| BOLIVAR MARCELINO   Poeta e ensaísta, nasceu  no dia 28 de Agosto de 1932, em Natal, Rio  Grande do Norte, e radicou-se em Porto Velho aos 6 anos de idade.  Formado em Ciências Contábeis pela  Escola Estudo e Trabalho, também fez os cursos de Letras e Estudos Sociais pela  Universidade Federal do Pará, pós-graduado pela UNIR em História e Geografia e  bacharelou-se também pela UNIR em Direito.  Poeta regionalista, retratou em sua  obra a vida do seringueiro, o canto do Uirapuru, a enchente do Rio-Mar, a  beleza da Vitória Régia, o drama da Madeira-Mamoré e a paisagem amazônica. Do  seu conhecimento e paixão pelas lendas amazônicas, citamos a Mãe-D’água e o  Caboclo Tapuia. Faleceu no dia 25 de outubro de 2010. Fragmento de  biografia extraída de https://rondoniaovivo.com/         
                           A  ÁRVORE
 Árvore amiga que nos  dás as flores,
 Que  desde o nascimento nos ampara,
 Que para nós é como a essência rara,
 Que  nos mitiga sempre as nossas dores.
 
 No  mundo, és o símbolo da esperança,
 Que  nos dás teto, mesa, e até pão,
 És  o berço, a sombra, a proteção,
 Que  nos embala os sonhos de criança...
           Árvore  amiga das horas de tristeza,À  tua sombra hei de morrer um dia,
 Exaltando-te  os frutos e a beleza...
           E  que me possas servir-me de lição:Deste-me  o berço como eu pretendi,
 E  hás de dar-me as tábuas do caixão...
                 COMÉDIA HUMANA   
                           No caminho pedregoso  da existência,Nos  escabrosos pantanais da vida,
 Não  encontrei a chama enternecida
 Que  iluminasse tua fugaz essência...
 
 Tinhas  do fel, amargurada essência,
 Que  na minh´alma em ânsia resumida,
 Aumentava-me  as mágoas e a ferida
 Do  mal que me roía a consciência...
           E  na busca de sonhos e ilusõesNão  tive mais que incompreensões,
 Pois  só colhi das flores mal-me-queres
           E  foi esta, a mais dura e verdadeira,Lição  que tive pela vida inteira:
 Aprendida  entre homens e mulheres...
                 QUANDO EU MORRER...   
                           Quando eu morrer, na  minha campa fria,Não  derramem lágrimas de saudade,
 Não  perturbem a minha eternidade
 Com  as lágrimas cruéis da hipocrisia!
 
 Não  busquem esconder no fim do dia,
 Os  meus desgostos — a minha ansiedade,
 —  Deixem comigo esta infelicidade,
 —  Deixem, também comigo a nostalgia...
           Deixem  que a tarde, o triste gaturamo,Em  meio às copas do cipreste mudo
 Bata  suas asas a cantar no ramo...
 
 Para  que no silêncio deste drama,
 Possa  morrer o que restou de tudo;
 Desta  vida, do Amor, da própria Fama...
       
                           ESTAÇÕES 
 Sonhos vadios de um  alvorecer nevoento,
 Enchem  minh´alma como folhas mortas,
 Caídas  pelo chão (secas e tortas),
 Levadas  em rodopio pelo vento...
 
 E  sinto o outono vir, como um lamento
 De  minhas dores (o coração me cortas)
 E  as ilusões se vão, batendo às portas
 Do  meu ser destroçado e em sofrimento...
           E  eu choro, e as lágrimas dos olhosJorram  quentes (Ó mundo de abrolhos!)
 Minh´alma,  assim, não passa de uma estação:
 
 Primavera  sem rosa colorida,
 Inverno  a transformar a minha vida,
 E  no peito: fugaz tarde de verão...
                        ANOITECER...   
                           Na juventude no  abrolhar da vida,Seguimos,  alegremente pela estrada,
 Como  se fosse a nova caminhada:
 Sonhos,  quimeras, ideais, partidas...
 
 E  assim, vamos, de alma revivida,
 Pondo  no peito uma ilusão dourada,
 E  sem olhar as urzes da calçada,
 Os  sonhos embalamos de vencida...
 
 E  tudo é uma alegria esfuziante,
 Na  paisagem tecida de quimeras,
 Na  paisagem feliz e delirante...
 
 Mas  quando nos fios brancos dos cabelos
 Nascem  na fronte de “cruéis esperas”,
 Vamos  que é tarde pra poder contê-los...
       Página publicada em  junho de 2020
 
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