NEIDE ARCHANJO 
              
              
            Neide Archanjo é autora de uma dezena de livros de  poesia. Li alguns, não tive acesso a todos. Agora estou diante do excelente  EPIFANIAS (Rio de Janeiro:Record, 1999). Sobre ela escreveu Carlos Nejar: “A poesia de Neide Archanjo, que tem no  primeiro livro (Os primeiros ofícios da memória, 1964) a ordenação do caos, caminha para o poema capaz de se encantar na luz.  Mas a matéria é a mesma de toda a grande criação. E a poeta pode dizer  serenamente: “Tanto andei / que cheguei”. “ Diáfana enquanto concreta,  transcendente enquanto memorialista, ela tece um discurso entre lírico e  metapoético, de uma tristeza vivificante.     Antonio Miranda, um admirador.  
              
            TEXTOS EM PORTUGUÊS  /  TEXTOS EN ESPAÑOL 
              
              
            TEXTS  IN ENGLISH 
              
              
            Neide Archanjo, from São Paulo, belongs to the so-called generation  o 1960.  With the installation of the  military dictatorship in 1964 both freedom of expression and the prominence of  Brazil on the world stage of popular culture were severely limited. She was a  young law student at the time of the coup and saw her first volume of poetry,  
              Primeiros ofícios da memória, published that same year.  During the worst years of repression and  censorship, writers published in their work in mimeographed copies and  disseminated it orally on soapboxes in public squares; volume, Poesia na  praça, 1970,registers and reflects that time. 
             
              Four  of her seven volumes of poetry are long lyric/epic poems, everyman´s journeys  through various stages of progression, seeking the meaning of life and its  ultimate goal. Regardless of how much metaphysical, spiritual, or philosophical  terrain she may autobiographically explore, her constant watchword ant theme  has been to maintain a balance between “lucidity and enlightenment,” which  allows her reads not only to empathize with  her experiences but enjoy the skill with which she express her perceptions. Not  surprisingly, Neide Archanjo views her life as an ongoing, living poem. 
              
             
             
              
            EN FRANÇAIS  
              
            * 
              
            Qualquer  coisa se foi. 
              Agora sei que a carne apodrece 
              e apenas o destino me concede 
              a coragem de suportar a vida assim. 
               
              A falta cresce 
              perversa 
              e eu não sou Catarina de Médicis 
              em seus jardins. 
            **** 
            Querida  ser uma romã 
              ou um cais cheio de estrelas 
              sem este corte ao meio. 
              Uma coisa inteira. 
              
            De Tudo é sempre agora, 1994 
              
              
            BUCÓLICA 
              
            Ser  uma árvore 
            plena  de silêncio 
            ainda  que sob os ramos 
            o  pássaro da infância 
            ressuscite  as tardes brancas 
            a  meninas e as tranças.  
              
              
            PROFUNDAMENTE 
              
            Estão  todos sentados esta noite. 
            Estão  todos sentados. 
              
            A  velha mesa respira 
            mas  nadas se aquieta. 
              
            Estão  todos sentados 
            mortos  e sentados. 
              
            E  este amor não basta 
            para  carpir os beijos os nomes 
            os  retratos. 
              
              
            SOMOS NÓS 
              
            E há  que se viver 
            alguma  coisa nova 
            algo  como um vento 
            sobre  o mar 
            superfície  branda 
            alto  navegar. 
              
            E  depois, 
            sem  cortar os pulsos, 
            suportar  o pomo dourado da vida 
            coisa  perigosa 
            porta  sem saída. 
              
              
            O INESPERADO 
              
            Estou  ficando só 
            diante  do mundo 
            diante  dos amigos 
            e  pior 
            diante  do amor. 
              
            Estou  ficando só 
            diante  de Deus. 
              
            Mas  não era 
            para  isso acontecer 
            mais  tarde 
            nem  mais tarde? 
              
              
            ESCREVENDO 
              
            As  palavras fenecem 
            descem  à tumba 
            rejuvenescem. 
            Enganam  a ponta do lápis 
            o  escritor 
            e o  teclado do computador. 
              
            As  palavras são déspotas 
            exigem  escolhas apaixonadas. 
              
            Corremos  ao encalço  
            mas  pronunciadas 
            ei-las  fora do laço. 
              
              
            AMOR DE PERDIçÃO  
              
            Era  um fluir de formas 
            essência  grave e leve 
            era a  ordenação do caos 
            a  harmonia breve. 
              
            Era o  poema 
            encostado  no muro 
            qual  flor vadia 
            que  entre ramas se esquecia. 
              
