Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



SÉRGIO ALCIDES

 

 

Poeta, pesquisador e professor universitário, nasceu no Rio de Janeiro (1967) e reside em São Paulo.  Autor dos  livros de poesia:  Nada a ver com a lua (Sette Letras, 1996) e O ar das cidades (Nankin, 2000). Com Ronald Polito, traduziu Poemas civis, de Joan Brossa, e Almanaque das horas e outros escritos, do mexicano Julio Torri.

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS   -   TEXTOS EN ESPAÑOL



 

 

COMBUSTÃO

 

Uma cidade cercada de incêndios.

Vivemos debaixo de fuligem nesta seca.

Há muita cortesia, como se nada.

Como se as narinas não ardessem.

E os troncos acesos dessem flor.

Também agarro algum crepitar de meu.

Sob o céu amarelo, ;ob a lua roxa.

 

[de O Ar das Cidades]

 

 

 

FALTA

 

Maré baixa. O píer não se precipita

senão sobre o resíduo que vem dar na praia,

memória do mar, areia raiada ainda

pelas pegadas das águas em fuga, flauta

soprando invertida, para dentro de seus

pulmões: distância como concerto de sons

ausentes, renúncia da ventania, sujas

espumas abandonadas como se fossem bens,

algas e conchas entre ruínas de garrafas,

desperdício de mensagens, paus. perdidos

de suas embarcações, com desespero de pregos

em sal e ferrugem, peixe afogado no ar

descartável como os copos esvaziados, e,

lateralmente, o caranguejo flana entre

fragmentos de propaganda e etiquetas loucas.

O píer acusa o horizonte. Pendurada no canto,

a lua transparece no azul da manhã-marinha.

 

 

[de Jandira:- Revista de Literatura n. 2, 2005]

 

 

 

MAS

 

Não há corpos, não há tempo

fora desta mancha gráfica,

página estreita virando,

escrita sombra de sonho,

curva de interrogação

— num tobogã? numa foice? —

por onde desliza o carro

de quem mesmo? Faetonte?

Aquileu? Belerofonte?

Meu? Não fui eu quem botou

uma letra atrás da outra

como se fossem os dias

afiando a sua lâmina, e

preparando meu espanto

que vai dar na poesia.

 

 

[de Jandira - Revista de Literatura n. 2, 2005]

 

 

 

LEMBRANÇA

 

Está combinado: lembrei.

Mergulho numa lacuna,

escolho a forma do nado.

Meu cardume sai comigo, vermelho,

de mim, do aquário derramado

 

 

 

ÀS MINHAS COSTAS

 

As portas do metrô mastigam

o ar condicionado.

Estou em trânsito, com os demais.

Percorremos a rede incorpórea

que há de permanecer.

Não se ultrapassa a linha amarela.

Nada cheira. E a escada rolante

– áspera via – até se alegoriza

ao conduzir-nos de volta ao simulacro

passageiro das avenidas.

Na saída, ponho os óculos escuros. 

 

Fonte: http://sapiens.ya.com/joan-navarro/alfa/alfa14/alcides.htm

        

 

 

LEMBRANÇA

 

Está combinado: lembrei.

Mergulho numa lacuna,

escolho a forma do nado.

Meu cardume sai comigo, vermelho,

de mim, do aquário derramado

na água preta do seu próprio lago

– que nos reúne.                                  

ÀS MINHAS COSTAS

As portas do metrô mastigam

o ar condicionado.

Estou em trânsito, com os demais.

Percorremos a rede incorpórea

que há de permanecer.

Não se ultrapassa a linha amarela.

Nada cheira. E a escada rolante

– áspera via – até se alegoriza

ao conduzir-nos de volta ao simulacro

passageiro das avenidas.

Na saída, ponho os óculos escuros. 

 

Fonte: http://sapiens.ya.com/joan-navarro/alfa/alfa14/alcides.htm

 

 

 

 

ALCIDES, SérgioO ar das cidades.  Poemas (1996-2000)   São Paulo: Nankin Editorial, 2000.  70 p.  (Coleção Janela do Caos – poesia brasileira)  12x18 cm.  Concepção da  capa:          Adolfo Montejo Navas e Sérgio Alcides. Foto da capa: Alexander Rodchenko. ISBN 85-86372-24-2  Col. A.M. 

 

Como a fundação da lírica urbana faz parte do estabelecimento da poesia moderna, 0 ar das cidades, de Sérgio Alcides, continua um pathos lírico que tem no próprio Brasil valores importantes (Sebastião Uchoa Leite e Armando Freitas Filho são dois exemplos), perpassando todo um século de experiências. Apesar de o livro estar dividido em três partes, o fio da memória costura o volume. ADOLFO MONTEJO NAVAS

 

 

MAQUINARIA

 

Levanto o tapa-olho

para melhor espiar

os sete mares do quarto.

 

En garde!

Em dia de recordação

também tem espetáculo.

 

Range

 

porque o cordame

aguenta mal

a volta do velho cenário.

 

Reapresentando: a récita inédita.

Mas não arrebenta.

 

 

 

VOLTA AO CORAÇÃO

 

Vem o sangue

nadando a montante.

 

Não é o passado que retorna

e me percorre o corpo a cada poro:

 

sou eu mesmo

presente / ausente

 

que não tenho onde escorar

 

e coro

 

desamarrado no tempo

jamais devolvido a mim.

