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 RAMIRO BARCELLOS( AMARO JUVENAL)
 
 
 Amaro Juvenal, pseudônimo de Ramiro Fortes de  Barcellos, nasceu em Cachoeira do Sul/RS, 1851, e faleceu em Porto Alegre, 1916  (ou 1919, conforme a fonte). Médico e professor da Faculdade de Medicina de  Porto Alegre, foi também poeta, jornalista e historiador. Político, foi  secretário da Fazenda do Estado, deputado federal, senador e embaixador do  Brasil no Uruguai. Foi redator do jornal A  Federação, órgão do Partido Republicano Rio-Grandense, de que era membro  ativo e com o qual rompeu em rumorosa dissidência que originou o seu famoso  poema Antonio Chimango em 1915.  Pecuarista e estancieiro, conhecia bem as lides do campo e deu a sua sátira  política o disfarce de Poemeto Campestre, história de um peão oportunista e  ladino contada ao pé do fogo após as tropeiradas. Autor de crônicas combatidas  na impresa, sua bibliografia reúne algumas obras de medicina, política e história. (Fonte: Ari Martins, Escritores do Rio Grande do Sul,  UFRGS/IEL, 1978, Pedro Leite Villas-Boas, Dicionário Bibliográfico Gaúcho,  ESTdigital, 1991, e Luís Augusto Fischer, in Pequeno Dicionário da Literatura  do Rio Grande do Sul, organizado por Regina Zilbermann e outros, Novo Século,  1999).  “(...) rimas despretensiosas de Antônio Chimango, deu  tanta leveza ao poema, salvando-o dos excessos a que se prestava a alusão  política, como das restrições de sentido, que ainda hoje não murchou a sua  graça campeira e franca, a saúde da sua risada, em que ouvimos o eco das rodas  do galpão. / Há também outro motivo para assegurar-lhe uma repercussão  prolongada na história do regionalismo gaúcho — a originalidade da composição.”  Augusto Meyer   DeANTÔNIO CHIMANGO
 Poemeto Campestre
 2ª. Ed.
 Prefácio de Augusto Meyer
 Porto Alegre: Editora Globo, 1957
 (Coleção Província, vol. 5)
 
 65 Do meio-dia pra tardeSe foi o tempo arruinando.
 Soprava de quando em quando
 Um vento quente do norte.
 Assim é que muda a sorte
 De um pobre que anda tropeando.
 
 66
 Dia quente, de mormaço. A gente vinha abombada:                            [exausta]
 Custou-se a achar uma aguada
 Onde o boi bebesse a gosto,
 E era já quase sol posto,
 Não se tinha andado nada.
                   67 Lá pras bandas do poente Formou-se uma barra escura;
 A felicidade não dura
 E é china que não se roga;                          [mestiça]
 Não há maneia nem soga
 Que a possa manter segura.
                     68 Se ouvia ao longe um ruído Como de couro arrastando,
 Ou de uma roda passando
 No tablado de uma ponte;
 E se aproximava um monte
 De nuvens negras rolando.
                     69 O temporal era certo.Quem isto sabe não erra.
 Um cheirinho assim de terra,
 Que vem de lá não sei donde
 Avisa que não se ronde,
 Mas que se busque uma encerra.            [curral grande]
          *                                                                               125
 À sombra de uma figueira,Sentados num cabeçalho
 O Aureliano, sem atalho,
 Disse: agora, meu menino,
 Eu te vou dar o ensino
 Do que aprendi no trabalho.
                  126   Pra pegar um pescoceiro,                [cavalo resistente] Que há sempre algum na tropilha  Desses que pouco se encilha,  Não precisas ter cansaço;  Que os bobos puxem o laço,  Fica-te tu na presilha.                   127   Quando um erro cometeres,  (O que bem se pode dar)  Não deves ignorar  Como se sai da rascada: A culpa é da peonada,  O patrão não pode errar.                    128   Quando vires um peão,  Mesmo o melhor no serviço  Ir pretendendo por isso  Adquirir importância,  Bota pra fora da Estância  Mas, sem fazer rebuliço.                     129   A regra é — cabresto curto —  Pra ter tudo nos seus eixos; Sofrenaço pelos queixos,             [puxão de rédeas] De vez em quando, convém...  Mesmo aos que procedem bem  Queixa-te dos seus desleixos.                   130   Cada qual tem o seu fraco  E também sua pereva,                   [pústula] É por ai que se os leva,  Mas sem dar a perceber; Está tudo em se meter  Com jeito o porco na ceva.                    131   Predominar sobre todos  E mandar com muito arrojo; Da adulação não ter nojo,  E tirar dela partido.  Fica disto convencido: Quem ordenha bebe o apojo.                [leite gordo]                   132   Não  percas isto de vista: C'os  cotubas ter paciência,  C'os  fracos muita insolência,  Com  milicos muito jeito; Não ter  amigos — do peito,  Nisto  está toda a ciência.           *                           141
   O povo é como o boi manso,  Quando novilho atropela,  Bufa, pula, se arrepela,  Escrapeteia e se zanga;                  [resiste ao pinotes] Depois. . . vem lamber a canga  E torna-se amigo dela.                   142   Home é bicho que se doma  Como qualquer outro bicho; l em às vezes seu capricho,  Mas logo larga de mão; Vendo no cocho a ração,  Faz que não sente o rabicho.     Página publicada em  janeiro de 2009     
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