            Era o  poeta 
            lambendo  a página 
            em  que o poema 
            encantado  se escrevia. 
              
              
              
            Página publicada em novembro de 2007. 
              -------------------------------------------------------------------------------------------------  
            
            De 
            AS MARINHAS 
            Rio de Janeiro:  Salamandra, 1984 
                                                            
            CANTO 1 - Preamar 
            (...) 
            Quero que águas 
            inundem este poema 
            como o sangue inunda o corpo 
            barco que navega. 
              
            E serão as águas claras 
                               dos  momentos claros 
            as águas escuras 
                               dos  momentos escuros 
            convulsas turvas aneladas 
            frias mornas paralisantes 
            calmas largas salinas 
            portuárias 
            águas   águas   águas. 
              
            Sem estação exata para nascer 
            as águas nascem: 
            no céu 
                               nuvens 
            na terra 
                               lírios 
            no ser 
                               lágrimas   suor 
                               saliva   esperma 
                               catarro  urina 
                               e  sangue. 
              
              
                     CANTO II – Litorais 
              
            (...) 
              
            Olhar amanhecido 
            inquieta espero 
            o rosto mítico das palavras 
              
            Pois existe uma palavra 
            virgem de sentido 
            insondável 
            guardada num regaço que ignoro. 
            Um nome que custa falar 
            não sei se veneno 
            vida 
            ou a solidão da palavra silêncio 
            em lápis-lazúli 
            esculpida e secreta. 
              
            Não tenho ainda 
            a linha d´água do poema 
            nem encontrarei 
            o conhecimento socrático de mim mesma. 
                     Apenas  sei o que me falta: 
                     um  grande mar sereno 
            onde o coração pudesse mergulhar em paz.  
              
            (...) 
              
            Destas escadas itinerantes 
            vejo um paquete 
            que aponta na barra 
            e logo penetra nas manchas 
            azuis e verdes que tingem as águas. 
            Imenso o oceano respira 
            e é bom estar aqui 
            junto dele. 
              
                               Pastoreio  as ondas 
                               que,  como carneiros, se alçam 
                               infantes  e brancas. 
              
              
            Ontem andei pela baixa com Fernando Pessoa. 
            Chovia e fomos olhar o cais. 
            As águas do rio que é mar 
            falavam versos 
            coisas indizíveis a molhar nossa fantasia. 
            Escotilhas abertas de navios imaginários 
            deslizavam e pessoas nos saudavam de longe. 
            Para onde iam? 
            No meio do rio seus vultos 
            apressavam a memória 
            fazendo vir à tona um rosto coletivo 
            uma pessoa plural 
            na qual estávamos incluídos nós 
            e a nossa pequena solidão. 
              
            Este cheiro velho 
            vindo de toda parte 
            bate contra as palavras. 
            Não há novas terras nem um novo oceano 
            O que há é este domingo aflito 
            Que me põe dentro de mim mesma. 
            De portas trancadas. 
            De costas para o mar. 
              
            ============================================ 
              
            De 
              CÂNTICO PAR SORAYA 
                Uma Princesa Sefardita 
                CANTIQUE À SORAYA 
                  Une Princesse Séfarade 
                    Traduit du brésilien par Vèronique Basset 
                    texte bilíngüe / texto bilíngue 
                    Paris: Eulina Carvalho; São Paulo: A Girafa, 2006. 
                    ISBN85-89876-90-X 
                   
              
            Após o esperado volume com a poesia reunida, publicado  em 2004, Neide Archanjo nos brinda com o Cântico para Soraya -Uma Princesa  Sefardita. 0 percurso nos permite identificar os diferentes olhares da poeta,  por um lado e, por outro, o amadurecimento, expresso numa economia de recursos  para desvelar emoções intensas. 
            Diria que, em seus últimos poemas, Neide Arcbanjo  atinge o ponto mais alto de seu lirismo, na esteira maior da lírica grega:Safo.  Sentem-se, contudo, os ecos do Cântico  dos Cânticos, quando utilizando processos metonímicos e metafóricos, a  autora evoca o corpo da amada, comparando-o aos frutos, flores, cheiros e  sabores do jardim das Delícias, num sincretismo com os jardins de Sefarad,  cenário dos encontros amorosos por Sevïlha, Córdoba e Granada ou pelos degraus  de Jirona. 
            Esta revitalização lírica dos sentidos pelo olhar  feminino nos harmoniza com a mãe Terra, da qual o homem pos-moderno está  extraviado. 
            Leonor Scliar Cabral 
              
