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                   ERNESTO DE  ALBUQUERQUE MELO 
                    
                  Prosador e poeta. 
                    Nasceu na cidade de Goiana, Pernambuco, aos 19 de agosto de 1891. 
                    Formado em Medicina, pela Faculdade do Rio de Janeiro. 
                    Inspetor Federal do Ensino e professor de Inglês em vários colégios do Recife. 
                    
                  
                  REZENDE, Edgar.  O  Brasil que os poetas cantam.  2ª ed. revista e comentada.  Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos,  1958.  460 p.  15 x 23 cm. Capa dura.   Ex. bibl. Antonio Miranda  
                    
                    
                  O   ESTOURO   DA BOIADA 
                    
                    
                  Á cadência do áboio, estrada a fora, o gado  
                    Segue rumo qualquer. Lembra, no desalinho,  
                    Enxame luzidio, alegre, derramado,  
                    Ondulando revolto, em marcha, no caminho.  
                    
                  De repente, porém, ao vão alvoroçado  
                    Da rasteira araquã, dentre a moita de espinho,  
                    Estaca, subitâneo, o rebanho alarmado 
                    Chifres fisgando o espaço em doido torvelinho.  
                    
                  É o estouro da boiada. Um pânico assombroso  
                    Faz arrancar do chefe aquela multidão  
                    De dezenas de bois, em disparo ruidoso.  
                  E um surdo retumbar longínquo, de trovão,  
                    Errante, pertinaz, monótono, saudoso,  
                    Invade, num momento, os ares do sertão.  
                    
                    
                    
                    
                  O  E N G E N H O   
                    
                    
                  O engenho, o antigo engenho colonial  
                    Vai pouco a pouco se tornando em nada.  
                    Não tarda muito a fama original  
                    Não passe além de uma expressão de fada.  
                    
                  A um canto, a casa grande senhorial 
                    Por outras velhas construções cercada,  
                    Entre as quais a senzala, a principal  
                    Recordação de uma época apagada.  
                    
                  Por todo lado, alegre, farfalhante,  
                    Inda hoje ondula o canavial distante  
                    Cantando a nênia antiga dos enganos.  
                    
                  Porque, em verdade, o que hoje em dia existe  
                    É uma lembrança vagamente triste  
                    Na tradição de quatrocentos anos.  
                    
                    
                    
                    
                  Página publicada em dezembro de 2019 
                    
                
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