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CAROLINE GEBARA

 

 

O livro de Caroline Gebara nos foi enviado por um amigo do Rio de Janeiro, recomendando-o por insólito. De fato, na apresentação, a autora estampa uma carta de um editor a quem teria enviado os originais e que os considerou “um rol de baixarias inomináveis”. A autora reflete eruditismo e mal dizer, como nas cantigas de escárnio, poesia do absurdo. Fica a critério dos leitores o julgamento. Aliás, Caroline afirma:  “a posteridade haverá de fazer-me justiça.”

 

Não tem uma biografia na obra, nem na internet. Nos próprios versos, diz: “eu já não tenho mais pessoa física/ minha pessoa é só decassílábica / roubada do Camões e do Pessoa”, e confessa : “perdi o são, o não, até a sintaxe”; “perdi meu senso e meu não-senso”. E arremata: “às vezes penso que não existo”; “sempre tive heterônimos de mim”.

 

CAROLINE GEBARA

De

VOLÚPIAS ABOMINÁVEIS
Rio de Janeiro: 7 Letras, 2002

ISBN  857 3888320-0

 

 

autoretrato

 

         a Millór Fernandes

 

tenho imitado o mito do poeta,

aquele patetão peripatético

que perambula em busca do sublime,

mulheres, detonâncias e outros crimes,

qualquer coisa que rime e tenha ritmo

ou samba ou rumba ou xote ou foxtrote.

tenho cumprido todos os meus ritos

pelo terror de não vê-los cumpridos.

agora só escrevo em decassílabos,

para ser chique como os ex-poentes,

poetas dos ocasos do passado,

pra ser o grão-vizir da Guanabara.

mas sou no fundo urna dama de quinta

que roda a bolsa em pleno Calcadão,

nome de guerra: Caroline Gebara.

 

 

passado decomposto

 

o que foi feito de você

que andava sempre ao meu redor

me conhecia tão de cor

e salteado?

 

naqueles mares que eu surfei

naquele amor que eu naveguei

e soçobrei, e ainda sobrei

avariado?

 

revoltaria o tempo atrás

pra reouvir a sua voz

cantando fábulas de amor

demasiado?

 

mas não serei nunca jamais

entre as sereias do seu cais

na solidão dos carnavais

do seu passado?

 

daquele tempo que passou

sobrou a graça desse amor

meu sabiá, meu coração

ressabiado

 

 

carnavalesco

 

encaro o caos da página em branco

pensando em Naomi, que não comi,

o que pintar eu pinto como eu pinto,

Picasso caidaço aqui de Copa.

mas ainda resta a chama, e se ela chama

a gente se apresenta no presente,

ou cria um clima pra qualquer futuro

que não seja o futuro do pretérito,

onde as sereias já não tem mais rabo.

ainda não atravessei o Cabo

onde naufragam todas esperanças.

eu fôra no passado mais perfeito,

eu fosse na ilusão subjuntiva,

serei lá no futuro do futuro,

entre as sereias do oceano Tempo,

pois não me falta amor nem euforia.

 

 

escatologia

 

o rabo? nunca dei nem emprestei.

confesso, andei levando urnas linguadas,

outras dedadas, sempre femininas.

e mesmo em meus verões mais fesceninos

nunca fui fascinado por varões.

(varões, pra quem não sabe, eram homens

aspirantes a alguma dignidade,

coisa tornada cada vez mais rara,

não sei se por capricho ou decadência).

meu cu, em suma, sempre foi sagrado,

nunca se deu, nunca se dissolveu,

nem expôs-se ao sol dos soldos plutocratas,

que em português corrente é vil metal.

meu cu é como El Cid ou Cristo: invicto.

só não resistirá ao deus do tempo,

que come os cus de todos os mortais.

 

 

filosofia

 

quem não faz aventudes, juventuras

jamais fará toluras, juvenices,

viu, Doralice? que eu bem que lhe disse,

corno já disse o grande Dorival,

que aqui é tudo meio mais ou menos,

como já mandou bem o Tom Jobim:

aqui tudo é uma merda, mas é bom;

lá fora é tudo bom, mas é urna merda.

é tudo as vezes bem, as vezes mal,

e infelizmente eu não me chamo Gal.

 

 

Página publicada em junho de 2009


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