            GÊNESE 
            segundo  versículo 
            Eis  o amor  
              fenda 
               que abre tua alma. 
            Sustentas  
               tesouros 
               por tanto tempo guardados. 
               Pareciam ouro. 
            Engano  teu. 
            És  uma pequena  
              princesa sefardita. 
              Mal sabes da tua estória  
              das falas da memória. 
            Mas  agora  
              nomeada estás. 
            E  mais adiante saberás. 
             
              sexto versículo 
            O  olhar de Soraya:  
              ameixas tâmaras damascos. 
               Desertos. 
            E  mais adiante 
               uma palmeira 
               a flutuar 
              
            ÊXODO 
            quinto  versículo 
            Queria  possuir-te aqui. 
               Por certo tua boca  
              seria outra boca 
               e tua cabeleira 
               desenharia arabescos 
               traços riscos contornos  
              rendas nas quais 
               eu mais me perderia. 
              
            EVANGELHO 
            décima  parabola 
            Teu  sorriso abre  
              saudades da infância. 
            Quisera  ser  
              um dos teus brinquedos 
               objeto de beijos 
               suspiros 
               e orgasmos. 
            Tua  carne viva  
              à minha espera. 
            Ah!  e eu  
              que tardei tanto... 
            Diante  do sorriso da menina  
              meu coração acorda  
              como se algum azul  
              acordasse esta manhã. 
              
              
              
            
            ARCHANJO, Neide.  Todas as horas e antes.   Poesia reunida. São Paulo, SP: A Girafa  Editora, 2004.   504 p.  16x22,5 cm.    ISBN 85-89876-45-4   Apresentação de José Nêumane Pinto. Inclui  poemas dos livros “Todas as Horas” (2004), “Epifanias” (1999), “Pequeno  Oratório do Poeta para o Anjo” (1997), “Tudo é sempre agora” (1994), “As  Marinhas” (1984), “Escavações” (1980), “Quixote, Tango e Foxtrote” (1975), “Poesia  na Praça”(1970), “Primeiros Ofícios da Memória” “O Poeta Itinerante” (1968),   “ Neide  Archanjo “ Ex. na bibl. Antonio Miranda 
              
            A  mais completa edição disponível com a obra poética da autora. O editora faz  aquela advertência de “que não é permitida a reprodução desta obra, parcial ou  integralmente, sem a autorização expressa da editor e do autor”, ou seja, de  ambos...  
              
              
              
             =========================================================================== 
             
            TEXTOS EN ESPAÑOL 
            NEIDE ARCHANJO 
              
            TRADUCCIÓN Y NOTA  INTRODUCTORIA DE  
            ADOVALDO  FERNANDES SAMPAIO  
              
            NEIDE ARCHANJO nació em São Paulo (San Pablo), el 15 de  septiembre de 1945. Abogada por la Facultad de Derecho de la Universidade de  São Paulo. Em 1959, creó y articuló el movimiento Poesía en la Plaza  (exposición semanal de poemas en carteles en la   Feria de Arte de la Plaza de la República, em San Pablo). Ha publicado Primeiros Ofícios da Memória (1964), O Poeta Itinerante (1968), Poesia na Praça (1970), Quixote, Tango e Foxtrote (1975). Tiene  trabajos incluídos en las antologias Poesia  del Brasile d´Oggi (Palermo, 1968) y Poesia  Brasileira Moderna – A Bilingual  Anthology (Washington, 1972). Para Domingos Carvalho da Silva, “el poder de  traducir en poesía los sentimientos personales es realmente raro, pero Neide  Archanjo parece ser una autora dotada de ese poder mágico”. Parfa Luís Lobo,  “Neide Archanjo es um poeta para quien la poesía es necesaria”. Para todo  lector de poesía, o para todo poeta, los poemas de Neide Archanjo son  indispensables, inevitables. Pues su poesía es densa, tensa, intensa,  envolvente, aliciente, apasionada, como en el limite de sí misma. 
              
            TRES POEMAS 
            1 
            Las personas quieren saber 
            cómo hago poesía. 
            ¿Es inspiración? 
            ¿Escribo fumando 
            a máquina o a mano? 
            ¿Soy romântica moderna? 
            Ay, mis amigos 
            ésa no es la boca 
            para la confesión. 
            Poesía es estado de gracia 
            y el poeta un ángel  exterminador 
            decidido a cualquier muerte 
            muerto en cualquier ángulo 
            pasible de muchas muertes 
            de aquéllas de corazón 
            de aquellas claras 
            lindas muertes 
            resueltas fulgurantes 
            donde el amor se cumple 
            concluso incluído incluso. 
            Mientras proyecta hondo 
            la amplitud de su vuelo 
            el poeta mata y muere 
            frente a frente 
            pistola y muerte en la mano. 
              
