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Foto em: http://cenasecoisasdavida.blogspot.com

 

 

JACI BEZERRA

 

 

 

Jaci Bezerra, cujo nome completo é José Jaci de Lima Bezerra (Murici, 19 de agosto de 1942 - Recife, 10 de dezembro de 2020) foi um poeta, escritor e sociólogo radicado na cidade do Recife.

Filho de João Bezerra de Araújo e de Celestina Alves de Lima, destacou-se como um dos poetas da denominada Geração 65.

Surgiu, como poeta, pela primeira vez em 1966, ainda com vinte e um anos, tendo sonetos publicados em jornais assim como elogios que anteviam o futuro do jovem escritor.

O respeitável crítico literário, Wilson Martins, que, segundo Affonso Romano de Sant'Anna, é "o maior crítico e o mais completo historiador da literatura brasileira no século XX" elogiou a obra de Jaci em sua coluna Vozes da Poesia, no Jornal do Brasil. Martins afirmou que Jaci Bezerra "é uma voz nova, no sentido forte da palavra, não apenas por ser jovem, mas também, e acima de tudo, por trazer um timbre e um tom que só pertencem aos grandes poetas.

Coordenou a editora Edições Pirata, e obteve reconhecimento de jornalistas como Mário Pontes, que no Jornal do Brasil publicou uma reportagem intitulada "Um fenômeno chamado Pirata" e identificou Jaci como "criador e diretor da Pirata". A evolução dos trabalhos de Jaci à frente das Edições Pirata foi elogiada em reportagem do Jornal do Brasil pela exposição, no Rio de Janeiro, de 65 títulos lançados em apenas um ano.

O renomado escritor e cronista Rubem Braga, em sua coluna do Jornal do Commercio, homenageou Jaci com a publicação de uma poesia deste, "Durmo na tua pele de camurça", extraído de sua obra Livro das Incandescências, publicado pelas Edições Pirata.

Também o jornalista e escritor Joel Silveira, publica em sua coluna versos de Jaci e faz elogios ao poeta: "Um só deslumbramento está este último livro de Jaci Bezerra, o grande poeta pernambucano".

Algumas obras publicadas: Corpo Lunar Antologia Poética, Ferreira - Descobrindo o Paraíso, Cadernos de Poesia, Livro dos Repentes, Álbum do Recife, Os Pastos da Minha Lembrança, Romances, Lavradouro, A Onda Construída, dentre outras.

O poeta Jaci Bezerra faleceu em 10 de dezembro de 2020, depois de uma parada cardiorrespiratória e de alguns anos convivendo com uma doença degenerativa.

 

BEZERRA, Jaci.  Série dobrados / 5.     Jaboatão, PE: Editora  Guararapes, 2018.  folha dobrada.  s. p.   Ex. bib. Antonio Miranda    

 


PARA TE VER É LONGA TODA ESPERA

Há uma serra no teu peito
feita de sonho e de distância.

É nessa serra que me deito
com tua luminosa infância,
Ao te esfolhar, na tarde branca,
me extravio nas tuas ancas.

Habitando a paisagem branca
na curva dessa serra deito.

Assim, montando as tuas ancas,
cavalgo os sonhos do teu peito.
Depois, retido na distância,
na cama acendo a tua infância.

Nos veludos da tua infância
qualquer montanha é pura e branca,
claro verão eu, na distância,
cintila sobre tuas ancas.

É minha a serra do teu peito
quando à sombra do teu corpo deito.

Sobre os lençóis, quando me deito,
meu coração é a tua infância.
Eu, pelas serras do teu peito,
sou um menino na distância.

cavalgando, na tarde branca,
os girassóis das tuas ancas

Nos extremos das tuas ancas
cavalgo as serras do teu peito. 
O teu corpo, na tarde branca,
é o meu lençol quando me deito.

Uma criança, na distância,
sou a serra da tua infância.

Quero galgar a serra a distância
nas tuas mãos de nuvens brancas,
do mesmo modo quero a infância
e os girassóis das tuas ancas.

A mim me basta, se me deito,  
morrer nas serras do teu peito.
 

