (Clauder Arcanjo), nascido em Santana do Acaraú-CE aos 3 de março de 1963, é cronista semanal, resenhista literário — através do heterônimo Carlos Meireles — e colaborador de sites, revistas e jornais de várias partes do País. Em 2003, recebeu menção honrosa no Concurso de Poesia Luís Carlos Guimarães, promovido pela Fundação José Augusto, Natal/RN. No ano seguinte, foi distinguido com nova menção honrosa, desta feita na categoria contos dos Prêmios Literários Cidade do Recife.

 

A reunião de contos, intitulada Licânia, marca a sua estréia em livro em 2007. Entre seus trabalhos inéditos, o autor tem obras nos gêneros poesia, crônica, minicontos, romance e resenhas literárias.

 

Contato: clauder@pedagogiadagestao.com.br

 

 

REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL.  No. 8jan./jun. 2022. Editor: Flavio R. Kothe. Brasília, DF: Editora Cajuína,  2023. 160 p. ISSN 2674-8495                     

 

Não há outra verdade
sendo a que invento.
(Adriano Espíndola, em Escritos ao sol.)

Feito um cão solto,
súbito o sol
salta janela
dentro do quarto.

 

 

E eu desperto para uma manhã que se finge de azul, mas que, pelo seu
olhar vesgo por detrás das nuvens, revela-se cinza como o horizonte
que, bem próximo, se insurge. “Amargo apenas é o sumo do dia.”
Será que ainda estou com saudade da madrugada?

Se tens fome de madrugada,
toma uma folha de papel em branco
e nela sorve em silêncio
com volúpia o nada
que te espanta e consome.

 — Adriano, estou cansado de tudo. Até o silêncio me incomoda  ... 
desabafo.
No entanto, uma réstia de luz me pede calma, ao pousar sob os
meus pés amarelos. Sujos de vergonha, incomodados por minha
omissão ao desgoverno do mundo. Máquina de esbulho.

&&&

Todos os dias,
batalho silenciosamente.

Eu espio teus versos, Espíndola, e eles me agitam. Alma, corpo e
sonhos. Haveria, então, um mundo de utopias poéticas?
Enquanto tal interrogação escapa dos meus lábios pálidos, um bra-
do de incerteza se avoluma em mim. ”Calma, sonhador!”
E eu me irrito, a indagar: E onde estarão os líricos?”

O poeta existe
de se ver, ouvir, pegar,
sempre ali desperto?”

Sinceramente, amigo, a poesia está na esquina, leviana e duvidosa,
com brios de senhora da noite. E será que algum táxi a aguarda?
Não sei, sinceramente não sei. A seguir, caio numa pasmaceira,
diante de tuo que se repete, um tudo-nada que nem me inebria
bem me alevanta o ânimo.

Uma palavra me falta ainda,
para arrastar poema acima.

Mergulho numa espera sem sentido e, com pouco mais, reencontro
o absurdo, a teimar em se entranhar na minha carne, perfurando e
incomodando o meu juízo. “A minha pátria /é agora ...”

Toda palavra é um rio
distante
que desemboca
neste instante
 na minha voz.

Minha voz é um labirinto de palavras, sangue e fúria a esmo, à pro-
cura de estro, quando se satisfaz em ser tão só vazio degredo. “Bran-
co este instante que a tudo resume.”
Minha voz, agora, é um dédalo imerso em arremedos, “num enlace
agreste e inteiro” de pulsões da memória, consolos infantes, e pasti-
ches incessantes sem engenho ou graça.

Neste verso, procuro, ainda, meu rosto.

E o meu semblante por onde andará, Espíndola: Se saiu, não me
deixou recado. Quando voltará, não me devolverá as ilusões-másca-
ras que, antes, quando eu menino, me acompanhavam pelo chão de
Licânia, “plumas de orvalho”.

Feito um cego ao sol
e em silêncio,
eu bebo entre as mãos
a tua ausência.

Silêncio que me traz o repique do sino da Matriz de Licânia, sempre
a anunciar o funeral (“Ó pensamento rugoso de Deus sobre os um-
ros”) das minhas quimeras.

Poucos são os fiéis,
muitos os ouropéis.

Na calçada da rua Mateus Mendes, 75, meu pai me abençoa, “ferin-
do de espanto o mundo”, e me pede persistência. Beijo suas mãos
dadivosas e meto-me na estrada, teimoso e renitente com quê.

Sobre a calçada, um mendigo cata
a queixa sonante das moedas.

Logo à frente, um homem, de barba e jeito franco, convida a
acompanha-lo rumo ao “inominável  delírio do presente!.
—Adriano Espíndola! Quanta honra!


Fonte: Escritos ao sol, de Adriano Espíndola (Rio de Janeiro: Record, 2015.

 

 

 

Até ontem...

(Por entre restos de rosas)

 

Até ontem, a tarde trazia

um pouco de cheiro de rosa,

apesar de serem poucas

as floradas do meu jardim.

Havia, na cumeeira das casas,

o medo aos morcegos,

aos fantasmas desdentados,

e aos bruxos de antanho.

Mas, nesta tarde fria e longa,

me encontro sem halo

de camélias, e com o vaso

aposentado das rosas.

E com um espinho lancinante

na fala, recendendo a abandono.

Sem jardins, vejo a noite

cair pesada, e tenho saudade

dos meus fantasmas,

dos morcegos de Santana, e

dos bruxedos do faz-de-conta...

A vida lá fora me garroteia,

e agarro-me a estes humildes

restos poéticos, único barco

deste pouco que ficou de mim.

 

Da carne

 

A tua carne atiça a minha,

brasa-fogo, vulcão a arder em mim.

Carne-desejo, carne-castigo, carne-carne...

No beijo dos umbigos, o encaixe afoito.

Somos dois, quando ser um nos bastaria.

A tua carne atiça a minha, sim,

e clamo para que seja infindo o cio da noite.

 

Despojos

 

O palhaço partiu,

os balões ficaram flácidos,

o bolo carcomido, e

as crianças despedem-se sem graça.

 

Na rua em frente, um balão a quicar,

com o vento trigueiro a levá-lo...

Preguiçoso, a rolar pelas pedras,

cabreiro, a acenar para a noite da favela.

 

De repente, uma luz dúbia na janela,

um olho na fresta, e um coração,

infante, a rezar pelo atraso do lixeiro,

para reinar cedo nos despojos da alegria.

 

 

Meandros

 

A noite não vem,

o sol não quer se despedir,

e a felicidade pende como promessa.

Enquanto isso, lá fora, nos meandros

dessa tarde infinda, o bicho-homem

insiste em festejos, apesar do peito,

necrotério, repleto da nefasta abulia.

 

 

A regalia de um desvario

 

Na beira da estrada solteira,

cabelos lisos, sem riso.

Em meio às pedras toscas,

a regalia de um desvario.

À leira do cântico, em estilo,

os versos a escorrerem da boca.

Dentes a mastigar o uivo

da aurora, amistosa, a lhe fazer

em lobo. No canto, contido.

 

 

Das escolhas

 

De todas as dores, a mais do meio;

Dos loucos amores, quero o mais doído.

Das flores, a da rosa do centeio;

Desta fria noite, o mal, calmo e banido.

De tudo, o resto do resto do pouco;

Do pouco, pouco, o que foi mais moído;

Mas que, desta funda noite, escoa o soro

De uma vida por demais ultra-sentida.




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