              
                     (De Poesia na Praça, 1979) 
              
            2 
              
            La carta llegó 
            ydesde entonces ella está conmigo 
            en los bolsillos 
            encima de la mesa 
            debajo de la almohada 
            al lado de la cama. 
            Y este recuerdo me duele. 
            Las cartas son lentas tardias 
            porque los correos no aman. 
            Pero ¿cómo decir, por  ejemplo, 
            que esta carta 
            es un acontecimiento único 
            en mi universo 
            umna cosa linda 
            que llega interrumpiendo la vida 
            que me hace sentir feliz 
            sin que yo sepa 
            que estoy siendo feliz? 
              
              
            3 
            Yo me mataría en Lisboa 
            mirando el viejo cuarto de hotel 
            las ventanas ovales 
            y Allá fuera los tejados descoloridos. 
            Yo me mataria en Lisboa 
            pensando en el outro margen 
            como cosa vivida 
            y ya perdida 
            pues el amor pasa 
            y nosotros nos quedamos. 
            Yo me mataria en Lisboa 
            si tuviese que escribir cartas 
            en una lengua que no sé 
            cerca de un chafariz 
            de agua muy antigua. 
            Yo me mataria en Lisboa 
            cuando necesitase un diccionario 
            para componer esas cartas 
            en si mismas tan complejas 
            y tímidas ridículas 
            las cartas de amor. 
            Yo me mataría en Lisboa 
            si pasase las tardes en el Rocío. 
            Y entonces si fuera mayo 
            o abril 
            ahí si 
            seguramente  
            yo me mataría. 
              
                               (De Quixote, Tango e Foxtrote, 1975) 
              
            Extraído de la obra  
            VOCES FEMENINAS DE  LA POESÍA BRASILEÑA  
            Goiânia: Editora  Oriente, s.d.   
               
            ========================================================== 
            
            
              
            De 
              CÂNTICO PAR SORAYA 
                Uma Princesa Sefardita 
                CANTIQUE À SORAYA 
                  Une Princesse Séfarade 
                    Traduit du brésilien par Vèronique Basset 
                    texte bilíngüe / texto bilíngue 
                    Paris: Eulina Carvalho; São Paulo: A Girafa, 2006. 
                    ISBN85-89876-90-X 
              
             
             
            Aprês le volume attendu de ses oeuvres complètes,  publié en 2004, Neide Archanjo nous offre le Cantique à Soraya - une princesse  séfarade. Nous y retrouvons les différents regards de l'auteure. Mais enrichis  de la maturation que dénote l'économie des moyens utilisés pour porter les  émotions au mieux de leur inrensité. 
            Dans ses derniers poèmes, Neide Archanj'o semble avoir  atteint au point culminant de son lyrisme, se plaçant dans la lignée de la  póète grecque, Sapho. On perçoit, dans le même temps, les échos du Cantique des cantiques, où métonymies et  métaphores viennent évoquer le corps de l´aimée, qui se fait fruits, fleurs,  saveurs, parfums du Jardins des délices ; mais aussi, par fusion syncrétique,  jardins de Séfarade, théatre des rendez-vous amoureux de Séville, Cordoba et  Grenade, gradins de Gérone. 
            Cette revitalisation lyrique des sentiments par un  regard de femme, nous met en harmonie avec la Terre mêre, dont procède l'Homme  post-moderne. 
            Leonor Scliar Cabral 
              
            GÊNESIS 
            verset 2 
            Voici l'amour 
               fissure 
               qui vient ouvrir ton âme. 
            Tu  gardes 
               des trésors 
               si longtemps préservés. 
               On aurait cru de l'or. 
            Tu  te trompes. 
            Tu  es une petite 
               princesse séfarade.  
              A peine connais-tu ton histoire 
               les voix de ta mémoire. 
            Mais  à présent 
               tu es nommée. 
            Et  plus tard tu sauras. 
              
            verset 6 
            Le regard de Soraya : 
            dattes prunes abricots.  
              Déserts. 
            Plus  avant 
               palmeraie 
               qui ondoie 
              
             
              EXODE 
            verset  5 
            C'est  ici que j'aimerais te posséder. 
               Assurément ta bouche 
              serait une autre bouche  
              ta chevelure  
              dessinerait des arabesques 
              des lignes des traits des contours 
               dentelles en lesquelles 
               plus encore me perdrais. 
              