 

 

ALCIDES, Sérgio.  Pier.  São Paulo: Editora 34, 2012.   136 p.  12x18 cm  Fotografia da capa: Krisatin Capp.   ISBN 978-85-7326-498-2Livro publicado com o apoio do Programa Petrobrás Cultural. Col. Bibl. Antonio Miranda.

Sérgio Alcides revigora a poesia atual ao fundir em versos de rara beleza referências literárias, filosóficas e históricas com um sensibilidade aguda para os desafios existenciais, que são de todos os tempos, e para as marcas de uma vida, que transcorre em terras, mares e cidades, que são de agora.” NEWTON BIGNOTTO

 

FALTA

 

 

Maré baixa. O píer não se precipita

senão sobre o resíduo que vem dar na praia,

memória do mar, areia raiada ainda

pelas pegadas das águas em fuga, flauta

soprando invertida, para dentro de seus

pulmões: distância como concerto de sons

ausentes, renúncia da ventania, sujas

espumas abandonadas como se fossem bens,

algas e conchas entre ruínas de garrafas,

desperdício de mensagens, paus perdidos

de suas embarcações, com desespero de pregos

em sal e ferrugem, peixe afogado no ar   

descartável como os copos esvaziados, e,

lateralmente, o caranguejo flana entre

fragmentos de propaganda e etiquetas loucas.

O píer acusa o horizonte. Pendurada no canto,

a lua transparece no azul da manhã-marinha.

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

 

 

Correspondencia celeste. Nueva poesía brasileña (1960-2000). Introducción, traducción y notas de Adolfo Montejo Navas.  Madrid: Árdora Ediciones, 2001 – Obra publicada com o apoio do Ministério da Cultura do Brasil.   Ex. bibl. Antonio Miranda      

 

ALENTO

O óleo da alma distribui-se além dos poros
(sopro na lama)

Não sei se não caibo ou se sobro.

 

ALIENTO

El aceite del alma se distribuye más allá de los poros
(soplo en el barro)

no sé si no quepo o si sobro.

                            (De Nada a ver com a lua (1996))

 

*

ESTATUETA

Encontro o cavalo em pedaços
na calçada. Monto.

Pó de mármore.  Memória
só tem nobreza quando, rompida,
não serve mais de ornamento.

Faço disto um cavalo de batalha.

Cavalgo em pedaços
para várias direções, recolho
os dias, os quartos, os troncos

Tudo sujo do chão presente.

 

ESTATUILLA

Encuentro el caballo en pedazos
en la acera. Monto.

Polvo de mármol. Memoria
sólo tiene nobleza cuando, rota,
no sirve más de ornamento.

Hago de eso un caballo de batalla.

Cabalgo en pedazos
hacia varias direcciones, recojo
los días, los cuartos, los troncos

todo sucio del suelo presente.

                   (De O ar das cidades (2000))

  •  

19 CASTANHEIRAS MORTAS

         Sobre os monumentos às vítimas do massacre
Eldorado dos Carajás

Não dão castanhas
como o tronco morto de fuzil dá balas.

Mas dão posse de terra:
se não invadirmos o passado
como diremos que é nosso?

A fazenda movediça, o pasto do vento,
onde cresce a erva do dano...

Eldorado? Um dia, talvez, dos Carajás.

Daí que não dão sombra, estão ali
só para arrepiar a paisagem.

Não dão sossego ao solo onde estão
os troncos enterrados.

 

19 CASTAÑOS MUERTOS

          Sobre el monumento a las víctimas de la masacre
de Eldorado de los Carajás*

No dan castanhas
como el tronco muerto de fusil da balas.

Pero dan posesión de tierra:
¿si no invadimos el passado
cómo diremos que es nuestro?

La finca movediza, el pasto del viento,
donde crece la hierba del daño...

¿El Dorado? Un día, quizás, de los Carajás.

De ahí que no dan sombra, están allí
sólso para erizar el paisaje.

No dan sosiego al suelo donde están
los troncos enterrados.

                    (De O ar das cidades (2000))

*Eldorado dos Carajás se hizo tristemente célebre por la matanza
de los sin tierra, manos de la policía militar el 19 de abril de 1996.

*

 

VODÚ

Me espete aqui:

o poro da folha não é meu, mas eu sinto.

A reta da tinta não desalinha
o itinerário na palma da mão

(onde me perco, mais que na vida)

nem o rosto desse esforço
com olhos de contas e boca de feltro
é máscara rebelada do que fui ou fujo

de ser. Está livre de mim, o poema.
Eu, não, dele, de mim, do seu chumaço
e arame, do seu engenho e arte.

Me espeto aqui, se espete.

 

VUDÚ

Me pincha aqui:

el poro de la hoja no es mío, pero yo lo siento.

La recta de la tinta no desordena
el itinerário en la palma de la mano

(donde me pierdo más que en la vida)

ni es rostro de este esfuerzo
con ojos de vidrio y boca de fieltro
es máscara rebelada de lo que fuí o huyo

de ser. Está libre de mi, el poema.
Yo, no, de él, de mí, de su estofa
y alambre, de su ingenio y arte.

Me pincho aqui, se pincha.

                   (De O ar das cidades (2000))

 

      

 

Página publicada em dezembro de 2018

 

Voltar para a  página do Rio de Janeiro Voltar ao topo da página

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar