Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página

Sobre Antonio Miranda
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA PERNAMBUCANA

Coordenação de Lourdes Sarmento




EVERALDO MOREIRA VÉRAS

 

 

É poeta e ficcionista, além de engenheiro. Nasceu em Parnaíba (Piauí), mas reside no Recife há muitos anos. Membro de várias academias, entre elas a de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro e a Academia de Artes e Letras de Pernambuco.   Autor de quase 40 livros (até 2007), além de participar de muitas antologias.

 

Escolhemos alguns trechos de sua obra – em verdade, um texto poético de um só fôlego!!, um salmo às avessas — que mereceu  uma Menção Honrosa no Prêmio Casa de las Américas 90 – Poesia, de La Habana, Cuba, de 1998.  

 

 

 

VERAS, Everaldo MoreiraFissuras.   Recife, PE: Companhia Editora de Pernambuco, 1978.  156 p.  14x21 cm.  “ Everaldo Moreira Veras “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

VELHOS AMIGOS

 

Tem explicação: não é apenas a alegria

que veio correndo me abraçar.

Não é, não!

Sim,

 

          porque ouço vozes chamando,

          lá no fundo do quintal:

          ei, venha brincar comigo!

 

Também chega, de mansinho,

o chiado da torneira,

molhando a grama do jardim, num chorar magoado.

Alguém acorda o vento do sul,

trazendo folhas amarelas e pedaços de amor

(uns verdes, outros azuis).

Não sei...

 

          acho que ainda resta qualquer coisa

          do dia,

          do céu de ontem — apenas qualquer coisa!

 

Pois

 

          a diferença continua,

          que hoje tem luz demais!

          Vivendo.

          Queimando.

 

Mas não importa, não.

Este sol assim, brigão, arrogante, falante

...é muito meu amigo.

 

 

INDISCIPLINA

 

Em cima da mesa,

imponentemente só,

o vaso de flores.

Murchas, não-pólen.

Pertinho, os estatutos: folhas brancas

rabiscadas, que disciplinam p roteiro do dia.

Há crime e perdão.

Se chora, o homem vê a crua mágoa.

Se fala, ouve a triste vingança.

 

Nisso corre até o papel

— trémula está a letra —

e

escreve (pergunta)

a antiga agonia:

 

      a quem obedecer?

               A quem?

 

 

VERAS, Everaldo Moreira.  A Insônia do mar.  Recife, PE: Edições Sarev, 2000.  108 p.  14x21 cm. “Prêmio Casa de las Américas 98 – Poesia, Havana, Cuba, Menção Honrosa”  “ Everaldo Moreira Veras “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

Oh, Deus, não reserve nada para mim!

Já estou completo:

dores,

amores,

temores.

Não me acrescente:

no túnel não sobra

lugar para nada.

O vão se abriu e a chaga fechou

(por favor, não mexa aí).

Oh, Deus, não reserve nada para mim!

Entregue tudo aos outros

(eles não sabem quem são)

e dependem

e sofrem

e não sentem que sofrem.

Entre todos divida o meu:

em cada prato mais pão,

em cada copo mais vinho.

Oh, Deus, não reserve nada para mim!

Reproduza amanhã

a ceia que vi ao meu redor, hoje.

Transforme o instante

em longa vida,

garantindo luz

e eternizando gestos.

Quero o riso, a alegria e a festa.

Também a mesa farta e grávida.

Faça-se daquele jeito e mais.

Repita-se a noite e sempre.

Cante-se o hino e a prece.

Mas,

Oh, Deus, não reserve nada para mim!

Nesse tempo,

eu mesmo não mereço:

porque o mínimo (embora pouco)

seria injusto.

Oh, Deus, não reserve nada para mim!

 

 

*   *   *

 

Amanhã, certamente morrerei.

Porque logo cedo, hoje, o sol brilhava

e o vento chorava.

Então, refiz o corpo

(a minha carcaça),

muitos parafusos

foram fixos e ajustados.

(Os outros continuam frouxos,

Impossível o reaperto)

Saí por aí

cumprimentando as pessoas,

elas em busca do amor e do encontro.

Eu, não.

Me dominava a certeza

de que eu seguia

a direção especial nortedeusmente

indicada pela luz e

pelo relógio da catedral.

As folhas me contaram estórias

acontecidas ontem de madrugada.

Ignorei-as,

afinal não me interessava

o ruído da máquina esquisita

que não me deixou meditar.

Vi

a paz falsa e retilínea

me abraçando.

Por isso: prepare-se o mundo,

todo cuidado é pouco,

pois estou disposto a tudo.

Afinal de contas, estou bêbedo e

hoje, segundo dizem, é feriado nacional.

 

 

*   *   *

 

 Vou fabricar com as mãos

os poemas.

Escolherei as mais duras palavras,

somente aquelas

que possam destruir

a impassível estátua de pedra

A canção perfeita nascerá,

porque há desordem

ao redor dos homens, nas ruas.

Rasgarei papel e

prepararei tintas

para jogar

contra os olhos dos fantasmas

coxos e cegos.

Ninguém descobrirá

que a produção é humilde:

o demônio contrito a rezar,

pensando

que também

é

filho de Deus.

Ainda não sei quando recomeçarei

a tarefa atormentada de colorir idéias

do jeito que os homens organizam

um banquete para muitas pessoas.

Vou fabricar com as mãos

os poemas.

Não posso garantir o local exato:

sei que está no interior

a dor

(o amor?),

que me perturba e

me persegue.

Logo que o dia desceu da carruagem,

Adivinhei:

Manhã? Tarde? Noite?

Eu sabia: noite, sim,

porque somente

o

escuro protege o que verdadeiro

é.

Agarro

o que me percorre

como o vento,

eis a primeira perdição.

As luzes cochilam, tremendo

frente ao inimigo

sozinho descansando

(eu mesmo).

Não há possibilidade

de a crise diminuir.

Estou à procura do remédio,

o peito segura e esconde a angústia.

Infelizmente,

o motim é do lado esquerdo.

(E lá, não tenho nenhuma ingerência!)

 

 

Extraídos de VÉRAS, Everaldo Moreira.  A INSÔNIA DO MAR.  Recife: Edições Sarev, 1999.  102 p.

 

VEJAM O E-BOOK COM UM FRAGMENTO DO POEMA "A INSÔNIA DO MAR"




VERAS, Everaldo Moreira. A Insônia do mar. (fragmentos).  Jaboatão, PE: Editora Gurarapes, PE: 2015.  34 p.  21,5x14 cm.  Inclui o texto: "Lembrando Everaldo Moreira Véras", por Jarbas Maranhão, p. 27-33.  Editor: Edson Guedes de Moraes. Edição limitada.  Ex. bibl. Antonio Miranda. https://issuu.com/antoniomiranda/docs/everaldo_moreira_v__ras

 

Página ampliada e republicada em maio de 2017

 



Voltar para o topo da página Voltar para a página do Piauí Voltar para a página de Pernambuco
 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música