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                   NELSON NUNES 
                    
                  Nelson José Nunes Figueiredo nasceu em  Teresina, Piauí, no dia 20 de maio de 1954. Estudou na Faculdade de Direito em  Belém do Pará. Viveu também em Salvador, Bahia, onde conclui o curso de Direito  na Universidade Federal.  
                  O poeta Nelson José Nunes Figueiredo,  piauiense da geração pós-6ª, liberto das trincheiras de poesia metrificada e  rimada, com o vulcão de sua alma sentimental e o valor da imaginação ardente do  seu espírito de artista, tem no seu livro "Na Boca do Vulcão", versos  de bom poeta, versos vibrantes que permanecem, que ficam no subconsciente do  leitor, pela singularidade de suas idéias estéticas, dentro da Escola  Modernista. Na sua poesia há inquietude e sentimento real da vida, subjetiva,  interiorizada. Há no presente livro poemas interessantes como  "Fábrica", "Phoemhomérios", "A Cinderela",  "O Poema e a Máquina", "Armadilha", "Flash  Noturno", "O Exército da Rosa". 
                  In: http://acervoatitofilho1.blogspot.com/ 
                    
                          
                  
                           AOS  QUE SE FORAM 
                       
                      Não sei dos homens  que ficaram 
                        E  guardam seus segredos 
                        No  fundo dos olhos banhados de medo 
                        a  ruminar a verde folhagem da esperança 
                        a  embalar a coragem que ainda não nasceu. 
                      
                      Sei  dos homens que se foram 
                      E  se perderam 
                      Com  seu medo 
                      Desejos  e sonhos secretos. 
                      
                            Desconheço  todos homens de fé 
                      E  todas as formas de felicidade 
                      Que  espalham-se em inumeráveis cartazes 
                      a  sujar com seu estrume todas as faces da cidade 
                      a  subjugar os miseráveis com sua faca de dois gumes. 
                      
                            Não  sei dos homens que ficaram 
                      A  trama o futuro. 
                      Sei  dos homens que se rebelaram 
                      E  voaram para desencontrá-lo. 
                   
                    
                                              (De Oper-á-ria, 1978) 
                    
                    
                    
                           A MISÉRIA ABUNDA 
                    
                  
                           Neste instante em que  escrevo 
                      sob  o sol 
                      sob a lua 
                      no meio da rua 
                      uma  criança envelhece comigo. 
                             
                      Oh  miséria fudibunda 
                      que  não tem seios belos 
                      nem sexo forte ou frágil 
                      que  parte em mil os espelhos 
                      que  em estilhaços vasam os vasos 
                      que  não têm mais sangue 
                      nem água 
                      nem  alguma coar. 
                      
                            Oh  abundância miserável 
                      que  a bunda de tão pouca 
                      nem  bola nem rebola 
                      que  tem o coração na boca 
                      que  faz apodrecer a fruta-pão 
                      que  frutifica metais e cristais 
                      que  não metabolizam 
                      nem  cristalizam mais. 
                      
                            Em  minha mente neste instante 
                      sob o sol 
                      sob  a lua 
                      no  meio da rua 
                      o  intestino do tempo 
                      desenrola 
                    quilômetros de vísceras vazias. 
                   
                    
                                              (de Árvore-de-papel, 1981) 
                    
                    
                           CLARICE 
                    
                  
                           Clara mente a se alimentar do plasma. 
                      Plástica sensação a vibrar-me o  corpo. 
                      Paralelo  traçado entre o perfeito e o sublime. 
                      Cada  palavra composta no fluxo do instante-já. 
                      
                            Entre  mentes sobressai a ponta da estrela 
                      a  brilhar em girassóis da terra distante. 
                      Sangue  sangue sugo tinto vinho verde musgo 
                      da  veia aberta de teu coração de riso russo. 
                      
                            Ferido  feliz perto do coração selvagem, 
                      desperto  na noite de um sonho acredoce. 
                      E  do parto sofrido das entranhas do tempo 
                      parto  na direção de tua claridade. 
                   
                    
                                              (de Árvore-de-papel, 1981) 
                   
                    
                    
                           FÁBULA 
                    
                  
                           O mar 
                      céu  subterrâneo 
                      cheio  de mistérios 
                      e  estrelas apagadas 
                      
                            No  fundo claroescuro das águas 
                      algumas  estrelas caídas viram peixe 
                      outras  
                      os  peixes comem 
                      
                            Um dia 
                      um pescador comeu um peixe 
                      que havia comido uma dessas  estrelas 
                      e  toda a sua fome se transformou em luz 
                   
                    
                                  (De  Na boca do vulcão, 1987) 
                    
                    
                    
                    
                  Página publicada em  janeiro de 2020 
                
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