 

NO SONHO A MÃO DE ALGUÉM
ME APOIA E GUIA


O pai tinha um cavalo luminoso
e cuidava das rosas do jardim,
porém se coração não tinha pouso
e, por isso, ele foi um homem assim
calado e só, talvez misterioso,
mesmo ao bordar histórias para mim:
dele herdei o silêncio em que me movo
e os meus pastos de antúrios e de capim.
Ao recordá-lo, inteiro me enterneço
o pai é minha infância aurocrescendo
Nesses currais de luz onde adormeço.
Mito que me acompanha tempo afora
uma canção que dói, esmaecendo,
no atormentado sótão da memória.

 

 

POÈMES EN FRANÇAIS

 

 

CANÇÃO

 

Vou plantar na varanda a minha mágoa,

e espero, assim, que a vida a mim esqueça.

Fluídico e sereno como as águas

deixem, vocês, que eu me desapareça.

Vou partir depois disso, prontos tenho

o passaporte e a blusa de emigrante.

Deixem vocês, eu parto como venho

para ser outra vez o que fui antes,

As lágrimas ardendo são estrelas

cintilando no fundo de outro poço.

Vocês não se debrucem para vê-las

que, nelas, acharão só meus destroços

(a canção que inventei de ouvido, inteira,

e as rosas florescendo nos meus ossos).

Não procurem saber dos meus intentos,

peço como um favor, ninguém me ouça,

pois rosário já vem tangendo os ventos

e apaziguando a minha carne moça,

vem molhada de luz, vem sem lamentos,

trazendo um lírio em suas mãos de louça.

Já é chegada a hora da partida,

No meu bolso soluça o coração,

por isso, não liguem muito à vida

que para olhar e ver, trago na mão.

Nem olhem, se ainda me veem, para a ferida

que expõe, aberta, a minha solidão.

Parto rendido e entregue aos meus afetos,

e amigos que não tenho, não terei.

Matei as sempre-vivas do deserto

recusando as canções que não criei.

E descobri, sentindo o amor tão perto,

que nada sou do sonho que inventei.

 

 

 

Extraído de POETAS DA RUA DO IMPERADOR. Recife: Pool, 1986.  Coletânea em homenagem ao Dr. F. Pessoa de Queiroz  e ao jornalista Esmaragdo Marroquim.

De
Jaci Bezerra
ESPÓLIO  
Jaboatão, PE: Editora  Guararapes, 2002.  sanfanado  
gentilmente enviado pelo editor Edson Guedes de Morais


1
Mobiliário Íntimo

As paredes do sótão são feridas
e a noite em flor se agacha entre os seus muro:
é no sótão que o homem empilha a vida
e empilha o tempo que ficou maduro.

No seu interior, por entre pilhas
de tempo e mundo, a saudade cresce
ressuscitando no homem maravilhas
que exceto o homem, ninguém mais conhece.

Às vezes o sótão geme e chora, opresso,
hora em que o homem, voltando ao início,
sente, folheando o tempo nele impresso,
que o sótão respira feito um bicho.

O homem habita o sótão que o habita
e no chão deixa a pátina dos seus passos,
sem saber explicar, quando o visita,
porque no sótão o tempo é sempre intacto.

Nos dias em que o sótão cheira a azedo
e a memória do homem, inchando dói,
o homem, aninhado nos seus feudos,
quer falar mas não acha a sua voz.

O sótão, como o homem, é uma imagem
feita de imagens, no tempo desdobrada:
o homem sabe onde nasce a sua imagem,
porém não sabe em que dia ela se apaga.

Quando, para expurgar a sua angústia,
o homem abre o silêncio e o sótão se abre,
o tempo na memória é luz e música
e, no silêncio, o homem inteiro arde.

A paz desse momento é alada e exata
e resplendendo, sem nódoa e sem ferrugem,
a ternura do homem se desata
e o sótão todo cheira a flor e nuvem.
 


Página publicada em agosto de 2010
 

 

De
Jaci Bezerra
MAR AGOSTO
Jaboatão, PE: Editora Guararapes, 2002.  sanfanado


GRAVANDO MINHA DOR NUMA ÁGUA FORTE

Estendeu no horizonte a cor madura
da sombra que buscou, o tempo antigo,
as paisagens do mar, a lenda impura,
cada vez mais achado e mais perdido
depois, exausto e só, foi à procura
do quadro iniciado e dissolvido
do catavento azul, da rosa escura,
do pranto, da mulher e do gemido
chegou largando as mãos na longa estrada
e abrasado de amor ficou na rua
buscando, em vão, a luz da madrugada
só então foi ternura e foi abraço
a paisagem deixou vazia e nua
para que tantas cores neste espaço?


