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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 

DARCY DAMASCENO

 

Darcy Damasceno dos Santos nasceu em Niterói, Estado do de Janeiro, em 1922.

 

Publicou: Poemas, 1946; Fábula Serema, 1949; A Vida Breve, e O Pajem Constante, 1951; Jogral Caçurro e Outros Poemas, 1958. Traduziu O Cemitério Marinho de Paul Valéry, 1949, novamente traduzido e comentado. 1960.  

 

 TEXTOS EM PORTUGUÊS   /   TEXTO EN ESPAÑOL

 

TEXTO EM ITALIANO

 

 

 

Côncavo mar, não este, mas antigo

De brancura e azul.

Libertos ventos espadanam largo

Invertido ventre,

 

Alada vida no profundo vórtice

Desprende seu vôo,

Sorvendo o mar, não este, mas também

Cobalto e pureza.

 

Côncavo azul, tão próximo da essência

Tua, e sem embargo

Campo de pássaros, pasto de ventos,

Mar contra este mar.

 

 

* * *

 

Um dia, eu e meu sonho a sós,

Eu e meu sonho.

Deitei na areia a cabeça derrotada por mares vingativos

E tormentas abatidas sobre crepúsculos macios.

No bojo de meu sonho rolava um canto de vencido,

Um mar se debatia entre as minhas mãos crispadas.

Sobre a areia eu e meu sonho, derrotados,

E sobre a vida e sobre a morte

Um céu de exílio se abateu.

 

 

* * *

 

Para a morte vivemos, e a esperança

É âncora lançada a mar sem fundo.

Onde o sonho habitou, onde a lembrança

Desferiu para trás um vôo azul,

 

Onde um canto, um calor te impulsionaram,

Teu silêncio constrói cristais agudos.

Sombra fluida repousa, horizontal,

Onde estrelas caladas se acenderam.

 

Para a morte vivemos, e a esquivança

Em teu peito enredou sargaços frios.

Onde a vida estuante foi mensagem,

 

Velhas árias nascidas com teu canto

Se transformam, se apagam, já tornadas

Ressonâncias de um mar aprisionado.

 

 

SERESTA

 

Se vou-me ao campo pelas rosas bravas,

Deixa que as traga todas, mais aquela

Que há de florir, alta e única, entre lavas

De sonhos matinais à tua janela.

 

Pelos caminhos de noturno mundo

Virei cantando, se cantando parto,

Atento à lua pelos céus sem fundo.

Deixa aberta a janela de teu quarto.

 

Trarei formosa! Aos teus jarros de prata

Súplica e rosas, nalguma hora incerta.

Dorme e sonha - se a noite é verde e nata!

Deixa a janela de teu quarto aberta.

 

 

De Jogral Caçurro e Outros Poemas,

Ed. Livros de Portugal, Rio, 1958)

 

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LUNAMARENA

 

Luna Marena, irmã dos anjos, prostituta esplêndida,

Em que outono se aplaca a ânsia de amar, de amar,

A paixão, casto fogo, a entrega leal?

Rude amavas, como quem ia morrer amanhã

Sôfrega e lúcida amavas, e naquela primavera

Só teu corpo floriu e ardeu e extenuado recobrava sempre

A inocência selvagem do primeiro amor.

Amaste toda a primavera, e maio com realejos e altas nuvens

Debruçou-se à tua janela fatigado, água e fogo eras tu,

Deslumbrada!

 

 

 

O ENCONTRO

 

— Por que tremes? (A mão arde

No braço do adolescente.)

— A senhora é tão bonita!

— Mas tu só viste o meu rosto

Na sombra e só conheceste

O corpo sob o vestido...

— Parece o rosto de tia

Mariana e o corpo dela,

Quando se encostava em mim.

Me olhava às vezes nos olhos,

Alisando assim meus braços.

— Meu louco! Meu pobre louco!

