Óleo  s/tela: Silva Filho 
                  
                CÉSAR DE ARAUJO 
                (1943-2005) 
                  
                Nasceu  em Vitória do Espírito Santo, Brasil, e viveu em Niterói, Estado do Rio de  Janeiro, participando ativamente nos movimentos de poesia alternativa desce os  anos  70 de século XX.   
                  
                Obra poética: Através da Consciência - Edição do autor (mimeografada) - Rio de Janeiro, GB –  1963;  Das Faces - Ed. Encontro - Rio de Janeiro, GB – 1967; Canto de Morte e Enterro do Menino de Belém - Coordenada Editora de Brasília - DF – 1968; Antologia Poética do Grupo Salina - Ed. Reportagem - Niterói, RJ – 1969; O Jardineiro  e a Pedra - Ed. Livros de Portugal - Rio de Janeiro, RJ – 1970; O Herdeiro do Homem - Ed. A Casa da Filosofia & Diretório Central dos Estudantes, UFF - Niterói, RJ – 1971; Pequena Antologia Poética - Centro Orcal de Cultura e Arte - Niterói, RJ – 1973; Eu (Im)Pessoal- Edição do autor - Chancela: Gutemberg  Card - Niterói, RJ, 1990. Fala, Poesia Brasileira & Colheita - Obra biintitulada, gravada em fitas cassete: primeira  antologia nacional do autor - Chancela: Secretaria de Cultura de Niterói,  Fundação Niteroiense de Arte e Gutenberg Card - Niterói, RJ - 1991/1993.  
                  
                “(...) recria,  porém, a realidade, vinculando elementos musicais e plásticos, de mão sensível,  cujo resultado é arte adulta, amadurecida, despojada de ornatos inúteis, densa  de significação”. 
                Paschoal Carlos Magno 
                  
                “São  versos muito bonitos por seu lirismo simples mas substancioso, tocados pela  pureza de suas intenções e de sua linguagem.”  
                Cassiano Ricardo   
                
                  TEXTOS EM PORTUGUÊS   /  TEXTOS ESPAÑOL 
                   
                   
                  Seleção de 
                  WALMIR AYALA 
                  publicada originalmente na 
                  REVISTA DE CULTURA BRASILEÑA 
                  N. 39, JUNIO 1975 pela 
                  Embaixada do Brasil na Espanha  
                    
                   
                  
                TEMPO DE ESTÁTUAS  
                  
                Milhares  de estátuas ocupam as cidades 
                -  incrível população! 
                Somente  numa praça  
                Estáticas,  posadas 
                mil  estátuas marciais. 
                  
                Nas  casas de comércio, de cultura 
                palácios,  templos, hospitais 
                estátuas,  sim, estátuas 
                sem  os rústicos cuidados manuais 
                destituídas  de engenho e arte. 
                  
                Ruas  inteiras congestionadas 
                metrópolis,  países. 
                Cordilheiras  de estátuas pesadíssimas 
                ora  de ouro e prata fabricadas 
                estátuas  de cristal: 
                proliferam  demais 
                  
                (As  estátuas se formam nos espelhos.) 
                Espantalhos  de pedra mantidos 
                para  medrar as flores. 
                Não  se transita mais 
                senão  entre rochedos. 
                Este  Planeta vai rachar 
                de  tanta penedia. 
                  
                Observem  Conselhos 
                Ordens,  doutos 
                cátedras,  os Júris. 
                Há  estátuas falando, aplaudindo. 
                Nomeiam-se  estátuas. 
                  
                Atenção  para os conceitos de granito: 
                -  defendem-se em carne! 
                A  essência dos deuses, carne apenas. 
                  
                Reúnem-se  estátuas todo dia. 
                Existem  comissões formadas só de rochas. 
                Há  estátuas de elite planejando. 
                  
                Metamorfose  tristíssima de ontem: 
                Um  artista virou também. 
                E as  últimas notícias dão-nos conta 
                que  uma senhora queria parir pedras. 
                  
                Está  difícil encontrar um homem. 
                Não  se conversa há tempo sobre ossos. 
                O  grito é som antigo: 
                Sombria  peça de museu da História. 
                O  pranto: uma loucura. 
                Por  não se ver sangrar o coração  
                sabe-se  de memória só 
                vermelho  o sangue. 
                  
                Quanto  ao Âmago do Homem 
                -  Espírito ou Ser – 
                dizem  estátuas  
                que  são coisas mortas. 
                  
                  
                O JARDINEIRO E A PEDRA 
                (fragmento) 
                  
                E  tanto amava 
                terra  e vento 
                que  não sabia mais 
                se  jardinava  
                alguma  flor 
                ou a  própria alma. 
                  
                Um  beija-flor 
                Pousou 
                Na  sua calma. 
                  
                As  flores foram feitas 
                para  florir e ser colhidas. 
                  
                Salta  a criança  
                muros  e grades 
                levando  rosas. 
                Não  hesita colher 
                mesmo  em jardim alheio. 
                  
                O  mais são pernas 
                e a  vontade enorme 
                de  pintar a terra. 
                  
                O  poeta trabalha no céu 
                com  mãos de vento. 
                  
                Sabe  que é difícil 
                plantar-se  nas nuvens 
                sem  cair do céu. 
                  
                Sabe  mais seguro 
                plantar-se  na terra 
                e florir para o céu. 
                  
                Enraíza-se  porém nas nuvens 
                e  debruça suas flores 
                sobre  a terra.  
                  