ESQUECI NO CADERNO A ADOLESCÊNCIA

Para que tantas cores neste espaço?
dormiu no atelier, rasgou a tela
e num gesto de mágoa e de cansaço
sacudiu os pincéis pela janela
correndo do papel fez-se aquarela
na tinta azul-marinho breve traço,
entre as águas do mar, na caravela,
na renda bela e estranha do sargaço
esqueceu a pintura e, flutuando,

contemplou em silêncio o mundo aceso,
ao seu redor a paisagem naufragando
acordou vendo braços, pernas nuas,
e liberto outra vez sentiu-se preso:
saiu e foi andando pelas ruas.


QUERIA AO ME GRAVAR VENCER A MORTE

Saiu e foi andando pelas ruas
só, diante do mundo irrevelado,
antes que a alma se abrisse leve e nua
revelando na tela o rosto amado
a paisagem, agora, era só sua
e no verão da lembrança, desatado,
desenhou, sem que visse, em pânico a lua
no silêncio imprevisto e inesperado
e partiu, e partiu deixando o rosto
esquecido no chão verde-cinzento
entregue e preso na solidão de agosto
levando da viagem, além de espaço,
o corpo envelhecido, sombra e vento,
tela, pincel e tinta sob o braço.

 

(...)

 

BEZERRA, Jaci.  Informação para turista. Jaboatão, PE: Editora Guararapes EGM, 2015.   30 p.  Editor: Edson Guedes de Moraes.  Inclui uma bota biográfica escrita por Diógenes de Albuquerque Júnior e fragmentos de “De uma entrevista a Ivan Marinho”.Edição limitada, alternativa.    Ex. bibl. Antonio Miranda

Veja o E-BOOK: https://issuu.com/antoniomiranda/docs/jaci_bezerra

 

POESIA ERÓTICA

 

SAVARY, Olga, org. Carne viva1ª antologia brasileira de poemas eróticos.  Rio de           Janeiro: Editora Anima, 1984,  348 p.  14x21 cm.  Capa: ilustração de Sérgio Ferro. Inclui 77 poetas ativos no final do século 20.  Col. A.M.

 

 

       diário da corsa

Sereno e mando, o amor espera,
entre as fogueiras dos lençóis,
o corpo nu da corsa e fera.

      

       E enquanto espera, rememora,
colhendo avenca e girassóis,
o amor que reluz agora.

      

       Na água do sonho que me busca
a corsa chega, silenciosa,
e a lâmina da pata aguça.

       Antes que a corsa se revele,
por debaixo de seu vestido
sinto um odor de mel e pele.

 

       Espreito a sua fenda doce,
e saciando o meu desejo
a corsa bebo, tal se fosse

 

       água para minha sede,
na corsa o amor é uma fogueira
que não se exaure, e nunca cede

 

       a essa paixão de primavera,
mesmo se a minha língua busca
a concha entre as suas pernas.

 

       Arfa a corsa, e o amor escuta
no galgo tenso que lhe bebe
a orquídea da carne enxuta.

 

       Não deixa a corsa que me afaste,
e sua mão, depois da boca,
carícia a minha haste.

 

       Aí tece suave teia,
arabescos de aranha sábia
que me perturba e me incendeia.

Navegante sem astrolábio,
seguro, manso, os meus cabelos
e guia a sede dos meus lábios.

 

       Enquanto a argúcia dos meus dedos,
acaricia musgo e seda
e espreme uva entre vinhedos.

 

       Antes que, exaurido, caia
vertendo mel na sua boca
a corsa se desfaz da saia.

 

       E desatando a fera oculta,
me ataca, no areial da cama,
e início dá a outra luta.

 

       É outro jogo revelado,
de modo que não sei se coma
a amêndoa desse fruto untado

 

       Pelo mel que me flui da boca,
ou se traga para a minha gula
a luz de sua carne louca.

 

       O jogo se inicia aceso,
então, deitada, ela projeta
o dorso para os meus desejos.

 

       Sobre as campinas das alfombras
a corsa se ergue e se empina
como se fosse a minha sombra.

 

       Nesse combate a lança alongo,
e entro pela sua gruta
montando as nuvens do seu lombo.

 

       A corsa cede aos meus apelos,
e cedendo, excitada busca
roçar seu corpo nos meus pelos.

 

       Às suas costas sou um galgo,
e por trás de sua carne tensa
maravilhado eu a cavalgo.