— Eu então pensava coisas,

Mas depois tinha vergonha.

— Tão moço! Por que não amas

As moças de tua idade?

— A senhora é tão bonita!

— Se eu te mostrasse meu corpo,

Vai ver tu ficavas triste.

Ainda que te lembrasse

O corpo de alguma moça

Que foi tua namorada,

Ou mesmo o da tua tia

Solteirona... Mas vai ver,

Tu ficavas com vergonha...

— É igualzinho ao da tia

Mariana... com vestido...

(Queimava a boca ensaiada

No rosto do adolescente,

Como a de tia Mariana

Quando o beijava na boca.)

— Se eu já não fosse uma velha,

Tu serias meu amante.

(Tremia o moço, colado

Ao corpo de Mariana

E tremia a prostituta,

Colada ao corpo do moço.)

— A senhora é tão bonita!

— Mas também eras meu filho:

Te penteava, arrumava

Direitinho, como as mães,

E havia de Ter ciúme

Das moças que namorasses.

— Eu não tenho namorada.

— Gostas de mim, meu benzinho?

(A mão alisava as costas

E era dolorido e bom

Aquele frio na espinha.)

— A senhora é tão bonita!

— Hoje vais dormir comigo.

Vais ver meu corpo sem roupa...

— Estou com pouco dinheiro...

— Ninguém te pediu dinheiro.

Sobe comigo, se queres.

Mas em silêncio. Cuidado,

Não tropeces nos degraus.

 

 

CANÇÃO ATREVIDA  

 

Na casa em frente ( à janela
Há flores, mas nem todo o ano)
Morava, morou ninguém,
 
Alto colo de cambraia
Para lá do cortinado
Encardido, mas aquém
 
Do meu desejo. Ignorou-me,
Em seu desprezo; em meu sonho,
Outrora, foi ela quem,
 
Felina sombra ciosa,
Mordeu em fúrias de estio
Os lençóis; o seu desdém,
 
Lançou-o à rua. Consente
Minha lembrança lembrá-la
Na casa em frente, porém
 
Alto colo, toda nua,
Toda pura entre cambraias.
Noutro tempo foi meu bem.
   

 

 

DAMASCENO, Darcy.  Trigésimas (1952-67).   Rio de Janeiro: Orfeu,  1967.  37 p.  “Composto e impresso na Gráfica Olímpica Editora Ltda. Para Edições Orfeu”. Foto do poeta no frontispício. Col. A.M. 

 

De canto a canto,

Do tufo à rama obscura,

Som que na sombra mana,

Rumor difuso.

 

De mangue a mangue,

Da alga trémula ao fuste,

Um som de água levanta

E a sombra enruga.

 

Prenúncio: aos galhos

A névoa rumorosa,

Vislumbres dentre a malha

Que a alva recolhe.

 

Fosco arrepio

Buscando as aparências

— Desvãos, orla transida —

Que a luz consente.

 

De beira a beira,

Crespa-se ao sopro, o rio:

 

A pele de seus peixes,

Nesse ouro-cinza.

 

Atrás: o assomo

Do verde, a asa certeira,

Relance — atrás — das combas,

Atrás: a aroeira!

 

 

 

DAMASCENO, DarcyA vida breve  seguida de  O pajem constante.  s. l.: Orfeu, 1951.  39 p.  13,5x19 cm.  Tiragem: 400 exs.  “ Darcy Damasceno “  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação de Aricy Curvello.

 

 

          IMPROVISO

 

          PENSEI TEU sonho suspenso
          De meu dia madurado.
          Pensei teu sonho no tenso
          Fio de água, alto, olvidado.

          Cresceu na tarde: era infenso
          Teu sonho ao veio encontrado
          Entre cismas, era imenso,
          Amor meu, ai, meu cuidado.

