| THEODOMIRO PEREIRA  NEVES JUNIOR   Theodomiro Ferreira Neves Júnior  nasceu na cidade da Paraíba a 14 de agosto de 1875. Iniciou-se  na arte tipográfica ao mesmo tempo que fazia o seu curso preparatório. Concluído  este, matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife, não chegando, porém, a terminar  o curso. Dedicou-se, então, ao magistério particular, durante longos anos, e  por fim ao comércio. Cultivou o jornalismo e a poesia. Faleceu em 30 de dezembro de 1940, em  Jacarepaguá. Publicou: "Arestas" — versos — H. Garnier — 1909.   PINTO, Luiz.  Coletânea de poetas  paraibanos.  Rio de Janeiro: Ed. Minerva, 1953.    155 p.    16.5 x24 cm    Ex .bibl.  Antonio Miranda     FUNDA MUDEZ No  silêncio e na paz deste deserto, Dormente e entristecido como um Horto
 Todos os seres mostram-nos de perto
 O seu imenso e fundo desconforto.
 Aqui,  no vácuo deste campo aberto Semelha a noite um malfadado porto,
 Em que tudo parece envolto e incerto,
 Nas cores funerais de um mundo morto.
 Nenhum  murmúrio  quebra  esta orfandade Das coisas mudas, nenhum som contenta
 Esta tristeza desolada e nua...
 Somente,  sobre tanta soledade, Vaga tranquila, vagarosa, lenta,
 A mortalha fantástica da lua...
     RETORNO   Quando  após esse dia tu partiste, Ó meu formoso e rórido amaranto,
 Tudo ficou deserto, mudo, triste,
 Deserto e triste, nem o som de um canto!
   Aos  embates do mal, só o mal resiste, E eu resisti, eu resisti, no entanto.. .
 E tu, que eras o sol, não mais surgiste
 Para tirar de mim tão frio manto...
   Esta  manhã, a natureza iriada, Como um vaso de pérola irradia.
 Cantam as aves, ri o céu de ouro...
   Saio,  olho o céu, as árvores, a estrada Quero saber por que tanta alegria...
 Tu vens passando como um astro louro.
       HARMONIAS PERDIDAS   Mulheres  encontrei-as, várias no meu caminho, Parecendo quererem alentar-me e seguir:
 Mas logo outro buscavam — volúveis passarinhos
 Que entre o luxo pudessem trazê-las sempre a rir.
   Havia  uma que de tal maneira me encantava, Que me enchera de tanta incontida ternura,
 Que eu comigo dizia: Eis enfim, encontrara
 O que buscava em vão — toda a minha ventura.
   Quantas  coisas então eu pensava e sentia! Que infinito de sonhos eu idealizava!
 Em tudo o que pensava era ela só que eu via.
 E tudo quanto via eu nela só pensava!
       DESEJO LOUCO                      A  Álvaro de Carvalho   Naquele  instante, que ventura a sua! Andavam juntos num descuido lindo!
 Branqueava a terra, como um lírio abrindo,
 A luz suave e trêmula da lua.
   Como  um casal, que pelo mar flutua, De aves contentes pelo mar fugindo,
 Passeando iam, esquecidos, rindo
 Ao campo às coisas, pela estrada nua.
 Num  gozo raro, num feliz momento Param mirando o claro firmamento
 Como uns alegres, satisfeitos sábios...
   Nisto  ia a dizer: Sua paixão é tanta! Por  ela sonha, desespera e canta... E  a palavra lhe morre à flor dos lábios!       HOJE   Hoje  passas por mim indiferente Como  se os nossos corações jamais Um  para o outro pulsassem doidamente Nas  horas de incertezas e de paz.   Como  o tempo transmuda duramenteO que eterno julgamos e é falaz!
 Hoje passas por mim indiferente
 E sem pesar não nos amamos mais!
       Página publicada em  agosto de 2019     
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