 

       Somos dois bichos cominados,
gozando o amor até sentir
os nossos corpos saciados.

 

 

 

POÈMES EN FRANÇAIS

 

Jaci Bezerra né dans l'État de Alagoas, vit à Recife depuis l'adolescence. oú il participe du groupe connu Génération 65, qui saffirme de plus en plus, avec force et vigueur, comme comptant parmi les meilleures productions de la poé-sie contemporaine. II a publié ses premiers poèmes dans le supplément littéraire du Diário de Pernambuco, grâce au critique et poète César Leal. Livres publiés - fiction : Os pastos da minha lembrança (1980); Emílio Madeira, o galo (1982). Poésie: Romances (1968); Lavradohro (1973); A onda construída, in : Quíntuplo (1974) ; Inventário do fundo do poço (1979) ; Signo de estrelas (1981) ; Livro de Olinda (1982) ; Livro das incandescéncias (1985). Théâtre : Piuto da renovação (1983) ; 0 galo (Coleção Prémios - XIII Concurso Nacional de Dramaturgia. 1981-82). 

 

RECIFE – UM OLHAR TRANSATLÂNTICO –  NANTES  -  UN REGARD
TRANSATLANTIQUE –Antologia poética – Anthologie poétique
.   Organizada por  Heloisa Arcoverde de Morais e Magali Brazil, tradução Everardo Norões, Renaud Barbaras.  Recife: Fundação Cultural Cidade do Recife, 2007.  206 p.  15x20 cm. Inclui os poetas brasileiros: Alberto da Cunha Lima, Cida Pedrosa, Deborah Brennand, Erickon Luna, Esman Dias, Everardo Noröes, Jaci Bezerra, Lucila Nogueira, Marco Polo, Miró, Pedro Américo Farias. “ Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

En rêve la main de quelqifun me soutient et me guide

 

Mon père avait un cheval lumineux

et soccupait des roses du jardin,

pourtant son coeur n'avait pas de repôs

et cest pourquoi il fut un homme comme ça,

silencieux et seul, peut-être mystérieux,

même en brodant des histoires pour moi.

J'ai hérité de lui le silence dans lequel je me tiens

et mes pâturages d'arums et d'herbe.

En me le rappelant je m'attendris tout entier.

Mon père est mon enfance à son aube

dans ces enclos de lumière oú je mendors.

Mythe qui m'accompagne hors du temps,

mon père est une chanson pâlissant

dans le grenier tourmenté de la mémoire.

 

 

 

No sonho a mão de alguém me apoia e guia

 

O pai tinha um cavalo luminoso

e cuidava das rosas do jardim,
porém seu coração não tinha pouso
e, por isso, ele foi um homem assim,
calado e só, talvez misterioso,
mesmo ao bordar estórias para mim.
Dele herdei o silêncio em que me movo
e os meus pastos de antúrio e de capim.
Ao recordá-lo, inteiro me enterneço.
O pai é a minha infância aurorescendo
nesses currais de luz onde adormeço.
Mito que me acompanha tempo afora,
O pai é uma canção esmaecendo
no atormentado sótão da memória.

 

Le coeur rongé par les vents

 

La maison se construit,

comme je le pense et le suppose,

du bois qui ronge

les fondations du rêve.

De ce sable mouillé

de silence et de beauté,

non des roses plantées

sur l'hiver de la table.

La tendresse retenue

entre grilles et murs

est passion et chanson

dans la fondation mure.

Ton corps est une maison

lentement construite

effleurant comme l'aile

de la maison l'aile de la vie.

Leté brulant

qui dans tes souvenirs

se répand sur le sol

comme une gerbe de tresses.

 

 

O coração roído pelos ventos

 

A casa se constrói,
como penso e suponho,
da madeira que rói
o alicerce do sonho.
Dessa areia molhada
de silêncio e beleza,
não das rosas plantadas
sobre o inverno da mesa.
A ternura retida
entre grades e muros
é paixão e cantiga
no alicerce maduro.
O teu corpo é uma casa
devagar construída
roçando como a asa
da casa a asa da vida.
O candente verão
que nas tuas lembranças
se desata no chão
como um feixe de tranças.

 

 

Página publicada em outubro de 2009; ampliada e republicada em agosto de 2010; ampliada em fevereiro de 2016; Página ampliada em junho de 2020

 

 

 


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