                
                    
                  O NUMERADO 
                    
                  Sei que sou um número. 
                  Que número sou, não sei.  
                    
                  Sei que sou um elo ao infinito 
                  ou de retorno ao princípio.  
                    
                  Se tudo for redondo, volto. 
                  Se tudo plano, vou.  
                    
                  De qualquer modo, sou.   
                    
                    
                  NOME E SOBRENOME 
                    
                  Deus está no cio.  
                    
                  Que mundo nascerá da cópula  
                  do Todo sobre Nada?  
                    
                  Como se chamará o herdeiro  
                  filho da Luz e Treva?  
                    
                  Deus está no cio.  
                    
                  Da cópula de Deus  
                  o hermafrodita nasce  
                  de nome Vida  
                  e sobrenome Morte.   
                    
                    
                  NA ALCOVA, APAIXONADAMENTE  
                    
                  Não suporto nenhum tipo de ditadura: 
                  só a tua ditadura, amor.  
                  Ai de mim!  
                    
                  Se tudo queres, tudo dou  
                  e nem sequer pedir eu posso.  
                  Ai de mim!  
                    
                  Tu me esmagas, sufocas, oprimes, me  devoras. 
                  Eu te adoro e me apavoro.  
                  Ai de mim!  
                    
                  o amor apaixonado é sempre assim:  
                  ora no céu, ora no inferno  
                  ora no inferno do céu,  
                  ora no céu do inferno.  
                  Ai de mim!  
                  Vou vivendo-morrendo assim  
                  de amor por ti e desamor por mim.  
                  Ai de mim!  
                    
                  Deixar-te? —Jamais! Perder-te? —Ai de  mim! 
                  Tomba o corpo. Seca a alma. Tudo morto. 
                  Ai de mim, ai de mim!   
                 
                  
                  
                Extraídos de Um Sol Maior que o Sol.  Brasília: Thesaurus, 2006.  105 p. 
                 ------------------------------------------------------------------------------------------------ 
                  
                TEXTOS ESPAÑOL 
                  
                  
                Selección de 
                WALMIR AYALA 
                publicada originalmente en la 
                REVISTA DE CULTURA BRASILEÑA 
                N. 39, JUNIO 1975 por la 
                Embajada del Brasil en Espana  
                  
                  
                                                               TIEMPO  DE ESTATUAS 
                  
                Millares de estatuas  invaden las ciudades 
                -!población increíble! -. 
                En sólo una plaza,  
                estáticas, posantes,  
                mil estatuas marciales. 
                  
                En comercio y en casa de cultura, 
                en palácios y en templos y hospitales, 
                estatuas, si, estatuas 
                sin los toscos cuidados manuales, 
                desprovistas de ingénio y del arte. 
                  
                Calles enteras, congestionadas  
                metropolis, países. 
                Cordilleras de estatuas pesadísimas  
                en oro y plata modeladas; 
                estatuas de cristal: 
                hábeis proliferado demaisado. 
                  
                (Las estatuas nacen de los espejos.) 
                Espantajos de piedra, mantenidos  
                para que medren flores. 
                Ya el hombre no camina 
                sino entre rocas. 
                Este planeta se va rajar 
                de tanto pedrusco.  
                  
                Observen los Consejos y Ordenes, 
                los doctores, la cátedras, los jueces: 
                hay estatuas hablando, aplaudiendo. 
                Se nombran estatuas. 
                  
                Atención a estos conceptos de granito: 
                !defiéndase en carne! 
                La esencia de los dioses, carne apenas. 
                  
                A cada momento se reúnen las estatuas. 
                Hay comisiones formadas sólo de piedra. 
                Hay estatuas elegidas planeando. 
                  
                Metamorfosis triste de ayer: 
                un artista se convirtió em piedra. 
                Y según las últimas noticias 
                una señora quiso parir piedras. 
                  
                Es ya difícil encontrar un hombre. 
                Hace tiempo que no se habla sobre huesos  
                y el grito es un sonido antiguo, 
                pieza sombria del museo de la historia. 
                El llanto uma locura. 
                Por no verse ya sangrar um corazón 
                sólo sabemos, de memória, que  
                la sangre es roja. 
                  
                En cuanto a la esencia el Hombre 
                - Esp[iritu o Ser – 
                dicen las estatuas  
                que son cosas muertas.  
                  
                  
                EL JARDINERO Y LA PIEDRA 
                (fragmento) 
                  
                Y tanto amaba 
                tierra, viento y agua,  
                que no sabía  
                si jardinaba 
                alguna flor 
                o su propia alma. 
                  
                Un colibrí 
                Posó 
                en su calma. 
                  
                Las flores fueron hechas 
                para florecer y ser recortadas. 
                  
                Salta la criatura 
                muros y rejas 
                llevando rosas. 
                No duda  en  cogerlas  
                de jarfdín ajeno. 
                  
                Lo demás son piernas 
                y un deseo enorme 
                de decorar la tierra. 
                  
                El poeta trabaja en el cielo 
                con manos de viento. 
                  
                Sabe que es difícil  
                plantarse en las nubes 
                sin caer del cielo. 
                  
                Sabe que es más firme 
                plantarse en la tierra 
                y dar flores al cielo. 
                  
                Pero se arraiga en las nubes 
                y derrama sus flores 
                sobre la tierra. 
                  
                  
                  
                Página publicada em dezembro de 2007. 
                  
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