ALCIDES FREITAS 
                      (1890-1912) 
                        
                        
                      Alcides Freitas nasceu em Teresina, em 4 de julho de 1890. Estudou no  Liceu Piauiense, cursou Humanidades e, terminado o curso, em 1906,  matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia. Na defesa da tese de  doutorado, na área de Fisiopsicopatologia, produziu um texto - Da Lágrima - que já revelava o  grande poeta que existia dentrC? de si, pois era muito mais afim à literatura  do que à ciência. A tese foi publicada em 1912, o mesmo ano da edição do livro Alexandrillos, escrito em parceria com o irmão  Lucídio Freitas.  
                         
                       
                      Publicado em outubro de 1912, o livro Alexandrinos mereceu elogios de críticos de renome nacional, como  Osório Duque-Estrada, autor do Hino Nacional Brasileiro, José Veríssimo, Clóvis  Beviláqua e Laudemiro de Menezes. Também os piauienses, como Zito Baptista, Antônio  Chaves, Abdias Neves é Cristino Castelo·  Branco, aplaudiram a obra de estréia do poeta.  
                         
                       
                    Conta a professora Socorro Rios Magalhães que, antes mesmo do lançamento do  primeiro livro, os jovens poetas Alcides Freitas e Lucídio Freitas já gozavam  de grande prestígio entre os conterrâneos. "A par do pendor pelas letras,  demonstrado desde a infância, e dos estudos superiores feitos fora do Estado,  eram ainda filhos de Clodoaldo Freitas, naquele tempo já uma legenda no meio  intelectual e político do Piauí", destaca a professora .  
                        
                         
                       
                    O bambu  
                       
                     
                    Exposto ao dia, à noite, à beíra da lagoa,  
                      Onde se miram, rindo, as boninas do prado, 
                      Vive um velho bambu, velho, curso e delgado,  
                      A escutar a canção que o triste vento entoa ...  
                        
                      Jamais os leves pés de um trovador alado, 
                      Desses que pela mata andam cantando à toa, 
                      Pousara-lhe num ramo! Apenas o povoa  
                      Alta noite, agourento, um corujão rajado ...  
                        
                      E vive, — arcaico monge a gemer solitário,— 
                      A sua dor sem fim, o seu viver mortuário,  
                      Tristonho a refletir no fundo azul das águas ...  
                        
                      Como bambu da mata, exposto ao sol e ao vento,  
                      Do deserto sem fim de meu padecimento,  
                      Triste nos olhos teus reflito as minhas mágoas!. ..  
                        
                      (Alexandrinos, 1912)  
                        
                        
                      Hamlet  
                        
                      Não sei que estranha dor meu peito dilacera,  
                      Que esquisito negror meu espírito ensombra!  
                      Tenho sorrisos de anjo e arreganhos de fera,  
                      Sinto chamas de inferno e frescuras de alfombra!  
                        
                      Sou malvado e sou bom! Minh'alma ora é sincera, 
                      Ora de ser traidora ela própria se assombra!  
                      Que clamores de inverno e paz de primavera!...  
                      Escarneço da morte e temo a minha sombra!  
                        
                      Nervo a nervo, a vibrar, misteriosa e vaga,  
                      Anda-me o corpo todo a nevrose de um tédio, 
                      Que dos pés à cabeça atrozmente me alaga ...  
                        
                      Onde um recurso ao mal que me banha e transborda?  
                      Minha dor é sem fim! Eu só tenho um remédio:  
                      O suicídio - uma bala.:. um punhal... uma corda!... 
                        
                      (Noturnos/inédito) 
                        
                        
                        
                        
                      Poemas  extraídos de 
                      TAVARES,  Zózimo.  Sociedade dos Poetas Trágicos. Vida e obra de 10 poetas piauienses que  morreram jovens.  2 ed.  Teresina, Piauí: Gráfica do Povo, 2004. 
                      122  p.   
                      Colaboração  de Elimira Simeão, página publicada em julho 2007. 
                      
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