SÉRGIO  ROJAS 
                        
                        
                      Nasceu em 1960, no Rio de Janeiro. Músico, compositor e  poeta. Formado em Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.  Participou de grupos de poesia em 79 e 80, quando editou dois livrinhos em  mimeógrafo, hoje merecidamente esquecidos (na opinião do autor). Em 84, lançou  pela Civilização Brasileira, com Tor, o livro de poemas “Arquitetura do  Perigo”. Com formação musical clássica (estudos com Guerra-Peixe e Turíbio  Santos), Sérgio tenta ser um compositor eclético, passando do choro ao  atonalismo, da canção à música eletrônica. . Toca da Orquestra de Violôes do  Rio de Janeiro.  
                        
                        
                        
                      
                      ROJAS, Sérgio.  Poemas Liquidificador de tudo.   Rio de Janeiro:Philobiblion Livros de Arte, 1985.  63 p.   14x21 cm.  Capa e contracapa:  Walter Pereira. Foto do autor: Tor.  “  Sérgio Rojas “  Ex. bibl. Antonio Miranda  
  
                        
                      Seleção de poemas: 
                        
                        
                      O POETA E A PALAVRA 
                        
                      Aqui 
                      na era da informática 
                      te vejo, palavra, quase fóssil 
                      renuncio ao teu deserto 
                                                  e  te mato 
                        
                      Depois percorro os jornais 
                      as pessoas nosso tempo 
                               e reconsidero: 
                      te ressuscito, palavra, 
                      te reinvento tensa 
                                         inusitada 
                                                  da  cor do agora 
                        
                      Atravessaremos juntos 
                      o fim do milênio 
                      sabendo-nos ambos 
                      frágeis e efêmeros 
                                         irmãos  e filhos 
                                         desse  tempo 
                                                  que  se esvai  
                        
                        
                      MIRAGEM 
                        
                      e não é que de repente eu cruzei você  na 
                      rua e vi em você uma tela de Chagall um  filme 
                      de Buñuel um desfile da Mangueira Maria  Bonita 
                      Vênus tudo dançando em você que me  eletrocutou me 
                      dissolveu em grãos de plenitude e nada  e de repente 
                      não é que eu cruzo você noutro dia  noutra rua 
                      e só te vejo rugas cabelos cicatrizes  1m68cm 
                      pele morena 57 kg e eu fico ruminando  coisas desconexas 
                      até concluir que ou eu não te vi ou eu  não 
                      tô te vendo  
                        
                        
                      SONETORGIA 
                        
                      Enquanto ela embarca num vídeo-clip 
                      o menino vai de computador 
                      e o ministro exclama na sala VIP 
                      a vida não é jogo pra amador 
                        
                      Enquanto na terra pro fim não falta 
                      nas bocas impera a desnutrição 
                      no cosmos já passeia o astronauta 
                      e os Deuses hesitam mas dizem não 
                        
                      Enquanto poucos têm o que perder 
                      e Deus se reparte em teologias 
                      nos palcos raio Laser é lazer 
                        
                      Enquanto alguns vêem os tempos difíceis 
                      muitos invadem as danceterias: 
                      pés dançam sob a profusão de mísseis. 
                        
                        
                      PACTO 
                        
                      Meu bem, fique perto de mim! 
                      nas não perca sua solidão: 
                      no dicionário do amor 
                      Afrodite não rima com araldite  
                        
                        
                      TEMPOS MODERNOS EM 2 ATOS 
                        
                      1º ato:  o ladrão  assalta o artista 
                                         de  bolsos vazios e coração metafísico. 
                        
                      2º ato:  o ladrão  penalizado lhe oferece 
                                         um  cafezinho, e os dois juntos jogam 
                                         uma  bomba no ministério da justiça. 
                        
                        
                        
                      
                      ROJAS,  Sérgio; LIRIO, Thor.  Arquitetura do perigo. Poemas.  Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,  1984.  94 p.  15x22 cm   “Orelha”  assinada por Moacyr Félix.  Contracapa  com comentário de Ferreira Gullar.  “  Sérgio Rojas “  Ex. bibl. Antonio Miranda 
                        
                        
                        
                      NOITE PERIFÉRICA (As mulheres dos bordéis) 
                        
                      Todas  as noites 
                      na  periferia da cidade 
                      emerge  dos poros daquelas mulheres 
                      um  circo que as manhãs não permitem 
                      Todas  as noites 
                      quando  na prefeitura 
                      os  ratos corroem a verborragia dos burocratas 
                      quando  nas igrejas 
                      
                      
                         as baratas constatam a  fragilidade das imagens
                         
                     
                        
  
                        
                  Página publicada em fevereiro de 2008. Ampliada e republicada em março de 2015.  |