 

                    1950

 

 

 

          GUITARREIO

 

          ALTA janela
          Quem te deu vida tivera
          Outra vida e mais te dera
          (Fôra bela)
          Foi arco de cimitarra
          E agora se destempera
          Na memória, se desgarra
          Na prima de uma guitarra
          (Não aquela)
          Quem te deu vida te dera
          Alta janela.

 

                    Abril, 1950

 

 

 

 

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TEXTO EN ESPAÑOL

 

 

DARCY DAMASCENO nació en Niterói, Estado de Rio de Janeiro. Estudió Letras en la Pontificia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Escribió ensayos literarios.  Junto a Fausto Cunha y Afonso Félix de Souza, dirigió la revista “Ensayo”. Como poeta pertenece a la generación del 45, según la crítica se destaca por ser uno de los poetas líricos más expresivos. Algunas obras: “Poemas” (1946), “Fábula Serena” (1949), “La vida breve” (1951), “Jogral Caçurro e Outros Poemas” (1958), “Cecília Meirelles, o mundo contempldo” (ensayo, 1967) y “Villancicos Seiscentistas” (1970).

 

 

 

LUNA MARENA

 

Luna Manera, hermana de los ángeles, prostituta espléndida,

En qué otoño se aplaca el ansia de amar, de amar,

La pasión, casto fuego, la entrega leal?

Ruda amabas, como quien se iba a morir mañana

Sufrida y lúcida amabas, y en aquella primavera

Solo tu cuerpo floreció y ardió y extenuado recobraba siempre

La inocencia salvaje dei primer amor.

Amaste toda la primavera, y mayo con organillos y altas nubes

Se recosto a tu ventana cansado, agua y fuego eras tú,

deslumbrada!

 

 

Extraído de VISIÓN DE LA POESÍA BRASILEÑA; edición biliingue. Selección y prólogo de Thiago de Mello. Traducción de Adán Méndez. Santiago de Chile: Red Internacional del Libro, 1996. 442 p.  ISBN956-7159-92-0

Livro publicado com os auspícios da Embaixada do Brasil e do Banco do Brasil.

 

 

ANTOLOGÍA DE POESÍA BRASILEÑA. Preparación, traducción y prólogo de Gabriel Rodríguez. Caracas: Fundación Editorial Popular de la Cultura; Fundción Editorial  El Perro y          la la Rana, 2008.   437 p.  Col. Poesía del Mundo. Série Antologías.     Col. A.M. 

 

CANTIGA DE AMOR

 

A orillas de un río verde,

Ay, señora,

A orillas de verde río

Echó raíces mi amor.

 

A la sombra de este silencio,

Ay, señora,

a la sombra de este silencio,

Mi espera se plantó.

 

Cien años para dar sombra

A este río,

Cien años para beber

la savia de este silencio.

 

                    (Poemas)

 

 

BALADA A PALMIRA

 

Ida la vida, ¿qué nos queda?

 

Quedas tú, pájaro sobre

Cielo de exilio, castellana

Campanada, rosa afligida,

Queda la joven inclinada

Sobre la represa del crepúsculo.

 

Quedas tú, inadvertido

Otoño de cielos y aguas,

Reprimido revolotear

Contra bóvedas de olvido

Y el claro blanco y aún queda

La sonata y la voz y el grito.

 

Queda la palabra no dicha

Y suspendida de lo irreal

Queda la sala de visitas,

Tu temblor, corza rendida,

Y tu mano sorprendida

Y tu beso y la vida queda.

 

 

LUNA MARENA

 

Luna Márena, hermana de los ángeles, prostituta

                                                           [espléndida,

¿En qué otoño se aplaca el ansia de amar, de amar,

La pasión, casto fuego, la entrega leal?          

Torpemente amabas, como quien iba a morir mañana

Voraz y lúcida amabas, y en aquella primavera

Sólo tu cuerpo floreció y ardió y extenuado recobraba

                                                             [siempre

La inocencia salvaje del primer amor.