              
            ÉVANGILE 
            dixiëme  parabole 
            Ton  sourire ouvre 
               les saudades de l'enfance. 
            Je  voudrais être 
               tel de tes jouets 
               objet de tes baisers 
               soupirs félicités. 
            Ta  chair vive 
               a me languir. 
            Ah!  et moi 
               qui ai mis si longtemps... 
            Au  sourire de la fillette 
               mon coeur s'éveille 
               a l'image de quelque azu 
               qui eut levé ce matin-là. 
               
             
            TEXTOS EM  PORTUGUÊS   -   TEXTS IN ENGLISH 
              
            
            POETS OF BRAZIL - A bilingual selection.  POETAS DO BRASIL - uma seleção bilingüe.  Trad. Frederick G. Williams.   New York:  Luso-Brazilian Books, 2004.  430 p.       Ex.  bibl. Antonio Miranda 
              
            Neide  Archanjo, from São Paulo, belongs to the so-called Generation of 1960.  
              
            "Não vi Colombo descobrir a América" 
              
            Não vi Colombo descobrir a América 
              mas vi o homem descer na Lua. 
               
              Desceu manso e decidido  
              como uma sombra 
              o coração batendo 156 vezes por minuto 
              — recorde de comoção. 
               
              Atrás dele a águia em pouso 
              e a humanidade. 
               
              Depois o homem, a pedra, a entranha, 
              a bandeira, 
              a pá e a solidão, 
               
              20 de julho de 1969, 
              mar de Tranqüilidade: 
              ... Terra à vista! 
               
             
              
             I  didn´t see Columbus discover America 
               
              I  didn´t see Columbus discover America 
              but  I saw man land on the Moon. 
               
              He  landed softly and determined 
              like  a shadow 
              his  heart beatin 156 times per minute 
              —  a record of commotion. 
               
              Behind  him the eagle at rest 
              and  all mankind. 
               
              Later  the man, the rock, the bowel, 
              the  flag, 
              the  shovel and the solitude. 
               
              July  20, 1969, 
              sea  of´Tranquility: 
               
              —  Land ho! 
               
             
              
            I´m Sorry 
               
              Alguém  vai querer este poema diferente 
                como já me quiseram diferente 
                do que penso e do que sou. 
                Concordo. Seria mais fácil compor 
                cara e poema ao gosto de todos 
                sem interferências pessoais. 
                Como também seria mais fácil 
                não amar o que amo 
                não ser o que sou 
                não fazer o que faço. 
                Mas, por acaso, já perceberam 
                que estamos tentando juntos 
                a experiência funda 
                da vida 
                e que isso dói, machuca 
                e incomoda? 
                Já perceberam? 
                 
                 
                I´m Sorry 
                 
             
             Someone  is going to want this poem diferente 
              just  like they wanted me diferente 
              from  what I think and from what I am. 
              I agree. I would be much  easier to composse 
              face  and poem to the taste of everyone 
              without  personal interferences. 
              Just  like it would be much easier 
              not  to love what I love 
              not to be who I am 
              not  to do what I do. 
              But,  by the way, have they noticed 
              that  together we are attempting 
              life´s  profound 
              experience 
              and  that tht hurts, wounds 
              and  is annoying? 
              Have  they noticed? 
               
             
              
            "O amor" 
               
              O  amor 
                a mais pesada das drogas 
                é uma dor 
                é um silêncio tão próximo da morte 
                que sendo inevitável 
                hei de aceita-lo 
                com temor e reverência, 
                 
                 
                  Love 
                     
                    Love 
                the  heaviest of all drugs 
                is  a pain 
                is  a silence very near the death 
                which  being inevitable 
                I´ll  surely accept it 
                with  fear and reverence. 
                 
               
              
            "Atrás da curva dos teus ombros" 
             
              Atrás  da curva dos teus ombros 
                uma chuva caía incessante 
                um pouco água um pouco bruma. 
                Mais acima estavam teus olhos 
                duas tâmaras maduras. 
                Então pensei: que alegria é esta 
                que a vida não me deu antes? 
                 
                As tardes passarão esta hora passará 
                outras esperas outros acontecimentos 
                hão de turvar meu sangue. 
                Não hoje. 
                 
                 
                Behind the curvature of your shoulders 
                 
                Behind  the curvature of your shoulders 
                a  rain was falling incessantly 
                a  little hit water a little hit mist. 
                Further  up were your eyes 
                two  ripe dates. 
                And  then I thought: what joy is this 
                that  had not given me before? 
                 
                The  evenings will pass away this hour will pass  
                Away 
                other  delas other events 
                will  surely disturb my blood. 
                Not  today.  
              
            * 
            Página ampliada e republicada em maio de 2022. 
              
            ****** 
              
            Página republicada em junho de 2008, ampliada e republicada em janeiro de 2010 
              
               |