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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
RICARDO VIEIRA LIMA

RICARDO VIEIRA LIMA

 

RICARDO VIEIRA LIMA nasceu em Niterói (RJ), em 1969.
Doutor em Literatura Brasileira pela UFRJ e mestre na mesma área pela UERJ, é poeta, crítico literário, ensaísta, jornalista, editor-assistente da revista Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea (UFRJ) e coordenador, juntamente com o poeta W. B. Lemos, do Sarau do Museu, evento cultural virtual realizado, mensalmente, pelo Museu da Justiça (TJRJ).

Organizou e prefaciou os livros: Anos 80, da coleção Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2010), e Poesia completa, de Ivan Junqueira (Glaciar; Academia Brasileira de Letras, 2019). Seu livro Aríete – poemas escolhidos (Circuito, 2021) ganhou os Prêmios Ivan Junqueira, da Academia Carioca de Letras, e Jorge Fernandes, da União Brasileira de Escritores – Seção Rio de Janeiro.

Como poeta e ficcionista, participou de várias antologias, entre elas: Ato poético: poemas pela democracia (org. Márcia Tiburi e Luís Maffei, Oficina Raquel, 2020); Poemas de amor (org. Walmir Ayala e André Seffrin, Nova Fronteira, 2021); Revolta e protesto na poesia brasileira (org. André Seffrin, Nova Fronteira, 2021); Antologia da nova poesia brasileira (org. Olga Savary, Fundação Rio/Rio Arte; Editora Hipocampo, 1992); O conto e o dono do conto 2 (org. Heli Samuel e Hélio Moraes, Editora CODPOE, 1989).

 Site do autor: ricardovieiralima.com.br

 

LIMA, Ricardo Vieira.   Aríete. Poemas escolhidos. 1990 / 2020.  Prêmio Ivan Junqueira - Academia Carioca de Letras; Prêmio União Brasileira de Escritores.  Rio de Janeiro: Circuito, 2021.  219 p.  ISBN 978-65-8674-35-5                                        Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

ESTIRPE TARDIA

 

Pertenço a uma rara estirpe.

Nascido tardio, demorei

a sentir a náusea e o gosto

de ver meu nervo exposto.

 

 

GUERRILHA NOTURNA

 

              A Ivan Junqueira, lutador

Versos feitos ou de efeito,

são, na verdade, defeitos.

Infernam-me dentro do peito,

carrego-os, insatisfeito.

Metáforas do imperfeito,

precisam ser refeitos.

Mas penso: não há mais jeito.

Suspiro, desisto e deito.

 

 

AO GRAVE SENHOR DE ÓCULOS

 

“Vim pedir a mãe da sua filha em casamento”,

anunciou o rapaz ao grave senhor de óculos.

“Tenho a oferecer a ela tudo o que o senhor

não pode mais dar: juventude, beleza,

alegria de viver e paixão.

Tenho a oferecer a ela tudo o que o senhor

nunca pôde dar: mente aberta, conforto total,

variedade e satisfação sexual.

Não tenho a oferecer a ela tudo o que o senhor

está farto de dar: rotina, tédio, aborrecimento

e as velhas queixas da idade.

Por isso mesmo aceite meus argumentos

e me dê a mãe da sua filha em casamento”.

 

 

JOCASTA HIANTE

 

Abre as pernas, mulher, que estou entrando

nesta flora, mestra-guia que anuncia

tuas sendas, teus mistérios, teus recantos,

aos quais rendo meu orgasmo e, mais ainda,

 

abre as coxas, mulher, que estou voltando

ao teu útero, o qual deixei um dia,

e ao qual volto, depois de tantos anos,

para dar cumprimento à profecia.

 

Abre as pernas, mulher, que o tempo é quando.

O amor tem pressa, e esta nossa première

nasceu nula... Ah, fiquemos no entra-e-sai,

 

enquanto o mal está nos esperando.

Portanto, abre. Abre as pernas, mulher,

já é tarde. E eu preciso chorar meu pai.

 

 

ABOIO

 

Mário de Andrade é boi de cambão.

Augusto Frederico Schmidt é um legítimo boi de coice. Manuel Bandeira, boi de cambão.

Carlos Drummond de Andrade começou

boi de cambão e acabou boi de coice.

Murilo Mendes tem pedaços de boi de

coice e pedaços de boi de cambão.

Walt Whitman é boi de cambão.

T.S. Eliot é boi de coice.

W.H. Auden, boi de cambão.

Dylan Thomas faz o possível para ser boi de cambão,

mas só consegue ser boi de coice.

Rimbaud é um misto, talvez o mais completo,

de boi de coice e boi de cambão.

Animais de carga e corte à parte,

a poesia é o aboio,

esse canto plangente e canônico.

Mas é também o estouro da boiada.

 

 

IARARANA – revista de arte, crítica e literatura.  Salvador, Bahia. 
No.  4 – 2000.

 

 

Mutantes

 

Eu canto o extermínio e a devastação.
Sou torpe, venal, cruel e hostil.
Agradam-me os juramentos vãos.
Não faço do mundo algo menos vil.

 

Sou livre e honesto, de bons sentimentos.
Voltado ao que é belo, eu amo o que vive.
Afasto de mim os maus pensamentos.
Preservo o amor e seus dons, inclusive.

 

Vacilo, constante, entre o bem e o mal.
Assim são todos, não passam, afinal,
de seres mutáveis, sem fixa imagem.

 

De certo e claro se sabe apenas

que a morte é a maior de todas as penas:

seus dedos são ágeis em suas voragens.

 

 

 

Cantilena do agora

 

Há uma emoção estalando no ar.
Perto da mansidão que já nos habitou,
seu nome agora é o caos.
Mas o que importa é essa emoção,
fluxo imponderável de todos os limites.

 

 

 

Noturno

 

Noturno. Solitário.

Viajante incógnito na noite sem fim.

Preso à síndrome latente do devorador de hemácias.

E os semáforos parecem saltar aos olhos.

Não há rumos. Não há ideias nem ambições.

Só há presença.

Presença presente.

Presença e testemunho.

 

 

 

Aríete

 

Escrevo para as paredes.
O ar puro me asfixia.
Escrevo todas as vezes
que um desejo se anuncia.

 

Escrevo contra as paredes
que transponho em agonia.
Escrevo sempre isolado,
sem nenhuma companhia.


Escrevo sob as paredes
que me cercam, todavia,
em casa ou no trabalho.
E sem carta de alforria,

 

escrevo sobre as paredes.
Escrevo à noite ou de dia.
Com a sede de um condenado
na sua hora tardia.

 

Escrevo todos os meses
e não vejo outra saída.
Escrevo para as paredes:
não posso escrever pra vida.

 

 

Página publicada em dezembro de 2017; ampliada em junho de 2019.


 

 

 
 
 
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