Amaste toda la primavera, y mayo con organillos y altas

                                                                   [nubes

Se inclinó fatigado en tu ventana, agua y fuego eras tú,

¡Deslumbrada!

 

                              (Fábula Serena)

 

 

POEMA

 

Fue para arder solos

Curtiendo nuestra fiebre

En la sed de otra fiebre,

Que nos volvimos hombres.

 

Y para el árido cambio

En boca de oro y sal

De los labios que tocamos,

Al sentirnos barro.

 

Fue para amar el amor

Que -frío- se refracta

En nuestra alma de espejos

Que nos volvimos hombres.

 

Y para, levitados,

Entre la locura y la infancia,

Plantar lo humano y lo trágico

A los pies de la eternidad.

 

 

NUPCIAL

 

—Seré pájaro de piedra,

Grave, sobre la enramada,

Suplicante ante tu sueño leve.

 

—Yo seré la madrugada...

Seré la ventana abierta

Para tu queja silenciosa,

Espera ávida, inquieta...

 

—Yo seré en el cortinado

De tu cuarto el soplo ansioso,

Que ante los otros contuviera-

Pobre pajaro feo.        .

 

—Yo seré la que te espera...

 

 

GUITARREO

 

Alta ventana

Quien te dio vida tuviera

Otra vida y más te diera

(Fuera bella)

Fue arco de cimitarra

Y ahora se desafina

En la prima de una guitarra

(No aquélla)

Quien te dio vida te diera

Otra vida, si más tuviera

Alta ventana.

El cisne de ojos verdes, que a una loca

Enamoró con musical expresión

—De jazmines tapizada la boca,

Adorno de violeta el corazón—

El cisne aquél, simple fusión

De clásica postura y alma barroca,

Amante anocheció, variando el son;

Mudo madrugó, pues la luz sofoca

Ruegos y quejas de velludo y pluma,

Que, por nocturnos, solicitan bruma.

Igual que en Leda donde rejuvenece

La siempreviva de ausencia y pena;

Crezcan memorias y prosperen silencios,

Que nemoroso es el pecho que enmudece.

 

 

QUÉ ARTÍFICE CONCIBE

 

¿Qué artífice concibe

Qué ingenio tan divino,

Bóveda más ligera

—Cárcel de una campana

Que a proclamar el Tiempo así se atreve?

 

¿Y en ella incrusta la gema

Que de lo alto irisa la lama

Y en el cifrado lema

 

El arder de eterna llama

Advierte lo caduco de ese emblema?

 

¿Qué dístico o precepto

De irrevelada esencia

Igualmente al fuego acostumbrado

Elide la contingencia

Proponiendo a la mente la luz de atroz concepto?

 

¿Qué mirar del entendimiento

Así bajase tanto,

Que, de ceguera exento,

Subiese por el llanto,

Amando luz, campánula y memento'1.

 

                    (Trigésimas)

 

 

TEXTO EM ITALIANO

 

Texto extraído de:

 

 

 

CHIOCCHIO, Anton Angelo.  Poesia post-modernista in Brasile.  Roma: dell´Arco, s.d.  40 p.  ilus. 12x17,5 cm.  “ Anton Angelo Chiocchio “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

NON SAREMO MAI...

 

Non saremo mai noi stessi.

Che, dall'avventura evasi,

Al mistero, noi tendiamo.

Risaliamo ad altri cieli.

 

Pesa il sogno, il nostro cuore

Dal profondo tuffo affiora

E nei nostri occhi naufraga.

Mai, noi fummo tanto umani.

 

Alte torri di silenzio.

Verdi cieli senza spiagge.

(Chi mi vuoi dall'infinito?)

 

Non saremo mai noi stessi.

Rude mar! da questa fuga

Cieco azzurro! chi mi salva?

 

 

 

 

Página ampliada e republicada em janeiro de 2009. Ampliada e republicada em janeiro de 2014.

Ampliada e republicada em dezembro de 2014.


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